Revistas de decoração – fotos e imagens podem realmente ajudá-lo a definir suas preferências e estilo?

Talvez você já tenha pensado sobre um determinado estilo para a reforma de algum dos ambientes de sua casa. Pode ser também que isso só ocorreu durante a visita à uma loja de móveis onde talvez você pôde obter algumas idéias ou ainda, folheando várias revistas de decoração*.

Então você entra na loja e encontra várias revistas que apelam para as suas – da loja – preferências de decoração (especialmente aquilo que está disponível em seu catálogo). À medida que percorre rapidamente as páginas, você começa a tirar mais idéias das fotos de ambientes e mobiliários de vários estilos distintos.

A obtenção de idéias para decoração em revistas é uma forma divertida de se obter o direcionamento que você precisa antes de consultar um Designer de Interiores/Ambientes, ou mesmo enfrentar uma reforma sozinho(a) – DIY – o que não recomendo a ninguém.

Se você quer reformar a sua casa ou apartamento inteiros ou apenas alguns dos cômodos com certeza não há de ser numa revista que vai encontrar o seu estilo de decoração. Revistas falam muito sobre tendências – que já escrevi sobre aqui – que são passageiras, são moda e não refletem a sua personalidade. Depois de pronto você acabará com ambientes despersonalizados e que não representam o seu eu e tampouco atendem realmente às suas necessidades.

Muitas pessoas sonham com a criação de um novo estilo para a sua casa, apartamento ou espaço de trabalho, mas elas se sentem desconfortáveis diante de tantas opções, e não sabem realmente qual estilo seguir ou como combinar as cores que preferem. Então passam anos visitando showrooms, lojas de móveis, e conversando com amigos sobre o que eles pretendem fazer um dia. Infelizmente, mesmo se elas têm um orçamento apertado ou até tomar as medidas efetivas, os planos para reformar um quarto ou outros ambientes dificilmente vai acontecer.

Em vez de procrastinar ou ficar adiando a decisão de reformar o seu espaço de vida ou de trabalho, talvez você possa encontrar consolo e ajuda quando se identificar com um estilo de sala ou a cor que você viu em uma revista de decoração. Sim, para você cliente que está pensando em reformar ou simplesmente dar um ar novo ao seu espaço elas são muito úteis. Vá coletando estas imagens e guardando-as numa pasta, como idéias. Então, quando você estiver pronto financeiramente para começar a colocar em prática seus planos, ele vai acontecer mais rápido desde que você já tenha feito a pesquisa e saiba exatamente o que você quer, se conheça um pouco mais.

Durante a conversa com o profissional de Design de Interiores contratado ficará mais fácil a conversa se você explicar os seus desejos através destas imagens coletadas. Mesmo que você goste de apenas um vaso na imagem de uma ampla sala, uma textura em outra imagem, uma cadeira ou mesa em outra. Através destes recortes de imagens o profissional já conseguirá traçar mais precisamente o seu perfil, o seu estilo e os seus sonhos.

O benefício de comprar revistas de decoração e arquitetura é que elas são uma fonte barata de inspiração e devido à variedade de estilos,  qualquer um pode encontrar uma idéia ou duas que irão minimizar as lutas anteriores – e interiores – para a reforma.

Mas não se esqueça, encarar uma reforma sozinho(a) – DIY – pode lhe trazer grandes frustrações e prejuízos financeiros e materiais.

Divirta-se, solte-se e viaje na seleção do que você mais gosta nas imagens das revistas, mas deixe a composição final nas mãos de um profissional.

Opte sempre pela contratação de um profissional devidamente habilitado em Design de Interiores. É a segurança de ter ambientes completamente projetados para atender às suas necessidades, ao seu gosto, estilo e bem estar.

* Aqui no Brasil ainda não existe uma revista especializada em Design de Interiores/Ambientes, infelizmente.

Do It Yourself (DIY) – perguntas a se fazer antes de começar uma reforma sozinho(a)

Para auxiliar os clientes a eliminar as frustrações na hora de se decidir a enfrentar um projeto de melhoria em casa sozinho(a) (Do It Yourself – DIY), ou contratar um profissional de design de interiores/ambientes, segue uma lista de perguntas para fazer a si mesmo(a) que vai ajudá-lo(a) a tomar a decisão correta.

Seja para apenas melhorar a sua sala ou redesenhar a ambientação de vários cômodos de uma só vez, isso nos obriga a prever e planejar corretamente para alcançar os resultados desejados que temos em mente. Embora você possa ter talento criativo para usar as cores em sua casa e seus amigos e familiares lhe digam que seu bom gosto para decoração são excepcionais, como você sabe realmente se quer assumir os riscos do projeto por si mesmo (DIY) ou deve contratar um profissional?

Aqui estão perguntas para ajudá-lo(a) no processo. Depois de terminar de anotar suas respostas, só você mesmo(a) pode tomar essa decisão.

1. Ao olhar para o calendário, você tem grandes blocos de tempo disponível a cada semana para as tarefas que o projeto vai exigir?

2. É fácil e natural que você coloque uma amostra da tinta que será usada na pintura ao lado de uma amostra de tecido e imagine o resultado, de como as cores e materiais ficarão depois de finalizados no ambiente que você quer modificar?

3. Quando você pensa em reformar três cômodos de sua casa, fazer as tarefas necessárias para você o(a) faz se sentir cansado(a), considerando que você terá que fazer tudo sozinho(a) (DIY)?

4. Você alguma vez já comprou tintas ou acessórios para um dos ambientes e depois já não tinha mais certeza sobre as cores e arranjos que você escolheu?

5. Você achou inspiração para reambientar um ou mais cômodos de sua casa a partir de uma foto em uma revista da moda, mas agora você não tem certeza se você gosta do estilo, se retro, eco-friendly, minimalista, tradicional ou contemporâneo?

6. Você tem dificuldade de definir-se com relação ao estilo que deseja para sua casa?

7. Você é a única pessoa tomando as decisões sobre cor e decoração ou você vive com mais pessoas que discordam totalmente ou parcialmente com as mudanças que você está prestes a realizar?

8. Seus planos incluem mais que fazer alterações com tintas, tecidos e escolha de acessórios?

9. Para alcançar seus objetivos desejados para melhorar a sua casa, será necessário derrubar paredes ou realocar fontes de água,e componentes elétricos e cabeamentos telefônicos  e de TV?

10. Você tem dinheiro disponível agora porque você estava pensando em comprar uma casa nova, mas recentemente decidiu ficar em sua casa atual em vez de se mudar para outra casa e começar tudo de novo?

11. Você vive em uma parte histórica da cidade e você gostaria de ter o interior de sua casa que refletisse a área onde você vive, mas você não tem a menor idéia por onde começar?

12. Você vive em uma parte histórica da cidade e você gostaria de ter o interior de sua casa totalmente diferente da área onde você reside, mas você não tem a menor idéia de como trabalhar questões sobre patrimônio histórico, restauração e outros assuntos e Leis relativos à  isso tudo?

13. Você conhece equipes de profissionais realmente qualificados para fazer os serviços (pintura, instalações, marcenaria, gesso, etc)?

14. Você vai alterar os móveis de um ou mais ambientes e já conversou com uma loja de planejados que prometeu o projeto “de graça”?*

Como podem observar, alterar os ambientes pressupõem vários elementos que devem ser considerados. Ainda caberiam diversas outras perguntas nesta lista mas só por estas já dá para perceber que uma simples alteração pode não ser tão simples assim.

Não basta apenas bom gosto e vontade. É necessário conhecimento técnico e uma equipe coerente e competente para a execução dos serviços agregados a um projeto de reforma ou remodelação de ambientes.

Portanto, pense seriamente sobre isso tudo antes de começar uma reforma por conta própria. Você pode acabar com prejuízos financeiros e com um resultado que não te agrade plenamente.

Fonte do texto base: http://EzineArticles.com/2704153

* Sabia que estes projetos são feitos por vendedores que na maioria das vezes não são profissionais qualificados e que a personalização depende do que está disponível no catálogo e na linha de produção da marca? E também que o custo pelo desenvolvimento do “projeto” sempre está embutido no valor do produto e não sai de graça?

E quando o cliente…

… se nega a definir cores e estilo?

É bastante comum aparecer cliente do tipo que se nega a  definir algumas – ou muitas – coisas no projeto. Estilo, mobiliário e cores, muitas coisas são deixadas nas nossas mãos.

Em alguns casos, isso se deve ao fato de tratar-se de “novos ricos” que tem consciência do seu “gosto duvidoso“. Em outros casos, detectamos a total insegurança do cliente em ter de definir o que quer que seja. Há ainda aqueles que escondem-se atrás do “eu tou pagaaaaaaaaaaaando” pra você fazer o projeto, então resolva.

Um outro ponto é que os clientes geralmente nos vêem como pessoas de extremo bom gosto, antenados nas tendências e novidades… na verdade arrogantes, insensíveis, egocêntricos. Tudo bem que tem muito designer e arquiteto por aí que reforça isso, mas não vamos generalizar e vamos lutar contra esse tipo de pensamento.

Bom, mas voltando então ao assunto do post, como sair dessa saia justa?

Postei no Twitter e no Facebook a seguinte questão:

“O que fazer quando o cliente se nega a escolher as cores??? Nem uma dica ou pista de suas preferências nesse sentido??? HEEEEEEEEEEEELP!!!!”

Bom, foi uma brincadeira para ver como os amigos profissionais resolvem isso. Rapidamente recebi algumas respostas:

“@arqsteinleitao: Pergunte as que ele NÃO gosta.”
Também não funciona. Ele não quer dizer absolutamente nada sobre as cores.

“Adriana Diniz: é complicado hein… mas já aconteceu comigo, fui nas básicas com toques de cores e deu certo, pq. percebi que os olhos da cliente, ficaram bastante tempo num projeto antigo assim…bj”
Dry, é realmente acertado partir nessa linha. Mas no meu ponto de vista isso cria uma onda de projetos “iguais”, sem personalidade – no tocante à escolha das cores. Vejo mais ou menos como os modismos (tendências).

Agora todo mundo de “off-white”, agora é o “azul da prússia da violeta da cracóvia”….

Posso também extrapolar os limites e dizer: agora “todo mundo levanta a patinha, finge de morto”.

Ou ainda: “agora todo mundo no Crééééééééu n°5″…

Tá, mas aí entra a questão do que eu escrevi do post “Tendências: muita calma nessa hora“. O que serve para um, não serve para o outro. O que está na revista da moda, pode não ser o ideal para o cliente.

É complicado e arriscado ir por essa linha. O cliente pode até gostar num primeiro momento, mas com o passar do tempo irá começar a desgostar, enjoar, sentir a falta do seu eu no espaço, demonstrando que o stimmung foi errado no momento da concepção/especificação do projeto.

Já o meu amigo Marco Antonio Felipak disse: “Peça para ver a gaveta de roupas intimas dela…ou a de cuecas do marido são sempre elas que compram, então vai descobrir a cor kkkkkk”

Tirando a gozação e a invasão extremada da intimidade pode até ser uma boa saída. Mas convenhamos, não dá para fazer isso com todos os clientes. Até mesmo com os clientes-amigos isso é complicado.

Mas o foco que ele colocou em meio à brincadeira está mais preciso. Apesar da invasão extremada da privacidade do cliente, vamos analisá-lo por um outro ponto de vista:

Todo projeto parte de um brieffing (ponto).

Mas o que vejo é que muitos profissionais levam esse brieffing ao pé da letra do que é (mal)ensinado nas universidades: perguntas e respostas. Porém o que não é passado corretamente nas universidades é que perguntas fazer e como fazê-las sem que o cliente se sinta ofendido ou invadido em sua intimidade. É uma linha muito tênue e sensível que define a futura relação profissional X cliente: pode vir a ser excelente, mas também pode tornar-se um desatre total.

No brieffing entram questões sociais, financeiras, familiares, necessidades entre outras. Mas também entram questões mais perigosas como as religiosas, sexuais (sim, afinal você irá trabalhar o “ninho do amor” e terá clientes heterossexuais, bissexuais, homossexuais, transsexuais, que tem fetiches, etc) que são de foro extremamente íntimo. Então a questão das perguntas e respostas pode se transformar num desastre total.

Todo cuidado deve ser tomado e NEM TODAS AS PERGUNTAS DEVEM SER FEITAS NOS PRIMEIROS CONTATOS.

O que percebo é que falta um elemento importantíssimo aos profissionais nessa fase:

A OBSERVAÇÃO.


Obervar o cliente:
Seu jeito de falar, vestir-se, movimentar-se, expressar-se sobre assuntos variados demonstram facilmente muito do seu ser, de sua personalidade, de seu modo de vida. Mas cuidado pois pessoas que falam pelos cotovelos podem usar isso como defesa ou auto-afirmação.

Observar o cliente em suas preferências:
Por exemplo, em qual cadeira ele se sentou ou fez você sentar-se para a entrevista? Ou ele é egoista e sentou-se no que julga ser o melhor assento ou o seu preferido (!) ou te ofereceu o melhor para sentar-se confortavelmente.

Observar o cliente em sua hospitalidade:
Ele te serviu algo para beber ou comer? Ótimo, observe suas louças ou copos. Isso já te diz muito sobre o seu estilo – principalmente se ele disser algo do tipo “desculpe pelo copo, mas é o que tenho no momento”. Aproveite a deixa e comente sobre os “cristais cica” e sua brasilidade. Se ele não oferecer nada, peça um copo d’água. Isso não é grosseria de sua parte.

Observar o ambiente como um todo:
Certamente na sala – ou onde quer que seja que ele te recebeu – terão diversas pistas sobre o que o agrada. O conjunto de elementos o farão ter uma noção do estilo que ele insiste em não definir. Até mesmo a escolha e disposição dos tapetes, toalhas, caminhos podem dizer muito sobre a personalidade do cliente, por mais simples que sejam.

Assim, tirando o branco padrão das paredes e aquelas cortinas das casas Pernambucanas, conseguimos chegar às cores preferidas ou aquelas que mais agradam ao cliente bem como à uma base do seu estilo.

Observar a sua história:
Caso perceba algum móvel ou objeto interessante, especialmente antigo, questione sobre o mesmo. E procure “pescar” elementos na sua fala que possam servir de ligação com outros detalhes que podem ser perguntados.

Observar o “brilho nos olhos”:
Quando você comenta sobre alguma coisa é fácil perceber o conforto ou desconforto com o tema/assunto. A linguagem corporal nos diz muito sobre isso. Também é fácil levar algumas imagens para que o cliente as observe. Porém é difícil para alguns clientes apontar algo. Geralmente eles param mais tempo observando o que gostam ou os incomoda. Nesse momento lance apenas um “E…?” Por mais tímido ou indeciso que o cliente seja, ele vai comentar algo sobre a imagem observada.

Eu geralmente gosto de usar imagens de objetos e não de ambientes. Tres ou quatro sofás, cadeiras, tapetes, estantes, copos/taças, pendentes, etc. Isso facilita detectar o que agrada e o que não agrada ao cliente sem precisar questioná-lo, apenas observando-o.

Já com imagens de ambientes prontos o cliente pode confundir-se. Por exemplo, ele pode gostar do vaso sobre a mesa – e não gostar dessa – mas não ser capaz de abstrair e perceber isso, indicando o conjunto como um todo. Ou ainda uma parede com um papel de parede estampado com flores – que lhe agrada – com um espelho à frente, mas não gostar do tom empregado no papel e nem do formato/desenho/estilo do espelho. Porém o seu gosto por flores vai sobrepor-se à cor e ao formato do espelho. E ele não saberá explicar isso.

O brieffing das perguntas programadas (vida social, familiar, necessidades, acessibilidade, estilo, cores, revestimentos, etc) jamais será completo sem a inserção de questões oriundas da observação.

Não tem como prevê-las, elas somente acontecerão SE, e somente SE, o profissional tiver a sensibilidade da observação.

É bastante psicológico isso e exige muito da percepção mas não é impossível a qualquer profissional conseguir chegar a esse ponto de excelência no brieffing. É apenas uma questão de treino, estudo do comportamento humano e….. observação.

Aproveito e deixo aqui esta dica para quem está à procura de um tema para seu TCC.

É um excelente assunto!

Fotos da sala do ateliê do Jadir

Bom, conforme prometi aqui estão as fotos da sala do piso superior do ateliê do Jadir Battaglia que comentei no post anterior.

Falem que ele não tem um estilo forte e que não tem competência para trabalhar na área que dou unfollow no TT e no face na hora em quem ousar ahahaha

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Detalhe: todas as molduras, batentes, vistas e detalhes ou são originais ou ele tirou o molde e fez cópias nas áreas que estavam muito estragadas.

A casa do diretor Roland Emmerich

As fotos a seguir são da casa do diretor Roland Emmerich.

Este projeto foi destaque no New York Times e é um exemplo criativo e inusitado.

Os designers foram orientados a fazer um projeto de modo que “quando os vizinhos dessem uma olhadinha, iriam querer chamar a polícia ou algo assim.”

A mesa do escritório foi feita a partir de uma asa de um avião da Segunda Guerra Mundial.

Os designers tinham inicialmente planejado colocar uma estátua de cera de tamanho natural do Mr. Emmerich sob as escadas. Depois de discutir bastante decidiram usar uma do Papa João Paulo II.

A mesa de café da biblioteca é composta de um míssil do Iraque.

A cadeira do terraço foi feita com metais de uma petrolífera da Shell, por crianças de Gana.

E detalhe: isso tudo é num prédio:

Simplesmente, ADOREI!!!!

 

DESTRUIÇÃO DA RESTAURAÇÃO.

Versão remodelada e amplada do texto original.

 

Restaurar? Ofício divino nas mãos de pouquíssimos felizardos, ou melhor dizendo, abençoados. Depende de quem o faz e, são poucos os que realmente tem a concepção exata do que significa isso.

Destruir, modificar, descaracterizar, isso qualquer um faz, até mesmo os bem intencionados que acreditam que isso também é uma forma de restauração.

Existe hoje uma confusão imensa sobre o uso inconseqüente e indevido do termo restauração. Não meus amigos, o que vemos hoje em dia como sinônimos de restauração não passa, na verdade, de uma destruição e desrespeito ao patrimônio seja ele qual for.

Veja bem, não quero dizer que o trabalho dos falsos ou pseudos restauradores não é bom, somente deixar claro o abismo que existe entre o trabalho de um restaurador e o de um destruidor – seria este o termo mais preciso! – mesmo que não, o adotarei a partir daqui.

O termo restauração tem a ver com a ação de recuperação, de trazer de volta o original, revitalizar, reconstruir e reconstituir elementos destruídos utilizando-se das mesmas técnicas e materiais do original sempre que possível e disponível. O cuidado com cada contorno entalhado, cada rebite corroído, amassados em metais, trincos em vidros, tecido repuxado, desbotado, a perfeita e saudável visualização dos veios da madeira e assim por diante. A busca da mesma madeira, a composição da mesma liga metálica, do mesmo verniz ou laca… Tudo é levado muito a sério pra ser rebaixado ou igualado ao trabalho de um modificador.

Quando você tem em mãos um móvel “velho” – é estou falando daquela herança da vovó, que os herdou de sua bisavó e sabe-se lá onde esse trajeto teve início – muitas vezes não se dá conta do valor que este objeto pode ter. Não digo apenas do sentimental ou histórico para a sua família, mas também de um valor real, material, palpável e de um outro ainda que agrega valor: o histórico, de estilo, do período, do artesão que o confeccionou, dos salões por onde já esteve, da história fora da sua família, aquela que é a história da humanidade em algum determinado momento, reflete a realidade social da época.

Este aparador italiano (+- 1400) é um típico exemplar de restauração consciente. Durante todo o processo de restauração desta peça (que pude acompanhar) foram realizadas analises dos vernizes utilizados originalmente, as partes danificadas foram corrigidas utilizando-se as próprias partes, os mármores (extintos) devidamente soldados com materiais específicos. A única parte nova é o espelho pois o original estava quebrado e não permitia restauro. Mesmo assim, foi utilizado um de cristal, conforme o original.

É como uma obra de arte e deve ser respeitado como tal. Cada curva, friso, ângulo, elemento faz parte de um conjunto de coisas que caracterizam o móvel em um determinado estilo e período da história, que compõem a sua harmonia, perfeição. Assim como as técnicas das pinceladas, pigmentos, tecidos utilizados numa tela. Seria tragicômico ver um Botticelli restaurado tendo sido usado tinta acrílica para repor as falhas do tempo. Meu Deus, isso seria caso de internação tanto da proprietária que permitiu quanto da autora do desastre. Da mesma forma que acontece com os móveis.

W. Benjamin define muito bem em seus escritos o que vem a ser a áura de uma obra de arte. Porém ele trata sobre questões técnicas de reproduções de obras de arte. Aquele caso da Monalisa e tantas outras obras que existem às milhares espalhadas nas casas por aí. Esta aura, no caso específico da restauração, pode ser interpretada como o todo citado no parágrafo anterior, seria algo como a vida pulsante da peça a ser restaurada:

“O que caracteriza a autenticidade de uma coisa é tudo aquilo que ela contém e é originalmente transmissível, desde sua duração material até seu poder de testemunho histórico. Como este próprio testemunho baseia-se naquela duração, na hipótese da reprodução, onde o primeiro elemento (duração) escapa aos homens, o segundo – o testemunho histórico da coisa – fica identicamente abalado. Nada demais certamente, mas o que fica assim abalado é a própria autoridade da coisa.” (BENJAMIN, 1980, P.08)

Depois que enfiaram a ditadura das pátinas, decapês e outras técnicas, as revistas entupidas de ambientes recheados de móveis com estas aplicações a impressão é que, até mesmo os profissionais de decoração, interiores e arquitetos perderam a noção do absurdo, do ridículo e do bom senso. Eu cansei de ver – e vejo até hoje – “profissionais” indicando uma patinazinha sobre aquele divano Luis XVI, pasmem, ORIGINAL (!!!!!!) como vi ainda há pouco num fórum de dicas de decoração. E é impressionante que não apenas uma profissional, mas vários, indicaram inúmeras técnicas para uma senhora que recebeu de herança móveis da bisavó que vieram mais de trás ainda. Será que realmente perderam a noção de bom senso ou nunca a tiveram?

Percebam o horror desta peça onde a madeira desapareceu por completo. Toda a textura e volume da peça foi trocado por um visual chapado em um dourado que remete a um falso luxo. Isso se também não levarmos em consideração a troca do tampo (provavelmente um mármore) por este outro.

Por favor gente, quando vocês tiverem em mãos algum objeto antigo, antes de qualquer coisa, questione seu cliente sobre a origem daquilo, a história na família, origens. Caso seja difícil, nada que um bom antiqüer não resolva com uma visita ou até mesmo uma busca pelo Google. Depois disso feito, aí sim tome a decisão sobre o que fazer com aquilo. Mas tenha bom senso, por favor. Não destrua um patrimônio.

Caso seu cliente esteja infectado pelas idéias mirabolantes dos modismos, estude em casa para conseguir traze-lo à realidade e mostrar a ele o valor daquilo. É bem melhor convencê-lo a vender a peça para um antiquário que mandar jogar uma camada de tinta sobre. Veja bem, com o dinheiro que ele ganhará pela peça, certamente vai conseguir mandar fazer uma cópia em madeira menos nobre onde, aí sim, você pode mandar jogar o que quiser em cima sem peso na consciência e sem agredir a história.

A diferença a que me refiro entre os dois profissionais é exatamente esta. Um restaurador cuida do objeto como se fosse um recém nascido. Cerca-o de todo cuidado e trata-o com todo o respeito que ele merece. Pesquisa profundamente inclusive as técnicas construtivas e materiais empregados na época para não incorrer em erros, para não danificar a peça e se danificar acidentalmente, sabe exatamente como reconstruí-la sem descaracterizá-la.

Um destruidor trabalha cegamente na contramão da história. Não leva em consideração absolutamente nada a não ser o quanto ganhará pelo serviço prestado. Ele não consegue ver na sua frente nada mais que uns pedaços de madeira velha. Pode até observar:

– Noooooooossa mas que cadeira lindaaaaaaaaaaaa!

Porém isso não vai passar de mise en scène… Uma tentativa de ganhar o cliente, massageando o seu ego. Mas logo em seguida ele continuará com a sua ânsia destrutiva:

– Um decapê em tons verde forrado com um shantung caramelo vai ficar bárbaroooooo!!!!!

O detalhe não observado na cena acima é que a cadeira em questão é na verdade uma poltrona do estilo Diretório, original. Ai… Este profissional não leva em consideração absolutamente nada, não sabe de nada. Não se importa se a madeira é rara ou já extinta, os frisos suaves e entalhes delicados, as marchetarias e desenhos. Simplesmente vem com suas latas de tintas e preparados pastosos e lança camadas e mais camadas umas sobre as outras, formando aquela massa de quibe que depois de ter imprimido as cerdas do pincel ainda recebe o delicado tratamento das lixas abrasivas que darão o toque final e ele poderá dizer:

– Aiiiiiiiiiiiiiiii!!!! Que luxooooooooooooooooo!!!!!

Desculpem-me, mas isso pra mim é uma cena digna de caracterizar o pior dos infernos de Dante e o dito cujo, o pior dos demônios. É grotesco, pavoroso, insano. Se quiserem suavizar um pouco tudo bem, uma cena digna daqueles enlatados do cinema pastelão onde tudo, por mais ridículo e absurdo que seja, se torna engraçado e consequentemente, aceito.

Para este tipo de coisa seja coerente como eu já escrevi acima. Caso o cliente deseje uma peça de estilo modificada em seu ambiente, não o leve a antiquários nem a lojas de móveis usados para não correr o risco de destruir um pedaço da nossa história. Hoje algumas fábricas fazem cópias exatas de qualquer móvel. Basta apresentar uma foto e, seja ele de que período da história for, eles pesquisam e você o recebe pronto para enviá-lo ao profissional que, aí sim, deixará de ser um destruidor e passará a ser um artista.

Eu não poderia, como amante das artes, deixar de externar a minha indignação e preocupação com este assunto e as conseqüências observadas por aí no dia a dia profissional.

Bem meus amigos, este assunto vai longe, provoca divergências e discussões acaloradas. Alguns se sentirão ofendidos e outros aliviados. Outros conseguirão entender a diferença entre os trabalhos e profissionais e outros conseguirão se manter insensíveis ao tema. Se eu consegui atingir você hoje com este texto, fazendo-o parar e analisar as situações, ou até simplesmente rir com algumas colocações, já está valendo. Já alcancei meu objetivo e minha função como educador e amante das artes.

LD&DA Paulo Oliveira