Victoria’s Secret Fashion Show 2010-2011

Bom, para os antenados de plantão, isso já nem é tão novidade. Consegui agora o vídeo completo do show da Victoria’s Secret deste ano. Na verdade, está dividido em 4 partes.

Quem já viu algum sabe do tipo de show que estou falando, vale cada segundo, cada detalhe. E, como a produção de Set é uma das possíveis áreas para os Designers de Interiores/Ambientes, vou posta-los aqui para vocês com alguns comentários abaixo de cada parte.

Quem está acostumado com as mega produções deste desfile pode ter estranhado o deste ano. Apesar de continuar sendo um mega evento, com uma mega produção, este ano eles optaram pela simplicidade: prova de que nem tudo precisa ser caro e/ou precioso para valorar a montagem.

Um outro detalhe importante é que nestes vídeos aparece o backstage (as coxias como chamam aqui no Brasil) que é o espaço de preparação e produção das modelos e de moda. Além de todo o aparato necessário, que é também, este espaço, trabalho nosso.

Vamos aos vídeos.

Na primeira parte devemos observar a largura da passarela que eles sempre usam. Essa deve ser larga o suficiente para que as modelos possam exibir os adereços que fazem parte da produção de moda. Perceberam o revestimento do piso da passarela? Não sei se é isso, mas me lembrou um papel de parede que vi em São Paulo aplicado na parede de uma loja. É um papel com gliter, maravilhoso!

Na boca de cena, vemos um cortinão simples e  levemente translúcido com grafismo simples. Sobre a boca de cena, apenas um trabalho também simples de frontão que passa perfeitamente o recado da marca. Identidade total!

Temos um grande coreto giratório no centro do palco que é, na verdade, o único elemento cênico desta parte. Simples, e manda o seu recado.

Já na parte do show da Katy Perry, nada de especial cenograficamente falando a não ser os fresnéis que descem sobre a passarela criando um efeito fantástico e inesperado. Raramente se vê uma iluminação que desce para o meio do palco.

Nota mil para esta parte!

Repito, prestem muita atenção na estrutura montada no backstage. Tudo tem de ser muito bem layoutado e atendendo um fluxograma que permita a agilidade de locomoção de toda a equipe.

Nesta parte vemos que para a cenografia foi utilizado um elemento bastante simples que lembra bastante os celeiros das fazendas norte-americanas. Muito simples e com um efeito belíssimo!

Na sequência entra uma parte mais agitada onde, cenograficamente falando, não temos elementos. Na verdade temos apenas os adereços utilizados pelos atletas de ginástica e um trabalho de Lighting Design estonteante. É a parte esportiva.

Peceberam como tudo muda do vermelho para o azul num piscar de olhos? É o poder da luz.

Nesta parte temos o show do Akon com as modelos desfilando ao mesmo tempo. Prestem atenção na quantidade de cristais suspensos formando um grande céu estrelado sobre a platéia. E, novamente, quem faz a cenografia é o lighting design. Quando as modelos comeam a entrar, descem fios com cristais presos nas pontas sobre a boca de cena. Conforme as modelos vão esbarando nos mesmos, eles começam a balançar (dançar) suavemente ampliando ainda mais o efeito. Certamente também há um pouco de vento promovendo a movimentaçção.

Simples e lindo!

Após, entramos numa cenografia bastante simples com grandes árvores na boca de cena. Sobre a passarela descem lanternas. Tudo bastante étnico.

E novamente, quem comanda o espetáculo é o Lighting design.

Na última parte do vídeo temos novamente a participação da Katy Perry. A cenografia foi muito bem sacada: simples e linda! Mostra toda a alegria e energia, características muito fortes na marca.

Em cada lateral do palco temos um monte de balões metalizados coloridos. No centro, um elemento bastante simples também na forma de um cachorro deitado.  Ao ser virado, aparece uma escadaria.

De fundo, temos um trabalho muito bonito também de lighting design.

E, promovendo a interação com a platéia, além da que as modelos já fazem, vemos os mesmos balões do palco caindo suavemente sobre a platéia.

Por falar em platéia, vocês perceberam o layout dela? O recuo necessário para as câmeras sobre trilhos e gruas? A iluminação de segurança trabalhada de forma bastante estética fugindo dos tradicionais balizadores de piso?

Bom é isso gente. Este show da Victoria’s Secret mostra claramente que não é necessário um cenário gigantesco, cheio de detalhes para conseguir passar o recado.

Espero que tenham gostado.

Abraços.

SET Design: Moda

Dando sequência aos posts sobre SET Design, quero agora falar um pouco dessa área voltada para a Moda.

Como já expliquei anteriormente, SET refere-se a algo “fake”, no bom sentido. Um excelente exemplo é o caso da cenografia para TV onde temos falsas paredes, falsas fachadas, etc.

No mercado da Moda isso não é diferente mas veja bem, não vou me referir aqui a lojas e show-rooms pois estes são Projetos de Interiores/Ambientes. O SET Design voltado para a Moda compreende os trabalhos destinados a divulgação e publicidade da marca.

Ainda não temos um mercado forte neste meio aqui no Brasil uma vez que geralmente quem faz este trabalho é o Designer de Moda junto com o Fotógrafo. Porém é um nincho que está aí disponível e as empresas e profissionais que já o descobriram tem avançado grandemente em questões de qualidade estética do produto final e agilidade na conclusão do trabalho. Eles deixando esta área nas mãos de um profissional especializado ganham tempo para cumprir as suas outras funções na produção.

E já vou avisando: quem quiser entrar nessa área que se prepare para carregar muitos mobiliários, acessórios, montar e desmontar cenários rapidamente, alterar detalhes e também ajustar a parte da iluminação juntamente com o Fotógrafo (incluindo segurar os equipamentos de iluminação e rebatedores).

Vamos começar falando sobre produção de Editoriais e de Catálogos de Moda. Pra que servem os editoriais e catálogos e onde estes são utilizados?

Pois bem, os editoriais são utilizados basicamente em revistas ou TV. Nem sempre um editorial está ligado a uma marca exclusivamente. Ele tem a função de mostrar idéias, conceitos e tendências. Já os catálogos são aqueles distribuídos para lojistas e clientes no formato revista (hoje em dia também encontramos estes disponíveis nos sites das confecções). Quem assistiu ao filme “O diabo veste Prada” teve a oportunidade de visualizar a produção de vários editoriais e catálogos.

Para que um editorial/catálogo seja bem feito, deve haver uma sintonia muito forte entre marca/designer de moda/set designer/stylist/fotógrafo.

Essa sintonia se faz necessária, especialmente entre os designers de moda e de SET, para que a linguagem utilizada na produção esteja afinada com os conceitos, idéias e ideais que representam a coleção em questão e a empresa que representa.Tem também a linguagem relativa ao público alvo da marca que deve ser muito bem pensada e planejada dentro de todo esse contexto pois uma foto mal produzida pode destruir uma clientela cativa.

(Os editoriais e catálogos nem sempre são feitos com fotos.Hoje em dia, especialmente com a internet, os vídeos estão em alta.)

Os editoriais e catálogos podem ser realizados in ou outdoor e tudo vai depender das negociações entre estes dois profissionais (Moda e SET). Caso seja optado por uma produção externa, é função do SET Designer buscar a locação perfeita que represente o momento, a linguagem da coleção ou uma que possa ser adaptada para esta representação.

Enquanto o pessoal da moda faz os preparativos (make-up, produção) o SET Designer e o Fotógrafo devem dialogar sobre os pontos fortes da locação, buscar focos, ângulos e pontos a serem fotografados. Por isso é importantíssimo que o SET Designer já tenha conhecimento prévio de todo o espaço da locação e seus possíveis pontos que possam ser aproveitados. As poses também são discutidas e escolhidas nesse momento.

Outro fator importantíssimo a ser observado no caso de externas é a luz. Ela pode valorizar ou destruir um editorial caso o olhar não seja técnico o suficiente sobre o assunto provocando manchas de luz ou sombras. Por isso é importantíssimo trabalhar sempre com fotógrafos que tenham em mãos os materiais e equipamentos corretos e suficientes para estes ajustes.

Para os editoriais indoor, a função do SET Designer é preparar o estúdio cenograficamente caso seja necessário ou, no caso de fundo infinito, analisar as possibilidades que este proporciona para melhores closes e poses.

Já no caso do SET Design voltado para desfiles, o trabalho é bem mais pesado e complexo pois consiste em áreas bem específicas e detalhes que devem ser pensados na hora do projeto. Sim, este tem de ser cuidadosamente projetado, incluindo o atendimento às normas de segurança, especialmente.

O SET Design de um desfile engloba basicamente:

– Área de Recepção: onde os convidados são recebidos, nomes conferidos e informações;

– Lounge: é o espaço onde os convidados permanecem até ser liberada a entrada na área de desfiles. Aqui deve-se pensar numa área de bar, outra para descanço e a circulação além de sanitários;

– Camarins: é a área de preparação dos modelos. Não visível para os convidados esta área deve conter 5 espaços basicamente: alimentação, make-up, produção, espera e sanitários;

– Área de Desfile: esta é a parte mais complexa da produção pois devem ser respeitadas algumas áreas bem específicas e com localização pré-determinada. As áreas “soltas” são aquelas relativas à platéia que dependerão do formato da Passarela e da “boca de cena ou palco” (coloquei entre aspas pois existem vários nomes para esta última, depende da região). Além destas, a área de mídia destinada à imprensa, especialmente fotógrafos e filmagens, deve ser locada bem de frente à passarela. Além disso há ainda o espaço para a equipe de produção (som, luz e efeitos) que devem ter uma visualização completa do espaço.

Neste último tópico, vamos separar estas partes para melhor compreensão.

Para a platéia, é de bom tom que esta seja montada de forma a que todos tenham uma perfeita vizualização da passarela e as cadeiras sejam confortáveis. A melhor disposição é a do tipo arquibancada.

Área de mídia: é um “box” localizado bem na ponta da passarela destinada aos fotógrafos e à imprensa televisiva. Deve ser o suficiente para acomodar toda a mídia convidada e estar delimitada por algum tipo de barreira para que não seja invadida pelo público. Quando a passarela é alta, geralmente esta área encontra-se nivelada com a mesma e, mesmo assim, faz-se necessário pensar em desníveis tipo arquibancada para que todos possam ter ângulos de visão melhor da passarela.

Área de produção: é o espaço destinado a equipe de som, luz e efeitos. Deve ser elevada e permitir uma visão completa do espaço todo. Aqui, a luz deve ser o suficiente para a manipulação dos equipamentos, porém esta não deve ultrapassar esta área iluminando o entorno.

Passarela: Esta deve atender às necessidades do desfile. Se for reta simples, deve ter largura suficiente para ida e vinda, incluindo o cruzamento de modelos sem provocar os esbarrões. Também deve ser de uma cor diferente do piso do espaço para balizamento e uma melhor visualização pelos modelos evitando aquelas quedas toscas. Também evite trabalhar com um revestimento muito brilhoso que pode refletir a iluminação para os modelos e sobre a área da platéia. Como citei as quedas, evite sempre que possível trabalhar com desníveis na passarela pois além de dificultarem o trânsito, lembre-se que os modelos já estão cansados com a preparação que começa horas antes do desfile além de ter toda a iluminação e os flashes que são bastante ofuscantes.

(Isso não é mapeamento e sim barras leds que permitem esse efeito)

Palco, ou boca de cena: aqui está a grande surpresa dos desfiles além, é claro, da coleção mostrada. Este elemento deve ser muito bem pensado e planejado em conjunto com o Designer de Moda e deve refletir ao mesmo tempo a identidade corporativa e o conceito da coleção. Sempre bastante chamativo, é ele que dará o tom do desfile e direcionará o olhar do público. Existem dois tipos básicos. O primeiro é o tipo “show” onde busca-se mostrar o poder da marca:

E o tipo simples onde reforça-se o foco no produto:

Independente do estilo do desfile, a iluminação é um elemento importantíssimo. Esta deve proporcionar uma perfeita visualização em 360° dos produtos seja em cores, texturas e detalhes bem como não pode em hipótese alguma causa ofuscamento a quem quer que seja.

Bom, acho que é isso. De forma rápida, uma explicação de mais uma área que podemos trabalhar.

E para terminar, mais um da Victoris Secrets cujos desfiles são sempre mega shows. Aqui sim foram utilizados o mapeamento e a projeção arquitetural num belíssimo exemplo de produção:

Espero que tenham gostado e apreciem os vídeos analisando e identificando nos mesmos os dados e elementos que destaquei no texto.

Abraços e muita luz a todos vocês!