LD – a carnificina da mídia continua…

Well, well, welllllllllllllllll……

Vi dias atrás um vídeo enviado por um amigo meu sobre uma reportagem que o canal Record (leia-se igreja, hipocrisia e similares) apresentou em seu programa matinal Hoje em Dia. Trata-se de uma pauta do quadro “Arrumando a Casa”. Podemos tranquilamente defini-lo como algo do tipo Do It Yourself (DIY).

Muitas coisas cabem no DIY porém, a maioria dos itens que englobam uma reforma NÃO! Pior ainda se falarmos de iluminação.

Bem, a matéria começa – após uma péssima apresentação pela bela, porém sem graça, Gianne Albertoni – com uma arquiteta que se diz Lighting Designer… (duvido e explico a seguir).

Fui atrás de informações sobre ela após ver e ouvir a sua primeira fala onde, em resumo, ela compara um projeto de iluminação com, acreditem, um vestidinho preto básico. =0 (se fosse LD realmente jamais cometeria uma sandice dessas).

Pelamor!!! Parei o vídeo e fui correndo atras do site dela para saber quem ela é, qual a sua formação, etc… Pois bem, em seu site ela diz que estudou LD e Antiquariato na europa, mais precisamente na Sotheby’s, na Chriestie’s e no Victoria & Albert Museum. Ok gente, lá vou eu entrar em cada um destes sites para procurar os tais cursos de LD oferecidos por eles e que eu NUNCA ouvi falar em lugar algum, a não ser no site dela.

Olhem o que eu encontrei de cursos em todos estes sites que são oferecidos por essas instituições:

Na Sotheby’s:
Art Business
-International Art World I
-Ethics and Law I
-Art Finance I
-Research and Marketing Methodology
-International Art World II
-Ethics and Law II
-Art Finance II
-Professional Practice and Appraisal

Fine & Decorative Art
– Old Master paintings and connoisseurship
– Modern art and collecting
– Ceramics and trade
– Furniture and interiors
– Cataloguing and professional practice
– Techniques and materials
– The historical art market
– Country-house and collection studies

Contemporary Art
– Art from 1960 – 1990
– Critical issues in contemporary art
– Curating an exhibition in both public and private galleries
– Producing a print and web-based magazine
– Writing and publishing art criticism
– Research methodology
– Study visits to North of England and Northern Germany
– International guest lecture series and artist’s studio visits
– Art from 1990 to the present day
– Networks of the art world
– Globalisation and art practices
– Art, critisism and contemporary literature
– Research seminars and presentations
– Key global artists, key international exhibitions
– Research methodologies and critical theory
– Art law and business
– Contemporary practices and concerns: the artist’s medium, – site-specificity, participation
– International guest lecture series and studio visits
– Study visit to European Biennial and exhibitions

Photography
– 19th Century Photography
– 20th Century Photography
– Academic & Professional Practice
– Photography & Difference
– Contemporary Photography
– Critical Approaches
– Academic & Professional Practice
– The Photographic Network

East Asian Art
– Ritual and religious art
– Decorative art
– Pictorial art (paintings and prints)
– Three-day study visit to Europe
– Decorative art
– Pictorial art (paintings and prints)
– Study trip to East Asia

Contemporary Design
– Design 1900-1939: history, theory and market
– Design 1940-1980: history, theory and market (Part I)
– Academic and professional practice
– Design 1940-1980: history, theory and market (Part II)
– Design since 1980: history, theory and market
– Academic and professional practice

Interior Design
(não consegui acessar a matriz porém Design de Interiores não forma o LD nem aqui, nem em Londres e nem na China)

Tem também os cursos semestrais como Arts of Asia, Decorative Art and Design, Art and Business e Foundations of Western Art.

Em local algum encontrei qualquer alusão que seja sobre LD nem neste nem nos outros dois sites (que são bem parecidos em cursos e conteúdos oferecidos). O que certamente acontece nesse caso é o que eu já imaginava apenas ao ler os nomes das “escolas”: são lojas/galerias, tem história e lidam com a história. Ao ver a palavra Antiquariato em seu currículo liguei as duas coisas e o que me apareceu claramente?

Claro gente, aqueles lustres de cristais antigos ou aqueles abajoures da Tiffany, que custam pequenas grandes fortunas e que ela certamente viu durante os cursos de HISTÓRIA DA ARTE, DA DECORAÇÃO. Aí, sai a louca se auto-denominando LD.

Pera lá, aí não. Ela definitivamente não é uma LD!!!

Mas continuemos com a matéria em pauta pois tem muita coisa pra rolar ainda…

Seguindo, entra um quadro apresentando as diferenças das lâmpadas. Não vou nem comentar os valores que aparecem nas etiquetas pois nem as chinesas conseguem custar aquilo… (salvo se vierem de contrabando).

As aplicações são um show de horrores à parte.

Fluorescentes tubulares são usadas em sancas, em cozinhas – quando são amplas – e em lavanderias…” Só!

=0

A lâmpada fluorescente economiza até 80% de energia(…)

G.ZUIZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ!!!!!

Está errada a informação? NÃO totalmente, pois isso vai depender absolutamente do modelo e marca da lâmpada, dos equipamentos e da qualidade do sistema elétrico e, especialmente, do PROJETO que DEVE levar em consideração as necessidades do USUÁRIO. Portanto, se for necessário ou a melhor solução, até dentro do box do banheiro podemos usar as tubulares.

Ao apresentar as ARs, o proprio mostruário que aparece nas imagens já destrói o valor do comentário: pé direito. As lâmpadas estão instaladas por volta de 60cm acima da cabeça da repórter e da moça que está falando. Como se não bastasse esse erro ela ainda indica fazer um rebaixamento no teto e embutir os spots com as ARs.

Os piolhos agradecem o calor que fará seus ovos (lêndeas) chocarem mais rápidos… E também a indústrica farmacêutica que vai vender muuuuuuuuito remédio para tratar as incontáveis casos de câncer de pele…

AFF!!! (sou sádico, pois continuei assistindo mesmo depois disso tudo…)

Depois ela fala das dicróicas…

A instalação no mostruário está legal – ok admito. Porém os comentários a seguir são de matar.

Ela afirma categoricamente que nos banheiros, em frente aos espelhos, não se recomenda usar as dicróicas pois elas reforçam e destacam demais, formando sombras, o que pode prejudicar na hora da maquiagem (ela certamente tem dicroicas no espelho da casa dela pois a maquiagem dela é horrorível!!! #bichamá).
Porém ela se esquece que tem homens que moram sozinhos (e não se maqueiam – ok alguns sim), crianças, idosos que precisam de uma luz mais forte. Tudo, enfim, depende do PROJETO.

Entram então nas lâmpadas LEDS.

São as mais econômicas? OK.

Duram até 25 anos?

MINTCHIIIIIIIIIIIIIRAAAAAAAAAAA!!!

Nem todas, só as de marcas muito boas conseguem essa façanha. Eu comprei uma chinesinha para testar e nao durou 1 semana. Troquei na loja e aconteceu novamente. Pedi meu $$ de volta, claro.

Custam R$ 85,00??

AH-AH-AH!

Vai nessa….

“Elas podem ser utilizadas em qualquer ambiente da casa.”

Aham, sei, sei…

As aplicações apresentadas são básicas. E, por favor né, “fios de LED”(SIC)??? Vai lá, bota um “fio de LED” não siliconado numa sanca do banheiro pra ver o que acontece.

Nas escadas, os LEDs (balizadores, na verdade pois a “especialista” nem sabe que essa palavra existe certamente) garantem segurança (OK) e um “algo a mais”, segundo a moça “ela marca a parede como um detalhe decorativo, fica um detalhe interessante”.

=0

Isso, uma vendedora de uma loja que faz “projetos de iluminação di grátis” para seus clientes!!!!

Continuem lendo pois tem mais…

Na sequência, a reporter apresenta uma loja de iluminação mostrando o teto com aquele mundaréu de luminárias (comum em lojas de iluminação né?) e conversa com a gerente. Ela (a gerente) começa super bem ao ser confrontada com a verdade de que o cliente quando vai sozinho à loja acaba ficando perdido em meio à tantas opções (claro, com aquela poluição visual que impera nas lojas não tem como ser diferente). Ela diz que a dica é o cliente associar-se à alguém que realmente entende de iluminação.

PERFECT!!!

Porém – sempre tem um porém, um mas… – ela prossegue dizendo que no caso, as vendedoras da loja dela são todas treinadas e habilitadas para ajudar o cliente na escolha.

#AltoLá!!!!

Vendedor não é especialista. Vendedor não é projetista. Ser treinado não significa entender com profundidade o assunto para estar apto a projetar. E também só pode ser considerado habilitado quem tem um curso (superior) específico na área! Pode até ser que tenha realmente ali dentro alguém que entenda de iluminação, mas dificilmente terá um LD na equipe de vendedores.

Tá, aqui em Londrina é “normal” isso na maioria das lojas. No resto do Brasil não é diferente. O pior é ver arquitetos, designers de interiores e decoradores jogando os projetos de iluminação nas mãos desses vendedores para serem feitos por eles. Chegam nas lojas com as plantas baixas, jogam em cima da mesa e deixam o vendedor resolver tudo, especificar tudo. Depois, claro, vendem a imagem ao cliente que o projeto todo foi feito pelo profissional… especialmente se sair em alguma coluna social, revista ou mídia. Que falta de ética heim gente???

E não venham dizer que isso não acontece ou que o sem ética sou eu ao escrever isso, pois trata-se da mais pura verdade e vocês bem sabem disso!

Um detalhe: não estou generalizando sobre os vendedores ok? Pois conheço alguns que dão chapéu em 99% dos profissionais (incluindo muitos “especializados”) sem ter formação alguma na área e sim, apenas a experiência de ANOS vendendo iluminação.

Bom, vamos para o quarto?

Pra que? Pra dizer que LD é apenas um jogo de efeitos e mostrar aplicações mais blasés e comuns, que tal?

#MePoupe!!!

Vamos pra cozinha???

Pois é, nenhuma novidade.

Porém, a iluminação – segundo a LD especializada na Europa – “é super simples de fazer… “

Sabemos o quão fácil e simples é instalar uma built-in que fique técnica e esteticamente bem instaladas e que seja funcional… Também sabemos da facilidade de projetar e produzir um móvel com iluminação built-in…

=0

E no banheiro?

Um monte de samambaias com lâmpadas a 20cm de distância…

Prefiro acreditar que são dicroleds (pois não dá para perceber pelo vídeo) à que a dona da casa tenha de trocar as plantas semanalmente ou seja sádica ao ponto de ver diariamente assuas  plantinhas definhando sob aquela luz…

Depois aparece um apartamento “onde cada ponto de luz foi planejado com a orientação de uma arquiteta”.

Na imagem que faz fundo à esta fala temos um spot duplo de AR111 num rebaixo de gesso sobre uma mesa de centro com uma orquídea e três velas sobre a mesma. Pé direito básico e normal de um apartamento novo ou seja, no máximo 2,65m menos o rebaixo do gesso…

=0

Em seguida mostra um espaço preferido da dona onde temos samambaias iluminadas (novamente) a 20cm no máximo por spots embutidos. Pela luz, sao dicróicas normais, pois as LEDs não oferecem aquela quantidade e qualidade de luz. Tadinhas das samambaias (de novo)…

E ainda tem mais. Agora a parte mais bizarra, no meu ponto de vista de um LD. As luminárias…

Num bom projeto de iluminação, vale a pena investir nas luminárias“. (concordo com a frase!)

Aí a repórter começa a mostrar algumas peças – que segundo a fala anterior vale a pena investir nelas – e creiam, isso é o que foi apresentado:

– uma luminária de piso baseada no vestido balonê =0
– um abajour inspirado nas lanternas japonesas… =0 =0
– e um pendente de…
de….
de…
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh…………
PELÚCIAAAAAAAAAAAAA!!!!!

Em suma:

NADA QUE SIRVA PARA UM PROJETO DE LIGHTING DESIGN! #FATO

Pelo que se percebe, só são apresentadas peças “de dezáine”(SIC), claro, aquelas caríssimas e que rendem obesas RTs e comissões para os especificadores (“PROJETISTAS”) e vendedores.

Até a já batida e carne de vaca Tolomeu (que tem uma péssima luz) aparece com destaque.

Chegamos na sala de jantar…

E aqui, o que eu escrevi lá em cima sobre a formação da “lighting dezáiner” vem à tona: um lustre de cristal antigo, com velas à mostra, sem controle algum da luz sobre a mesa. Básico, carne de vaca, arroz de festa e sem novidade alguma. A única coisa certa que ela fala é sobre a altura, que ele deve ficar acima da mesa: 1m no mínimo – e não os 60cm que insistem em pregar alguns “pseudos entendidos” e “láiguiti dizáiners de frases prontas e copiadas do gooooogre”.

E finaliza-se a matéria com uma frase que começa bem acertada:

A escolha do tipo de iluminação e das luminárias é muito pessoal mas” devia ter parado aqui ou deveria ter finalizado também corretamente indicando aos clientes buscarem a consultoria de um especialista em iluminação e não terminado com “essas dicas podem dar uma luz nas idéias de como valorizar ainda mais o melhor espaço do mundo: a nossa casa“.

É, como se já não bastassem os “proficionaus” detonando com o mercado, ainda tem a mídia ABSOLUTAMENTE NADA ESPECIALIZADA E TOTALMENTE ALIENADA dando o empurrãozinho que falta pra seriedade e importância da profissão – de ser conduzida por profissionais sérios e realmente habilitados – ser jogada pra dentro do poço.

#desengasguei