Bom, um presente para vocês.
Olhando o blog da Maria Alice Miller encontrei este texto abaixo muito interessante. É uma excelente leitura para quem tem dificuldades na hora de negociar com os clientes os valores do projeto. Mas também, um lembrete de que projetar é bem mais que o simples ato de vender uma mercadoria. Isso inclui muitas variáveis que devem ser levadas em consideração antes de soltar o orçamento. É também uma leitura prática para aqueles que, assim como eu, sempre encontram clientes que tentam te forçar a “jogar” um preço sem saber exatamente do que se trata o projeto.
Depois que li o texto, entrei em contato com ela solicitando autorização para posta-lo aqui, o que ela me respondeu prontamente de forma positiva.
Maria Alice é mais uma que, assim como eu, é bastante crítica com o mercado e com o que anda rolando no meio profissional seja no âmbito pessoal ou no relacionado às associações.
Indico a todos a leitura do blog dela – que também entra para a barra de blogs aqui à direita.
Boa leitura!
Maria Alice Miller – dezembro/2008 – www.casacomdesign.com.br
Com a difusão do trabalho dos designers de interiores nos últimos anos através da proliferação de revistas de decoração e também de mostras, muita gente se interessou por ter uma casa bonita, confortável e “na moda”. É um sinal do crescimento do país, interessante tanto para as empresas do setor quanto para os profissionais da área. Contudo creio que ainda há muito a ser esclarecido sobre como é o trabalho dos profissionais de interiores e, dentre as diversas questões que precisam se tornar mais claras, uma das mais importantes, e complexas, são os valores envolvidos em um trabalho de interiores. Mais que esclarecer quanto aos honorários dos profissionais – que podem variar enormemente, como os de qualquer outro grupo de profissionais liberais – acho necessário tornar mais transparente a “pergunta-chave” com a qual vezes sem conta as pessoas nos abordam: “quanto vai custar?”. Seja uma reforma, uma decoração nova ou um simples acerto num ambiente que não está satisfatório, todo mundo quer saber sobre os valores envolvidos. Não é uma pergunta fácil de ser respondida, pelo simples fato de que cada projeto é um projeto, cada espaço é um espaço, e cada Cliente é um Cliente. Existem inúmeras variáveis que podem tornar o valor final de um trabalho viável ou inviável para quem o solicitou, mas creio que cabe alertar que estes valores não precisam ser necessariamente os vistos nas revistas e mostras, onde todos se esmeram em apresentar os melhores produtos possíveis, de revestimentos a equipamentos de última geração. Por outro lado, também não se pode pensar que o valor de um trabalho de interiores, que resulte em um espaço esteticamente aceitável, seja tão baixo quanto muitos ainda pensam que seja. Há que ter planejamento e um orçamento preparado para tal, ainda que não se trate de um trabalho muito sofisticado. A primeira coisa a saber quando se procura por um profissional de interiores, é que prestamos um serviço, e que portanto, não podemos determinar o valor dele sem saber o que vai ser feito. Não é o mesmo que entrar em contato com uma loja que fornece um produto e perguntar qual é o seu valor, mas iniciar um contato com alguém que pode ajudá-lo a transformar sua residência ou espaço de trabalho num espaço muito agradável. Somente a partir do contato com o Cliente e seu espaço é que começamos a analisar diversos fatores que influem no quanto deve ser investido.
Uma das primeiras variáveis avaliadas que influenciam no “quanto” é mesmo o Cliente: seu estilo de vida, seus desejos e aspirações. Muitos olham para fotos de revistas ou espaços de mostras com desejo de se transportarem para lá. Como isso não é possível pois o ambiente que dispomos não é o mesmíssimo da revista ou da mostra, torna-se necessário avaliar com calma o que atraiu a pessoa naquela imagem. É útil mostrar ao profissional que visuais o agradam mas, mais que isso, é importantíssimo ter em mente que o profissional pode auxiliá-lo a ver inadequações que, inicialmente, não foram percebidas. E é necessário ouvir o profissional neste ponto. Um exemplo prático: a cozinha americana, aberta para a sala, é um dos apelos mais fortes dos interiores atuais, mas nem todos sabem que uma cozinha configurada desta forma implica em possuir sala e cozinha sempre arrumadas, (o que pode ser inviável e até bastante incômodo em determinados casos), eletrodomésticos dos mais bonitos (e normalmente de alto valor), e de alta qualidade, para que não contaminem a sala com ruídos, fumaça e odores desagradáveis. Muitas donas de casa se encantam pela imagem e se esquecem que, no seu dia a dia, tal cozinha pode ser na verdade um desconforto mais que um prazer. Portanto, cabe a nós, profissionais que somos, mostrar que o tipo de vida que se leva determina em alta medida a forma como sua casa deve ser configurada. E com isso se determina também o tipo de projeto que será realizado, o que implica num gasto maior ou menor. Se a dona de casa que tem crianças insistir em ter uma cozinha integrada ao living, é possível criá-la com um investimento maior, contemplando ótimos eletrodomésticos e revestimentos adequados para a sala contígua, ou, pelo menos, uma bela porta de correr entre os ambientes, mas certamente será fundamental se preparar para um dispêndio maior do que se fosse realizado um trabalho em uma cozinha e uma sala não integradas. A segunda variável é o espaço objeto do trabalho. Às vezes as pessoas moram em casas não-definitivas, isto é, espaços por onde se passa, sem a intenção de permanecer nele. Estão neste caso os solteiros, descasados, casais jovens, e uma série de outras pessoas. Em espaços assim, nem sempre vale a pena investir num ótimo revestimento para piso, teto e parede, pois normalmente isto não é valorizado em uma futura venda. Mesmo assim, é possível se ter uma moradia bonita, desde que se saiba em quais peças investir. E, muitas vezes, pessoas que estão em situações deste tipo resistem a procurar um profissional pois entendem que só uma “reforma total” daria bom resultado. Às vezes isto é verdade, mas às vezes não. Somente uma análise da situação pode resolver a dúvida. Nestes casos, a categoria de decoração desejada é de importância capital: é possível ter uma casa elegante com uma base simples, mas torna-se complicado desejar muita sofisticação numa moradia transitória.
O espaço também determina o trabalho necessário a ser executado. Já presenciei situações em que imóveis recém adquiridos tiveram que ser repassados pois o proprietário não possuía recursos para torná-los habitáveis. Algumas obras mínimas devem ser executadas quando se adquire um imóvel antigo e, às vezes, o preço baixo destas servem justamente para compensar as benfeitorias que o novo morador terá de executar, sob pena de não poder ocupá-la. E há quem não se lembre disso e destine todo o dinheiro que possui na compra, não restando nada para as obras fundamentais. Mesmo que não se trate de uma casa antiga, a maior parte das pessoas investe todos os recursos que possuem na compra do melhor imóvel possível, e isso normalmente significa uma ótima localização, espaços amplos, mais vagas na garagem, infra-estrutura do edifício. No entanto, se esquecem por exemplo que, quanto maior o imóvel, mais terá que ser investido neste espaço para torná-lo bonito. Também por este motivo às vezes não é possível transformar o imóvel adquirido na sua “casa dos sonhos”, pois nunca há folga no orçamento mensal para criá-la: o condomínio é alto, as despesas mensais com o estilo de vida são altas, outros gastos consomem todos os recursos do proprietário e realmente não há sobras para investir na casa. Desta forma, na hora da decisão de compra, talvez valesse mais a pena investir em um espaço menor, em outra localização ou um condomínio com menos infra-estrutura, reservando ou prevendo de alguma forma recursos para decoração, mesmo que esta ocorra somente anos após a compra desse imóvel. Claro, este conselho só se aplica a quem pretende ter o interior de sua casa bem arrumado. A terceira variável para determinar quanto custa decorar é a categoria de decoração pretendida pelo Cliente. Quanto mais simples for o resultado desejado, em geral o valor envolvido na decoração torna-se menor. No entanto, muitos Clientes confundem o que chamamos de “simples” com “barato” e, definitivamente, em design, estas palavras não são sinônimos.
Ocorre que o bom design atende a determinados parâmetros e, no mercado brasileiro, se oferecem muitos móveis de baixo custo e péssimo design. A quantidade de peças com bom design é ínfima, e seus valores costumam ser maiores. É difícil para um profissional trabalhar com móveis mal concebidos e obter um bom resultado em um ambiente, portanto, é preciso investir em peças boas, mesmo que poucas. Ao contrário de outros itens que fazem parte de um espaço – como os revestimentos por exemplo, que existem em profusão de variedade e de preços – móveis e adornos com bom design têm oferta reduzida em nosso país, e isso complica muito nosso trabalho. Às vezes um bom quadro ou uma boa luminária chama mais atenção em um espaço do que tudo mais o redor, e portanto vale investir neste item e adquirir outros com valor menor. Apenas um profissional de interiores sabe como fazer isso, mas às vezes é difícil explicar esta abordagem aos Clientes. E, como resultado, às vezes ocorre de um bom trabalho ficar realmente “menor” ao se fixarem os quadros nas paredes – em situações em que estes não são escolhidos segundo o critério do projeto, mas de acordo com seu valor.
Além destes pontos básicos que implicam fortemente no valor total envolvido num trabalho de decoração, existem muitos outros que são analisados em um trabalho de interiores. Ao procurar por um profissional de interiores é importante que o Cliente seja claro, fale de suas dúvidas, seus desejos, o que espera, o que teme e, se possível, quanto deseja despender. É de vital importância haver um ótimo relacionamento entre Cliente e profissional para que se possa tornar um espaço economicamente viável para o bolso e realmente estético, bem concebido, dentro dos parâmetros do design de interiores.
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