Tempos atras eu fiz um post sobre simplicidade e fiquei matutando aqui comigo: qual o nivel de interesse e de curiosidade dos profissionais sobre como as coisas são feitas, como funcionam, etc. Confesso que sou chato demais nesse ponto. Sou do tipo de pessoa que não compra nada por catálogo. Tenho a necessidade de manusear, sentir o produto, observa-lo, verificar encaixes e partes montantes, experimentar texturas, qualidade técnica e de acabamentos, etc.
Então, resolvi escrever este post sobre isso para verificar a quantas anda a curiosidade dos profissionais e estudantes.
Bom, sempre que especificamos um projeto temos uma quantidade enorme de produtos listados. Alguns são únicos, outros se repetem, outros ainda são semelhantes, existem as cópias e assim por diante.
É uma lista realmente grande. Tem como conhecer tudo aquilo?
Não só tem como o profissional DEVE conhecer item a item, e não apenas por catálogos.
É bastante comum vermos profissionais esquecendo-se da sua formação em DESIGN e atuando apenas como decorador especificando produtos industrializados. A criação fica de lado em nome de uma maior agilidade e facilidade projetual.
Assim, corre-se o risco de comprarmos “gato por lebre” uma vez que não se conhece exatamente o que está sendo especificado no projeto.
Quantos aqui já se depararam com uma peça que, no catálogo, é linda, perfeita para o ambiente e, depois de instalada percebe-se que não foi bem aquilo que se tinha pensado? Isso é muito comum acontecer. E se deve ao fato do profissional não conhecer a peça/produto real.
E quantos aqui preferem a repetição de peças em vários projetos por só conhecer aquelas especificadas? Também bastante comum acontecer.
Tenho conversado com muitos lojistas e todos são unânimes em dizer que é raro aparecer um profissional que realmente conheça os produtos, saiba discutir sobre os mesmos de forma técnica e profunda, analisar possibilidades e limitações. Em móveis, dizem que a maioria nem se preocupa em procurar saber sobre a estrutura de um sofá, qual a marca das ferragens ou tipo de montagem de um amrário, por exemplo. “Olhou a cara, gostou, cabe no espaço, levou!” é o que dizem.
No ramo da iluminação então a coisa fica pior ainda: os “profissionais” mal sabem diferenciar as lâmpadas, quiçá as luminárias e suas aplicações básicas e as possíveis. Aí, acabam colocando seus projetos numa situação de dependência dos vendedores, nem sempre especializados no assunto.
Só para vocês terem uma idéia sobre o que estou escrevendo aqui, alguns exemplos:
– Quem de vocês já parou, pegou uma luminária e a desmontou inteira para conhecer cada parte da mesma entendendo a sua necessidade e função no funcionamento da mesma?
– Quem de vocês já pensou sobre a estrutura daquele sofá especificado observando questões como resistência dos materiais, tensão, amarramento, contas, revestimento, etc?
– Quantos de vocês já especificou uma estante “X” de uma marca famosa sem levar em consideração o sistema estrutural da mesma, resistência dos materiais empregados, sistemas de fixação, revestimento, etc?
– O encaixe e fixação da cadeira especificada são corretos? Vão suportar o esforço diário? O estofamento considera a correta especificação? E por falar em esforço diário, você sabe exatamente o que é isso?
– Já que falei sobre mobiliário, você tem certeza de que estes escolhidos por você irão realmente atender as questões ergonômicas específicas dos usuários?
Um exemplo:
Você sabe me dizer se estas cadeiras são verdadeiras ou são cópias?
Sabe como identificar uma verdadeira de uma cópia?
Tempos atrás fui na nova casa de uma conhecida – na verdade inauguração desta. Ficou linda a casa, coisa de revista. Porém, como ela sabe que sou da área, ao me mostrar a casa foi apontando os erros projetuais cometidos pelo arquiteto “bambambam” da cidade que ela contratou. Para você terem uma idéia, nos banheiros, o piso é contínuo com porcelanato polido e retificado ou seja, numa área molhada, não tem nem os frisos do rejunte para servir como um “quem sabe” freio na hora de um escorregão. Esse foi apenas um dos problemas, haviam vários.
O mais comum nos projetos, e que nesta casa também ocorria, é com relação à iluminação. Realmente, como sempre digo, a AR111 é linda, tem uma luz perfeita, mas apenas para ambientes amplos, com pé direito duplo, no mínimo. Aí vem o “bambambamzão” lá e taca um monte delas numa sala com 3,70m de pé direito, sem filtros ou lentes ou seja, transformou uma sala de estar na sauna da casa com direito a bronzeamento artificial gratuito e, quiçá, um cancer de pele de gorjeta.
Gente por favor, ser um especificador de catálogos é fácil demais. É bem diferente de ser um especificador que realmente conhece os produtos. Que é isso? Preguiça? Modismos? Comodismos? Desespero para ganhar as altas RTs destes produtos?
Bah, então vire decorador e pare de manchar a categoria Design de Interiores – se bem que nem os decoradores merecem um tipo desses entre eles – e, aos arquitetos que também fazem isso, que denominen-se algo como “fazedor de puxadinhos” e parem de detonar com a arquitetura.
Pensem seriamente sobre isso.