Muitas pessoas me perguntam como faço para precificar os meus projetos. Nos diversos fóruns pela web encontramos diversos tópicos sobre este assunto, poucos com uma visão diferenciada. É complicado explicar isso uma vez que o mercado está muito confuso por dois motivos:
1 – a prostituição de muitos profissionais que dão projetos em troca de RTs ou que cobram valores ridículos.
2 – a ineficiência e alienação da ABD e outras associações (nacionais ou locais) sobre o assunto.
Bom, não há como querer seguir os valores colocados na tabela da ABD. São surreais e só quem deve conseguir aplica-los são as estrelinhas da mídia. Os profissionais normais e mortais não conseguem. Outro problema é que a tabela contempla o valor por m² e não considera a complexidade do projeto.
Se por um lado temos este problema dos valores muito altos da tabela, por outro temos os profissionais que não a respeitam e cobram valores bem abaixo do mínimo desejável para manter a saúde do mercado.
SE os profissionais se conscientizassem e começassem a valorizar o seu próprio trabalho e os colegas profissionais isso tudo não ocorreria mas o que vemos são prostitutos e prostitutas profissionais emporcalhando o mercado.
Enquanto isso não for resolvido vamos continuar a nos deparar com situações constrangedoras diariamente frente os clientes. Quando um me fala que o orçamento do fulano está bem mais barato que o meu respondo simplesmente:
EU SEI O QUANTO ME CUSTOU SER QUEM SOU HOJE E VALORIZO ISSO. SE QUER QUALIDADE, COMPETÊNCIA E SERIEDADE FIQUE COMIGO.
Sou anti-ético? Nem um pouco. Anti-ético é o outro que cobrou menos de 10% do valor cobrado por mim. Isso mostra o desespero do outro para manter-se sobrevivendo no mercado. (Note que sobreviver não é o mesmo que viver.)
Também tenho uma resposta na ponta da língua para aqueles que vem com a história de que a loja tal dá o projeto de graça:
BOBINHO, VOCÊ ACREDITA EM PAPAI NOEL? (rindo ironicamente) VOCÊ ACREDITA MESMO QUE O VALOR DO PROJETO NÃO ESTÁ EMBUTIDO NO VALOR FINAL DO PRODUTO QUE VOCÊ IRÁ PAGAR?
(Por sinal essa história dessas lojas de planejados merece um post na veia….)
Bom, como eu precifico? Vou tentar explicar para vocês.
Em primeiro lugar tenho todo o levantamento de quanto me custa manter o meu negócio. É aquela tabela dos custos fixos que gera o índice e blablablabla. Abaixo disso, jamais.
Junto ao cliente, num primeiro momento analiso a situação através de uma ENTREVISTA informal: dimensão do projeto, estilo, nível social, vida social, quem é o cliente, etc.
Num segundo momento, busco fazer o BRIEFFING melhor direcionado pois já tenho algumas informações importantes que colho durante a entrevista. Depois, ao pensar o orçamento peso muito bem estes itens para chegar ao valor final.
Uso por base o valor da tabela da ABD (sim eu valorizo o meu trabalho) mas não uso a referência do meu estado (PR) e sim os valores mais altos da tabela – se é pra ser algo sério que seja igual para TODOS os profissionais independente da região onde moram afinal, tem clientes de todos os níveis em todos os cantos do país. Mas é claro que se o cliente não tem grandes recursos abro novas formas de negociação, com valores mais condizentes com a realidade do mesmo.
Digamos que o valor final pela tabela tenha ficado em R$ 15.000,00. Aí passo a cruzar este dado com os dados do brieffing.
Se o ambiente/projeto for mais simples e numa linguagem que eu goste mais de trabalhar – portanto já tenho os conceitos e conhecimentos em minha mente – vou automaticamente levar menos tempo para projeta-lo então posso abaixar um pouco o valor. Digamos para R$ 13.000,00.
Se o ambiente é num estilo mais clássico (rococó ou algo similar), cheio de detalhes, ornamentos isso vai me exigir mais pesquisa de materiais e tempo na prancheta para resolvê-lo. Então procuro manter o valor inicial ou, dependendo do caso posso até mesmo aumentá-lo chegando facilmente aos R$ 20.000,00.
No entanto só isso não serve para fechar o valor do projeto. Outras questões devem ser levadas em conta como por exemplo a tecnologia, a automação e o controle. O uso destas ferramentas nos obriga a atualização constante e eu não sou do tipo de profissional que entrega um projeto destes nas mãos de um projetista de loja (até os de móveis planejados são feitos por mim e a fábrica que se vire para executa-los exatamente conforme meus desenhos indicam). Entrego para o lojista o projeto pronto e já especificado para ele orçar materiais, equipamentos e instalação. E ai do lojista que tentar modificar meu projeto…. Isso eleva sim o custo do projeto. É a questão da personalização/autoria do projeto atendendo à individualidade e personalidade do cliente. Não quero meus clientes com “casa de revista” que não dizem absolutamente nada sobre eles.
No caso da automação é mais fácil. Mas mesmo assim exige pesquisa e atenção ao projetar. Dá pra elevar uns R$ 4.000,00 no preço final.
Já se o cliente pensa em controle aí a coisa é bem diferente. É algo bem mais complexo que a mera automação. E tem também o ponto que se o cliente pode pagar pelo controle, é sinal que tem dinheiro no caixa. Então, dá pra subir uns R$ 8.000,00 no valor final.
Isso tudo eu estou falando em projeto de Interiores/ambientes que levam agregado o projeto de iluminação básica. Caso o cliente queira um projeto de LD junto com o de ambientes aí a história é outra.
Lighting é a minha especialidade, estudei muito para dominar o assunto e saber muito bem – e como poucos – o que estou fazendo. E isso não vem de agora, desta pós que finalizei recentemente. Este especializar-me ja vem acontecendo ha mais de 10 anos, diariamente. Não posso – e nem devo – dar isso de graça a quem quer que seja afinal, nem o relógio trabalha de graça: ou você tem de dar corda ou tem de trocar a pilha.
Então, se o cliente deseja um projeto personalizado de LD – sim, LD é personalização – vamos nos sentar e negociar os valores pois cobro pelo projeto de LD o mesmo que cobro pelo de Interiores/Ambientes. Algumas vezes o LD sai até mais caro dependendo do nível tecnológico.
Então quer dizer que se for um projeto de Interiores/Ambientes + LD sai por R$ 30.000,00?
SIM!
Negociamos a forma de pagamento.
Não posso deixar de citar a existência das RTs nessa negociação. Sempre deixo isso bem claro para meus clientes e explico direitinho como elas funcionam. Se o cliente não quer com RTs e resolve pagar o preço total, fazer o que? Obrigo os lojistas a darem os 10% de desconto extra para os clientes após o fechamento do preço. Mas se ele quer o valor com as RTs, dou um desconto de 10% no valor total e ele se compromete a fazer as compras apenas onde eu indicar.
Isso tem de ser muito bem negociado e você tem de ser mais esperto que os lojistas. Jamais fale do desconto das RTs antes do vendedor apresentar o valor final do orçamento. Afinal, dentro deste valor final ele já embutiu os 10% das RTs que vai te pagar. Fechado o valor e negociado os descontos do cliente, aí você entra e pede o abatimento dos 10% das suas RTs. A grande maioria das lojas não gosta disso, torce o nariz, te chama no canto para “conversar”, porém quem não gosta não trabalha eticamente com seus clientes logo, não merece vender. Pule para o próximo fornecedor então.
É complexo? Sim. Dá pra explicar melhor? Consegui expressar-me corretamente? Talvez sim talvez não. Na certa muitos só entenderão isso com a experiência profissional e o decorrer dos anos atuando no mercado.
Por hora é isso. ;-))
Tenho uma dúvida: no momento da negociação com o cliente explicando sobre a RT, pode- se propor que o cliente pague diretamente para o arquiteto 10% do valor dos móveis comprados, em troca do acompanhamento desta compra. Ao invés da loja pagar está RT.
Não Carla. Jamais faça isso.
O que você pode fazer, caso não tenha especificado isso em seu contrato, é explicar o que é e cobrar por hora técnica no acompanhamento às lojas.
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