Este ia ser o tema de uma de minhas colunas futuras na revista Lume Arquitetura. Mas diante de alguns acontecimentos recentes resolvi cortá-lo da revista para dar espaço a um outro texto mais sério e contundente. Portanto segue aqui no blog o texto sobre o uso do “Splash” na iluminação.
Para quem não sabe, o termo “splash” é utilizado pelos designers gráficos para designar um elemento gráfico que os clientes deles (especialmente os comerciantes) adoram colocar em suas peças:
É isso mesmo… esse espirro que geralmente vem com inscrições como:
– Imperdível!
– Oferta!
– Grátis!
– Promoção!
Dentre outras palavras ou conjunto de palavras que sempre “puxam o olhar e a atenção do observador”. Não podemos negar que realmente chama, mas isso deve-se a vários fatores dentre os quais podemos destacar:
– busca do cliente pelo menor preço;
– aos olhos mais “esteticamente treinados”, pela bizarrice desse elemento.
Sim, é bizarro, feio, emporcalha e estraga o material. Em Design, um elemento mal planejado ou pensado pode estragar todo o projeto. É o caso do “splash”.
Mas o que isso tem a ver com iluminação? Simples, explico: costumo usar este termo para indicar aquelas aplicações de projetores que lavam as fachadas. Verdinho, lilás, azul, vermelho enfim, seja a cor que for deveriam proibir este tipo de iluminação.
Não, “splash” é bastante diferente do “wall-wash”. Splash estraga enquanto o wall-wash valoriza.
Mais que modismo, isso virou uma praga nas cidades. De empresas privadas a espaços públicos, temos assistido ao aumento vertiginoso deste tipo de aplicação. O resultado disso? O enfeiamento das urbes e o descaso com o meio ambiente. E, para piorar a situação, o “projeto” e instalação disso geralmente foi feito por algum eletricista. Mas tem também muito profissional de engenharia, arquitetura e design implantando este lixo pelas cidades.
Observem atentamente a imagem acima. Onde foram parar os relevos e detalhes arquitetônicos desta construção? Perceberam como a construção ficou “chapada”, esmagada pela luz que não valoriza sua volumetria?
Outro detalhe a destacar é o desperdício de energia elétrica e a poluição luminosa que este tipo de iluminação provoca. É só olhar a potência das lâmpadas normalmente utilizadas nos refletores e projetores que promovem este efeito. Observe também a quantidade de luz vazando para fora do espaço iluminado e afetando o entorno.
Devemos considerar também o risco de acidentes aos usuários afinal, pela alta potência destas lâmpadas, a temperatura das luminárias é sempre muito alta.
Mais um péssimo exemplo do emprego do “splash”. Porém nesta mesma foto percebe-se um elemento interessante sobre o uso desta técnica: observem a parte mais colorida (azul/lilás). Aqui temos um excelente exemplo do que diferencia o “splash” do “wall-wash”: o posicionamento das luminárias e o direcionamento da luz.
Perceberam como a parte alta da edificação está chapada, lisa? E perceberam como na parte baixa conseguimos – mesmo à distância – perceber melhor seus relevos e formas?
Geralmente o “splash” vem de iluminação aérea (aquela instalada em postes pegando a construção de frente) mas não somente assim. É óbvio que qualquer elemento com volume perderá a sua percepção ao olhar pois as sombras desaparecerão. Já no caso de luminárias instaladas lateralmente ou no chão, o excesso de luz pode distorcer as formas.
É bem diferente deste caso:
Conseguem perceber como, apesar da explosão de luzes e cores, conseguimos perceber a volumetria e texturas das árvores? Isso é a técnica do wall-wash aplicada ao paisagismo.
Nesta outra imagem, conseguem perceber a textura do reboco da parede apesar da quantidade de cores? Isso é wall-wash.
Não há a menor necessidade de fazer uma construção explodir em luz para que ele fique perceptível ou bela à noite afinal, a sombra faz parte da iluminação e o olhar necessita dela para perceber as formas.
Assim, proponho com urgência o movimento ABAIXO O SPLASH!