Pois bem meus amigos e seguidores, poucos sabem mas estou lecionando também no curso de Design de Interiores na Unoeste, em Presidente Prudente – SP. A disciplina é “Projeto de Ambientes Institucionais e de Serviços”.
O coordenador, Prof. Ms Marcelo Motta, me deu total liberdade para trabalhar a disciplina e agradeço a ele a credibilidade e a oportunidade de poder desenvolver este projeto. Resolvi então fazer o que mais gosto: pensar fora da caixinha e agir fora da gaiola. Estou fazendo isso ao escolher como objeto base dos projetos algo não arquitetônico.
Chega de casinhas, lojinhas e outros projetos que tem como objetos base apenas aqueles ligados à Arquitetura. Design é muito mais que isso e as possibilidades de sua aplicação vão muito além de um objeto arquitetônico. Consequentemente, é um erro insistir em manter a área de Design de Interiores/Ambientes fechada dentro da caixinha arquitetônica. Além de erro, este ato traz danos à nossa profissão. Mas isso é assunto para outro post.
Resolvi então levar os alunos a pensar em um espaço inesperado. Para tal, tive que procurar algo onde eles conseguissem ir além do básico e fixo (as paredes de uma edificação) e trabalhar em algo nem tão estático assim. Aqui temos um grande problema a ser solucionado (base do Design) que implica em conhecer o desconhecido e buscar materiais e outras soluções para atingir o objetivo: um projeto móvel, instável (ocorrem torções, grande vibraçãoe solavancos) além do espaço reduzido para a maioria dos projetos: as carretas do tipo baú.
É o projeto Comboio Social. São dez carretas que estão sendo trabalhadas por grupos, cada uma com seu tema específico. Este comboio percorrerá as pequenas cidades, vilarejos e assentamentos levando diversos atendimentos, diversão e conhecimento a estas pequenas comunidades que tanto necessitam.
Um detalhe importante é que estamos trabalhando ao mesmo tempo ambientes institucionais e de serviços: a instituição por trás do projeto é a própria Unoeste que deve estar representada e os serviços, aqueles relacionados aos cursos oferecidos pela universidade. Uma mescla perfeita onde os alunos tem de resolver qual a melhor forma de apresentar a instituição mantenedora bem como projetar atendendo as necessidades de sua área tema. Além disso, estas carretas serão utilizadas como espaços para estágio dos alunos dos cursos da Unoeste.
Os temas são:
1 – Arte: uma carreta destinada à apresentações artísticas como música, dança e teatro.
2 – UBS: uma carreta destinada ao atendimento básico em saúde, medicina (não invasiva) e enfermagem.
3 – Biblioteca: uma biblioteca que atenda de crianças a adultos, com espaços para emprestar, atividades culturais e doações de livros.
4 – Clínica Veterinária: uma carreta para atendimentos a animais de pequeno e médio porte. De consultas a pequenas cirurgias.
5 – Corte e costura: esta área infelizmente ainda não está contemplada na Unoeste, porém, ainda é bastante comum encontrarmos famílias que sobrevivem com serviços de pequenos reparos em roupas e até mesmo da confecção. Portanto, uma atualização faz-se necessária a estas pessoas.
6 – Serviço Social: uma carreta destinada ao atendimento social envolvendo psicologia, assistência social, direito, pedagogia.
7 – Estética: carreta para atendimento nas páreas de estética, dermatologia e fisioterapia.
8 – Gastronomia: carreta que oferecerá cursos de culinária saudável, cultivo de alimentos para consumo próprio e treinamento para merendeiras escolares. Envolve as áreas de gastronomia, nutrição e agronomia.
9 – Coletivo: uma carreta voltada para o empreendedorismo e soluções de conflitos públicos. Nesta carreta ocorrerão atendimentos a associações de bairros, audiências públicas e outras atividades relacionadas com a vida coletiva/comunitária. Administração, economia, direito, design, arquitetura, engenharia, gestão e outras áreas que podem contribuir para a melhoria e soluções dos conflitos.
10 – Design Social: como o Design pode ajudar a melhorar a qualidade de vida das pessoas? É o que esta carreta buscará apresentar. De um redesign residencial, comercial ou de um espaço público à assessoria na elaboração de materiais gráficos e melhoria na qualidade de produtos.
Para que o projeto consiga atender às demandas particulares de cada área, dividi o trabalho em sete fases. Importante ressaltar que antes da sexta fase ficou proibido o uso de softwares. O foco é o sketch, usar e abusar desta ferramenta para reforçar nos alunos a importância do estudo manual antes do projeto. São as fases:
COLETA DE INFORMAÇÕES INSTITUCIONAIS: Conhecer a instituição mantenedora do projeto:
Quem é, o que faz, sua marca, qual sua missão, quais seus valores, suas características principais, diferenciais e sua estrutura.
COLETA DE INFORMAÇÕES PÚBLICO ALVO – Conhecer os públicos alvos do projeto:
Pessoas: quem são, realidade social, onde estão, necessidades. Cidades: mapeamento, estrutura local, espaços públicos disponíveis.
COLETA DE INFORMAÇÕES SOBRE A ÁREA TEMA – Conhecer a área tema do projeto:
O que é, o que faz, como faz, suas características principais, diferenciais sociais, estrutura necessária e normas técnicas relativas à área.
COLETA DE INFORMAÇÕES SOBRE CARRETAS – Conhecer o objeto base do projeto (carreta):
O que é, o que faz, suas características principais, tipos, necessidades e limitações, fabricantes, exemplos de transformações e legislação vigente.
PAINÉIS SEMÂNTICOS – Apresentação do conceito do projeto:
Elaboração dos painéis semânticos relativos à área tema do projeto para explicar adequadamente o conceito do projeto apresentando os correlatos, materiais, equipamentos e utensílios necessários à área e os primeiros sketches.
PROJETO I – Desenvolvimento de projeto conceitual:
A fusão de todos os conhecimentos levantados nas etapas anteriores e que os direcionaram para o desenvolvimento do projeto, os problemas encontrados e as possíveis soluções aplicáveis. Desenho manual (sketch) e desenho digital (CAD e SketchUp).
PROJETO II – Desenvolvimento de projeto executivo:
Detalhamentos totais dos projetos e elaboração de maquetes.
Importante ressaltar que, como ainda estamos no inicio da disciplina, mesmo sem trabalhar os projetos no computador os alunos já começaram a perceber os problemas e necessidades específicas de cada área. Para algumas uma carreta basta, outras terão de utilizar carretas do tipo bi-trem e outras terão de elaborar propostas de expansões verticais e/ou horizontais para conseguir atender suas demandas específicas.
Em todos os projetos o direcionamento principal é atender as normas técnicas bem como trabalhar com uma forte pegada de sustentabilidade.
Vale ressaltar também a questão multidisciplinar do projeto onde diversas disciplinas específicas do curso estão envolvidas diretamente, bem como conhecimentos oriundos das outras áreas temas além das engenharias.
Agora, finalizamos a primeira etapa de estudos e análises teóricas e técnicas. Partimos então para os painéis semânticos e projetos.
Assim que tiver os resultados, os projetos finalizados vou fazer as postagens sobre cada carreta.
Espero que este modelo de projeto aqui apresentado sirva de norte para outros coordenadores de cursos de Design de Interiores/Ambientes, eliminando a amarra arquitetônica imposta sobre a nossa área e liberando o pensamento de que somos DESIGNERS, autorizando seus professores a desenvolver projetos similares e que saiam da caixinha.
Somos designers, podemos mais, muito mais.
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Bom dia Paulo,
Gostei muito do seu blog e gostaria de saber qual software vc usa para detalhamentos de mobiliário. Uso o autocad e estou começando a usar o sketchup. O que acha, o sketchup é uma boa opção para detalhamento?
Magda, o SketchUp é um programa para renderização em 3D. Não é o programa ideal para detalhamento de nada.
Para projeto e detalhamento o melhor ainda continua sendo o AutoCAD.
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