“Y” x especializações

É bastante comum aparecer aqui em meu blog, nos comentários, pessoas formadas em áreas distintas e não correlatas à Design de Interiores/Ambientes questionando sobre as especializações.

A questão é sempre a mesma:

“Sou formado(a) em “Y” e estou pensando em fazer uma especialização em Design de Interiores. É suficiente para o exercício profissional?”

Sinceramente? Na maioria dos casos, não é não. A formação será bastante falha. Explico:

Um curso de especialização tem, geralmente, uma média de 360 h/a. São aulas em finais de semana e modulares onde o professor tem de passar todo o conteúdo da ementa. Assim, você tem todo o conteúdo de História das Artes num final de semana lembrando ainda que tem o trabalho/avaliação no meio disso tudo.

Digamos que uma pessoa formada em Administração queira fazer essa especialização. A parte de gerenciamento ela tirará de letra (e melhor que muitos formados em arquitetura, design, engenharia, etc). Porém na parte mais importante que é a técnica – envolvendo estrutural, cores, texturas, layout, ergonomia, desenho técnico e artístico e etc, ela certamente terá muitas dificuldades pois é um mundo estranho à sua realidade.

As especializações são boas para quem está procurando uma atualização profissional, não para quem está em busca de uma nova profissão, especialmente se são de áreas “estranhas”. É aquela coisa: eu não posso fazer uma especialização em cardiologia e sair fazendo cirurgias ou prescrevendo tratamentos bem como não posso fazer uma especialização em estruturas e sair projetando pontes. E também não é porque eu fiz uma especialização em arquitetura de interiores que vou sair me apresentando como arquiteto (não tendo feito uma graduação em arquitetura).

Logo, não é porque você fez uma especialização em Design de Interiores, que você pode intitular-se Designer.

Especializações (aqui incluem-se os MBAs) são cursos – como o nome já diz – de especialização em algo. É o necessário “focar em algo” profissionalmente. Todas as áreas possuem hoje nichos de mercado (ou sub áreas, ou complementares) que necessitam de profissionais especialistas nelas. Eu sempre foquei em iluminação e lighting design, por isso optei por esta pós, esta especialização, esta linha de formação bastante específica.

Portanto, se você quer entrar numa área estranha à sua (como é o caso de Design de Interiores/Ambientes) procure investir num curso de formação específica – pode ser sequencial, tecnológico ou graduação – pois aí sim você terá a formação acadêmica necessária para o pleno exercício profissional.

Quando digo pleno, leia-se: detentor dos conhecimentos necessários para o exercício profissional. E isto não se consegue através de módulos de 20 h/a de Espaço Cenográfico, nem de iluminação, nem de desenho de detalhamento de móveis, nem de ergonomia, nem de conforto ambiental, ou de nenhuma outra disciplina constante na matriz curricular do curso.

Se quer ser um Designer de Interiores/Ambientes, faça um curso completo.

Quem força a entrada pela porta dos fundos cai sempre no depósito.

Quem busca atalhos, sempre acaba machucado.

5 comentários sobre ““Y” x especializações

  1. Pingback: 2011 – o melhor aqui no DAC « Design: Ações e Críticas

  2. Pingback: “Y” x especializações « Design: Ações e Críticas : Link Mundial

  3. Paulo, eu concordo contigo até certo ponto… afinal nada substitui o talento! Estou acompanhando uma discussão parecida com esta no linkedin num fórum onde estão designers de interiores do mundo todo. E fato é que quando a pessoa tem talento, tem persistência e corre atrás dos seus objetivos, não é um título que a faça ser menor que outro graduado ou especialista.
    Temos exemplos de diversos profissionais de várias áreas que mesmo sem ter um título ganharam destaque em suas profissões.
    Sobre o fórum, acesse:
    http://www.linkedin.com/groupItem?view=&gid=127030&type=member&item=67731358&qid=8e80980c-9b81-4637-a208-3f6c72017efb&trk=group_most_popular-0-b-ttl&goback=%2Egmp_127030

  4. Bom dia Paulo,
    Acredito ter contribuído bastante para esse post rsrs… Parabéns pela visão ampla do assunto e por compartilhar um pouco da sua experiência.
    Essa busca por “atalhos” acho que é o ponto principal de pessoas que estão nessa mesma situação, afinal mais 4 ou 5 anos de faculdade não é fácil, e são muitos fatores que influenciam: família, trabalho, compromissos, etc… No entanto, acho vai depender também da dedicação e dos objetivos de cada um. No meu caso, trabalho com projetos e venda de móveis e estou buscando a especialização para complementar meus conhecimentos na área, sei que não da para me tornar um profissional em Design apenas com 400h de aulas, mais também, espero que me ajude bastante no dia-a-dia.
    Estou acompanhando sempre seu blog, e obrigado pelas dicas.
    Abraços

    • Lucas,
      certamente qualquer curso agrega conhecimento para quem quer e gosta do que faz realmente. O ponto que destaquei neste post é outro: exatamente este dos atalhos tomados por alguns que não tem a menor noção sobre a área e acabam entrando de gaiatos no mercado.
      Se é a opção mais plausível para você no momento, se joga cara. Aproveite cada segundo das aulas e cobre dos professores o máximo, afinal vc está pagando para que eles te ensinem não é mesmo?
      De resto, procure informar-se, ler bastante sobre o assunto também atraves de blogs e sites.
      E, sucesso ;-))

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