Até onde podemos ser lesados por “parceiros”

Pois é, como um profissional reconhecido pelas associações de Lighting Design tenho meus clientes particulares mas também tenho clientes que aparecem através das parcerias profissionais.

Estas parcerias podem ocorrer através de outros profissionais ou de lojas. Nos dois casos podemos conseguir efetivar excelentes parcerias mas, se não tomarmos o devido cuidado, podemos entrar numa bela roubada.

Ano passado fiz uma parceria para um projeto grande e, por confiar numa suposta amizade recíproca e sincera, acabei me descuidando. Resultado: tomei no zóio!!!

Trabalhei feito doido para resolver o projeto de Lighting, ainda tive de fazer uma boa parte do projeto paisagístico e acertar questões de acessibilidade, etc. Tive meu nome retirado do contrato de forma canalha e covarde, não recebi um centavo pelo meu trabalho e ainda descubro que a pessoa ainda teve o disparate de chegar a tentar forçar o meu eletricista a assinar uma declaração onde dizia que eu tinha feito a especificação das lampadas, luminárias e equipamentos toda errada. Fato é que ele constou que a listagem de peças na tal declaração não era a mesma que eu tinha entregue em cópia para ele. Ou seja, para justificar o meu afastamento do projeto junto ao cliente e, claro, esta pessoa receber todas as RTs sozinha (deu uma boa bolada), vale até mesmo falsificar documentos.

Como se não bastasse, vejo lá o meu projeto de Lighting implantado.

Estou aguardando a implementação real do CAU para fazer nova denúncia uma vez que, feita junto ao CREA, a coisa está empacada não sei por que motivo.

Outro acontecimento estranho, no mínimo, foi o contato de um arquiteto “amigo” meu dias atrás me chamando para uma parceria num projeto. Ele queria de todo jeito que eu precificasse sem nem ao menos olhar a planta ou o layout para ter noção do que teria de ser feito. Passou pouquíssimos detalhes sobre o cliente e o projeto e queria o valor.

Forcei-o a me passar a planta e depois de horas de insistência consegui. Quando abri no CAD percebi que a “coisa pouca” que ele se referia media nada menos que 180m² de área social de um mega apartamento.

Fui puxando conversa e, papo vai papo vem, ele me confidenciou que já haviam sido adquiridos algumas coisas para este projeto como, por exemplo, um lustre Maria Antonieta, um aparador e uma cristaleira, comprados em um antiquario famoso e nada barato que tem aqui no Brasil.

Pensei com meus botões: “esse cliente tem dinheiro. Um apartamento desse tamanho e gastando rios de dinheiro em antiquarios, a tem sim. Então posso colocar o meu valor normal de projeto.

Lancei a proposta: R$ 11.700,00 pelo projeto de LD. Pagamento no padrão do mercado (50%, 20%, 30%).

Após alguns segundos de silêncio (acho que devia estar levantando do chão depois do tombo da cadeira) ele me solta que é um absurdo esse valor. Que ninguém em sã consciência pagaria esse valor por um projeto de iluminação. Que em lojas ele consegue este projeto de graça.

Rebati alegando que em lojas os projetos são feitos por vendedores ou por formados em arquitetura ou design que não são especialistas na área e que, antes de atender as necessidades dos clientes, buscam vender o que tem de melhor e mais caro. Também aleguei que, assim como qualquer profissional parceiro, eu tbm tenho uma profissão para a qual estudei – e estudo ainda – muito para conseguir me destacar e diferenciar no mercado.

Em meio à choradeira e  críticas ácidas e duras dele, descobri que ele tinha cobrado R$ 15.000,00 pelo projeto e ainda não tinha avisado aos clientes sobre as RTs.

Se ele pode cobrar os 15 paus pelo projeto de interiores, porque eu não posso cobrar o meu valor pelo projeto de LD e ainda, sem RTs???

Ofereci então a ele um desconto de 10% e acabei arredondando para R$ 10.000,00, porém as RTs da parte de iluminação seriam minhas.

Pronto, lá veio choradeira, decontentamento, agressões e mais um monte de blablabás novamente. Além de me menosprezarpois ele é arquiteto e eu designer – ainda tive de ouvir dele que ninguem sabe o que é esse tal de Lighting Design, que com todos os amigos dele que conversou ninguém sabe do que se trata. Que nem reconhecida entre os profissionais e juridicamente essa profissão é entre várias outras coisas.

Pior: ele me disse que é um absurdo eu exigir as RTs pois ele (tadinho) tem de sobreviver em Sampa e, sem elas, não consegue.

Como não se já está levando 15 paus só de projeto???? Pelos meus cálculos, só as RTs dos tres itens do antiquário dariam uma media de R$ 3.500,00 – isso sem contar as RTs de todo o resto que envolve o projeto.

Bati o pé e disse que essas eram as minhas condições. Ele ficou de conversar com o cliente e me responderia no dia seguinte.

Sumiu, nunca mais vi no MSN nem em rede social ou lugar algum.

Me faz falta este projeto? NÃO!

Me faz falta esta “parceria”? NÃO!


Também já levei tombos com parceiros de lojas que no primeiro contato oferecem uma coisa e depois é outra.

As lojas geralmente oferecem 10% de RT. Quando dou o desconto para o cliente é porque ele está ciente da existência delas e deixo isso mais que claro para os lojistas.

No entanto, é muito comum acabarmos levando rasteiras de lojistas. Vejam bem:

Estou com um cliente agora que, por sua situação financeira e também por sua amizade de longos anos, além do desconto especial que fiz, acrescentei – e expliquei muito bem o que era – sobre o acrescimo de 10% de desconto por causa das RTs.

Ele concordou e começamos a obra. Só comprar onde eu indicar pois são parceiros. O cliente está sim fazendo exatamente o que acordamos.

No entanto, em uma das lojas, num primeiro contato foi falado sobre as RTs de 10%. O cliente – e eu – escolhemos varios produtos e afetuamos a compra. Pouco mais de R$ 10.000,00 na primeira compra e mais um belo montante na segunda compra.

Passados alguns dias, recebo um telefonema desta loja dizendo que meus creditos já estavam disponíveis lá na loja. Fui ver e levei um susto.

A loja tem a pachorra de me oferecer 2% sobre as vendas EM MERCADORIAS a serem retiradas nela mesma como RT!!!

Disse que não tinha sido aquele o acordo mas de nada adiantou. Ou eu aceito os R$ 355,00 (perdendo mais de R$ 1.500,00) ou nao poderiam fazer nada.

“Levei no zóio” de novo!!!

Porém, nesta loja não levo mais cliente algum.

Não sou eu quem perdeu um parceiro e sim eles.

No segundo exemplo, não sou eu quem perdeu um parceiro e sim aquele arquiteto que me desrespeitou como profissional e como amigo.

No primeiro caso, não fui eu quem perdeu uma parceria, e sim aquela pessoa que perdeu o pouco de respeito que raras pessoas ainda nutriam por ela. Todos me conhecem e sabem o trairagem que foi feita comigo. Outros profissionais, fornecedores, amigos em comum. Todos nos conhecem e conseguiram perceber claramente de onde estava vindo a verdade, e quem estava mentindo descaradamente.

Isso tudo me afeta? NÃO!

Isso tudo serve apenas para que eu tenha mais cuidado e preste bastante atenção em possíveis “parcerias” profissionais.

Serve também para que eu tenha cada dia mais gana de preservar a dignidade de minha profissão e o respeito entre os profissionais.

Por isso também defendo a urgência da Regulamentação Profissional tanto para Design de Interiores/Ambientes como para Lighting Design.

Fica o alerta e a dica a vocês ok??

Mais do mesmo… RTs.

Recebi a newslwtter da ABD essa semana (maio/2010) e esta tem em sua matéria de capa um tema muito importante:

“Ser assertivo para evitar possíveis conflitos”.

Creio que nem precisa reforçar o que vem a ser este “ser assertivo”, mas vamos lá. Temos de ser assertivos com o cliente, os fornecedores e os profissionais envolvidos na obra.

Ser assertivo pressupõe uma relação transparente entre as partes. Essa transparência nos obriga a firmar uma relação ética.

Se a transparência e a ética não estiverem presentes nessas relações a chance da nau virar são grandes.

Porém, na newsletter há um erro grave dentro deste assunto: quando fala sobre as RTs ainda na matéria de capa. Segundo a matéria:

“Uma das áreas de maior conflito é o recolhimento de Reserva Técnica pelo profissional. Quando o cliente ‘descobre’ o fato no meio da relação existe um sentimento de decepção. O assunto é polêmico, mas a posição da ABD é clara. O associado deve comentar o assunto antecipadamente com o cliente e deixar claro que isso não onera as compras e não interfere na indicação de fornecedores, prevalecendo sempre a decisão do cliente.” (NEWSLETTER, ABD. Ano 4, Maio 2010 – n° 14. Pag 1)

Fala sério ABD… vocês realmente acreditam que as coisas funcionam assim? Pois bem, vou explicar exatamente como as coisas funcionam nesta área:

1 – raríssimos são os profissionais que comentam com o cliente sobre a existência da RT. Tanto que temos muitos “profissionais” que estão vivendo com as RTs, não cobrando projeto e assim, prostituindo cada dia mais nosso mercado;

2 – “Comentar” não pois este termo é superficial demais. O profissional tem a obrigação de detalhar sobre como funciona esta prática para o cliente. O cliente tem de estar ciente da existência desta prática para poder optar e o profissional tem de ser ético ao oferecer dois orçamentos para o cliente: um com RT (valor aproximado das mesmas descontado do valor de projeto) e outro sem RT onde o valor do projeto é cobrado integralmente e o profissional tem de negociar as RTs como desconto para o cliente. Se não for assim, não há ética.

3 – Como “não onera as compras”? Em qualquer loja que você chegar e disser que quer a sua RT como desconto para o cliente isso é feito. Logo, este valor está sim embutido no custo do produto. Assim, o cliente está pagando duas vezes o profissional (no caso de contrato celebrado com valor integral de projeto livre de RTs). Paga o projeto e paga a “comissão” das lojas. Creio que falta leitura para a ABD sobre este assunto. Comecem por este meu texto aqui no blog: “O Paradoxo das RT’s.”

4 – Ainda sobre onerar o preço, já fiz testes sobre como o pagamento das RTs interfere no valor final. Fui a várias lojas fazer a cotação de diversos produtos. Com os orçamentos nas mãos pedi a uma amiga que passasse uma semana depois nas mesmas lojas, orçando os mesmos produtos dizendo estar sem acompanhamento profissional pois ela sabia exatamente o que precisava. Para minha não surpresa o resultado foi uma diferença de valores absurda: todas vieram com o valor das RTs descontadas já no preço acrescidas de um desconto extra para pagamento a vista. As diferenças ficaram na casa dos 20 a 30%. Então, como não onera?

5 – Também interfere sim na escolha dos fornecedores. Hoje é só ficar um pouco nas lojas observando os “profissionais” negociando com os vendedores, gerentes ou proprietários das lojas. O que mais se ouve são frases do tipo: “Ah, mas a loja tal me dá 15%, esses seus 10% eu não quero. Vou levar meu cliente na outra…” e coisas nessa linha. Isso independe de qualidade dos produtos, o que vale é a comissão mais alta. E ainda tem “profissionais” que tentam impor o percentual a receber. Já vi isso acontecendo diversas vezes.

6 – Por falar em percentuais hoje encontramos lojas pagando absurdos 20% de RT. Dois pontos aqui: A) se isso não onerar o valor final para o cliente…. B) Ainda existem lojas que diferenciam o valor pago pela RT para arquitetos e para Designers.  Geralmente o Designer recebe metade do que um arquiteto. É justo isso?

7 – As questões orçamentárias também são uma área bastante complicada pois o que vemos no mercado são “profissionais” oferecendo aos clientes somente aqueles orçamentos onde as RTs são mais gordas deixando de lado outros fornecedores que tem um produto igual por um preço mais baixo e com RTs menores. Mas aí o “profissional” pode cair numa armadilha como bem coloca o texto da Newsletter: “Depois o cliente descobre que pode obter melhores preços diretamente com o fornecedor, o que acaba reduzindo a importância da ação do profissional“.

Assim, creio que esta diretoria deveria tomar uma postura mais séria e dura com relação a este ponto fundamental da relação profissional x cliente e não ficar somente “achando que é assim”. Não se esqueçam que este texto me soa exatamente como outros da ABD sobre a prática profissional e as dificuldades que os Designers tem no mercado onde denuncias vazias, fiscalizações de um órgão que não tem nada a ver com a nossa profissão atravancavam a nossa prática profissional e as nossas relações com os clientes. A ABD não acreditava nas coisas absurdas que eu e outros blogueiros da área denunciavamos. Porém,  teve de acontecer com uma diretora recentemente para a ABD se mexer e ver que ninguém aqui está vendo “homenzinhos verdes”. São problemas reais, do mundo real, do cotidiano profissional dos Designers.

Esta prática das RTs da forma que vem sendo levada hoje em dia, é o câncer da profissão de arquitetura, design, engenharia e tantas outras. Ou os “profissionais” passam a agir eticamente ou cada dia mais corremos o risco de ter nosso mercado cada dia mais prostituído.

* Coloquei a palavra profissionais entre aspas algumas vezes para dirigir-me àqueles que são os responsáveis pela prostituição do mercado. Estes nem de profissionais com letra minúscula deveriam ser chamados pois se a RT é o câncer da profissão, estes são a metástase.