Fonte: Jornal do Brasil – 13.11.2008
Rio de Janeiro – Conhecido pela harmonia com a natureza e pelo sol intenso durante o ano, o Rio ainda está engatinhando quando se trata do uso de energia solar em substituição ao chuveiro elétrico, o maior vilão das contas de luz. Mas uma ONG paulista vem multiplicando pelas residências da cidade um aquecedor solar de baixo custo que possibilita economia de até 40% ao fim do mês – podendo chegar a 60%, como no caso de um centro cultural em Santa Teresa. Enquanto em cidades de São Paulo o equipamento já é uma realidade, no Rio o governo do Estado ainda tenta fazer valer a lei – aprovada no início do ano – que exige a implantação do sistema em todos os prédios públicos estaduais. Nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), por exemplo, o sistema está previsto apenas em parte do Complexo de Manguinhos.
O aquecedor solar de baixo custo foi desenvolvido pela ONG Sociedade do Sol, junto do Centro de Tecnologia da Universidade de São Paulo, que disponibilizou o manual de instalação na internet. Com materiais simples como tubos e forros de PVC (usado em tetos de escritórios), o técnico de informática Hans Rauschmayer vem promovendo cursos de instalação do equipamento no Rio e, esta semana, foi convidado para divulgar o sistema nas prefeituras de Búzios, Macaé e Itaguaí.
– É tão simples que muitos não acreditam – conta Hans. – A água pode atingir até 60 graus, mas há um sistema de segurança, e a temperatura pode ser regulada a partir da instalação de um segundo registro, com água fria.
Os forros de PVC, pintados de preto, transformam-se num coletor solar ligado à caixa d’água, devidamente revestida por isolamento térmico. Por ser mais densa, a água fria passa por dentro dos canais dos forros e empurra automaticamente a água quente para dentro da caixa, sem necessidade de automação elétrica. A água quente, porém, pode durar no máximo três dias, caso não haja sol. Todo o sistema custa em torno de R$ 300 e pode gerar até 60% de economia, como aconteceu no Centro Cultural João Fernandes, em Santa Teresa.
Freezer vira caixa d’água
O administrador do Centro, Paulo Sérgio da Silva, foi ainda mais original: pegou dois freezers que serviam de depósito de bebidas e os reaproveitou como caixas d’água, já com o devido isolamento térmico. Com os 600 litros de água quente, mais de 20 pessoas tomam banho por dia no Centro, que serve ainda de abrigo a turistas participantes de trabalhos sociais do local.
– Antes, eu gastava em torno de R$ 500 com luz, e hoje não chega a R$ 300 – lembra Paulo. – Para nós, que dependemos de doações, foi um ganho enorme. Temos aquecedor solar em quatro banheiros, e estamos planejando instalar em outros dois.
Morador de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, Ronaldo Fonseca Rocha fundou uma empresa para revender o sistema. Em mais de 10 anos, porém, não vendeu o equipamento a mais de 200 pessoas.
– Em Belo Horizonte e Juiz de Fora, vendemos bastante, mas no Rio é muito pouco – afirma.
No interior de São Paulo, por exemplo, a demanda também é grande porque as prefeituras dão desconto no IPTU para quem instalar o equipamento.
Estado tenta implantar sistema em prédios públicos
O governo do Estado tem se esforçado para substituir parte da energia elétrica em seus imóveis, mas, desde o início do ano – quando a lei entrou em vigor – apenas dois prédios implementaram o novo sistema. A Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj) também desenvolve um aparato semelhante ao da Ong Sociedade do Sol, mas ainda está em fase de testes.
No início do ano, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico criou o Programa Estadual de Racionalização do Uso de Energia, com o objetivo de estudar e pôr em prática todas as leis aprovadas nesse sentido. Em novembro, a Santa Casa de Misericórdia de Resende substituiu 43 chuveiros elétricos pelo sistema de aquecimento de água por energia solar, promovendo uma economia de energia elétrica de cerca de 30%. O sistema, porém, custou aos cofres públicos R$ 199 mil.
No mês seguinte foi a vez do Hospital Universitário Pedro Ernesto economizar os mesmos 30%, desta vez feita a partir da modernização do sistema de refrigeração da unidade. O investimento no projeto chegou a R$ 2,2 milhões, mas não há previsão de substituição da energia elétrica.
A lei, de autoria do então deputado Rodrigo Dantas (DEM), hoje secretário municipal de Obras, obriga o Estado a implementar aquecimento solar em até 40% da água utilizada nos prédios públicos. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, a lei vem sendo cumprida em prédios reformados e nas novas licitações. Nas obras do PAC, porém, apenas parte de Manguinhos receberá um projeto piloto com os aquecedores.
– Ainda temos pouco tempo de estudo, mas muito já foi feito – argumenta o superintendente de energia, Luiz Antônio Almeida Silva.
Uerj realiza estudos
A Uerj pesquisa um sistema semelhante ao desenvolvido pela Ong Sociedade do Sol, mas construído com aço galvânico, mais barato do que cobre e alumínio. O sistema da Uerj deverá custar entre R$ 300 e R$ 500. Manoel Antonio Costa Filho, coordenador do laboratório de energia solar do Centro de Estudos e Pesquisas em Energias Renováveis, explica que o estudo ainda precisa aprimorar o isolamento térmico.
O mais importante é evitar custos freqüentes com manutenção, e, por isso, adotamos o aço – explicou Manoel. – Mas estamos desenvolvendo formas de isolamento térmico da caixa d’água, já que temos muitas tecnologias disponíveis no mercado nacional.