Home Staging???

Já sei que muitos vão tentar afirmar que esse trabalho é uma das competências (por Lei) dos arquitetos e engenheiros. Mas calma, antes de atirar pedras e vir com trololó, não vou me referir à parte estrutural ok? Se insistirem em englobar o todo que esse tipo de parceria pode gerar em serviços tudo bem.

Fica aqui registrada então a denúncia de reserva ilegal (e criminosa) de mercado, que fique bem claro, e que as autoridades competentes façam a sua parte punindo (dentro da LEI) os que defendem isso.

No exterior, essa parceria com os corretores de imóveis e imobiliárias (e até mesmo com particulares) é chamada de “Home Staging”. Diferente do que muitos (dentre os poucos que conhecem esse trabalho) possam pensar, esta técnica não visa somente uma mera “encenação do imóvel ocupado ou vazio” ou seja, dar uma arrumada, redistribuir os móveis com um layout melhor. Esta técnica pode e deve ser aplicada de maneira mais ampla.

Digamos que você leitor tem uma casa e quer vendê-la. Já parou para analisar que qualquer benfeitoria realizada na mesma aumenta o seu valor no mercado? Já percebeu que todo possível comprador torce o nariz para qualquer manchinha que tiver na parede ou riscadinho no piso?

Sim, é bem isso mesmo. As pessoas quando buscam um imóvel novo tem preferência por aqueles que não lhe trarão trabalho assim que o adquirir. Poucos são os que buscam algo para entrar em reforma, principalmente as pesadas.

Assim, temos nesse nicho de mercado mais uma área para os profissionais de Design de Interiores/Ambientes.

Como? Vou explicar.

É certo que uma casa mal arrumada, com uma distribuição ruim dos móveis acaba gerando uma visão poluída (e distorcida) dos ambientes para o possível comprador. Ele (a grande maioria) não consegue visualizar os espaços e suas possibilidades especialmente quando o imóvel ainda está habitado e consequentemente cheio dos móveis do atual morador. Então, aqui está o primeiro meio de trabalho neste mercado: arrumação.

Mas não ficamos só nisso. Quando somos chamados para este serviço devemos fazer uma vistoria completa no imóvel. Devemos estar atentos a absolutamente tudo, dentro e fora do imóvel. SE, e somente SE, houverem problemas estruturais, aí sim devemos chamar profissionais qualificados (arquitetos e engenheiros) para resolvê-los. O restante (não estrutural), podemos trabalhar livremente no imóvel:

– Verificar se a pintura está ok ou se precisa ser renovada/retocada.

– Verificar as condições dos pisos e revestimentos e se necessário propor alterações.

– Verificar se as instalações elétricas e hidráulicas estão ok,e propor as alterações nevessárias.

– Verificar a situação dos armários embutidos que permanecerão no imóvel.

– Verificar os gessos.

– Verificar o paisagismo (quando houver).

– Entre várias outras coisas.

Percebam que para cada item destes é um trabalhão danado.

E é assim que este DEVE ser feito. Este é o verdadeiro Home Staging.

Tem alguns sites e profissionais (incluindo já aqui no Brasil) que pregam que devemos apenas “dar um tapa”, ou seja, mascarar os problemas, torná-los imperceptíveis ao possível comprador. Em resumo: ele que se exploda depois com o azedo abacaxi fantasiado de doce e suculento morango que o venderam.

Isso não é ser profissional. É ser desprovido de qualquer ética e respeito pelo mercado e pelas pessoas.

Muitos podem se perguntar: vale a pena investir antes da venda? Vou contar uma historinha:

Uma conhecida minha de Ribeirão Preto ficou desempregada e recebeu o seu FGTS. Como estava difícil arrumar um novo emprego (por causa de sua já adiantada idade) ficou pensando em como investir de forma segura e rentável aquele dinheiro. Um dia andando pela cidade, viu num dos bairros uma casa popular à venda num dos conjuntos mais disputados da cidade e teve uma idéia. Não me recordo os valores exatos agora, mas lembro-me perfeitamente da relação entre eles. Comprou-a por aproximadamente R$ 17.000,00. Sobrou um dinheirinho e ela resolveu ajeitar a casa antes de vendê-la. Chamou uns pintores, deu uma arrumada no jardim, gramou o terreno, reformou o banheiro e a cozinha (troca de revestimentos, louças e metais). Investiu pouco mais de R$ 5.000,00 nisso tudo. Quando chamou um corretor ficou pasma ao ver que ele avaliou o imóvel em mais de R$ 30.000,00.

O que ela fez? Vendeu, comprou outra, reformou, arrumou e vendeu e comprou outras e assim por diante. Hoje vive (e muito bem) fazendo isso. Mas como ela não é designer nem arquiteta, faz apenas para ela mesma. Me falou ainda esta semana pelo telefone (sim, já se dá ao luxo de contratar minha consultoria) que está atualmente mexendo com 12 imóveis ao mesmo tempo. Melhor que a realidade de muitos profissionais.

Agora, imaginem vocês, meus leitores acadêmicos/profissionais, o nicho de mercado sensacional que é este.

Imaginem vocês, meus leitores corretores/imobiliaristas/clientes, as vantagens que este tipo de prestação de serviços podem trazer para vocês.

E isso não deve ser aplicado apenas às residências e apartamentos. Uma historinha de um outro amigo pessoal:

Ele comprou um apartamento dele em 2003 por aproximadamente R$ 43.000,00. Fez uma reforma pesada e o valor não subiu quase nada. Com o passar do tempo acabou assumindo como síndico do condomínio. Nisso começou a perceber as absurdas gambiarras que o ex-síndico vinha fazendo e resolveu que estes problemas todos deveriam ser tratados com seriedade. Claro que, de início, os proprietários colocaram-se contra por causa do investimento necessário. Primeiro refez toda a parte elétrica e de iluminação das garagens (lighting). Os moradores perceberam que a conta de luz do condomínio diminuiu muito. Depois refez a pintura das paredes e tetos do Hall, escadarias e circulações. Na primeira visita de um corretor, este confidenciou a este meu amigo que agora, com essas pequenas melhorias, o valor do apartamento já ultrapassava os R$ 65.000,00. Os proprietários gostaram e perceberam que investir é sinal de lucrar. Resolveram então melhorar a área externa (portão de pedestres/acesso). Tiraram o telhadinho ridículo que não protegia ninguém e fizeram uma entrada decente (projeto meu executado por uma engenheira parceira). O valor do apartamento subiu para R$ 90.000,00. Alteraram a calçada implantando uma calçada verde com paisagismo, dentro da norma de acessibilidade municipal. Aumentou ainda mais o valor. Implantaram um sistema de segurança com acesso por tags e senhas individuais e câmeras de segurança. Hoje, o valor dos apartamentos está mais de R$ 150.000,00. Sempre tem corretor tocando o interfone desesperado para saber se tem algum apartamento à venda no prédio. Outro detalhe: antes eram 4 proprietários e 8 inquilinos. Hoje são 10 proprietários e 2 inquilinos no edifício. Todo esse trabalho foi feito com a minha consultoria em alguns momentos e projeto em outros. Agora, estão se preparando para uma reforma geral das fachadas e dos telhados, incluindo uma possível alteração para telhados verdes, tudo feito sob a minha concepção e supervisão (e executados por profissionais parceiros qualificados para tal).

O que isso tudo tem a ver com Home Staging?

Serve para mostrar que não apenas os proprietários, mas também os síndicos devem começar a repensar as suas decisões sobre investimentos nos imóveis, incluindo nas áreas comuns, no caso de condomínios.

Isso é mercado, isso é valorização de um bem seu (ou de todos, no caso dos condomínios) e que o mercado sabe reconhecer.

Serve também para mostrar que, apesar do termo “home”, este trabalho é bem mais amplo e não está atrelado apenas aos espaços interiores das edificações.

OBS> e não me venham falar em direito autoral em residências e edifícios com mais de 10 anos (que são as que mais necessitam desse tipo de serviço) onde os proprietários já pagaram ao autor pelo DIREITO de fazer o que quiser com o SEU imóvel. Inclusive, botar “na chom”, caso algum birrento insista em atormentar e atrapalhar o processo alegando que “só ele, por ser autor, tem direito de alterar”. Isso é reserva de mercado. Isso é CRIME! O direito autoral já está lá registrado no acervo técnico, nas fotos, registros e plantas ok?

Então, vamos que vamos. Temos muito trabalho a fazer.

E a sociedade tem muito a ganhar conhecendo e investindo no trabalho sério dos Designers de Interiores/Ambientes, especialmente os proprietários e corretores de imóveis.

Parcerias sérias só faz bem a todos.

(RE)Design

(re)formar, (re)fazer, (re)dimensionar, (re)distribuir, (re)organizar, (re)locar, (re)layoutar, (re)fluxogramar, (re)orientar, (re)aproveitar, (re)criar, etc.

Palavras todas parecidas, com significados diferentes, mas que fazem parte do significado da palavra REDESIGN!

Redesign: n (change in design) redesenho sm; reestruturação sf. vtr (change design of) replanejar vt; v Replanejar, planejar novamente.

Espanhol: v. rediseñar, reformar; Francês: v. remodeler; reconcevoir, replanifier; Alemão: v. neu entwerfen; Italiano: v. rimodellato, riprogrammato; Russo: г. спроектировать заново; переделать; Holandês: ww. opnieuw ontwerpen; Inglês: v. plan again, devise again; draft again, make a new preliminary sketch; Grego: (Lex**) επανασχεδιασμός;

O re-design é a reformulação do design de algo. Essa necessidade de renovação pode surgir por diversar razões. Pode ser pelo aparecimento de novas técnicas, de novos materiais, para eliminar falhas existentes, para adequar algo a um novo uso ou como estratégia de marketing para renovar o produto no mercado – em interiores especificamente aparece no nicho Home Staging que falarei num próximo post.

O termo design tem também outra forma de interpretação além de desenho. Pode ser compreendido como projeto, projetar. Portanto, o redesign poderia ser entendido como reprojetar, reformular não só conceitos visuais, mas sistemas, produtos, etc.

É difícil – quase ausente – a presença deste conteúdo nas academias infelizmente. Os professores preferem fazer de conta que isso não existe ou que isso não faz parte das atribuições do Designer.  Muitas vezes tenho lido a palavra redesign como sinônimo de restauração de móveis apenas, o que é um absurdo. Em alguns casos parece que este é um assunto proibido. Um tabu “moderno”.

Pois eu digo que faz sim parte de nossas atribuições como Designers de Interiores/Ambientes!

Longe de questões arquitetônicas e estruturais (que ficarão nas mãos de profissionais habilitados para tal), a questão do redesign de interiores/ambientes ou de edificações merece uma maior atenção nos cursos superiores. Se estudamos para melhorar a qualidade de vida do usuário, adequando os espaços/ambientes às suas necessidades, faz-se necessário, vez ou outra, que as alterações sejam mais profundas.

Nesse sentido, o ReDesign aparece como uma ferramenta necessária e útil para o exercício profissional pleno dos Designers de Interiores/Ambientes. Importante salientar que o ReDesign não é arquitetura ou engenharia. A edificação já está pronta, já foi entregue, já foi paga, já possui um proprietário/usuário real.

Para exemplificar sobre o que estou falando vou utilizar um exemplo prático vivido por mim tempos atrás:

Uma cliente minha comprou uma casa em fase de acabamento. No entanto ela não buscou a mim ou a qualquer outro profissional para acompanha-la nas visitas para realizar uma avaliação do imóvel. Acabou comprando uma bomba de alvenaria. SE ela tivesse me chamado para ver esta residência, teria falado para esquecer esta casa e procurar outra. Em resumo a situação era a seguinte:

1- A casa começou a ser construída na década de 80. Nesse período foi construído apenas o pavimento inferior sem ser acabado, ficando no reboco apenas.

2- Já vi casas e apartamentos mal divididos mas essa residência supera qualquer absurdo nesse sentido.

3- Em 1993 foi feito um projeto para acrescentar o pavimento superior, repetindo exatamente o mesmo desenho do inferior somando, no final das contas, mais de 300m² de área construída.

4- A casa não respirava e tampouco aproveitava o que fosse de luz natural.

5- A escada é absurdamente inclinada e desproporcional.

6- A divisão (organograma e fluxograma) era bastante confusos.

7- Não havia lavanderia, sala de jantar, despensa, lavabo. No entanto, há um excesso de quartos e salas com dimensões, digamos, estranhas.

8- Não havia área permeável no terreno.

9- Ficou parada, no reboco todo este período (mais de 18 anos).

10- O telhado não foi finalizado – as telhas apenas foram colocadas e não fixadas e o madeiramento não foi envernizado e/ou protegido.

11- Por ser um aterro dos muito mal feitos, o terreno movimentou-se provocando diversas rachaduras e pontos de infiltração no terreno e na edificação.

12- Não havia ligação com o sistema de esgoto público. Tudo ia para uma fossa na parte dos fundos do terreno. Além de que todo o esgoto era ligado numa mesma tubulação provocando refluxos nada agradáveis em todos os ralos da casa.

13- Na planta da prefeitura – que não batia com o que está construído originalmente – constava apenas uma assinatura ilegível. Não se sabe nem se é arquiteto ou engenheiro o autor do projeto. Tampouco consta o número de seu CREA.

14- Também não existia o projeto estrutural/elétrico/hidráulico da edificação.

Posso citar ainda outros problemas, mas estes já bastam para exemplificar o tamanho da “bucha”.

Pois bem, ela comprou esse pacote de problemas em formato de uma residência. No entanto, além de todos os problemas citados e outros mais, a casa não atendia às necessidades da sua família. Observem a figura abaixo tirada de meu CAD do projeto original:

Pavimento Inferior original:


Pavimento Superior original:


Como podem observar, é exatamente a mesma planta em cima e embaixo com a diferença de que no pavimento superior, no lugar do Hall embaixo, foi transformado numa sacada e, a parte de cima da garagem foi transformada numa segunda cozinha com uma varandinha para os fundos. Porque duas cozinhas? Porque originalmente iriam morar duas famílias nessa casa: uma em cima e outra embaixo. Agora, uma única família, com necessidades totalmente diferentes, viria a ocupar a residência toda.

Bom, para atender as necessidades desta família seriam necessárias algumas alterações no projeto original, incluindo alterações estruturais. Após longas conversas com a família (brieffing e visitas ao local) foram definidos os quartos dos filhos, a localização do escritório e a suíte do casal. Porém muita coisa teria de ser alterada para ajustar a edificação às reais necessidades da família.

Levei dois amigos engenheiros para vistoriar a edificação afim de localizar a parte estrutural para que eu pudesse pensar o redesign. Após muita conversa, descascar de paredes, testes e análises, e muito croqui jogado no lixo, consegui chegar à solução tão esperada para a residência:

Pavimento inferior com redesign:

Como podem observar foram alterações bastante pesadas em alguns pontos específicos.

O deslocamento da cozinha para a parte dos fundos da residência, em especial, onde antes eram dois quartos. A locação ali ficou definida pois futuramente eles irão construir uma churrasqueira nos fundos do terreno e ganham assim, melhor acesso e fluxo entre estas duas áreas. Também foi aberta a parede que dividia os dois ambientes ligando a cozinha à sala de jantar facilitando a circulação e melhorando o fluxo de ar e luz nos dois ambientes.

A abertura da parede do escritório foi pensada para trazer luz para o corredor e amplia-lo uma vez que é bastante estreito e comprido.

A construção de um lavabo para atender as visitas bem como a transformação do BWC dos fundos em uma lavanderia que antes não existia.

O estendal se fez necessário pois a família possui tres cachorros que puxam as roupas do varal. A área onde ele foi locado pega sol grande parte do dia.

A despensa construída visa atender ao projeto da cozinha bastante limpo em elementos, com poucos armários. Além da guarda de utensílios e mantimentos, ela serve como elemento de isolamento para o estendal.

A casinha de gás que antes era inexistente foi projetada ali para atender à cozinha com maior proximidade.

A abertura da parede entre o hall e o living serve também para melhorar a circulação e o fluxo de ar e luz na edificação.

A escada foi alterada melhorando a acessibilidade ao diminuir a inclinação da mesma e padronizando a altura dos degraus e os pisantes.

Pavimento superior com redesign:

Já no pavimento superior, a maior alteração deu-se na parte frontal da edificação.

A construção da suíte na parte frontal da edificação deu-se por tres motivos: 1) o sonho do casal em ter uma suíte grande; 2) a existência de duas salas no pavimento superior sendo que uma era desnecessária; 3) minimização do impacto na estrutura existente.

A ampliação da sacada com a derrubada de uma parede pensando num “cantinho de relaxação” mais escondido da rua segundo as palavras da proprietária.

A inserção de duas mini sacadas nos quartos dos fundos.

A ampliação do BWC superior para que a janela deste não ficasse dentro do BWC da suíte master.

Em todo o projeto de redesign, todas as esquadrias (portas e janelas) foram alteradas por dois motivos: 1) as existentes – de ferro – estavam deterioradas e não havia recuperação. 2) a necessidade de ampliar as aberturas para melhorar o fluxo de ar e iluminação natural.

Algumas alterações não foram realizadas como pensado originalmente por causa de partes da estrutura original que iam “aparecendo” no meio do caminho, nos forçando a alterar algumas coisas, especialmente a disposição de janelas.

Tomei o cuidado de separar bem a área social da área íntima pois esta é uma família que adora receber visitas a qualquer hora. Area social embaixo e a área íntima em cima.

Como podem ver, o redesign desta edificação teve de ser muito bem pensado, cruzando diversas variáveis. A execução deste projeto ficou à cargo dos engenheiros contratados para tal e eu entrei com toda a parte de redesign de interiores, projeto de interiores e ambientes e de LD.

Na verdade, a única área que exigiu reforço estrutural foi na garagem para suportar as alterações realizadas no pavimento superior. O aumento das aberturas e derrubadas de paredes foram compensados com vergas e contra-vergas ou com vigas e colunas novas.

É bastante comum vermos nos sites e blogs internacionais da área projetos que foram executados utilizando o redesign. De ambientes residenciais aos comerciais e institucionais, vemos de tudo um pouco sendo realizado pelos designers e sem enfrentar qualquer problema com profissionais de áreas correlatas. Isso se deve a dois motivos principalmente:

1) a parceria profissional é uma realidade lá fora, enquanto por aqui…

2) as áreas já amadureceram lá fora e entenderam a compatibilidade e diálogo entre elas. Por aqui, insistem em ficar fazendo birrinha no jardim da infância.

Vamos amadurecer gente?