Brieffing – #ComoFaz?

É bastante comum leitores me perguntando ou pedindo dicas sobre como briffar os clientes. Então vou ser bem direto e franco:

Não há uma receita de bolo para isso. Cada caso é um caso e isso só se aprende com a experiência profissional.

O brieffing TEM de ser dividido em duas grandes áreas: a objetiva (técnica) e a subjetiva (gostos, estilos, etc) sendo a segunda a mais complicada e certamente aquela que gera maior desconforto nos profissionais iniciantes.

A primeira parte é aquela composta por todos os elementos técnicos iniciais do projeto. Nesta parte teremos de:

– Conhecer o orçamento disponível;

– Saber o que será feito (qual a área total, quais ambientes, etc);

– Saber qual será o uso e quem serão os usuários (quantificação e necessidades de acessibilidade, segurança, etc);

– Fazer as medições dos ambientes que serão projetados (incluindo portas, janelas, aberturas, elementos arquitetônicos, etc);

– Fazer a locação (nos croquis) dos pontos de elétrica e hidráulica existentes;

– Anotar, item por item, o que o cliente deseja alterar (pisos, revestimentos, pintura, móveis, louças e metais, iluminação, etc);

– No caso de condomínios, saber os horários limites para realização das obras e normas de limpeza internos;

– Conseguir com o cliente o projeto estrutural da edificação (original e de alterações posteriores se houver);

Enfim, esta é a parte “grossa” do Brieffing comum e necessária à todos os projetos. Existem ainda outros elementos que podem ser colocados aqui nesta parte. O importante é que os croquis sejam feitos em folhas separadas para cada ambiente e, no verso, sejam anotadas as alterações – unica e exclusivamente – daquele ambiente.

Imagem: Lu Brito – DG

Já a segunda parte é bastante complexa pois iremos trabalhar com a parte subjetiva do projeto. É aqui que entram os gostos, estilos, definições de cores, texturas, identidade, personalidade, regionalismos, história, etc etc etc etc etc etc…

Dica: ouça atentamente e aprenda a “ler nas entrelinhas” do que os clientes falam.

A imagem acima é bastante clara: nesta parte exige-se muita conversa. Se a habilidade de conversar com o cliente para conhecê-lo ainda está meio crua em você, comece brincando com seus familiares e amigos.

O ideal é que você vá caminhando com o cliente pela edificação e conversando com ele sobre cada ambiente. De posse dos croquis, vá anotando o que o cliente deseja no croqui daquele ambiente. Se está na sala, tenha o croqui da mesma em mãos e somente fale sobre a sala.

Tem clientes que são maritacas: não param de falar, falam de tudo ao mesmo tempo. Nesses casos você tem de direcionar a conversa com o famoso “Calma, vamos por partes. Estamos na sala, jajá chegaremos ao banheiro”. (rsrs)

Se você não tomar esta atitude vai perceber depois que as suas próprias anotações estarão uma bagunça.

Já, muitos clientes são mais reservados. Por mais que nos contratem para realizar o projeto, são resistentes em abrir-se, especialmente sobre questões mais pessoais e íntimas. Muitos também tem uma dificuldade gigantesca em definir-se com relação a estilos: lembre-se que a grande maioria das pessoas que não trabalham com áreas correlatas à nossa são leigos sobre este tipo de coisa. Então não entupa os ouvidos deles com palavras técnicas.

Para este tipo de cliente o melhor, na maioria das vezes, é pedir que eles folheiem revistas e tragam recortes de ambientes, móveis, cores, acessórios e etc que eles gostem. Através destes recortes você conseguirá traçar o perfil estético do seu cliente. Porém, estas imagens devem servir APENAS COMO REFERÊNCIA – jamais para cópia.

A pior parte – no meu ponto de vista – é a pessoal. Dificilmente uma cliente irá dizer que quer o seu quarto “quente”. Geralmente usam termos como “romântico”. É óbvio que ela não vai dizer de pronto que quer uma cadeira de dominação no quarto. Esse tipo de intimidade somente vai aparecer no decorrer das conversas.

DAS CONVERSAS sim! Pois o brieffing subjetivo é constante e NUNCA acontece numa única conversa. É uma ferramenta que deve ser utilizada durante TODO o processo, do primeiro contato até o pós ocupação.

Também, dificilmente os pais irão dizer que o filho ou a filha é gay (raramente isso acontece). Então o quarto da menina pode não ser tão rosa quanto você imagina e o do menino também pode não ser tão azul. Por isso é importante que você tenha contato com todos aqueles que serão os usuários e procure atender às exigências de cada um para o seu quadrado.

Outro elemento importantíssimo é com relação à vida social da família. Haverão recepções e festas na casa? e sim com que frequência? Qual o número de convidados normalmente?

Quem geralmente oferece muitas festas quer uma casa para mostrar (status-CUS). No entanto devemos alerta-los sobre o risco do projeto não refletir a personalidade, o “eu” da família e tornar-se um ambiente desagradável.

Bom, como podem perceber, essa segunda parte do brieffing é bastante complexa. É como uma construção: tijolinho por tijolinho. Pesca uma informação aqui, arranca à forceps outra ali e assim conseguimos IDENTIFICAR o cliente e, consequentemente, o projeto.

É como escrevi no início: não se desespere. Isso você só vai dominar com o tempo, com a experiência.

(RE)Design

(re)formar, (re)fazer, (re)dimensionar, (re)distribuir, (re)organizar, (re)locar, (re)layoutar, (re)fluxogramar, (re)orientar, (re)aproveitar, (re)criar, etc.

Palavras todas parecidas, com significados diferentes, mas que fazem parte do significado da palavra REDESIGN!

Redesign: n (change in design) redesenho sm; reestruturação sf. vtr (change design of) replanejar vt; v Replanejar, planejar novamente.

Espanhol: v. rediseñar, reformar; Francês: v. remodeler; reconcevoir, replanifier; Alemão: v. neu entwerfen; Italiano: v. rimodellato, riprogrammato; Russo: г. спроектировать заново; переделать; Holandês: ww. opnieuw ontwerpen; Inglês: v. plan again, devise again; draft again, make a new preliminary sketch; Grego: (Lex**) επανασχεδιασμός;

O re-design é a reformulação do design de algo. Essa necessidade de renovação pode surgir por diversar razões. Pode ser pelo aparecimento de novas técnicas, de novos materiais, para eliminar falhas existentes, para adequar algo a um novo uso ou como estratégia de marketing para renovar o produto no mercado – em interiores especificamente aparece no nicho Home Staging que falarei num próximo post.

O termo design tem também outra forma de interpretação além de desenho. Pode ser compreendido como projeto, projetar. Portanto, o redesign poderia ser entendido como reprojetar, reformular não só conceitos visuais, mas sistemas, produtos, etc.

É difícil – quase ausente – a presença deste conteúdo nas academias infelizmente. Os professores preferem fazer de conta que isso não existe ou que isso não faz parte das atribuições do Designer.  Muitas vezes tenho lido a palavra redesign como sinônimo de restauração de móveis apenas, o que é um absurdo. Em alguns casos parece que este é um assunto proibido. Um tabu “moderno”.

Pois eu digo que faz sim parte de nossas atribuições como Designers de Interiores/Ambientes!

Longe de questões arquitetônicas e estruturais (que ficarão nas mãos de profissionais habilitados para tal), a questão do redesign de interiores/ambientes ou de edificações merece uma maior atenção nos cursos superiores. Se estudamos para melhorar a qualidade de vida do usuário, adequando os espaços/ambientes às suas necessidades, faz-se necessário, vez ou outra, que as alterações sejam mais profundas.

Nesse sentido, o ReDesign aparece como uma ferramenta necessária e útil para o exercício profissional pleno dos Designers de Interiores/Ambientes. Importante salientar que o ReDesign não é arquitetura ou engenharia. A edificação já está pronta, já foi entregue, já foi paga, já possui um proprietário/usuário real.

Para exemplificar sobre o que estou falando vou utilizar um exemplo prático vivido por mim tempos atrás:

Uma cliente minha comprou uma casa em fase de acabamento. No entanto ela não buscou a mim ou a qualquer outro profissional para acompanha-la nas visitas para realizar uma avaliação do imóvel. Acabou comprando uma bomba de alvenaria. SE ela tivesse me chamado para ver esta residência, teria falado para esquecer esta casa e procurar outra. Em resumo a situação era a seguinte:

1- A casa começou a ser construída na década de 80. Nesse período foi construído apenas o pavimento inferior sem ser acabado, ficando no reboco apenas.

2- Já vi casas e apartamentos mal divididos mas essa residência supera qualquer absurdo nesse sentido.

3- Em 1993 foi feito um projeto para acrescentar o pavimento superior, repetindo exatamente o mesmo desenho do inferior somando, no final das contas, mais de 300m² de área construída.

4- A casa não respirava e tampouco aproveitava o que fosse de luz natural.

5- A escada é absurdamente inclinada e desproporcional.

6- A divisão (organograma e fluxograma) era bastante confusos.

7- Não havia lavanderia, sala de jantar, despensa, lavabo. No entanto, há um excesso de quartos e salas com dimensões, digamos, estranhas.

8- Não havia área permeável no terreno.

9- Ficou parada, no reboco todo este período (mais de 18 anos).

10- O telhado não foi finalizado – as telhas apenas foram colocadas e não fixadas e o madeiramento não foi envernizado e/ou protegido.

11- Por ser um aterro dos muito mal feitos, o terreno movimentou-se provocando diversas rachaduras e pontos de infiltração no terreno e na edificação.

12- Não havia ligação com o sistema de esgoto público. Tudo ia para uma fossa na parte dos fundos do terreno. Além de que todo o esgoto era ligado numa mesma tubulação provocando refluxos nada agradáveis em todos os ralos da casa.

13- Na planta da prefeitura – que não batia com o que está construído originalmente – constava apenas uma assinatura ilegível. Não se sabe nem se é arquiteto ou engenheiro o autor do projeto. Tampouco consta o número de seu CREA.

14- Também não existia o projeto estrutural/elétrico/hidráulico da edificação.

Posso citar ainda outros problemas, mas estes já bastam para exemplificar o tamanho da “bucha”.

Pois bem, ela comprou esse pacote de problemas em formato de uma residência. No entanto, além de todos os problemas citados e outros mais, a casa não atendia às necessidades da sua família. Observem a figura abaixo tirada de meu CAD do projeto original:

Pavimento Inferior original:


Pavimento Superior original:


Como podem observar, é exatamente a mesma planta em cima e embaixo com a diferença de que no pavimento superior, no lugar do Hall embaixo, foi transformado numa sacada e, a parte de cima da garagem foi transformada numa segunda cozinha com uma varandinha para os fundos. Porque duas cozinhas? Porque originalmente iriam morar duas famílias nessa casa: uma em cima e outra embaixo. Agora, uma única família, com necessidades totalmente diferentes, viria a ocupar a residência toda.

Bom, para atender as necessidades desta família seriam necessárias algumas alterações no projeto original, incluindo alterações estruturais. Após longas conversas com a família (brieffing e visitas ao local) foram definidos os quartos dos filhos, a localização do escritório e a suíte do casal. Porém muita coisa teria de ser alterada para ajustar a edificação às reais necessidades da família.

Levei dois amigos engenheiros para vistoriar a edificação afim de localizar a parte estrutural para que eu pudesse pensar o redesign. Após muita conversa, descascar de paredes, testes e análises, e muito croqui jogado no lixo, consegui chegar à solução tão esperada para a residência:

Pavimento inferior com redesign:

Como podem observar foram alterações bastante pesadas em alguns pontos específicos.

O deslocamento da cozinha para a parte dos fundos da residência, em especial, onde antes eram dois quartos. A locação ali ficou definida pois futuramente eles irão construir uma churrasqueira nos fundos do terreno e ganham assim, melhor acesso e fluxo entre estas duas áreas. Também foi aberta a parede que dividia os dois ambientes ligando a cozinha à sala de jantar facilitando a circulação e melhorando o fluxo de ar e luz nos dois ambientes.

A abertura da parede do escritório foi pensada para trazer luz para o corredor e amplia-lo uma vez que é bastante estreito e comprido.

A construção de um lavabo para atender as visitas bem como a transformação do BWC dos fundos em uma lavanderia que antes não existia.

O estendal se fez necessário pois a família possui tres cachorros que puxam as roupas do varal. A área onde ele foi locado pega sol grande parte do dia.

A despensa construída visa atender ao projeto da cozinha bastante limpo em elementos, com poucos armários. Além da guarda de utensílios e mantimentos, ela serve como elemento de isolamento para o estendal.

A casinha de gás que antes era inexistente foi projetada ali para atender à cozinha com maior proximidade.

A abertura da parede entre o hall e o living serve também para melhorar a circulação e o fluxo de ar e luz na edificação.

A escada foi alterada melhorando a acessibilidade ao diminuir a inclinação da mesma e padronizando a altura dos degraus e os pisantes.

Pavimento superior com redesign:

Já no pavimento superior, a maior alteração deu-se na parte frontal da edificação.

A construção da suíte na parte frontal da edificação deu-se por tres motivos: 1) o sonho do casal em ter uma suíte grande; 2) a existência de duas salas no pavimento superior sendo que uma era desnecessária; 3) minimização do impacto na estrutura existente.

A ampliação da sacada com a derrubada de uma parede pensando num “cantinho de relaxação” mais escondido da rua segundo as palavras da proprietária.

A inserção de duas mini sacadas nos quartos dos fundos.

A ampliação do BWC superior para que a janela deste não ficasse dentro do BWC da suíte master.

Em todo o projeto de redesign, todas as esquadrias (portas e janelas) foram alteradas por dois motivos: 1) as existentes – de ferro – estavam deterioradas e não havia recuperação. 2) a necessidade de ampliar as aberturas para melhorar o fluxo de ar e iluminação natural.

Algumas alterações não foram realizadas como pensado originalmente por causa de partes da estrutura original que iam “aparecendo” no meio do caminho, nos forçando a alterar algumas coisas, especialmente a disposição de janelas.

Tomei o cuidado de separar bem a área social da área íntima pois esta é uma família que adora receber visitas a qualquer hora. Area social embaixo e a área íntima em cima.

Como podem ver, o redesign desta edificação teve de ser muito bem pensado, cruzando diversas variáveis. A execução deste projeto ficou à cargo dos engenheiros contratados para tal e eu entrei com toda a parte de redesign de interiores, projeto de interiores e ambientes e de LD.

Na verdade, a única área que exigiu reforço estrutural foi na garagem para suportar as alterações realizadas no pavimento superior. O aumento das aberturas e derrubadas de paredes foram compensados com vergas e contra-vergas ou com vigas e colunas novas.

É bastante comum vermos nos sites e blogs internacionais da área projetos que foram executados utilizando o redesign. De ambientes residenciais aos comerciais e institucionais, vemos de tudo um pouco sendo realizado pelos designers e sem enfrentar qualquer problema com profissionais de áreas correlatas. Isso se deve a dois motivos principalmente:

1) a parceria profissional é uma realidade lá fora, enquanto por aqui…

2) as áreas já amadureceram lá fora e entenderam a compatibilidade e diálogo entre elas. Por aqui, insistem em ficar fazendo birrinha no jardim da infância.

Vamos amadurecer gente?

E quando o cliente…

… se nega a definir cores e estilo?

É bastante comum aparecer cliente do tipo que se nega a  definir algumas – ou muitas – coisas no projeto. Estilo, mobiliário e cores, muitas coisas são deixadas nas nossas mãos.

Em alguns casos, isso se deve ao fato de tratar-se de “novos ricos” que tem consciência do seu “gosto duvidoso“. Em outros casos, detectamos a total insegurança do cliente em ter de definir o que quer que seja. Há ainda aqueles que escondem-se atrás do “eu tou pagaaaaaaaaaaaando” pra você fazer o projeto, então resolva.

Um outro ponto é que os clientes geralmente nos vêem como pessoas de extremo bom gosto, antenados nas tendências e novidades… na verdade arrogantes, insensíveis, egocêntricos. Tudo bem que tem muito designer e arquiteto por aí que reforça isso, mas não vamos generalizar e vamos lutar contra esse tipo de pensamento.

Bom, mas voltando então ao assunto do post, como sair dessa saia justa?

Postei no Twitter e no Facebook a seguinte questão:

“O que fazer quando o cliente se nega a escolher as cores??? Nem uma dica ou pista de suas preferências nesse sentido??? HEEEEEEEEEEEELP!!!!”

Bom, foi uma brincadeira para ver como os amigos profissionais resolvem isso. Rapidamente recebi algumas respostas:

“@arqsteinleitao: Pergunte as que ele NÃO gosta.”
Também não funciona. Ele não quer dizer absolutamente nada sobre as cores.

“Adriana Diniz: é complicado hein… mas já aconteceu comigo, fui nas básicas com toques de cores e deu certo, pq. percebi que os olhos da cliente, ficaram bastante tempo num projeto antigo assim…bj”
Dry, é realmente acertado partir nessa linha. Mas no meu ponto de vista isso cria uma onda de projetos “iguais”, sem personalidade – no tocante à escolha das cores. Vejo mais ou menos como os modismos (tendências).

Agora todo mundo de “off-white”, agora é o “azul da prússia da violeta da cracóvia”….

Posso também extrapolar os limites e dizer: agora “todo mundo levanta a patinha, finge de morto”.

Ou ainda: “agora todo mundo no Crééééééééu n°5″…

Tá, mas aí entra a questão do que eu escrevi do post “Tendências: muita calma nessa hora“. O que serve para um, não serve para o outro. O que está na revista da moda, pode não ser o ideal para o cliente.

É complicado e arriscado ir por essa linha. O cliente pode até gostar num primeiro momento, mas com o passar do tempo irá começar a desgostar, enjoar, sentir a falta do seu eu no espaço, demonstrando que o stimmung foi errado no momento da concepção/especificação do projeto.

Já o meu amigo Marco Antonio Felipak disse: “Peça para ver a gaveta de roupas intimas dela…ou a de cuecas do marido são sempre elas que compram, então vai descobrir a cor kkkkkk”

Tirando a gozação e a invasão extremada da intimidade pode até ser uma boa saída. Mas convenhamos, não dá para fazer isso com todos os clientes. Até mesmo com os clientes-amigos isso é complicado.

Mas o foco que ele colocou em meio à brincadeira está mais preciso. Apesar da invasão extremada da privacidade do cliente, vamos analisá-lo por um outro ponto de vista:

Todo projeto parte de um brieffing (ponto).

Mas o que vejo é que muitos profissionais levam esse brieffing ao pé da letra do que é (mal)ensinado nas universidades: perguntas e respostas. Porém o que não é passado corretamente nas universidades é que perguntas fazer e como fazê-las sem que o cliente se sinta ofendido ou invadido em sua intimidade. É uma linha muito tênue e sensível que define a futura relação profissional X cliente: pode vir a ser excelente, mas também pode tornar-se um desatre total.

No brieffing entram questões sociais, financeiras, familiares, necessidades entre outras. Mas também entram questões mais perigosas como as religiosas, sexuais (sim, afinal você irá trabalhar o “ninho do amor” e terá clientes heterossexuais, bissexuais, homossexuais, transsexuais, que tem fetiches, etc) que são de foro extremamente íntimo. Então a questão das perguntas e respostas pode se transformar num desastre total.

Todo cuidado deve ser tomado e NEM TODAS AS PERGUNTAS DEVEM SER FEITAS NOS PRIMEIROS CONTATOS.

O que percebo é que falta um elemento importantíssimo aos profissionais nessa fase:

A OBSERVAÇÃO.


Obervar o cliente:
Seu jeito de falar, vestir-se, movimentar-se, expressar-se sobre assuntos variados demonstram facilmente muito do seu ser, de sua personalidade, de seu modo de vida. Mas cuidado pois pessoas que falam pelos cotovelos podem usar isso como defesa ou auto-afirmação.

Observar o cliente em suas preferências:
Por exemplo, em qual cadeira ele se sentou ou fez você sentar-se para a entrevista? Ou ele é egoista e sentou-se no que julga ser o melhor assento ou o seu preferido (!) ou te ofereceu o melhor para sentar-se confortavelmente.

Observar o cliente em sua hospitalidade:
Ele te serviu algo para beber ou comer? Ótimo, observe suas louças ou copos. Isso já te diz muito sobre o seu estilo – principalmente se ele disser algo do tipo “desculpe pelo copo, mas é o que tenho no momento”. Aproveite a deixa e comente sobre os “cristais cica” e sua brasilidade. Se ele não oferecer nada, peça um copo d’água. Isso não é grosseria de sua parte.

Observar o ambiente como um todo:
Certamente na sala – ou onde quer que seja que ele te recebeu – terão diversas pistas sobre o que o agrada. O conjunto de elementos o farão ter uma noção do estilo que ele insiste em não definir. Até mesmo a escolha e disposição dos tapetes, toalhas, caminhos podem dizer muito sobre a personalidade do cliente, por mais simples que sejam.

Assim, tirando o branco padrão das paredes e aquelas cortinas das casas Pernambucanas, conseguimos chegar às cores preferidas ou aquelas que mais agradam ao cliente bem como à uma base do seu estilo.

Observar a sua história:
Caso perceba algum móvel ou objeto interessante, especialmente antigo, questione sobre o mesmo. E procure “pescar” elementos na sua fala que possam servir de ligação com outros detalhes que podem ser perguntados.

Observar o “brilho nos olhos”:
Quando você comenta sobre alguma coisa é fácil perceber o conforto ou desconforto com o tema/assunto. A linguagem corporal nos diz muito sobre isso. Também é fácil levar algumas imagens para que o cliente as observe. Porém é difícil para alguns clientes apontar algo. Geralmente eles param mais tempo observando o que gostam ou os incomoda. Nesse momento lance apenas um “E…?” Por mais tímido ou indeciso que o cliente seja, ele vai comentar algo sobre a imagem observada.

Eu geralmente gosto de usar imagens de objetos e não de ambientes. Tres ou quatro sofás, cadeiras, tapetes, estantes, copos/taças, pendentes, etc. Isso facilita detectar o que agrada e o que não agrada ao cliente sem precisar questioná-lo, apenas observando-o.

Já com imagens de ambientes prontos o cliente pode confundir-se. Por exemplo, ele pode gostar do vaso sobre a mesa – e não gostar dessa – mas não ser capaz de abstrair e perceber isso, indicando o conjunto como um todo. Ou ainda uma parede com um papel de parede estampado com flores – que lhe agrada – com um espelho à frente, mas não gostar do tom empregado no papel e nem do formato/desenho/estilo do espelho. Porém o seu gosto por flores vai sobrepor-se à cor e ao formato do espelho. E ele não saberá explicar isso.

O brieffing das perguntas programadas (vida social, familiar, necessidades, acessibilidade, estilo, cores, revestimentos, etc) jamais será completo sem a inserção de questões oriundas da observação.

Não tem como prevê-las, elas somente acontecerão SE, e somente SE, o profissional tiver a sensibilidade da observação.

É bastante psicológico isso e exige muito da percepção mas não é impossível a qualquer profissional conseguir chegar a esse ponto de excelência no brieffing. É apenas uma questão de treino, estudo do comportamento humano e….. observação.

Aproveito e deixo aqui esta dica para quem está à procura de um tema para seu TCC.

É um excelente assunto!

Stimmung

Bom, como já encaminhei o trabalho para o prof Glaucus, posso postá-lo aqui e compartilhar com vocês. Este trabalho foi feito em grupo por mim, Marcia Ely Tano, Carlos Cavalcante %&#&)@%&%*%$# (Kühnlein), José Fernando Garla e Simone de Aquino Araujo El Haouli.

Brincadeira Carlos, sabe que todos conseguem falar e escrever seu nome com a maior facilidade e naturalidade ahahahah.

Vamos lá:

“Definir stimmung, as ferramentas para a sua concepção e a forma pela qual o designer de interiores pode usufruir destas para a concepção de seus espaços interiores.”

Stimmung é, em resumo, a atmosfera, a sensação que produz cada ambiente. Também conhecido como o “feeling” do espaço, constitui-se no elemento principal para que o profissional consiga projetar os ambientes buscando atender as necessidades objetivas e subjetivas dos clientes.

Stimmung (Stim-mung)
Sf, -en 1 – ambiente, atmosfera, clima.
2 – tendência.
3 – humor, disposição, ânimo.
4 – animação. in Stimmung sein estar animado. (WIKI)

A noção de stimmung é buscada – e/ou levantada – pelo profissional no momento do brieffing, na conversa informal com o cliente onde se tornam conhecidos os desejos, vontades e sonhos. Através deste conhecer, conseguimos perceber quais são os pontos relevantes e mais pessoais que devemos cuidar de forma mais precisa no projetar que mais agradará no resultado final.

É bastante comum vermos clientes buscando não um lar, mas sim uma casa para exibir, as casas de revista. Este tipo de projeto dificilmente consegue atingir o lado psicológico pessoal do cliente. Mantém-se na superficialidade, sem identidade própria. Em geral, observam-se ambientes belos e ricos, porém frios e impessoais por mais que os produtos, cores e texturas tentem dizer o contrário. É uma sensação de “quarto de hotel”: por melhor e mais confortável que possa ser não é a nossa casa, o nosso cantinho e lar. Não conseguimos nos ver dentro do espaço ou reconhecer-se como parte integrante do mesmo. Não tem a nossa identidade.

Conhecer a fundo o cliente, a sua história, trajetória e perspectivas de vida é fundamental para que o profissional consiga direcionar o projeto para algo mais vivo, pessoal, personalizado e com atmosfera particular e pessoal.

A definição de stimmung como a “atmosfera do espaço” nos direciona a concretizar e equilibrar os desejos e sonhos conscientes e inconscientes dos clientes, com os espaços projetados buscando um diálogo permanente e conciso entre os dois.

O que pretende “passar” para quem vai conviver com você neste espaço ou ambiente?. Acredito que essa frase resume bem tudo o que stimmung quer dizer: atmosfera, sensações, vibração, energia.

A palavra “atmosfera” apenas, pode não passar de um clima passageiro como, por exemplo, quando arrumamos a casa para receber visitas. Stimmung está bem à frente disso, é uma constante, vive-se a cada momento em um fluxo contínuo e regular.

É complicado traduzir o que o cliente deseja, pois temos que tentar entender o que a resposta que ele nos dá realmente significa para ele. Lidar com palavras para traduzir sentimentos é complicado e por vezes pode ser enganoso. Por isso faz-se necessário que nos primeiros contatos com o cliente, o profissional consiga coletar informações subjetivas através de um brieffing bem elaborado. Ainda neste brieffing, é importante que o profissional não fale e sim deixe o cliente a vontade para fazê-lo.

O livro A terapia do Apartamento, de Maxwell Gillingham-Tyan, nos apresenta um excelente exemplo ou forma de como conseguir captar este lado mais íntimo e que dificilmente os clientes expõem. É-nos apresentada também uma outra forma de pensar o lar: um corpo composto de ossos, respiração, coração e cabeça. Segundo esta visão, o stimmung, aqui, está intrinsecamente ligado ao coração da casa. É este coração que vai permitir que fluam as paixões e sentimentos (bons ou ruins) e que estes mesmos atinjam aqueles que moram ou visitam esta casa. Através das cores, texturas, aromas e outros elementos este coração pulsa fortemente mostrando a sua identidade.

No entanto, Maxwell deixa claro que, de nada adianta uma casa confortável, muito bem organizada em todos os sentidos e esteticamente bela se os moradores e/ou usuários não estiverem bem. É o que acontece quando vamos a alguma festa na casa de alguém e, mesmo sem saber se está acontecendo algo de ruim entre o casal, o “clima”, por mais que eles se esforcem, fica estranho e as pessoas percebem que algo está “deslocado” ou fora do lugar. É um algo imperceptível aos olhos, mas que incomoda. É a energia pessoal influindo no ambiente.

Esta energia negativa pode ter origem em vários pontos: pessoal, familiar, profissional, etc. Ao profissional cabe detectar e, de uma maneira sutil, procurar direcionar o cliente para que busque uma forma de arrumar a área que está afetando negativamente a sua vida.

Assim percebemos que o stimmung, além de toda a parte física necessária para compor o espaço, tem, na energia pessoal, uma influência e impacto direto sobre o espaço.

“A casa é uma caixa de sentimentos humanos”. (Arq. Aurélio Martinez Flores)

Proposta de Projeto (II)

Itens de uma proposta de projeto

“Uma proposta simples, básica e fundamentada precisa assumir compromissos claros e objetivos. Se quem a elabora tem conhecimento da solicitação do contratante e do trabalho, não precisa ter receio de redigir compromissos e obrigações. Este receio é diretamente proporcional à falta de conhecimento ou da capacidade de atender a uma determinada solicitação.”

Se o brieffing não foi bem feito, certamente você encontrará dificuldades para formatar uma proposta ao seu cliente. Conhecer exatamente o que o cliente deseja faz-se fundamental assim como a assinatura de uma única proposta. Caso a proposta inicial não cubra as necessidades do cliente, certamente você terá de fazer alguns adendos ou aditivos de contrato posteriormente. Isso gera custos para o cliente além da sensação de despreparo de sua parte.

Portanto atente-se para os itens principais de uma proposta bem elaborada:

Cabeçalho da proposta

Aqui entra, em ordem:

A – o seu logotipo ou nome do escritório/profissional

B – número da proposta – essencial para arquivo e fácil localização posterior

C – data

D – quem é você

E – a quem é dirigida a proposta (nome, endereço, telefone, e-mail, etc)

Por exemplo:

PROPOSTA N° 0154/09 – 21/04/2009

CONTRATANTE: (o cliente)

Inscrito no CPF/CNPJ sob número xxx.xxx.xxx-xx

Com endereço à Rua xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx – Curitiba – PR. Telefone (xx)  xxxx-xxxx, e-mail: xxxx@xxxx.xx.xxx

CONTRATADO: (você)

Inscrito no CPF/CNPJ sob número xxx.xxx.xxx-xx

Com endereço à Avenida xxxxxxxxxxxxxxxxxxx – Londrina – PR.

Telefone (xx) xxxx-xxxx, e-mail: xxxx@xxxx.xx.xxx

Feito isso, passemos ao corpo da proposta propriamente dita:

1-      Referência da proposta:

Aqui deve ser deixado bem claro, de maneira resumida, quem é quem e sobre o que se trata a proposta. Como especificar o que se trata a proposta? Simples. Aqui você não deve estender-se demasiadamente pois na etapa seguinte sim é que você irá esmiuçar e detalhar a proposta. Por exemplo:

Proposta para execução de projeto de Design de Interiores e Ambientes para uma residência em alvenaria – contendo 3 quartos sendo 1 suíte, duas salas, varanda, cozinha, área de serviço, 3 banheiros, garagem e quintal – já construída (ou em fase de construção) localizada na Rua XXXX, n° XX, Bairro XXX, na cidade de XXXX, Estado XX.

2 – Metodologia de trabalho:

Aqui vem a parte chata e demorada de uma proposta, afinal é aqui que você deverá especificar todo o seu trabalho a ser executado. É através dessa parte que o cliente irá compreender o todo que engloba o que será feito.

A melhor opção, sem sombra de dúvidas, é apresentar a edificação por cômodo indicando o que será feito em cada um. Mais ou menos assim:

Suíte: layout, troca de piso, pintura de paredes, iluminação, desenvolvimento de cama, cômoda e bancada banheiro, especificação de cortinas/persianas, mobiliários, acessórios, box, louças e metais.

Quarto 1: layout, troca de piso, pintura de paredes, iluminação, desenvolvimento de bancada de estudos, especificação de cortinas/persianas, mobiliário e acessórios.

Quarto 2: layout, troca de piso, pintura de paredes, iluminação, desenvolvimento de bancada de estudos, especificação de cortinas/persianas, mobiliário e acessórios.

Sala 1: layout, troca de piso, pintura de paredes, iluminação, desenvolvimento de estante para home theater, especificação de cortinas/persianas, mobiliário e acessórios.

Sala 2: layout, troca de piso, pintura de paredes, iluminação, desenvolvimento de 01 mesa de centro, 02 mesas laterais e 01 aparador, especificação de cortinas/persianas, mobiliário e acessórios.

Cozinha: layout, troca de piso, pintura de paredes, iluminação, desenvolvimento de 01 mesa de jantar para 8 pessoas, especificação de cortinas/persianas, mobiliário e acessórios.

Varanda: layout, troca de piso, pintura de paredes, iluminação, especificação de cortinas/persianas, mobiliário e acessórios.

Área de serviços: layout, troca de piso, pintura de paredes, iluminação, especificação de cortinas/persianas, mobiliário e acessórios.

Garagem: layout, troca de piso, pintura de paredes, iluminação, especificação de mobiliário e acessórios.

Isso fica bem mais claro se colocado em uma tabela. Facilita a leitura e delimitação.

Um fator importante aqui é especificar se haverá ou não desenho e detalhamento de mobiliário específico ou se será tudo adquirido em lojas. Esse detalhe pode entrar no final desta apresentação/parte ou juntamente com a descrição do item Projeto Executivo. Mas saiba que havendo a contratação desse serviço, o mesmo deverá ser feito por você mesmo e não por lojas de modulados ou marceneiros.

Outra questão importante para a formação de seu preço é a quantidade de móveis que você terá de criar especificamente para esse projeto. Um projeto com mobiliário comprado em lojas nos toma relativamente pouco tempo, mesmo os comprados em lojas de planejados. Já aqueles que você tem de criar, desenhar, detalhar e especificar toma bastante tempo. Portanto cuidado para não deixar a tua proposta aberta o suficiente para que o cliente possa vir a exigir uma quantidade enorme de móveis específicos quando você não levou isso em consideração no momento do fechamento do preço da proposta.

Você pode criar uma lista de mobiliários à serem desenvolvidos depois de conversar com seu cliente e inseri-la aqui nesta parte. Por exemplo:

Desenvolvimento de mobiliário:

Banheiros: 3 bancadas

Quartos: 2 bancadas de estudo, 1 cama casal, 1 cômoda

Cozinha: mesa para 8 pessoas

Sala 1: 1 estante/hack para home theater, 1 mesa de centro

Sala 2: 1 aparador, 1 mesa de centro, 2 mesas laterais

Qualquer peça a mais que as especificadas acima serão tratadas em instrumento particular à parte e com valores próprios.

Agindo assim, você estará se garantindo e assegurando que não haverá abusos por parte do cliente pois qualquer tentativa dele de “ganhar” algum prêmio extra estará fechada por esta cláusula contratual informando-o de que ele terá de pagar por cada item extra.

3 – Apresentação dos trabalhos:

Aqui você deverá especificar cada etapa do trabalho:

01. Estudo Preliminar – Brieffing, estudos preparatórios, relatórios, desenhos esquemáticos, e demais documentos em que se demonstra a compreensão do problema e a definição dos critérios e diretrizes conceituais para o desenvolvimento do trabalho;

02. Projeto Conceitual – desenhos de lançamento das propostas anunciadas no Estudo Preliminar, acompanhadas de cálculos e demais instrumentos de demonstração das propostas apresentadas no projeto; inclui-se instruções a serem encaminhadas aos responsáveis pelos projetos de instalação elétrica, ar condicionado e automação, como a indicação da composição dos comandos e modo de operação dos mesmos, que evidenciem as diferentes possibilidades de uso dos sistemas propostos; compreende também a compatibilização, atividade em que se justapõem as informações técnicas e as necessidades físicas relativas às determinações do projeto de Design de Ambientes e as decorrentes dos demais projetos integrantes do trabalho global (arquitetura, estrutura, instalações elétricas e telefônicas, hidráulicas, de ar condicionado, de sonorização e sprinklers, interiores e exteriores, paisagismo, etc), com a finalidade de garantir a coexistência física e técnica indispensável ao perfeito andamento da execução do projeto;

03. Projeto Executivo – concretização das idéias propostas no Projeto Conceitual devidamente compatibilizadas a partir da integração do projeto de Ambientes com todos os sistemas prediais envolvidos no trabalho. Inclui-se as informações técnicas pertinentes à correta integração dos ambientes e demais equipamentos aos detalhes da arquitetura, bem como os dados do equipamento especificado, para a concretização dos conceitos estabelecidos no projeto. Os desenhos referentes móveis (desenho e detalhamento), equipamentos, revestimentos, materiais e acabamentos deverão ser inseridos no Projeto Executivo ou complemento deste (Memorial Descritivo), para que haja perfeita compreensão das dimensões físicas e da forma de instalação dos mesmos no edifício.

Parágrafo único: os desenhos serão apresentados em escala 1/50.

04. Supervisão Técnica – atividade de acompanhamento da execução das obras do edifício ou empreendimento, para constatação da correta execução de suas determinações e apresentação de modificações ou adaptações tecnicamente convenientes, quando necessário e pertinente. Ficam acordadas 3 visitas técnicas semanais à obra durante o andamento da execução da mesma.

Na prática, lembre-se – e avise ao seu cliente também – que só se passa de uma fase para a outra após o “de acordo”, que sinaliza por parte do cliente a compreensão do projeto e autorização para dar seqüência à próxima etapa.

4 – Prazo de entrega:

Aqui entra a sua capacidade de organizar-se. A planilha (cronograma) deve ser ampla o bastante pra que você possa trabalhar sem atropelos, mas também curta o bastante para que o cliente não comece a te ligar cobrando o projeto.

É importante deixar claro que não devemos prescrever datas fechadas e sim usar dias corridos após o “de acordo”. Isso se deve ao fato de que o cliente pode segurar e demorar para assinar o “de acordo” por dias. Você tendo colocado uma data específica certamente terá de correr contra o tempo para dar conta de finalizar a etapa.

Vejamos dois exemplos:

A – com data fechada:

O cliente assinou a proposta no dia 01/01/2009. Nessa proposta temos as seguintes datas de entrega:

Estudo Preliminar (EP): 25/01/2009

Projeto Conceitual (PC): 01/03/2009

Projeto Executivo(PE): 01/04/2009

Digamos que você passou para o cliente o PC no dia 20/02/2009. Aí você entra em “stand-by” aguardando que ele assine o “de acordo” pra que você possa dar seguimento no projeto. No entanto ele acabou tendo de fazer uma viagem do dia 22/02/2009 até o dia 15/03/2009 e, chegando aqui a sua mãe falece e lá se vai mais uma semana no mínimo de enrrolação. Chegamos então à data de 22/03/2009. Aí ele assina tudo e te entrega no dia 23/03/2009. Você conseguirá fechar todo o executivo até o dia 01/04/2009, incluindo as novas alterações que ele solicitou? Certamente que não.

B – Com prazo corrido:

Imagine a mesma situação com a seguinte especificação:

O cliente assinou a proposta no dia 01/01/2009. Nessa proposta temos as seguintes datas de entrega:

Estudo Preliminar (EP): 25 dias após a assinatura desta proposta.

Projeto Conceitual (PC): 35 dias após do “de acordo” no Estudo Preliminar.

Projeto Executivo(PE): 30 dias após o “de acordo” no Projeto Conceitual.

Usando essa prerrogativa, se o cliente quiser ficar um mês segurando a proposta ele pode ficar e isso não irá atrapalhar o seu trabalho. Não irá te sobrecarregar e você terá os seus necessários dias de trabalho garantidos.

5 – Preço e condições de trabalho:

Aqui é onde o seu cliente geralmente vai correr para olhar: o preço da proposta. Portanto esta parte tem de ser muito bem elaborada e você deverá ficar atento às reações do mesmo nesse momento. Você pode ser maleável na negociação dos prazos estendendo-os em mais parcelas porém cuidado com os “descontos”.

Geralmente, usa-se a fórmula 40+30+30 assim sendo:

40% na assinatura da proposta

30% no “de acordo” do Projeto Conceitual

30 % no “de acordo” do Projeto executivo.

Outros preferem a fórmula 20+30+50:

20% na assinatura da proposta

30% no “de acordo” do Projeto Conceitual

50 % no “de acordo” do Projeto executivo.

Existem ainda outras fórmulas, porém vale ressaltar que cada caso é um caso e, como já coloquei acima, você pode aumentar as parcelas a serem pagas pelo cliente dependendo da necessidade/realidade do mesmo.

Algumas pessoas caíram no erro de colocar uma das parcelas para o final da obra (confesso que no início fiz isso), ato da entrega da obra pronta, finalizada. Porém existe um sério risco de a obra atrasar, ser interrompida e você ficar à ver navios até sabe-se lá Deus quando.

Um ponto muito importante à destacar aqui é que o valor de projeto é uma coisa e valor de acompanhamento e execução é outra.

Valor de projeto diz respeito ao seu trabalho de gestação, criação, lançamentos e fechamentos do projeto. Ele não cobre a execução e acompanhamento. É o valor pago pelo trabalho intelectual.

Valor de execução e acompanhamento é aquele que você deve receber por acompanhar os trabalhos durante a execução da obra. É o pagamento de “peão de obra” mesmo, o trabalho braçal. Este valor gira em torno de 10% do valor total da obra que está sendo realizada e é realizado mensalmente após o início da execução encerrando-se ao final da mesma.

Portanto, o valor de projeto deve ser pago até antes da finalização da obra e tome cuidado para não deixar o seu cliente levar dois pagando um.

Mais um ponto que deve ser destacado nessa parte da proposta diz respeito aos retrabalhos de etapas já superadas e inserções/alterações de coisas. A partir do momento que o cliente assina o “de acordo” qualquer alteração por ele proposta deverá ser tratada em documento à parte desta proposta.

6 – Prazo de validade:

Sim, assim como um produto tem seu prazo de validade, esta proposta também deve ter o seu. Caso contrário, o cliente poderá pegar a sua proposta e um ano depois vir solicitar a execução do projeto com os valores escritos ali na proposta.

7 – Despesas reembolsáveis:

Tudo o que você tiver de despesas relativas ao projeto em questão são passíveis de serem reembolsadas pelo cliente. Quem já pegou algum cliente numa cidade que não é a sua sabe bem do que estou falando. Não se trata apenas das copias e plotagens mas de várias outras coisas:

A – plotagens e cópias xérox

B – correios

C – outros levantamentos e projetos complementares

D – taxas públicas quando necessário

E – despesas com transporte, hospedagem, alimentação, pedágios, etc.

8 – Autoria e Responsabilidade Técnica:

A parte relativa à Responsabilidade Técnica eu vou tratar especificamente na parte III deste texto. Já sobre a Autoria, vamos lá…

O Direito Autoral é regido pela Lei Nº 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998. Ela resguarda os direitos do autor de qualquer obra de cunho artístico ou intelectual. E isso inclui nossos projetos apesar de que é um pouco complicada a aplicação desta lei em obras de design, arquitetura e outras correlatas por não serem vistas exatamente como uma obra artística. No entanto ela é uma obra intelectual. Por isso temos também a Propriedade Industrial (Lei Nº 9.279, de 14 de Maio de 1996).

No caso de desenvolvimento de mobiliários ou outros equipamentos específicos – como luminárias – para um projeto, estes podem/devem ser patenteados. Isso vai depender muito de você profissional. Fazer a patente não é tão difícil como muitos imaginam. No entanto a patente só ocorrerá se o produto desenvolvido for realmente exclusivo e não houver nada igual no mercado.

Porém isso não precisa estar vinculado à esta proposta em detalhes. O que você deve fazer constar em uma ou mais cláusulas é que os desenhos exclusivos são de sua autoria e a sua reprodução ou posterior confecção de novas peças está proibida, salvo no caso do cliente pagar por uma nova peça.

Outro elemento que deve estar coberta na proposta com relação aos Direitos Autorais diz respeito às cópias de seu projeto por outras pessoas. Quem já não presenciou um cliente com uma revista nas mãos dizendo que quer exatamente aquela sala? Pois é, isso é o mesmo que pirataria de CDs e DVDs. E você tem a obrigação de esclarecer o seu cliente quanto a isso. Caso seja feita a sala que ele quis e o autor real do projeto fique sabendo, você correrá um sério risco de ser processado por cópia não autorizada. Assim como esse dispositivo contratual atestará que o projeto em questão é de sua autoria, foi gestado, criado e desenvolvido por você e, caso alguém venha a copia-lo, você estará no direito de processar quem o copiou.

Um bom texto para leitura sobre o assunto encontra-se neste link.

9 – Elementos preliminares:

Aqui nesta parte você deverá definir as bases necessárias para que o trabalho seja iniciado e tenha o andamento perfeito.

É aquela parte das obrigações do contratante (cliente) e do contratado (você) e das disposições iniciais.

Nas iniciais temos a geração do brieffing, entrevista e programa de necessidades que são fundamentais para qualquer início de trabalho.

Já nas obrigações deve constar tudo que o contratante deverá cumprir para que você tenha condições de realizar o trabalho com segurança como, por exemplo: entrega das plantas baixas e todos os documentos necessários, contratação de outros profissionais quando necessário, não intervenção “in loco” na obra sem o seu consentimento, pagamento das despesas já descritas na proposta e outras que porventura venham a ocorrer, entre outras coisas mais.

Já da sua parte entram elementos como a correta observância dos prazos, atendimento às necessidades, indicação (lista) e mediação na contratação de profissionais, lojas e fornecedores, assumir a responsabilidade técnica, autoria e acompanhamento da execução da obra entre outras coisas.

10 – Disposições finais:

Aqui entram os dispositivos de encerramento da proposta como por exemplo:

– A não criação de vínculo empregatício entre contratante e contratado;

– “De Acordo” – especificação de como funciona este dispositivo;

– rescisão, interrupção, transferência da obra;

– multas;

– custos de trabalhos extras – aqueles que não estão contemplados nesta proposta;

– outros assuntos pertinentes.

Aqui também deve entrar a cláusula compromissória que é aquela que elege o foro legal. Como já coloquei em outros posts, procure utilizar as Câmaras de Mediação e Arbitragem como a que eu uso em meus contratos:

“As partes elegem o TRIBUNAL DE MEDIAÇÃO E ARBITRAGEM DO PARANÁ, CÂMARA DE LONDRINA, como órgão do INSTITUTO JURÍDICO EMPRESARIAL, com sede na Avenida Bandeirantes, nº116, Londrina, Estado do Paraná, CEP:86.020-010, para solução de toda e qualquer dúvida ou controvérsia resultante do presente contrato ou a ele relacionado, de acordo com as normas de seus regulamentos, renunciando expressamente a qualquer outro foro por mais privilegiado ou especial que seja.”

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11 – Aprovação da proposta:

É a parte final onde devem constar:

– texto que o contratante ateste estar de acordo com as clausulas e condições do contrato/proposta;

– a data e local da assinatura da proposta;

– todos os dados do contratante e sua assinatura;

– todos os dados do contratado e sua assinatura;

– dados e assinaturas das testemunhas (quando houver)

As assinaturas vão na última página mas todas as páginas devem ser rubricadas por você e pelo cliente. Depois disso feito, é só fazer o registro – ou reconhecimento de firma – em cartório do contrato/proposta e mandar ver no projeto e na execução da obra posteriormente.

Um outro detalhe é que se você não possui papel timbrado não se esqueça de usar o rodapé para indicar o seu endereço, telefones para contato, e-mail, site, etc.