Luis Emiliano Costa Avendaño
“A poesia é por sua vez o centro e a circunferência do conhecimento. É ao mesmo tempo, a raiz e a flor de todos os demais sistemas do pensamento”. Percy B. Shelley A complexidade da comunicação, da profusão das imagens urbanas nos deixa sem a capacidade de nos deter e observar lentamente o que acontece ao redor. São seus ruídos que molestam, que confundem, que evitam enxergar o longe e o perto, que complicam o observar e o contemplar. Faz parte do nosso oficio perceber estes momentos, oficio que esteve sempre em constante ressonância com a poesia, a qual lhe permite interpretar e possuir uma visão artística do mundo permanecendo assim na abertura criativa deste oficio, concebendo e realizando obras que permeiam a condição humana. Esta condição comparece através da observação, desenhada, medida e escrita na cidade onde moramos e no que acontece nela, para desta maneira, pelo ato, se apresentar e ser percebida. A observação – ato da natureza artística – ao se situar na origem da forma e da imagem não se opõe nem se contradiz com a formação técnica já que como ato criativo posiciona-se como um meio tornando-se concreta na obra. O design é necessariamente inovação. A observação tem a capacidade de descobrir a ordem da realidade, uma ordem que estabelece coerência entre o espaço e o ato, ordem que num futuro seja capaz de estabelecer uma nova ordem, não devem ser ordens estabelecidas, assim seria uma cópia, deverá ser uma nova ordem. Quando enfrentamos uma situação onde o design pode interferir, tradicionalmente pensamos em resolver algo que já existe e imediatamente damos um nome a esse algo. Não nos perguntamos pela razão de ser aquilo que já existe e tem nome, temos que ver além do simples objeto e da imagem mental fixa que nos leva a nomeá-lo com a palavra, temos que ver os objetos cotidianos como objetos de conhecimento, inseridos num contexto de espaço e tempo. O objeto real do conhecimento não é o objeto em si, e o conjunto que compreende o objeto e seu contexto. Nós, os designers, problematizamos a relação entre a forma e seu contexto, isto é, vemos uma problemática a resolver na integração da forma de um objeto ao seu contexto. Esta relação não pode resolver-se automaticamente, requer conhecimento. O objeto do conhecimento do design é precisamente esta relação. Observar é desentranhar e determinar as causas da ordem destas relações. O designer é um “problematizador” por excelência e procura uma situação conflitante que o induz à curiosidade epistemológica e o faz através da informação e observação, em outras palavras o designer é capaz de observar a relação objeto/contexto inserindo-se e apoderando-se dele, de outra maneira não há conhecimento e por conseqüência não há design. Design é a capacidade de observar o acontecer humano e traduzir esta observação – dos atos poéticos, em soluções. É essencial a presença de uma mente aguçada e capaz de observar com detenção de ir além das aparências, e questão de adestrar a capacidade de observação para estar constantemente alerta, a espreita do inesperado e habituar-se a examinar o que se nos apresenta – um regalo. A casualidade se limita a oferecer uma oportunidade que a mente preparada reconhece e interpreta, assim sendo, a essência da mente preparada será sua capacidade para ver o significado de uma observação aparentemente trivial e mundana. A observação nasce num estado de nudez, de um estado de vigília que mantenha o sujeito numa assepsia ideológica, de virgindade intelectual para que não predetermine nada e gere seus próprios valores individuais, únicos e irrepetíveis, desenvolvendo uma reflexão sem ordem preconcebido. Partindo de cada experiência o individuo vai gerando novos valores os quais supostamente terá que abandonar ao iniciar a seguinte observação para aumentar sua liberdade que lhe é própria. É fundamental que os designers e estudantes de design conheçam a vida na cidade, o âmbito do seu problema, o ato que acontece nela, os bons designers são aqueles que sabem ler a vida, sabem construir o rosto que tem o espaço, trata-se dos atos dos habitantes deste espaço e somente assim dar-lhes-ão forma espacial e objetual. Mas essa leitura da vida precisa forçosamente de uma interpretação, mais do que a simples observação é uma explicação hermenêutica própria da linguagem filosófica. Este tipo de proposta não tem se colocado de forma sistemática no ensino do design, seguindo-se este caminho seria um aporte original se as universidades abordassem esta problemática a partir da hermenêutica, raiz mais profunda da idéia da pura observação. Em contraposição as outras teorias do design, a teoria comunicativa do produto e da imagem tem como base um procedimento hermenêutico. A aplicação resulta da compreensão e interpretação na teoria e na prática. Isolar, descrever e caracterizar os atos insertos num contexto determinado pode ser uma das tarefas que a observação terá que desenvolver no futuro, partindo da ciência dos atos e das ações – a praxeologia. Ela estuda os métodos de interferência utilizados na atividade humana e define as características gerais deste processo: fins, métodos, atos, planejamentos, eficiências, rendimentos, etc. “Se não conheces o passado, não terás futuro. Se não sabes onde tua gente tem estado, não saberás para onde vás” (Forrest Carter). Para o design a poesia pode ser a raiz, o centro e a origem do conceito, mas também pode ser a flor, o excêntrico, a culminação e a coroação da obra. O design é poesia quando surge um processo verbal que descreve o conhecimento emocional, recreação dos atos, aqueles aspectos da realidade até certo ponto ignorados e desconhecidos. A expressão de uma emoção ou de uma experiência poética, ambas subordinadas a um elevado grau de excitação, são produtos, na maioria dos casos, de um estímulo proveniente da observação. O conhecimento poético é o conhecimento emocional, o conhecimento ao qual se acede através da emoção, no poema é conservação, transmissibilidade deste conhecimento. |
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Consultor de Design, professor e coordenador do Curso de Graduação Desenho Industrial e do Curso de Pós Graduação em Design de Luminárias das Faculdades Oswaldo Cruz, professor do curso de Pós Graduação de Iluminação e Design de Interiores, convênio entre a Instituto de Pós Graduação de Goiás – IPOG e a Universidade Castelo Branco – RJ e Faculdades Oswaldo Cruz – SP. E-mail: luis.emiliano@oswaldocruz.br |
fonte: Portal DesignBrasil – http://www.designbrasil.org.br