Especialista em Lighting Design???

Vejo com tristeza diariamente diversos profissionais não especialistas falando sobre LD sem ter a menor noção do que vem a ser isso na realidade. Na verdade, é um show de repetições de jargões e clichês que estão na mídia acessível a qualquer um, especialmente através do Google. Fazem isso apenas para garantir um naco do mercado tentando iludir e confundir os clientes.

Já escrevi sobre isso aqui no blog algumas vezes mas nunca é demais voltar à este assunto dada a sua relevância e seriedade.

“LD é uma iluminação mais cênica” – clichê mais que batido, não cola mais hoje em dia pois LD nunca foi apenas isso.

Na verdade, o cênico em um projeto de LD fica apenas em suas bases.  Cênica é o conceito básico do projeto e não a aplicação ou resultado final (salvo em caso de iluminação cênica mesmo: teatro, dança, shows, etc). Tem gente que chega até a usar aquelas luminárias em formato reduzido dos refletores de palco para tentar iludir e reforçar essa falsa idéia do que vem a ser um verdadeiro projeto de LD. No entanto ISSO NÃO QUER DIZER NADA. É apenas mais uma luminária solta no espaço.

“LD é buscar a eficiência energética” – também mas não só isso.

A eficiência energética e o baixo impacto ambiental são apenas premissas de um projeto de LD de qualidade, devem fazer parte dele, devem ser pensados e considerados no momento do projetar, desde o início. Mas não são o todo de um projeto de LD.

“LD é atender às necessidades do usuário” – no entanto o que vemos nas imagens logo após o destaque da frase é um show de sandices luminotécnicas. Vemos uma re-re-re-re-repetição de erros crassos e básicos cometidos ainda nos bancos das faculdades, pelos acadêmicos iniciantes que não sabem de nada sobre iluminação e/ou elétrica. Vemos também muitas repetições dos erros baseados nas tendências e na “moda” que as revistas, infelizmente, pregam.

“Esta luminária do fulano é de design assinado e garantirá a qualidade e beleza no projeto de lighting design que estou fazendo” – MINTCHIIIIIRAAAAAAAAAAA!!!

Gente, para um projeto de LD o que menos importa é a estética da luminária e sim o efeito que a luz proporcionará. Não é a toa que num projeto de LD verdadeiro você dificilmente percebe as luminárias. Elas só ficam visíveis quando não há outra opção mesmo. Um verdadeiro LD muito dificilmente especificará um pendente de cristais caríssimo sobre a mesa de jantar (carne-de-vaca) pois sabe que ele irá acabar com os efeitos do entorno pois é uma luminária que não tem controle de luz.

Isso me lembrou também que o verdadeiro LD não está preocupado com quanto ele ganhará de RTs das lojas. Se ele tiver de escolher entre um pendente de cristais de 30.000 e um projetor de 300 ele certamente optará pelo projetor.

O profissional de LD é aquele que busca a especialização, aprofunda-se diariamente, embrenha-se sem medo no universo da iluminação. É aquele que conhece antecipadamente o que há por vir sobre tecnologias em iluminação. É, especialmente, aquele que trabalha exclusivamente com projetos de iluminação e, quando não encontra uma luminária que atenda às necessidades do projeto, concebe, cria, desenha, projeta e produz uma – ou várias – específica. É também aquele profissional que não inventa respostas para dar a seus clientes.

Buscar a especialização, tornar-se um especialista nesse sentido não quer dizer fazer uma pós-graduação apenas (isso qualquer um faz). Conheço muita gente que fez diversos cursos de iluminação – incluindo especializações – e seus projetos não mudaram absolutamente nada do que era feito antes. Tem gente que continua confundindo e desconhecendo as lâmpadas, não faz a menor idéia dos requisitos mínimos para a aplicação das ARs, continuam a errar em seus projetos ou a solicitar a especificação dos equipamentos para os vendedores de lojas simplesmente porque não dominam a matéria/produto que estão vendendo para seus clientes.

Infelizmente tem muitos profissionais que fazem especialização, levam o curso com a barriga e depois recebem o papel que lhes dará o direito de ostentar o título de “Lighting Designer” ou “especialista em iluminação” por aí, enganando o mercado e seus clientes e soltando estas mesmas frases clichês quando surge uma oportunidade na mídia.

O pior disso tudo? Alimentam e ampliam o rol dos desinformados e incompetentes que marcham atrapalhando o desenvolvimento sério da área através de seus projetos toscos e chupados – pode-se dizer também, chutados.

Quer realmente ser um profissional de LD?

Então viva da luz e na luz!!!

Leve choques acompanhando o eletricista instalando os equipamentos, faça você mesmo a afinação da iluminação, atreva-se a instalar luminárias e, principalmente, tenha experiência em iluminação de teatros.

Dias atrás dei uma entrevista para a Helenida Tauil aqui de Londrina e quando ela me perguntou a diferença entre iluminação e lighting design eu coloquei mais ou menos isso:

Num projeto de iluminação – que é o que vemos em revistas – o profissional define o layout e depois joga a luz em cima com a intenção de “tapar buracos” ou esconder aquilo que não se quer mostrar através da ausência de luz. Num projeto de LD o especialista faz o caminho inverso: primeiro ele pensa na luz buscando atender às necessidades do cliente/usuário e depois complementa com o layout. Seja na arquitetura ou em interiores o ponto de partida é sempre a luz, seja ela natural ou artificial, ou ainda quando possível, as duas.

Sim o LD não trabalha apenas com a luz artificial. A luz natural faz parte de seu trabalho também.

Estou trabalhando atualmente em 5 projetos onde o ponto de partida (ou partido) é a luz – isso aprendi conversando com o Oz Perrenoud.

Estranho? Difícil entender? Complicado demais conceber algo partindo da luz?

Um destes projetos é um oratório e comecei pensando em tudo que a Cruz e a vida de Jesus representam. Eu sempre tive na cruz a imagem da Luz Divina, da luz irradiando dela banhando nossas vidas. Parti daí.

“A cruz será com retro-iluminada então Paulo?”

NÃO! Built-in nisso seria óbvio demais.

“Ah, então terá um projetor no centro dela jogando luz pra frente ou pegando ela de frente?”

NÃO! Isso seria brega e comum demais.

“#ComoFaz então Paulo?”

Aguardem pois assim que estiver finalizado tirarei fotos e colocarei aqui para vocês verem. Mas posso adiantar: comecei pelas sensações que eu quero que as pessoas tenham ao estar naquele ambiente. E a luz é uma sensação fundamental para a vida, incluindo a vida espiritual.

Portanto, se você usa o título LD ou especialista em iluminação – ou qualquer outro – sem ter conhecimento tenha consciência de que quem está perdendo é você mesmo ao enganar seus clientes oferecendo um produto para o qual você não é capacitado e, principalmente, o respeito dos profissionais sérios da área e que são verdadeiros LDs.

#FicaDica

Parcerize-se com um verdadeiro especialista no assunto. Já no primeiro projeto em parceria você irá perceber o ganho em qualidade no seu projeto.

;-)

LD – Luz dinâmica

Um assunto bastante interessante e que infelizmente ainda não é utilizado aqui pelo Brasil salvo pouquíssimas excessões: a luz dinâmica.

Mas o que vem a ser essa tal de “luz dinâmica”?

De uma forma simples e rápida é a luz não estática.

Entende-se por luz estática aquela que estamos acostumados a usar nos projetos, que utilizam luminárias “normais” como spots embutidos ou nao, pendentes, arandelas, projetores, etc.

Já a luz dinâmica pode-se dizer que nasceu da iluminação cênica pura, especialmente a de shows musicais e boates.

Ela pode ser “fixa”: sofrendo alteração de cores (RGB e filtros), texturas ou imagens (através de gobos e filtros) sobre a superfície iluminada.

Mas ela também pode ser “móvel” utilizando-se de equipamentos específicos.

O vídeo a seguir mostra uma bela apresentação de efeitos para boates e eventos:

Toda esta movimentação, cores e texturas projetadas podem ser aproveitadas num projeto de LD voltado para a arquitetura ou Design de Interiores/Ambientes.

Observe neste vídeo uma fantástica aplicação para o espaço urbano:

Bom né? Pois observe este outro vídeo do mesmo grupo com outras idéias geniais:

Olha só o que este grupo de estudantes de design aprontaram:

Curti muito especialmente a parte de projeções de sombras dos transeuntes. Vivemos em cidades violentas, estressantes e este tipo de produção certamente pode ajudar a contrapor isso. Lembro-me de uma oficina que ministrei em Curitiba para professores da rede estadual de educação, na disciplina de educação Artística, e que mostrei a eles como é fácil brincar com o teatro de sombras nas escolas usando um retroprojetor e um lençol. Professores com 40, 50,60 anos viraram crianças ao brincar com suas proprias sombras. E é isso que a população necessita nas cidades.

Já postei este vídeo aqui num outro tópico mas vale a pena mostra-lo de novo pela beleza da instalação:

Agora, misturando LD com um painel cinético, diga que isso não caberia perfeitamente dentro de um shopping, uma boate ou até mesmo dentro de uma residência ou loja, guardadas as devidas proporções?

Outra boa forma de aplicação da luz dinâmica é com a aplicação de paineis fixos em LED que promovem maravilhosas alterações do espaço e o melhor de tudo: são programáveis. Sei que ainda são equipamentos caros, porém a beleza que estes trazem para os ambientes é incrível. Observe este vídeo de instalação e teste de um destes painéis:

Observem como a simples aplicação de um sistema RGB pode mudar muito o visual urbano, seu skyline:

Aqui no próximo, a aplicação em um objeto que pode ser, tranquilamente, uma mesa de centro ou apoio numa loja ou numa residência de um cliente mais descolado:

Ou também numa instalação parietal como estas de um estande da Flos e de algumas outras imagens que tenho aqui em meu PC, que eu acho geniais pela aplicação destes diversos recursos:

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Finalizando, para quem acha que os LEDs ainda são ineficientes para iluminação de grandes áreas, dê uma olhadinha neste próximo vídeo. Observem que em alguns momentos aperecem aplicações, por vezes simples, mas que fazem muita diferença:

Então, dá para encarar? Dá para pensar em como aplicar estas soluções em nossos projetos?

Coletânea de materiais – LabLuz

Pessoal, já postei aqui ha bastante tempo mas sempre é bom relembrar:

O LabLuz – Laboratório de Iluminação da UNICAMP – tem uma coletânea de arquivos disponível no site deles com muuuuuuuito material sobre iluminação, arquitetura, cênica, etc.

É um trabalho desenvolvido pelo colega Valmir Peres, LD especialista em iluminação cênica.

Vale a pena uma visita pois tem muita coisa boa por lá pra quem gosta de ler e busca informação.

O link para a coletânea é este aqui.

 

 

Entrevista: Jamile Tormann – iluminadora

Bom, prometi que iria começar a sessão de entrevistas aqui no blog em alto estilo. Cumpro a promessa com esta entrevista exclusiva da lighting designer Jamile Tormann.

Uma “iluminadora de bolso” (como ela mesma se entitula) que tem um trabalho de excelência e respeitadíssimo. Pesquisadora, autora de livros, coordenadora de cursos, faz parte e ajudou a fundar as principais associações de iluminação do Brasil além de ser uma pessoa adorável.

Agradeço a ela pela presteza e simpatia de sempre no atendimento aos seus contatos e também, por aceitar compartilhar -e muito – de sua experiência profissional com todos através desta entrevista.

Para quem desejar conhecer mais de seu trabalho, visite o site dela, sempre recheado de informações e novidades.

Segue a entrevista:

Jamile, fale um pouco sobre a sua formação e início de carreira.

Trabalho há 21 anos com iluminação. Tornei-me iluminadora graças à minha fada madrinha, Marga Ferreira, que desde os meus seis anos, me levava para os teatros gaúchos todos os finais de semana. Minha escolha profissional teve influência também em minha mãe, que foi professora de artes dramáticas, em meu pai, que chegou a ser editor de revistas, meu irmão que sempre me incentivou e por muita gente que sem saber passou por mim, e me influenciou no jeito de ver “luz”, de conceber, de agir, de pensar e de ser. Como diz Kafka: “somos a quantidade de pessoas que conhecemos”. Com 14 anos me tornei assistente de iluminação de João Acir de Oliveira, então chefe do Teatro São Pedro e, entre separar um filtro e outro, meu interesse pela área cresceu. Hoje, moro em Brasília, realizo projetos de iluminação cênica e arquitetural, sempre executado por equipes das empresas atuantes no mercado, supervisionadas por minha equipe. Como pesquisadora, investigo há seis anos a educação profissional no mundo produtivo da iluminação, com o objetivo de atuar no processo de formação, bem como de encontrar subsídios para desenvolver minha proposta de regulamentação profissional no Brasil, junto à Câmara Legislativa.

Sou sócio-fundadora de duas associações: A Associação Brasileira de Iluminação (ABIL) e a Associação Brasileira de Iluminação Cênica (ABrIC). Coordeno o curso de especialização em Iluminação e o Master em Arquitetura, ambos do Instituto de Pós-Graduação (IPOG). Cursei Arquitetura e Urbanismo, no Rio de Janeiro, e Licenciatura Plena em Artes Visuais, em Brasília, tenho pós-graduação em Iluminação, mestrado em arquitetura.

Quais as principais dificuldades encontradas nesse início? Como as superou?

O problema, desde sempre, foi a ausência da regulamentação da profissão de iluminador.  O governo necessita deste olhar mais apurado e urgente sobre o assunto para colocar ordem na casa. Fala-se tanto em eficiência energética e etiquetagem de edifícios, sabe-se que a economia gerada pelo entretenimento é a quarta maior do mundo, que sem luz não vivemos, e ainda assim não sabemos qual profissional estará de fato qualificado para atender estas demandas e lidar com a tecnologia de ponta que nos invade a cada dia. Quem sabe projetar com luz ? Ser projetista de iluminação é ser responsável por direcionar o olhar do outro. É ser um alfabetizador visual. É oferecer conforto luminoso para todos que quiserem nos contratar e usufruir deste prazer necessário. No entanto, ainda não há esse reconhecimento e nossa profissão sequer consta na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO, do Ministério do Trabalho). Somos aquele item “outros” para a lei e para os formulários que preenchemos quando, por exemplo, fazemos um check in nos hotéis. Essa é uma das razões para eu realizar uma pesquisa, por meio do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, sob a coordenação da professora doutora Cláudia Naves Amorim. Esta pesquisa pretende revelar qual a importância do profissional de iluminação, sua trajetória, área de atuação, organização, atribuições, condições de trabalho e formação profissional e, ainda, se o mercado está apto a recebê-lo. A pesquisa será a base para a elaboração do projeto de lei que pretende regulamentar o setor e será apresentado à Câmara dos Deputados pelo deputado federal Luiz Paulo Velloso Lucas (PSDB/ES).

A falta de formação do profissional de iluminação e a falta de uma metodologia de projeto, com uma linguagem unificada, são duas coisas que sempre me incomodaram muito desde o inicio. Busco desafios e tento abrir o mercado de trabalho para os que estão se formando, pesquisando e estudando, pois o empirismo acabou nos anos 90 e precisamos dar um basta a ele.


Jamile, você que também trabalha diretamente com educação, sendo coordenadora e professora do curso de pós em iluminação do IPOG, como vê a formação em iluminação nos cursos de superiores (não pós) existentes no Brasil? Falta alguma coisa?

Não há exigência de diploma para que iluminadores/lighting designers, eu chamo “projetistas de iluminação”, possam exercer suas atividades. Não há cursos regulares de iluminação, mas sim cursos livres, esporádicos, inclusive oferecidos por empresas de iluminação.

Os interessados devem procurar estágios com profissionais que tenham escritórios, em teatros, TVs, produtoras, lojas de iluminação, empresas de iluminação ou a indústria, para aprender na prática. Para quem tem graduação em outra área, já podem contar com os cursos de especialização em Iluminação que algumas Universidades oferecem em cidades como: Rio de Janeiro, Florianópolis, Brasília, Belo Horizonte, Manaus, Belém, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Londrina, Fortaleza, Salvador, Aracaju, João Pessoa, Natal, Vitória, São Paulo, Florianópolis e São Luiz. Tais cursos trazem em sua grade excelentes profissionais e docentes, com uma boa proposta pedagógica e de especialização para o profissional voltar ao mercado de trabalho com formação adequada.

Uma proposta de curso, em nível superior, poderia criar diferenciais para se crescer na profissão, seja pela aquisição de um conhecimento objetivamente sistematizado, isto é, para aplicação na vida prática do mundo produtivo, seja pela inserção do profissional no campo da pesquisa, que ainda é quase inexistente no Brasil. Eu apresentei um projeto de graduação em iluminação em 2006 mas ao longo de minha pesquisa descobri que falta mesmo é função técnica, de nível técnico, no mercado. Temos deficiência de profissionais qualificados em executarem nossos projetos. Profissionais que saibam ler o que está nas plantas e ser reconhecido como tal. Espero que a pesquisa e a regulamentação da profissão, possam ajudar a modificar para melhor o cenário da formação do profissional em iluminação, no Brasil, com o apoio da indústria, das empresas e dos profissionais deste segmento.

Pós -formação. Qual a importância disso na vida do profissional?

Sabe-se que o mercado de trabalho, nos dias de hoje, vem exigindo dos trabalhadores níveis de formação cada vez mais altos, para que desenvolvam competências cada vez mais refinadas, exigidas pela complexidade que caracteriza a vida em sociedade.

Segundo relatório da UNESCO para a Educação do século XXI (UNESCO, p. 1, 2002) a Educação Profissional no Brasil está mudando. O país alertou-se para o fato de que sua população economicamente ativa não pode permanecer com tão baixos níveis de escolaridade e de formação profissional.

Nesse contexto, a educação profissional precisa proporcionar às pessoas um nível mínimo de competências que lhes possibilitem:
– Capacidade de adaptação a um aprendizado ágil e contínuo;
– Flexibilidade na aprendizagem;
– Domínio das novas tecnologias, incorporadas ao mundo do trabalho e ao conhecimento humano;
– Refletir sobre o que diz Berger Filho, quando escreveu em 2002 sobre a educação profissional e o mundo produtivo, que “o princípio da educação profissional é o da empregabilidade, pois não adianta formar pessoas para um mercado que não existe.

O mercado existe e isso explica meu esforço para com a educação profissional.

Hoje existem cursos de pós-graduação em iluminação, e o acesso ao conhecimento está mais fácil do que há 10 anos. A troca de informações entre os profissionais também melhorou bastante. Existe uma demanda grande no mercado de iluminação para profissionais capacitados e, nesse sentido, se o profissional quer sobreviver ao mercado, precisa se especializar. Não tem para onde correr.

Com relação ao mercado de trabalho, percebo que fora dos grandes centros, a resistência do mercado a projetos de Lighting Design ainda é grande. O que vemos na maioria das vezes é a aplicação daqueles “splashes” de luz colorida. Qual a situação atual e as perspectivas para o Lighting Design aqui no Brasil fora dos grandes centros?

O fazer iluminação evoluiu e transformou-se no mundo produtivo, mas não tão rápido e nítido como os equipamentos de iluminação disponíveis atualmente no mercado. A razão disto está ligada ao fato de que o material humano não é tão maleável como a aparelhagem técnica. (ROUBINE, 1998, p.182).

Quando o assunto diz respeito aos profissionais de iluminação, o ato de intervir no espaço com a luz agrega um conjunto de ações que resultam no ato de iluminar, ato sujeito às especificidades de cada situação (local, prazos, objetivos, espaço, estrutura física, outros profissionais envolvidos, tipos de equipamentos, materiais disponíveis, nível de conhecimento do projetista de iluminação (lighting designer) sobre o “objeto” que vai iluminar). Ser um profissional de iluminação significa pertencer a uma categoria com funções determinadas pela natureza do trabalho e conhecimento na área, que não pode se desvincular do desenvolvimento tecnológico da área e das áreas multidisciplinares com as quais é necessário dialogar.

O cenário de iluminação no Brasil, muitas vezes, apresenta uma dicotomia: de um lado profissionais com muita prática e sem o aprendizado teórico, e outros com muita formação teórica e nenhuma prática.

Não se trata aqui de julgar ou atribuir valores aos tipos de formação existentes, mas, antes, questionar o que seria necessário ou suficiente em termos de formação profissional. O que está na pauta, atualmente, nas reflexões que busco nutrir juntos aos pares, junto aos alunos, por exemplo, é que o mercado de trabalho, de maneira geral, vem buscando cada vez mais o profissional com conhecimento específico, aprimorado e atualizado. Em suma, alguém com desenvoltura artística e técnica, prática e teórica. Principalmente em virtude dos avanços tecnológicos e dos altos custos dos equipamentos de iluminação, bem como a sua manutenção.

Como o debate gira em torno de formação profissional, ou, ainda, a educação profissional e a sua relevância para as demandas do mundo produtivo, que são grandes, seria o caso de reconhecer o valor de uma formação que compreenda, no objeto de estudo, a prática e a teoria como fatores indissociáveis e complementares. Pois a teoria precisa estar vinculada à prática e esta, muitas vezes, precisa recorrer à teoria para obter respostas e soluções.

Assim, para que isto seja viável, entretanto, o mercado de trabalho precisa se adequar e promover as adaptações que se mostrarem necessárias para responder ao conjunto de necessidades que estiverem em jogo, seja por parte do empregador, seja por parte do novo ou antigo profissional.

A demanda é grande em centros urbanos mais populosos, mas fora deles não existe ainda a cultura de se contratar um profissional de iluminação. Muitas pessoas sequer sabem da nossa existência (profissional com formação acadêmica e pós-graduado) e quando sabem, por se tratar de algo ‘novo’, muitas vezes não querem pagar o valor que cobramos.

Quais pontos falham nesse sentido e que medidas poderiam ser tomadas visando o reconhecimento da profissão fora dos grandes centros?

Neste contexto de idéias que citei anteriormente, é necessário promover ajustes no espírito de um novo paradigma: a educação profissional do projetista de iluminação (lighting designer). Valorizar-se o estudo, o aperfeiçoamento, a teoria e a prática – o conhecimento cientifico (realização de pesquisas) em diálogo com o conhecimento adquirido empiricamente, situações de ensino e aprendizagem em favor do profissional, em favor da produção artística, em favor do mercado. Penso que há muita demanda de trabalho, mas os profissionais e o mercado de trabalho estão mais preocupados em resolver o agora e não a sustentabilidade do mercado e do profissional qualificado. É difícil o reconhecimento deste profissional fora dos grandes centros, pois as grandes indústrias estão nas grandes capitais brasileiras. No entanto, creio que o reconhecimento, por meio de lei, da nossa profissão, ajudará muito. Os profissionais também precisam se reconhecerem e compreenderem que pertencem a um núcleo de profissionais ou a uma categoria profissional.

Uma mostra pública – como a Luminalle, Fête dês Lumières, etc – não tornaria mais fácil a visualização por parte do mercado da diferença entre o trabalho do Lighting Designer especializado do daqueles profissionais com apenas a carga horária acadêmica de sua formação universitária? Quais as possibilidades disso acontecer aqui no Brasil mesmo que em menor porte que estas internacionais?

No Brasil já existem alguns eventos específicos, prova de que já existe um vasto mercado nessa área e público para essas mostras. Um exemplo é a Expolux, que já está indo para a 13ª edição e a Lighting Week Brasil, que acontecerá em São Paulo, no mês de setembro de 2010. Os organizadores precisam investir no material humano e a indústria precisa investir em pesquisa. O que se tem feito é marketing cultural e não cultura de disseminação em iluminação tampouco eventos de cunho científico.

“A aplicação de elementos cênicos na iluminação arquitetural” ou “A iluminação hoje em dia tem um caráter cênico”. Frases desse tipo já caíram nos discursos de profissionais não especializados na tentativa de trazer para o seu trabalho um valor a mais. Eu particularmente não percebo o Lighting Design presente nos projetos de grandes nomes da arquitetura e Design de Interiores (nacionais e locais) e sim apenas uma iluminação melhorzinha – esteticamente falando – que a anterior. Quais os pilares que o projeto deve estar alicerçado para poder realmente ser considerado um projeto de Lighting Design?

Meu processo de desenvolvimento de projetos é sempre criar o espaço a partir da luz, encontrar a função e o significado da luz naquela obra de arte, objeto ou espaço que estou iluminando, contar uma história com ela, depois analiso os recursos que tenho disponíveis e quais podem me auxiliar a contar esta história.  Ou seja, só depois parto para as especificidades de cada situação (local, prazos, objetivos, espaço, estrutura física, outros profissionais envolvidos, tipos de equipamentos, materiais disponíveis). Neste caso, creio que os principais fatores que devem ser levados em conta são:

1º. – cuidado e atenção. Tento pensar em várias possibilidades e achar soluções eficientes para aquele projeto. Pois não existe uma solução e sim uma para cada projeto. Projetar em escala e fazer o que está ao nosso alcance, com os pés no chão. Projeto que não é executado é sonho, não é realidade. A realidade, ou seja, a implantação do projeto de luz é que nos permite fechar o círculo infinito da criação, da contemplação, da reflexão, da mudança.

2º. – observar onde o projeto estará inserido, sob que contexto, que cultura. Que tipo de espectador ou usuário estará se apropriando dele, o quanto o usuário se apropria, o quanto este compreende os seus signos e valores, o quanto aquela luz é importante no cotidiano de vida dele. Eu acredito que a luz influenciou e influencia até hoje a vida e o comportamento das pessoas. Gosto de projetar pensando nestas questões e o quanto posso intervir e interferir neste percurso.  Procuro conhecer as pessoas, tento me familiarizar com o “modus operandi” delas.  Observo muito e fico calada. Depois, troco idéias com quem me contratou para projetar e tento trabalhar dentro da realidade local, agregando valor àquela cultura, através da iluminação.

Concordo com o Lighting Designer mexicano Gustavo Avilés, quando diz que “a luz pode ser considerada um elo entre aspectos subjetivos e objetivos da humanidade, pois funciona como mensageiro visual que permite ao ser humano fazer diversas correlações, como medidas lineares, volumes, área, geometria, contagem do tempo, outros eventos”.

3º. – projeto coerente ao orçamento, para que possa ser realizado integralmente.

E por fim – a escolha dos equipamentos (abertura de facho, desenho do facho, alcance em metros da luz, potência de luz – lumens – e temperatura de cor), em virtude dos fatores supramencionados.

Finalizando, sobre a ABIL. Como e porque surgiu esta associação?

A ABIL é uma associação, cultural e social, sem fins lucrativos, que surgiu para desenvolver o conhecimento da luz no âmbito nacional, criando assim uma cultura da luz.  Nossa missão é oferecer cursos, organizar palestras, organizar simpósios e mostras, que visam à divulgação da produção mundial das técnicas e arte de iluminar. Editar ou reeditar publicações nacionais e estrangeiras. Disponibilizar informações sobre assuntos luminotécnicos e afins de maneira mais eficaz. Mas a correria do dia-a-dia tem nos impedido de sermos mais eficientes como gostaríamos. Mas isso não anula os motivos que deram origem à Associação Brasileira de Iluminação (ABIL), isto é, a paixão pela iluminação em suas diversas linguagens e inserção no ambiente onde o ser humano interage. Já arcamos do próprio bolso a vinda de profissionais da França, Estados Unidos, Argentina, Chile, Áustria, Alemanha, além dos profissionais residentes nas várias cidades brasileiras. Tudo isso para mobilizar idéias, compartilhar experiências, produzir uma cultura da iluminação e consolidar a profissão. Nesse sentido, quero lhe parabenizar, Paulo Oliveira, por sua gestão na proliferação da cultura da iluminação, quando idealiza a realização de entrevistas com profissionais, quando administra um blog chamado Design: Ações e Críticas. Precisamos de mais pessoas como você. Obrigada.

A Influência da Iluminação Cênica na Iluminação Arquitetural

Resumo de palestra no 3º. Seminaluz – 2007

Por: Valmir Perez

 

Com o avanço técnico das soluções em iluminação das últimas décadas, pudemos observar uma revolução bastante efetiva no design de iluminação de interiores, exteriores, pública, museológica, de monumentos, etc.

Essa revolução tem como uma das principais características a busca de elementos estéticos e expressivos da luz cênica. Isso não foi gratuito, pois grande parte das lâmpadas, luminárias e equipamentos hoje utilizados na iluminação arquitetural tiveram seus desenhos inspirados nos equipamentos da iluminação cênica e em suas características ópticas, de movimento, trocas de cores, etc. que sempre possibilitaram um leque bastante variado de aplicações criativas sobre os palcos.

Desde então, e é claro, podemos supor que se, a performance técnica dessas ferramentas oferece condições amplas de aplicação estética da luz sobre os ambientes, certamente os designers de iluminação, que utilizam essas ferramentas, acabam se tornando artistas e co-criadores das obras arquiteturais. Dessa forma e muito provavelmente, desde essas últimas décadas do século passado e até o presente momento, estamos assistindo ao nascimento de novas formas de expressão artística ligadas á arquitetura e à luz, o que também certamente nos trará abertura para discussões mais amplas sobre essa nova arte.

Mas por que arte? Por que devemos conceber a iluminação cênica e, consequentemente a iluminação arquitetural, como arte, e seus designers como artistas? Serão verdadeiras essas afirmações apenas porque novas tecnologias estão á disposição desses profissionais, ou outras questões entram no jogo?

Para responder a essas e outras perguntas, devemos primeiramente tentar definir, mesmo que resumidamente, do que trata a arte. Como se dá sua mecânica, entrando um pouco em sua intimidade.

Segundo alguns teóricos, a arte pode ser dividida em três aspectos: arte como pensar, arte como conhecer e arte como exprimir. Esses aspectos ou concepções, ora se contrapõe, ora se combinam e aliam-se, ora se excluem mutuamente,

Sendo assim, podemos entender que é “arte do pensar” de como a luz e suas propriedades influenciam psicologicamente as pessoas através de suas manifestações e processos que se desenvolvem sobre os ambientes e palcos.

É “arte do conhecer”, pois, desenhistas de iluminação precisam saber claramente o que eles vêem no mundo real e como e porque as luzes se comportam de determinadas formas, suas propriedades físicas, etc.

É “arte do exprimir”, ou seja, de como esses artistas utilizam as técnicas e conhecimentos, suas ferramentas, etc. para materializarem suas obras, suas idéias e ideais.

Tudo isso também nos leva a pensar que podemos verdadeiramente denominar as atividades dos designers de iluminação e iluminadores como arte, exatamente porque essas atividades contém aspectos semelhantes a outras manifestações artísticas, como, por exemplo, as da pintura, pois, tanto a arte pictórica como a iluminação necessitam de suportes para que se dêem as suas materializações; realizam-se no espaço, inclusive a iluminação também no universo temporal; solicitam de seus criadores e executores conhecimentos técnicos e estéticos; são realizadas e construídas com o apoio e utilização de ferramentas e acessórios; exigem conhecimento de linguagem expressiva e, por fim ainda, a iluminação tanto pode ser ela mesma a própria obra, como elemento de apoio, participativo e interativo á outras.

Podemos ainda intuir que os artistas da luz dividem seu espaço e sua criação com outros artistas e meios de expressão em busca de uma obra coerente, harmônica, e são aqueles cujas obras estão ligadas a conceitos criativos não-repetitivos, intencionais, cujas funções são determinadas pelos seus momentos expressivos através da luz, e o design de iluminação, como sendo “a arte ou o trabalho manual de criação visual através da luz e suas propriedades”. Entre essas propriedades, podemos citar o brilho, a intensidade, a direção, o ângulo de incidência, a velocidade, a cor a textura, a forma, o volume, o tipo movimento, a duração, etc.

Artistas se utilizam dessas propriedades da luz para determinar espaços; evidenciar e ocultar; controlar o resultado visual das formas; modular o tempo; reforçar e criar “climas” emocionais; criar sensações de frio, calor, condições climatológicas, estados mentais, etc. aproximar e distanciar seres, objetos, etc.

Se então, como afirmamos anteriormente, as ferramentas e instrumentos de iluminação cênica, que possibilitam mais facilmente essas criações, tiveram seus conceitos transferidos para a iluminação arquitetural, fica obviamente claro que as aplicações estéticas também. Essa a influência maior que pode ser observada nos novos projetos. Uma abertura e liberdade maiores de expressão pelos designers de iluminação arquitetural. O que não ficou claro ainda é como isso está funcionando ou pode funcionar, pois, se os iluminadores cênicos possuem métodos de trabalho em suas criações expressivas, provavelmente esses métodos estão começando a ser utilizados pelos designers de iluminação de espaços arquitetônicos e, devem existir então paralelos visíveis e mesmo semelhantes nessas atividades.

Para facilitar nosso resumido estudo, dividi essas atividades em algumas etapas:

•         Pesquisa – Levantamento das informações que determinarão as bases do processo criativo.

•         Criação – É o processo criativo do artista em funcionamento. O desenvolvimento imagético de suas idéias e concepções visuais.

•         Desenho – Expressão visual técnica e estética dos mecanismos de comunicação.

•         Execução – A construção material da obra sobre os suportes com a utilização dos meios ferramentais.

•         Operação – A obra quando expressa através de mecanismos de controle dessas ferramentas dentro de um determinado universo espetacular.

Na fase da pesquisa:

Essas pesquisas compreendem os levantamentos no interior do universo das técnicas, ferramentas e condições oferecidas para concretização dos trabalhos, assim como as pesquisas estéticas, visuais e do conjunto dos elementos participantes da obra.

Na fase da criação:

Que é o processo criativo em ação, onde se dá a utilização dos elementos da pesquisa na concepção estética da obra, a criação de esboços, onde entra a intuição criativa, as adaptações poéticas da obra para fins harmônicos, a utilização de ferramentas para criação de materiais de comunicação, e isso pode também se dar através softwares de simulação. É também, em muitos casos, a fase dos cálculos e adaptações e a busca pelas ferramentas e suportes ideais para materialização da obra.

Na fase da execução:

Nessa fase os designers executam os projetos, mas não as obras, que são executadas por outros profissionais. Esses projetos são mecanismos de comunicação entre as partes envolvidas na execução da obra. É também nessa fase que os designers definem os movimentos das luzes (quarta dimensão), acompanham a execução dos projetos e, em alguns casos, tais como o da iluminação cênica, podem ou não acompanhar as apresentações e suas repetições.

Para completar nossa análise, devemos compreender que, as atividades desenvolvidas pelos designers de iluminação cênica e os designers de iluminação arquitetural, embora bastante semelhantes, no que diz respeito aos processos, tornam-se muito diferentes e peculiares em aspectos mais objetivos. Para falar sobre isso, vou analisar rapidamente a luz nos espaços arquitetônicos em relação à luz sobre os palcos:

Na arquitetura: os personagens “são” o próprio público; os pontos de vista são complexos; as cenas cotidianas não seguem roteiros rígidos; os atores saem de cena apenas e quando deixam o “teatro”; a iluminação é operada pelos próprios atores (residências); os equipamentos compõem parte da “atmosfera” e da cenografia; a luz nos palcos, como na arquitetura, deve iluminar, mas ao mesmo tempo contribuir para a valorização das poéticas inseridas no todo da obra; A luz deve contribuir, na arquitetura,  para o conforto ambiental.

Podemos também concluir que a influência da iluminação cênica na arquitetura surgiu das mudanças culturais profundas as quais vimos passando. De uns tempos para cá, nos tornamos culturalmente mais livres, fomos levados a dar maior importância às imagens em nossas vidas cotidianas, dessa forma, buscamos maior sentido expressivo para nossas vidas. Somos ensinados a comprar estilos de vida e não apenas produtos e vivemos num momento de busca por mudanças de paradigmas na arte, na filosofia, na religião, na ciência, etc.

Essas coisas, ou o próprio conjunto delas, provavelmente estejam também mudando o olhar das pessoas em relação à luz. Vivemos há um tempo atrás o mundo das máquinas, hoje vivemos o mundo dos robôs, das comunicações. Nesse novo mundo, a mim me parece, as cores, sons, formas, movimentos, etc. são muito mais rápidos, alucinantes, envolventes. Esse envolvimento, que é a essência do teatro, da performance cênica, pulsa agora nas ruas de nossas cidades, em nossas vidas diárias. Talvez por isso mesmo, a luz teatral, cênica, aquela que vem carregada de sentidos, esteja tomando o espaço da luz confortável, mais preocupada com o relaxamento e saúde das pessoas. Questiono muitas vezes se estamos tomando a estrada correta ao transformarmos nossas cidades em parques de diversão. Creio que o melhor, seria o uso equilibrado dessas novas tecnologias, para que as gerações futuras possam olhar para cima e ver as estrelas do céu.

 
Valmir Perez
Lighting Designer
Laboratório de Iluminação
Unicamp
www.iar.unicamp.br/lab/luz
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