Especialista em Lighting Design???

Vejo com tristeza diariamente diversos profissionais não especialistas falando sobre LD sem ter a menor noção do que vem a ser isso na realidade. Na verdade, é um show de repetições de jargões e clichês que estão na mídia acessível a qualquer um, especialmente através do Google. Fazem isso apenas para garantir um naco do mercado tentando iludir e confundir os clientes.

Já escrevi sobre isso aqui no blog algumas vezes mas nunca é demais voltar à este assunto dada a sua relevância e seriedade.

“LD é uma iluminação mais cênica” – clichê mais que batido, não cola mais hoje em dia pois LD nunca foi apenas isso.

Na verdade, o cênico em um projeto de LD fica apenas em suas bases.  Cênica é o conceito básico do projeto e não a aplicação ou resultado final (salvo em caso de iluminação cênica mesmo: teatro, dança, shows, etc). Tem gente que chega até a usar aquelas luminárias em formato reduzido dos refletores de palco para tentar iludir e reforçar essa falsa idéia do que vem a ser um verdadeiro projeto de LD. No entanto ISSO NÃO QUER DIZER NADA. É apenas mais uma luminária solta no espaço.

“LD é buscar a eficiência energética” – também mas não só isso.

A eficiência energética e o baixo impacto ambiental são apenas premissas de um projeto de LD de qualidade, devem fazer parte dele, devem ser pensados e considerados no momento do projetar, desde o início. Mas não são o todo de um projeto de LD.

“LD é atender às necessidades do usuário” – no entanto o que vemos nas imagens logo após o destaque da frase é um show de sandices luminotécnicas. Vemos uma re-re-re-re-repetição de erros crassos e básicos cometidos ainda nos bancos das faculdades, pelos acadêmicos iniciantes que não sabem de nada sobre iluminação e/ou elétrica. Vemos também muitas repetições dos erros baseados nas tendências e na “moda” que as revistas, infelizmente, pregam.

“Esta luminária do fulano é de design assinado e garantirá a qualidade e beleza no projeto de lighting design que estou fazendo” – MINTCHIIIIIRAAAAAAAAAAA!!!

Gente, para um projeto de LD o que menos importa é a estética da luminária e sim o efeito que a luz proporcionará. Não é a toa que num projeto de LD verdadeiro você dificilmente percebe as luminárias. Elas só ficam visíveis quando não há outra opção mesmo. Um verdadeiro LD muito dificilmente especificará um pendente de cristais caríssimo sobre a mesa de jantar (carne-de-vaca) pois sabe que ele irá acabar com os efeitos do entorno pois é uma luminária que não tem controle de luz.

Isso me lembrou também que o verdadeiro LD não está preocupado com quanto ele ganhará de RTs das lojas. Se ele tiver de escolher entre um pendente de cristais de 30.000 e um projetor de 300 ele certamente optará pelo projetor.

O profissional de LD é aquele que busca a especialização, aprofunda-se diariamente, embrenha-se sem medo no universo da iluminação. É aquele que conhece antecipadamente o que há por vir sobre tecnologias em iluminação. É, especialmente, aquele que trabalha exclusivamente com projetos de iluminação e, quando não encontra uma luminária que atenda às necessidades do projeto, concebe, cria, desenha, projeta e produz uma – ou várias – específica. É também aquele profissional que não inventa respostas para dar a seus clientes.

Buscar a especialização, tornar-se um especialista nesse sentido não quer dizer fazer uma pós-graduação apenas (isso qualquer um faz). Conheço muita gente que fez diversos cursos de iluminação – incluindo especializações – e seus projetos não mudaram absolutamente nada do que era feito antes. Tem gente que continua confundindo e desconhecendo as lâmpadas, não faz a menor idéia dos requisitos mínimos para a aplicação das ARs, continuam a errar em seus projetos ou a solicitar a especificação dos equipamentos para os vendedores de lojas simplesmente porque não dominam a matéria/produto que estão vendendo para seus clientes.

Infelizmente tem muitos profissionais que fazem especialização, levam o curso com a barriga e depois recebem o papel que lhes dará o direito de ostentar o título de “Lighting Designer” ou “especialista em iluminação” por aí, enganando o mercado e seus clientes e soltando estas mesmas frases clichês quando surge uma oportunidade na mídia.

O pior disso tudo? Alimentam e ampliam o rol dos desinformados e incompetentes que marcham atrapalhando o desenvolvimento sério da área através de seus projetos toscos e chupados – pode-se dizer também, chutados.

Quer realmente ser um profissional de LD?

Então viva da luz e na luz!!!

Leve choques acompanhando o eletricista instalando os equipamentos, faça você mesmo a afinação da iluminação, atreva-se a instalar luminárias e, principalmente, tenha experiência em iluminação de teatros.

Dias atrás dei uma entrevista para a Helenida Tauil aqui de Londrina e quando ela me perguntou a diferença entre iluminação e lighting design eu coloquei mais ou menos isso:

Num projeto de iluminação – que é o que vemos em revistas – o profissional define o layout e depois joga a luz em cima com a intenção de “tapar buracos” ou esconder aquilo que não se quer mostrar através da ausência de luz. Num projeto de LD o especialista faz o caminho inverso: primeiro ele pensa na luz buscando atender às necessidades do cliente/usuário e depois complementa com o layout. Seja na arquitetura ou em interiores o ponto de partida é sempre a luz, seja ela natural ou artificial, ou ainda quando possível, as duas.

Sim o LD não trabalha apenas com a luz artificial. A luz natural faz parte de seu trabalho também.

Estou trabalhando atualmente em 5 projetos onde o ponto de partida (ou partido) é a luz – isso aprendi conversando com o Oz Perrenoud.

Estranho? Difícil entender? Complicado demais conceber algo partindo da luz?

Um destes projetos é um oratório e comecei pensando em tudo que a Cruz e a vida de Jesus representam. Eu sempre tive na cruz a imagem da Luz Divina, da luz irradiando dela banhando nossas vidas. Parti daí.

“A cruz será com retro-iluminada então Paulo?”

NÃO! Built-in nisso seria óbvio demais.

“Ah, então terá um projetor no centro dela jogando luz pra frente ou pegando ela de frente?”

NÃO! Isso seria brega e comum demais.

“#ComoFaz então Paulo?”

Aguardem pois assim que estiver finalizado tirarei fotos e colocarei aqui para vocês verem. Mas posso adiantar: comecei pelas sensações que eu quero que as pessoas tenham ao estar naquele ambiente. E a luz é uma sensação fundamental para a vida, incluindo a vida espiritual.

Portanto, se você usa o título LD ou especialista em iluminação – ou qualquer outro – sem ter conhecimento tenha consciência de que quem está perdendo é você mesmo ao enganar seus clientes oferecendo um produto para o qual você não é capacitado e, principalmente, o respeito dos profissionais sérios da área e que são verdadeiros LDs.

#FicaDica

Parcerize-se com um verdadeiro especialista no assunto. Já no primeiro projeto em parceria você irá perceber o ganho em qualidade no seu projeto.

;-)

como anda o seu vocabulário?

Neste final de semana tive mais um módulo da pós. Desta vez a grata surpresa foi a aula com o mestre Glaucus Cianciardi (Belas Artes-SP) no módulo Design de Interiores Residenciais.

Não preciso escrever aqui que o cara é fera, conhece e entende pacas sobre o assunto. Foi simplesmente brilhante a aula. Aos poucos vou compartilhando com vocês algumas coisas sobre este módulo.

Uma coisa que me deixou bastante feliz foi ver, no meio do material distribuído, o  meu modelo de contrato já disponibilizado para vocês aqui no blog, como modelo padrão que está sendo divulgado e distribuído a todas as turmas do IPOG.

UIA!!! Virei bibliografia, agora oficialmente ahahahaahha.

Bom, mas vamos ao que realmente interessa então neste post. Como anda o seu vocabulário profissional?

Este é um tema bastante complicado de ser apresentado pois os regionalismos e jargões profissionais existem e sempre há bastante resistência na aceitação de termos, muitas vezes, oficiais em detrimento daqueles comumente usados. E isso não deixou de acontecer aqui em Londrina neste módulo.

Os termos oficiais existem sim porém, no dia a dia das obras e contatos diversos acabamos assimilando e colocando em uso palavras mais “fáceis” ou populares. A lista abaixo eu fui anotando no meio da aula e confesso que me peguei rindo diversas vezes por causa de algumas delas comparando-as com as que eu uso. Não estão em ordem alfabética e tampouco com a definição exata pois foram sendo anotadas no decorrer da aula. Mas já dá para vocês terem uma excelente idéia. Vamos lá:

Apuí: fibra natural possível de vergar. Ela não racha ou trinca quando “entortada”.

Boiserie: Revestimento de paredes típico dos séculos XVII e XVIII. Trata-se de painéis de madeira adornados com baixos-relevos.

Lambri: a mesma coisas que bouaserie – painel de madeira na parede porém sem entalhes e baixos relevos.

Woodflex: madeira plástica.

Escabelo: banco de origem africana.

Etologia: delimitação de espaços. Pense no mesmo que um animal delimitando o seu espaço ou território. Da mesma forma, nós humanos fazemos isso em nossos lares.

Frugalidade: busca pela simplicidade.

Stimmung: criar um stimmung para o espaço. Atmosfera do espaço. O elemento primordial para a criação de um stimmung é a luz.

Mélange: ecletismo, mistura de estilos.

Vintage: peças que marcaram determinada época. São o que as revistas chamam de clássicos do design.

Baldaquim: estrutura (balaustres) sobre as camas para fixar tecidos (dosel).

Alabastro: pedra translúcida de cor amarelada, bastante usada em iluminação.

Alma: um espaço que eu deixo entre um quadro e outro ou entre objetos. Necessário para que a composição e o olhar “respirem”.

Aplique: arandela de parede de estilo clássico.

Bandeira: parte superior da porta (janela) para auxiliar na ventilação e iluminação naturais.

Bay window: janela avançada.

Chinoiserie: qualquer coisa de influência chinesa.

Blanc d’chine: branco chinês.

Chine blue: azul chinês, tendência para casas junto à água.

Botonê: botões colocados no estofado que ficam na superfície.

Capitonné: botões mais para baixo, mais afundados no estofamento.

Bordure: faixa (de acabamento) externa dos tapetes clássicos.

Border: mesma faixa mas em modelos contemporâneos.

Brise-brise: meia cortina colocada na parte metade baixa da janela. A parte de cima chama-se sanefa.

Cabuchon: (ou toseto) detalhes no piso.

Colchão grego: o que chamam de futton.

Cantaria: revestimento em pedra.

Casual: frugal, simples.

Clapboard: revestimento de parede em escamas feita com gesso acartonado na horizontal.

Clean: década de 80, limpeza formal, bastante minimalista.

Damier: piso em duas cores ou texturas com a função de gerar movimento.

Day bed: cama para área de piscina e praia com cobertura em tecido.

Dipitco: quadro em duas partes.

Triptico: quadro em tres partes.

Debrum: costura grossa (reforçada e aparente) em estofados.

Draperie: um tecido preso à parede para dar acabamento às cortinas.

Espaleta: parede geralmente usada para dar acabamento (laterais de armários por exemplo com no Maximo 50cm) mas pode ser usada também como elemento compositivo.

Faiança: é uma porcelana mais grosseira, rústica. Usada bastante no estilo provençal Francês.

Faux: ou fake – coisas falsas que imitam outras.

Ferronerie: serralheria.

Frontão: parte fronteiriça da lareira.

Roda pia ou saia: para bancadas de banheiros.

Galuchat: revestimento com pele de arraia esticada. Mais anti-ecológico impossível.

Gregas: grafismo ou desenho espiral de tendência grega.

High tech: alta tecnologia aparente, exposta.

Housse: capa de cadeira.

Japonaiserie: influência japonesa na decoração.

Kitsch: não é mau gosto e sim uma irreverência, brincadeira de bom gosto.

Loft: espaço comercial ou industrial (geralmente galpões) que passou por um processo de retrofit arquitetônico para ser tornar um espaço residencial. Nem de longe loft quer dizer estes apartamentos ou casas construídas de forma integrada que vemos hoje.

Masstige: a peça de mais prestígio, elegância e destaque da ambientação.

Óculum: abertura circular na parede que não abre como a janela.

Off White: tons de branco ou branco sujo que não o branco puro – 001.

Panejamento: um trabalho com tecido colocado nas paredes como composição. Bastante comum em festas e casamentos. Pode ser chamado também como draperie.

Peanhas: suporte afixado na parede para colocar algo em cima, mão francesa.

Peça curinga: é a peça versátil no ambiente que pode ser utilizada de varias formas devido a sua versatilidade.

Repaginar: trocar a composição interna.

Reformar: envolve a parte arquitetônica.

Retro: estilo das décadas de 50, 60 e 70.

Faux boiserie: parede falsa de madeira.

Saia e blusa: forro em duas folhas, padrão da casa colonial brasileira. Neste caso dá a sensação de descer o pé direito.

Tabica: espaço deixado entre a parede e o forro. Na verdade é a junta de dilatação. Deve ser pintado na cor da parede e não do forro para um melhor efeito.

Trompe l’oeil: enganar os olhos. Falsa perspectiva ou falsa representação de algo feita com pintura. Pode ser aplicado em paredes, tetos, pisos ou móveis. Pintura parietal.

Verdure: é o tema da tapeçaria para paredes.

Washed: efeito lavado.

Composé: é a combinação de padronagens, cores e texturas.

Incrustração: aplicação de metal sobre a madeira.

Marchetaria: junção de lâminas de madeira. Não necessariamente para formar desenhos e recortes.

Laca: é uma resina natural aplicada sobre a madeira. Nada tem a ver com o que o mercado chama de laca para mobiliário. Nem na aparência.

Plafonnier: luminária de sobrepor. É o que chamam de plafon.

Existem ainda muitos outros termos. Dentro de cada parte de um projeto existem estes termos como por exemplo no panejamento. Porém, o mais acertado é você adquirir o seguinte livro para saber certinho o que é cada um deles:

MOUTINHO, Stella Rodrigo Octavio; et alli, Dicionário de artes decorativas e decoração. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999

Lembro que devemos ter bom senso quando do uso deste vocabulário junto aos clientes que geralmente são leigos. Ao mesmo tempo em que estes podem passar uma imagem positiva do profissional, demonstrando o seu conhecimento e segurança, para outros clientes pode passar uma informação boçal, arrogante. Imagine então usar estes termos numa obra junto aos operários.

Portanto devemos conhecer os termos, seus significados e as palavras mais simples (jargões) que dizem o mesmo e também saber quando, como e com quem utiliza-los.

Espero que se divirtam fazendo biquinho para falar varias delas já que a maioria tem origem francesa.

Até o próximo post