É bastante comum vermos nas diversas mídias o uso, podemos dizer até exagerado, da palavra tendência com relação aos projetos de Interiores e Arquitetura. Antes, precisamos definir bem as diferenças entre o que pode ser considerada tendência e para qual mercado ela é direcionada dentro de um projeto. Nos dicionários encontramos o seguinte significado para a palavra tendência:
“tendência (ten-dên-cia) s. f. Ação, força pela qual um corpo é levado a mover-se em direção a alguma coisa: tendência dos corpos para a terra. Fig. Pendor, inclinação: tendência à mentira. Psicologia Diz-se para designar certos instintos, certos impulsos do homem, especialmente na medida em que esses instintos ou impulsos são conscientemente experimentados no comportamento que determinam.”
Conforme descrito, tendência é uma coisa passageira, um modismo. Uma ferramenta mercadológica nascida na área da moda e utilizada meramente para gerar a necessidade de consumo imediato de algo e que, infelizmente, está sendo aplicado no mercado de Design de Ambientes e Arquitetura de forma irresponsável e leviana.
Tendências da moda vão e vem com o passar das estações e dos anos. Assim como a moda outono/inverno ou primavera/verão, o moderno fica ultrapassado e retorna algum tempo depois, algumas vezes com algumas sutis modificações, mas, em linhas gerais, é a mesma roupa que nossas mães e avós usaram.
Algumas mudas de roupas são fáceis de guardar num armário. Já uma parede revestida com o “porcelanato da vez”, impossível. Em um projeto de Design de Ambientes, as tendências não podem, jamais, imperar ou dar o tom do projeto. Nem mesmo na Arquitetura. O que deve prevalecer e ser o foco do projetista é atender às necessidades do cliente, por mais que uma estação. Um projeto de ambientes deve durar pelo menos 5 anos portanto, atemporal e sem modismos pois neste período, o que está na moda agora, daqui um ano poderá ser tido como brega.
Já num de Decoração de Interiores elas podem sim ser bem vindas, desde que muito bem dosadas de bom senso. Para entender essa colocação, devemos primeiramente esclarecer as diferenças entre um projeto de Design de Ambientes e um de Decoração de Interiores.
Um projeto de Design de Ambientes envolve partes fixas e/ou complicadas de serem modificadas à cada estação e que o usuário irá conviver diariamente e por um bom tempo com elas. Dos pisos aos móveis, passando por gesso e iluminação, estes são elementos que devem atender, antes de qualquer outra coisa, as necessidades reais do usuário solucionando os problemas encontrados no brieffing e na análise do espaço. Por necessidades entende-se aquelas relacionadas ao uso diário e que envolvem o bem estar, o conforto, a ergonomia além, é claro, de refletir o “eu” do cliente com ambientes onde ele se identifique e se sinta bem (stimmung). Estes elementos não são meros vestidos ou calças que “estão na moda” e podem ser trocados em toda estação. São elementos que exigem uma boa quantia de dinheiro e a sua troca envolvem novas obras, novos projetos, mais gastos.
Já num projeto de Decoração de Interiores (que é parte integrante do projeto de Design de Ambientes) temos ainda de respeitar a identidade do cliente, porém temos mais liberdade para trabalhar os elementos soltos do projeto, os objetos e acessórios. Um projeto de Decoração, diferentemente do projeto de Design, envolve as partes móveis, aquelas que podem ser mudadas ou alteradas com facilidade, como uma peça de roupa da estação, sem prejudicar o ambiente em sua habitabilidade, ergonomia, acessibilidade. Para entender corretamente o significado disso, recorramos novamente ao dicionário:
“decoração1 de.co.ra.ção1 sf (decorar1+ção) 1 Ação, ou efeito de decorar ou ornar. 2 Adorno, embelezamento, enfeite, ornamentação. 3 Aspecto geral. 4 Teat Cenário.”
Não à toa que o termo é oficialmente utilizado para designar o trabalho dos profissionais que trabalham com festas e também aqueles que decoram confeitos. É, na verdade, o ato de enfeitar ou ornamentar algo. Assim, temos na Decoração de Interiores o papel de coroar os ambientes projetados pelo Designer de Ambientes.
Nesse sentido, cabem sim as tendências como por exemplo as capas de almofadas, as mantas, os vasos e objetos decorativos, as velas, as toalhas e demais panejamentos móveis – incluindo-se cortinas – entre outros. Observem que estes são elementos fáceis de serem encaixotados e guardados (ou até mesmo vendidos ou doados) caso saiam da moda e podem ser facilmente trocados por outros mais atuais. Muitas vezes nem por estar fora de moda, mas pelo simples fato do cliente ter enjoado deles.
Percebam que é situação bem diferente como no caso do cliente enjoar de uma cozinha planejada ou deixar de gostar dela apenas porque não está mais na moda. Devemos ter consciência que menos de 2% dos clientes fazem parte da parcela que se dá ao luxo de trocar o piso da casa toda a cada estação. A maioria dos clientes, quando chega a próxima estação, ainda está pagando as contas da última reforma.
Assim, tenham muito cuidado ao se jogar de corpo e alma nas tendências e, principalmente, ao envolver os seus clientes nesse jogo meramente mercadológico. Os riscos são muito grandes para você profissional, e muito maiores e piores para ele.
Tendências? Muita calma nessa hora.
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Bons concelhos :))