Iluminação comercial x iluminação técnica

Lancei dias atras (25/5) no grupo Lighting Design Brasil, no Facebook, uma questão simples:

E você?
Sabe a diferença entre iluminação comercial e iluminação técnica?

Não sei se deu nó na cabeça do povo ou o que foi, mas apenas o Ugo Nitzsche ousou escrever algo e o Alexandre (LightingNow) tentou alegando o seguinte:

Uma está ligada ao tipo de atividade/função (Comercial, Residencial, Corporativa, etc…) e a outra estla ligada ao equipamento (Técnica, Decorativa, Emergência, Pública, Natural). A fusão destas “definições” é frequente, pois invariavelmente temos ambientes comerciais e corporativos que tem muitas peça de cunho decorativo e residenciais com peças técnicas para cumprir funções específicas. No final, o que precisamos é ter o resultado projetado e desejado.”

O Alexandre não está de todo errado, mas não é bem isso que eu quis explorar.

Pois bem. Para responder esta questão é preciso esclarecer que no caso em questão, iluminação comercial em nada tem a ver com diferenças entre iluminação comercial, residencial, hospitalar, esportiva, etc. Essas são definições básicas aceitas e divulgadas por grande parte da mídia e até mesmo por profissionais.

No entanto, quando coloquei iluminação comercial x iluminação técnica eu estava focado em meu artigo da pós e, senti a necessidade de fazer esta distinção. No entanto, não encontrei definição melhor que “iluminação comercial” para denominar este segmento.

Iluminação Comercial, para mim, ficou sendo (além daquela já amplamente divulgada pela mídia não especializada) aquela que qualquer um faz. É aquela que aprendemos a fazer em nossos cursos de arquitetura, engenharia, design…

É aquela iluminação que valoriza mais o status (ou o design) que a peça especificada pode trazer ao ambiente que a sua eficiência e atendimento às necessidades dos usuários.

É aquela iluminação “para vender”, digna de lojas de luminárias onde os vendedores (os despreparados e iniciantes) procuram empurrar as peças mais caras.

É também aquela iluminação que aparece nas revistas , tipo “Cafofo da Cráudia”, e que vemos repetida em diversos projetos. Aplicação básica, projetos sempre com a mesma cara (observando a iluminação), sensação de repetição ou cópia por diversos projetistas.

É aquela que aparecem citadas nos boxes de matérias da mídia não especializada como “dicas” de como iluminar os ambientes.

É aquela iluminação que geralmente uso em meus posts sobre erros em iluminação.

É aquela iluminação onde fica evidente que o projetista conhece apenas o que está disponível (e pendurado) nas lojas de iluminação. Nem sabe da existência de catálogos e muito menos a diferença entre catálogo técnico e catálogo de vendas.

É aquela iluminação onde as lâmpadas são , na linguagem corporativa das indústrias,  as comerciais. Aquelas que qualquer um leva de baciada pra casa, encontradas em grandes lojas de artigos de construção.

É aquela iluminação que segue à risca a NBR 5413.

É aquela iluminação onde o projetista fala em automação para criar cenas.

É aquela iluminação urbana tradicional e horrorosa.

É aquela iluminação que o cliente gastou uma fortuna em luminárias para fazer rasgos de luz numa parede e mais ainda num pendente para o mesmo ambiente onde a luz explode para todos os lados apagando os rasgos…

É aquela iluminação feita por um projetista que não faz a menor idéia de como aplicar os equipamentos de cênica em um ambiente.

É isso. A criatividade passa longe. A técnica passa longe. O conhecimento sobre os equipamentos voltados à iluminação resumem-se ao básico.

É uma iluminação feita para vender como coco em beira de praia em alta temporada.

É uma iluminação onde o projetista se acaba em neuroses e dúvidas para finalizar a especificação e, na maioria das vezes corre pedir ajuda a algum vendedor ou “dicas” para algum colega especialista.

Já a Iluminação Técnica tem tudo a ver com o Lighting Design e a sua consequente imposição da especialização e informação constante e diária do profissional que deseja usar o título Lighting Designer.

É aquela iluminação onde as lâmpadas são cautelosamente especificadas baseadas em suas especificações técnicas IRC, TC, IP, soquete, radiação, ° de facho, entre outros.

É aquela iluminação onde as luminárias não consideram em primeiro plano o “dizáine assinado” e sim como a luz projetada por esta irá afetar o ambiente iluminado.

É aquela iluminação onde os conhecimentos sobre psicologoia – relativa à percepção e influência da luz – são aplicados no projeto.

É aquela iluminação onde o uso de filtros de correção de cor faz-se presente sempre que necessário.

Por falar em cor, é aquela iluminação onde percebe-se claramente que a distinção entre cor-luz e cor-pigmento faz parte do conhecimento do projetista.

É aquela iluminação onde o projetista consegue transformar a percepção, cores e estilo do ambiente, sem alterar a sua forma arquitetônica.

É aquela iluminação que baseia-se na NBR 5413 mas o projetista tem consciência dos pontos de necessidade dispensando-a em pontos complementares.

É aquela iluminação que surpreende quem chega a um ambiente não apenas “por ser uma iluminação mais cênica”, mas sim porque seus sentidos são atiçados sem ele perceber o que está fazendo isso.

É aquela iluminação que preocupa-se com reflexos, brilhos, ofuscamentos, refração, aquecimento do ambiente, saúde e segurança dos usuários, entre outros cuidados.

É aquela iluminação onde o projetista aplica os equipamentos e conceitos cênicos tranquilamente integrando-os ao ambiente.

É aquela iluminação onde o projetista fala em controle da luz visando economia, eficiência energética, segurança, efeitos.

É aquela iluminação urbana que visa o embelezamento (valorização através da estética) e segurança (bem-estar através da técnica) nos espaços urbanos.

Em suma, é uma iluminação que depende de um profundo conhecimento sobre o universo da iluminação, muito mais amplo que aquele básico adquirido nos cursos de arquitetura, engenharia e design.

É aquela iluminação onde o projetista diverte-se entre equipamentos e busca levar essa diversão e, sempre que possível, busca levar essa diversão para os ambientes de forma inesperada e inusitada.

Esse é o Lighting Design!

Entenderam agora?

11 comentários sobre “Iluminação comercial x iluminação técnica

  1. Pingback: Retrospectiva 2012 | Design: Ações e Críticas

  2. Bruna

    Olá Paulo, eu amei o seu post. Desde sempre a área da iluminação me encanta, e , como arquiteta, pretendo começar a trabalhar com Light Design. Para tanto, queria começar realmente fazendo um bom curso, que tenha a técnica necessária e se atente à psicologia do ambiente e à eficiência energética.

    Você poderia indicar boas escolas da área em São Paulo/Campinas?

    Muito obrigada desde já, e Parabéns!

  3. Raimundo

    Paulo Bom dia !

    Vc já pensou na idéia de montar um curso específico na área de iluminação seja residencial ou comercial, via internet, creio que sua experiência serás muito últil, pois no meu caso caso tenho formação superior na área de enagenharia mas falta muita informação, pois quando pesquisamos na internet sempre cai em um site de fabricante. Iniciei recentemente está atividade e tento cpacitar-me no que tange ao assunto. Tenho dúvidas de como cobrar seja pelo projeto ou parte técnica.
    No aguardo.
    Cordialemente,

    Raimundo

  4. Olá Paulo, em primeiro lugar gostaria de lhe parabenizar, são poucos os profissionais com a sua consciência, e sabe o que eu mais gosto? Esse seu amor pela iluminação, que fica perceptível aqui no blog. Também AMO iluminação, trabalho na área (aqui em Floripa) há uns 6 anos, e sou encantada por todo esse mundo. E tem como não se encantar?? Também sou formada em Design de Interiores (fiz o técnico, e dps fiz o superior) E acho o máximo como você defende nossa classe. (Pra falar a verdade fico até com vergonha, por ficar quietinha aqui no meu canto, em quanto coisas absurdas acontecem, enfim…) Adorei abrir a Lume, e ver sua coluna (isso há alguns meses) pois foi surpresa, não tinha visto nada aqui no blog, fiquei satisfeita, parecia até que era um amigo mesmo, rs! Muito bom esse reconhecimento, né?! Você merece, sempre que posso, dou uma passadinha por aqui… Sempre pensei em comentar e tal, mas ficava receosa, pois um dia li aqui, que você não gostava muito de blogs com imagens de decoração e tal… E o meu tem muito disso! hahaa.. mas hoje fui obrigada, pois me identifiquei muito com o post (na verdade me identifico com vááários). Também fiquei interessada no seu curso, logo faço minha matrícula. Acho que já falei demais.. Agora que comentei, vou comentar mais, ok?! O legal dos blogs é justamente essa interatividade. Parabéns e mais sucesso.

    Até mais!

    Bárbara

    1. LD Paulo Oliveira

      Olá Bárbara!!!
      Muito bom receber seu comentário aqui, melhor ainda por você ter superado seu “medo” rsrsrs
      Não é que eu não goste de blogs apenas com imagens. A questão é que todos que vão por essa linha acabam ficando muito parecidos e na nossa área precisamos de referências, bibliografia, cabeças pensantes e que defendam a área.
      Não digo ser um maluco como eu que mete o dedo na ferida e acaba virando vidraça mas ao menos, explorar a área e explicar corretamente o que é a área, indo na contramão da desinformação imperante.
      Bom, agora que já perdeu o medo, fique a vontade, eu não mordo não ok? rsrsr
      abraços e sucesso!!!

  5. Regiane

    Ai que inveja de você, Paulo! Concordo com tudo o que você diz!
    Sabe, quando entrei na faculdade, achava que 3 anos eram muito… Hoje vejo que ainda há muitos caminhos a percorrer. Os professores deixam muito a desejar, não ensinam de verdade! Um dia quem sabe… Eu chego lá!

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