É gente, é assim que me sinto toda vez que abro meu reader. Na verdade eu já logo com o pensamento:
“Prepare-se para ver mais do mesmo de sempre…”
Porque digo isso? Simples. A grande maioria dos sites e blogs são meras ferramentas de replicação de informações e imagens que já foram replicadas por outros que replicaram de outros. Então caímos naquela velha história das tendências e modismos de sempre.
Vou começar este post fazendo uma análise de um debate que ocorreu anteontem no grupo deste blog lá no facebook e que, na verdade, me encorajou a escrever sobre esse tema. Observem a imagem:
Pois bem. O que vocês acham desta poltrona?
Para mim, tem cor demais, geometrismos demais, confusão visual demais. Comentei com o arquiteto José Carlos sobre isso. SE eu fosse comprar uma dessas tiraria o excesso de cores do estofamento. Assim a moldura da base ficaria mais visível, mais perceptível. E, certamente, mais confortávem para aqueles que não se sentem à vontade diante de tantas cores (sim existem pessoas assim).
Menos é mais ou mais é mais? Diferenças de escolas do passado com as de agora? Evolução? O que foi que levou à este tipo de situação que vemos nos dias de hoje?
No meu ponto de vista sim, há grandes diferenças entre as escolas. A principal delas é que hoje em dia, na maioria das escolas os estudantes chegam à fase do TFG (ou TCC) totalmente despreparados para fazê-lo. Infelizmente é isso que temos visto. E não é mentira não. É só olharem a quantidade de gente comprando trabalhos prontos ou pagando pra algum profissional desocupado fazê-los. O pior é que estes alunos recebem o canudo pois temos, especialmente dentro das IES privadas, uma quantidade absurda de pessoas totalmente despreparadas para atuar como educadores, professores. Mas estão lá, pois são amiguinhos da corte.
Vejo, com tristeza, muitos trabalhos expostos na e-vitrina onde o trabalho do designer que deveria aparecer está cedendo lugar apenas à meras questões decorativas. Outros, um amontoado de móveis comprados prontos em lojas e soluções mais que duvidosas para os problemas apresentados. (Problemas? SIM! O Design serve para solucionar problemas!)
Isso não é Design de Interiores. Isso é Decoração. E não é para isso que estudamos tanto. Para fazer o que tenho visto pela web, bastam aqueles cursinhos de finais de semana de decoração ou, como dizem alguns congressistas, basta ter bom gosto.
O que isso tudo tem a ver com a poltrona? Simples, vou explicar.
A Maria Alice Müller postou na sequencia o seguinte:
“Gente, peralá: isso é Alessandro Mendini! O cara queria era cor! Tirar cor, de qualquer canto deste “monumento do design”, num dá…”
Bingo! Aí que chegamos à mola propulsora deste post! (Ma, não tem nada a ver diretamente com você o que vou escrever daqui pra frente. Te conheço e sei que você não é o que vou retratar à seguir ok?).
Quer dizer então que apenas por ele ser quem é temos de engolir mesmo que atravessado? Apenas porque a mídia o fez famoso temos de aceitar tudo dele? Apenas por ele ser quem é não podemos criticar ou duvidar de seu trabalho?
Calma lá, as coisas não são bem assim.
Volto a colocar o que já escrevi algumas vezes aqui sobre Karin Hashid. Para mim ele, hoje, é apenas mais um. Seus projetos tornaram-se repetitivos demais. O seu forçar de impor a cor pink de maneira exagerada aliada sempre às mesmas formas tornaram o seu trabalho repetitivo, cansativo e, não criativo. A cada novo projeto dele que aparece na mídia fico me perguntando: de qual gaveta ele tirou isso tudo?
Não entenderam a indagação? Vocês nunca ouviram falar em “projetos de gaveta”? Aqueles que alguns profissionais fazem e largam em alguma gaveta. Quando aparece algum cliente ele escolhe o que se encaixa melhor no perfil do cliente, faz umas poucas alterações e bingo! Ganha do cliente sem trabalhar como realmente deveria. Pois bem. Hashid para mim parece isso: um cara que monta uma enorme colcha de retalhos das gavetas, pega um elemento de um projeto, outro daquele outro projeto, vai juntando tudo num desenho e pronto.
Para “baba ovos” é o máximo. Para mim, é nada. Já deu.
Karin não se reinventa, não aceita críticas. É o rei e ponto final. Até mesmo o mesmo terninho rosinha de sempre não muda…
Mas como eles chegaram à isso? Por causa das malditas tendências que NUNCA deveriam existir ou imperar dentro da arquitetura e do design. A técnica e a estética deveriam impor-se sobre todas as outras faces de um projeto. Mas o que temos visto é apenas um festival de ctrlC+ctrlV apenas porque “está na moda”.
Engraçado que as pessoas não se tocam que o que aparece nas revistas está ali simplesmente porque o fabricante PAGOU PELO ANÚNCIO. Raras vezes vemos algo que foi colocado de maneira espontânea ou por sua real relevância seja estética ou tecnológica. É um mercado movido à jabá: pagou, apareceu!
E ninguém questiona isso e fica tudo por isso mesmo.
Zaha Hadid é uma arquiteta que está em alta ja faz algum tempo. É daquelas que leva o orgânico ao extremo para criar suas formas. Porém ela mesma percebeu que seu trabalho estava ficando repetitivo e de um ano para cá comecei a perceber algumas mudanças sutis em seu estilo. Quem olha um projeto feito por ela hoje percebe uma grande diferença dos da época em que ela explodiu na mídia tornando-se a queridinha e referência mundial. Mas ainda assim, mantém um quê de mesmice. Diferente do Hashid, ela está mudando e podem ter certeza de que em breve seremos brindados com projetos espetaculares dela bem diferentes dos que já conhecemos.
Devo ressaltar que, como bem colocou o José Carlos lá no grupo, são escolas diferentes. Onde é que foram parar nos currículos atuais aquelas disciplinas que faziam o aluno pensar, analisar, criticar, discordar? As poucas que restam foram transformadas em “veja a imagem e não pense sobre, apenas aceite”. Não há mais a solicitação dos professores para que os alunos escrevam, soltem suas idéias e pensamentos, a sua visão, explorem a capacidade de seus cérebros além de um ctrlC+ctrlV.
Como professor, creio que uma disciplina é mais que urgente nos cursos de arquitetura e Design: Análise e Crítica. Esta deveria vir em dois módulos sendo o primeiro no início do curso e o segundo, antecedendo o TCC. Mas com professores realmente preparados para tal disciplina e não leitores ávidos do “Cafofo da Cráudia”.
Já fiz alguns posts aqui no blog sobre este assunto como podem ver aqui e aqui. Recebi duras críticas ao primeiro principalmente referentes à questão maior: você não entendeu o partido que ele adotou, deve respeita-lo e não critica-lo.
Discordo. Ele não é rei nem senhor absoluto do saber. Analiso pelo que a imagem fotográfica ou real me mostra. Pelo que percebo quando entro no espaço. Uso meus conhecimentos para buscar erros e acertos, problemas e soluções. Se ele não aceita críticas, que vá viver isolado da sociedade. Se ele acha que seu trabalho é tão perfeito que não merece ser criticado, que funde um reino e monta a sua corte com seus “baba ovos”.
Essa idéia equivocada de não criticar é que tem levado a arquitetura e o design ao calabouço da mesmice.
Bom, o que quero dizer com isso tudo? Simples:
Tem muitos profissionais tão ou muito mais competentes que estes que figuram na grande mídia mas que simplesmente não aparecem pelo simples fato de não ter $$ pra bancar o amargo jabá cobrado pela mídia.
Nesse sentido, quero indicar alguns excelentes sites (que acompanho pelo meu reader) para que vocês acompanhem diariamente:
1 – Arch Daily
2 – Contemporist
3 – Yanko Design
Não, não quero que vocêsprestem atenção ou percam tempo lendo matérias sobre Karin Hashid, Zaha ou Alessandro que porventura apareçam nestes sites e sim, que observem atentamente os projetos de outros profissionais que aparecem por ali. Irão perceber claramente que temos profissionais muito melhores que estes citados mas que não conseguem atingir a grande massa por passarem despercebidos diante do brilho das “estrelinhas”.
Aqui no Brasil mesmo tem profissionais fantásticos, excelentes mas que não aparecem na grande mídia, no “Cafofo da Cráudia” ou onde quer que seja simplesmente por não ter condições de bancar o alto valor do “jabá”. Logo, as referências acabam sendo sempre as mesmas.
Lembro-me de, ano passado, terem saído em TRÊS edições seguidas, matérias com o mesmo profissional. E, ara quem é um mínimo crítico, sacou que ele estava ali não por sua genialidade ou criatividade pois, apresentando o seu melhor, mostrou ser apenas mais um na linha da mediocridade.
Para quem sempre me pergunta “de que fonte você bebe” ou “onde você encontra estas coisas maravilhosas”, a resposta está, principalmente nestes tres links acima.
Bom, por hoje é isso.
Abraços.
;-)