Sejamos honestos?

Eu estava já a bastante tempo pensando em escrever sobre um assunto que eu sei que é espinhoso e que certamente muitos irão me criticar por causa dele. Anteontem a Rô, do blog Simples Decoração, soltou o link de uma matéria da ArcoWeb que me encorajou a fazê-lo já que o texto apresenta dados reais sobre o que eu quero escrever.

Bom, em primeiro lugar temos de parar essa onda de que a profissão A é melhor e mais completa que a B. Digo isso pelo simples fato de que não é a profissão que é melhor e sim que existem excelentes profissionais e péssimos profissionais, de todos os lados e em todas as profissões. Raríssimos são os que saem de uma faculdade com um nível de excelência profissional. Por isso, arquitetos recém formados, abaixem seus topetes quando forem se referir aos designers ok?

Como se pode observar na primeira parte da matéria, até mesmo os grandes e renomados profissionais não são tão perfeitos como apresentam ser. Percebe-se nas linhas escritas pelo jornalista certo susto com o que foi descobrindo à medida em que buscava informações sobre o assunto da pauta: a NBR 15.575 que trata do desempenho das edificações.

Ela vem dividida em cinco partes:

ABNT NBR 15.575-1 Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos – Desempenho
Parte 1: Requisitos gerais
ABNT NBR 15.575-2 Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos – Desempenho
Parte 2: Requisitos para os sistemas estruturais
ABNT NBR 15.575-3 Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos – Desempenho
Parte 3: Requisitos para os sistemas de pisos internos
ABNT NBR 15.575-4 Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos – Desempenho
Parte 4: Sistemas de vedações verticais externas e internas
ABNT NBR 15.575-5 Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos – Desempenho
Parte 5: Requisitos para sistemas de coberturas
ABNT NBR 15.575-6 Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos – Desempenho
Parte 6: Sistemas hidrossanitários

Como podemos perceber logo de início da matéria, o reporter que fez a pauta encontra-se (podemos dizer) “assustado” ao constatar que “Na tentativa de saber como alguns escritórios de arquitetura estariam se preparando para trabalhar com base na NBR 15.575, que será exigida a partir de 12 de março de 2012, a reportagem obteve apenas uma resposta positiva,(…)“.

Isso porque, segundo a própria matéria, os escritórios foram escolhidos à dedo baseado em seu renome e reconhecimento junto ao mercado e à sociedade.

“Em outras tentativas, a reportagem deparou com o absoluto desconhecimento sobre a primeira norma brasileira a definir níveis de desempenho para edificações habitacionais. “Do que trata exatamente essa NBR?”, perguntou à repórter um conhecido e atuante arquiteto.”

Se assim é com os grandes, fico tentando imaginar como não deve ser com os menores e recém formados…

Portanto, volto a afirmar o que escrevi acima: antes de julgar outro profissional, PROVE que você é melhor que ele, na prática, e não apenas nos discursos. Seja ético e cumpra com as tuas obrigações profissionais. Conhecer e atender às Normas é parte fundamental deste processo.

Muitas vezes eu já escrevi que os profissionais tendem à mascarar a realidade para iludir e ganhar os clientes:

Já a secretária de um consagrado escritório de arquitetura não demonstrou nenhum constrangimento ao sugerir que seria perda de tempo falar com seu chefe. “O assunto é norma técnica? Ele não se liga nisso, não”, garantiu.

Foi uma excelente tática da repórter conversar com a secretária. Se tivesse falado diretamente com ele, teria ouvido um monte em “embromês” na tentativa desesperada de justificar o injustificável: a não aplicação de elementos essenciais ao seu trabalho. Os outros escritórios que a repórter entrou em contato para a matéria nem se dignaram a retornar a ligação.

A NBR 15.575 estaria em vigor desde maio de 2010 se não fosse a histeria coletiva dos arquitetos que não se antenaram a esta norma e conseguiram adiar a data. De maneira geral, como se pode ver no texto da reportagem, a grande maioria não estava pronta para assumir as responsabilidades que esta norma impõe sobre a atuação do profissional. Participo de diversos fóruns na web sobre design, arquitetura, engenharia elétrica e civil entre outros. Não vi, especialmente nos de arquitetura, qualquer debate sério sobre o assunto. Sempre que alguém tenta entrar no assunto, ou recebe respostas grosseiras ou o tópico cai no esquecimento ficando abandonado às moscas.

Claro que esse adiamento não veio apenas  por parte dos arquitetos e reconheço que quem teve mais força nisso foram as construtoras (através da CBIC) que sentiram um delicioso gosto de fel em suas gargantas ao terem de primar pela qualidade em suas construções ao mesmo tempo em que viram seus lucros diminuir à medida em que a exigência de qualidade dos materiais utilizados aumentou ou seja: basta de materiais de quinta categoria.

De qualquer forma, isso tudo só vem para corroborar com o que eu já escrevo a muito tempo: não é porque você fez arquitetura que você é melhor que qualquer outro profissional. Não é porque você fez arquitetura que você tem o direito de humilhar e pisar em profissionais de áreas correlatas. Você é apenas mais um arquiteto. E convenhamos, tem muitos por aí que saem das faculdades sem saber fazer uma PB decente, quiçá um projeto arquitetônico.

Não, não venham me apedrejar e culpar por escrever isso aqui. Ataquem quem realmente deve ser atacado e que são os verdadeiros responsáveis por isso: as UniEsquinas que oferecem cursos péssimos no padrão PPP (Papai Pagou Passou), as associações, sindicatos e conselhos que não funcionam como deveriam e os profissionais que mancham a arquitetura com a sua péssima e irresponsável arquitetura.

GADU? Tá errado…

Amigos, participando do portal Casa Pró, da revista Casa Claudia, vira e mexe me deparo com situações constrangedoras onde algumas pessoas que se acham deuses só por ser arquiteto acabam denegrindo e atacando os Designers e outras profissões.

GADU – Grande Arquiteto Do Universo. Termo utilizado por vários agrupamentos, entre eles a Maçonaria onde, talvez, o termo tenha nascido. Não concordo com este termo e a minha explicação se dá numa resposta que acabo de dar a um arquiteto numa das comunidades. Segue a resposta/ reflexão:

“engraçado Fabio,

Sempre tive em mente que as primeiras profissões que surgiram foram as de agrônomo ou zootecnista ou talvez, quem sabe, até mesmo a de decorador se forçarmos que o homem primeiro entrou para dentro das cavernas e procurou ajusta-la às suas necessidades deixando-a mais “confortável”. Logo, se não houve construção por elas ja existirem, o que houve foi a decoração.

Não consigo ver arquitetura nessa imagem…

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Outro ponto que me instiga é dizer que Deus foi o GADU. Não acredito pois a sua primeira ordem foi FIAT LUX (faça-se a luz) e, sabemos perfeitamente que isso não é obra de arquiteto e sim de engenheiros, físicos, etc… depois disso veio o grande biólogo na formação dos ecossistemas, sistemas estelares (astrônomos), geneticista,e depois, beeeeeeeeeeeeem lá pra frente, veio o bicho homem (e não Deus) brincar de construir… apesar de todas as estruturas pensadas e elaboradas, continuam a afirmar que trata-se de arquitetura e não de engenharia.

É uma questão de lógica, mas parece que o senso comum, os melindres e egos não aceitam a lógica e preferem historinhas da carochinha.

Temos de ver tamém que na Bauhaus houve um golpe sujo por parte de Mies quando destruiu a essência da escola ao acabar com as oficinas de artes e design inserindo-as como meras disciplinas de arquitetura… Os alunos que se colocaram contra essa tragica mudança de rumos, bem como professores como Kandinsky, foram denunciados como inimigos do Estado (comunista na época) e tiveram de fugir… talvez venha daí essa mania de “tudo posso” de ALGUNS ARQUITETOS e também a forma suja e nada ética como atuam no mercado. Claro que isso levou ao fim da Bauhaus, não poderia acontecer outra coisa.

Talvez venha da formação mesmo a arrogância e prepotência, vide Mies na imagem acima… Pela cara não precisa dizer mais nada.

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Sobre a sua visão dos cursos de interiores te digo: é medo. O que aprendemos dentro de um curso de Design de Interiores pode muito bem ser aproveitado em exteriores também e, por isso mesmo, adota-se ja a algum tempo o termo DESIGN DE AMBIENTES, independente se interno ou externo. Você desconhece completamente o que um Designer pode fazer ao afirmar isso de forma tão irresponsável ou, se conhece, deve ter medo de perder clientes para estes. Me desculpe mas é esta a visão baseada em experiências que tenho de profissionais de arquitetura que compartilham da mesma visão que vc.

Sobre leis, é fácil falar quando se está protegido. Porém outras áreas vem surgindo de acordo com as necessidades humanas e sua evolução (social, tecnológica, mercadológica, etc) e, queiram ou não, estas tem direitos independente de avançar sobre outras área sou não. Está na CF: direito ao livre exercício profissional desde que atendidas as exigências das Leis. E as exigências são formação acadêmica, que nós temos sim. Portanto é descabido este teu raciocínio.

Seria mais ético – e até mesmo salutar – se você viesse com um discurso menos ofensivo e melhor embasado como por exemplo: um designer pode lidar com estruturas?

Não, não pode. Porém o designer tem conhecimentos de leitura de plantas para propor alterações estruturais, idealizar livremente o que realmente venha a atender as necessidades do cliente. Se esta parede está atrapalhando, derrubemos ela então. Aí entra a parceria com os profissionais conscientes e éticos de arquitetura e engenharia que irão assumir esta parte no projeto sem problemas para ninguém. Quem ganha com isso?

Todos: o cliente, os profissionais e o mercado.

Mas os melindrosos não conseguem enchergar as coisas assim. Infelizmente.

Aí vemos diariamente arquitetos oferecendo orçamentos numa disputa da seguinte forma:
– projeto arquitetônico, paisagismo e interiores: R$ 20.000,00
– projeto arquitetônico: R$ 60.000,00

Assim fica fácil ah ah ah

Isso sem contar nas RTs que o bloco rende.

Isso é disputa de mercado?

Não, é golpe baixo e sujo. É a absoluta falta de ética.

Então, acho que já passou da hora dos profissionais (de todas as áreas) amadurecerem e esquerecer que moramos num país onde a ética foi jogada no lixo e fazermos a nossa parte na construção de uma sociedade justa, correta e ética.

“ah me esqueci,
sobre o GADU, Ele foi tbm, antes de arquiteto, um exímio geólogo na formação do planeta afinal, primeiro veio a formação da terra, depois a água…

afff “”

E ainda acrescento  ais sobre GADU: antes ainda de qualquer tendência à arquitetura, o bicho homem tornou-se artesão/designer ao criar seus utensílios domésticos, de caça entre outros e, para não ir mais longe, virou artista plástico ao imprimir nas paredes das cavernas as imagens que representam o seu dia a dia. Então, deixemos de ser hipócritas.

Acho que já passou da hora de alguns profissionais pararem de agir como crianças mimadas e birrentas e, antes de ficar esperneando ou fazendo fofoca porque perdeu uma disputa num projeto, procurar rever a sua história para encontrar onde estão seus erros, sua falta de informação/formação. E, principalmente, não atirar pedras no telhado dos outros se o seu é de vidro.

Abraços e excelente semana a todos.

Linha de produção

Lá vem o marreteiro novamente…

Um fato que tem me assustado bastante nesses últimos meses diz respeito à uma constatação que estou tendo na medida em que estou aprofundando o meu trabalho junto com uma de minhas sócias. Ela “só tem” mais de 25 anos de chão de fábrica e conhece como poucos o que isso quer dizer.

Através dos inúmeros contatos que estamos tendo com profissionais (arquitetura, design e engenharia principalmente) e empresários e lojistas chegamos a uma triste constatação: OS PROFISSIONAIS – A GRANDE MAIORIA – DESCONHECEM COMPLETAMENTE O QUE É, PARA QUE SERVE E COMO FUNCIONA UMA LINHA DE PRODUÇÃO.

O que temos percebido é que, no caso moveleiro, a idéia geral de uma linha de produção é igualada à produção de uma marcenaria de pequeno porte.

Isso fica claro já desde os primeiros contatos em conversas informais. E depois a coisa se torna mais e mais assustadora na medida em que começamos e ver “projetos” de mobiliário desenvolvidos por profissionais.Aqui, especialmente, percebe-se claramente a absoluta falta de noção dos profissionais seja em questões de concepção, seja na parte mais técnica mesmo no que diz respeito a matéria prima.

Os projetos – se é que se pode denomina-los assim – não passam de rabiscos e esboços. Não há indicação de corte, ferragens, montagem, encaixes… nada. Mais ou menos como aqueles desenhos que nossas professoras de educação artística nos pediam para fazer: uma cadeira. Perninha aqui, perninha ali, assento, encosto e voilá!!! Ah, e uma corzinha também.

Até mesmo os materiais – quando são indicados – na maioria das vezes são incorretos ou inaplicáveis ao caso por questões diversas como por exemplo, estruturais.

Não é entregue ao marceneiro nem ao menos uma planificação de chapas para corte e depois reclamam que os valores cobrados é absurdo. Claro que é. Se o marceneiro terá de fazer todo o projeto – incluindo aqui escolha de materiais, estudos estruturais e de montagem, planificação de corte, entre muitas outras coisas que vão além do trabalho dele que deveria ser construir o produto – é óbvio que o valor irá ser alto. Como se curva uma placa? Qual o processo? Precisa de máquina? Pra que eu preciso saber disso?

Querem ver onde isso fica cristalino? Projetos montados dentro de lojas.

Pessoas, qualquer um junta um punhado de coisas legais numa loja e consegue fazer sozinho uma decoração legal e vistosa. Isso é pura e simplesmente DECORAÇÃO. Não tem absolutamente nada a ver com DESIGN, com a área que escolhemos para trabalhar.

O que será que esse pessoal está ensinando nos cursos por aí? Aqui incluo também os de arquitetura porém com a ressalva que eles não são formados para isso, portanto, a decoração lhes serve perfeitamente.

Mas, formar-se em Design e vender decoração é forçar demais para qualquer pessoa com um mínimo de consciência. Formar-se em Arquitetura e vender decoração é um tremendo absurdo.

Onde raios foi parar o que vocês aprenderam nos cursos? Ou será que só iam fazer turismo nas faculdades e universidades?

Vocês não estudaram ergonomia, planejamento espacial, materiais, acabamentos, ferragens, desenho de mobiliário entre tantas outras coisas exatamente para não incorrer nessa falha vergonhosa?

Vocês não pesquisaram absolutamente nada sobre linha de produção, indústria moveleira, fluxo, etc? Não tiveram nem ao menos curiosidade em querer conhecer um pouco sobre isso?

Será que as únicas visitas que vocês fizeram até hoje foram a feiras e lojas? No máximo na marcenaria?

Estou começando a acreditar que a resposta para essa ultima pergunta é sim. Infelizmente.

Mesmo que tenha sido apenas na marcenaria, você se preocupa em acompanhar detalhes da montagem para ao enos entender como ela deve ser feita corretamente? Como os encaixes devem ser projetados? Você sabe dizer qual a melhor placa para ser usada em um banheiro? E o revestimento? Só existe a fórmica? Fala sério.

Dias atrás, acompanhando uma amiga arquiteta de fora numa loja de iluminação daqui fui indagado por uma vendedora que me conhece do porque eu nunca comprar nada lá. Olhei para ela, olhei para as luminárias expostas e soltei, em outras palavras claro, que nunca comprei nada ali porque de tudo o que eles tem ali exposto, nada me serve para projeto. O lighting não visa o decorativo mas sim o técnico. Ela com os olhos arregalados me disse que nunca ouvira aquilo de profissional algum e que acreditava que os produtos por eles vendidos eram suficientes. Aí comecei a lançar algumas marcas para verificar se  ela tinha ali na loja. Das 10 citadas, nenhuma pois ela acha as peças “feias”. Questionei então sobre quais as marcas que ela trabalha dispõem de um atendimento para o caso de eu desenvolver uma peça para um projeto específico, me confeccionariam essa peça. Resposta: nenhuma. Falei que para o lighting não importa a luminária e sim o efeito que ela proporciona e que o nosso trabalho não é uma iluminação decorativa e sim algo com uma carga muito forte conceitual e um alto conhecimento técnico que vão muito além de lâmpadas, spots e dimmers. Ela não entendeu nada. Detalhe: ela é arquiteta formada.

Outro dia fui a uma loja de móveis dar um oi para uma amiga que trabalha lá. Ela resolveu me mostrar a nova coleção. De cara já apontei um erro projetual numa estante. A dona da loja que é a designer dos produtos ouviu e veio “tirar satisfações” comigo alegando que eu sou abusado… Tentei explicar a ela qual era o erro e ela alegou saber exatamente o que fazia. Sugeri então que ela colocasse sobre a estante, nem que fosse uma fileira de livros para ver o resultado. Ela se recusou. Uns tres dias depois essa minha amiga me ligou dizendo que assim que eu saí da loja, a dona mandou colocar a fileira de livros lá em cima. Quando eles chegaram na loja, nesse dia da ligação, tudo estava no chão. E, claro, me chamando para ir lá pois a dona estava disposta a ouvir as minhas “dicas”. No entanto, no primeiro dia eu até poderia sim apontar onde estava o erro mas depois do que tive de ouvir, só o faria através de uma consultoria que envolveria, claro, custos. E o problema é algo simples demais que qualquer pessoa com um minimo de noção sobre mobiliário perceberia: trocar apoios para prateleiras por parafusos, ou seja, as placas que formam as prateleiras da estante deveriam ser parafusadas e não simplesmente apoiadas sobre descansos. Com o peso na parte superior, as laterais facilmente iriam se curvar para fora e com isso as prateleiras se soltariam dos apoios. Estas estando parafusadas evitaria esse problema pois entrariam como auxílio na parte estrutural.

Portanto gente, vamos honrar o nome que carregamos com profissão e fazer por merecer quando abrimos nossas bocas para dizer: “Eu sou Designer”.

O que temos aprendido em nossos cursos vai muito além do que está sendo feito por aí.

Ou será que a preguiça fala mais alto?