Relações de mercado.

Revista Lume Arquitetura
Coluna Luz e Design em Foco
Ed. n° 56 – 2012
“Relações de mercado.”
By Paulo Oliveira

56
As relações de mercado devem primar pela ética acima de tudo. É justamente esta ética que o mantém saudável e competitivo. Se esta base mercadológica é quebrada, teremos então um mercado baseado no “quem dá mais” ou o “salve-se quem puder”.

Se temos clientes que não querem pagar o valor justo do projeto, a culpa de tal situação, dentre outros fatores, pode ser atribuída aos profissionais que não cobram pelos projetos, vivendo à custa de comissões pagas pelas indústrias e lojas em acertos de bastidores e que afetam a todos que estão no mercado.

Conversando recentemente com um grande amigo – e mestre – senti-me como Cazuza quando cantou que “meus heróis morreram de overdose” tamanha a decepção ao ver nominados aqueles que um dia tive como ídolos e referências. Ruíram pelo simples fato de constatar que suas práticas profissionais, de modo geral, são desrespeitosas, especialmente com os colegas de profissão. Nesta conversa pude confirmar que estes só chegaram onde estão graças às artimanhas e negociatas promíscuas que utilizam. Alguns até furtando projetos de outros profissionais. Profissionais que para atender sua gana egoísta e satisfazer seu estrelismo mergulham de corpo e alma nessas jogatinas.

Porém, este ato supostamente bondoso, para ganhar o cliente, esconde tacitamente o fato de que ele está recebendo alguma coisa; afinal, ninguém trabalha de graça. Ora, o ganho ou os rendimentos que este tipo de profissional percebe, advém de comissões – ou RTs – que as indústrias e lojas embutem em serviços e materiais adquiridos pelo cliente e que para eles são transferidos. Ao final das contas, seja qual for a fonte, o profissional acaba lucrando sem se importar que este ato prejudica a seriedade e o respeito pelos quais a profissão deveria ser encarada e respeitada.

Com as comissões, um profissional pode ter um lucro muito acima do justo e real valor que o projeto deveria ter. As empresas oferecem de 3% a 20% de comissão, e tudo depende do valor da compra e, em geral, do renome do profissional.

Neste aspecto, aprofunda-se o prejuízo corporativo para a classe profissional que se rende a segmentações internas: uns lucram 20% por seu status enquanto outros dificilmente conseguem chegar aos 10%.

Assim fica claro como alguns profissionais conquistam vários projetos ao mesmo tempo e, consequentemente, ganham mais espaço na mídia, o que alimenta uma popularidade camufladora de sua voracidade egocêntrica. Não se cobra pelo projeto viabilizado por meio de uma“doação” para aquele cliente ou aquela cidade, enquanto se lucra em acertos de bastidor com uma ou algumas indústrias ou empresas comerciais. Forja-se uma cumplicidade perniciosa para uma éticaque se espera nas relações de mercado.

Outro detalhe igualmente grave deste tipo de prática refere-se à eliminação da livre concorrência, especialmente aquela relacionada com a criação e as ideias que envolvem a elaboração de projetos.

Mais uma vez o prejuízo recai sobre o cliente, que, muitas vezes, ignora tais práticas e tampouco desconfia de que esteja de fato recebendo o melhor produto, ao ser induzido a optar por uma ou outra marca apenas baseado em vantagens. O profissional pode não especificar o melhor produto e deixar de encontrar soluções até mais interessantes técnica e esteticamente. Não é à toa que vemos vários projetos de um mesmo autor com a mesma “cara”.

As indústrias e lojas devem encontrar outra forma de fidelizar seus clientes e especificadores. Ofereçam no lugar das comissões, premiações que não envolvam dinheiro vivo. Uma viagem, por exemplo. Inclusive vocês só têm a ganhar, pois terão muitos outros profissionais na disputa.

Então, temos de decidir: ou optamos por um mercado antiético onde as negociatas de bastidores assemelham-se às politicagens que deploramos ou assumimos práticas pelas quais manifestamos nosso comprometimento ético por um mercado saudável e decente onde todos recebam o devido e igual respeito.

Fases de um projeto

É bastante comum meus leitores me escrever perguntando sobre como é o trabalho de um designer de interiores/ambientes ou lighting designer. Pois bem, para não ter que ficar escrevendo e reescrevendo a cada novo questionamento, aqui vai um post explicativo dessas fases.

Devo ressaltar que, antes de mais nada, é preciso um constante trabalho de prospect que é a fase de divulgação de seu nome profissional/escritório e captação de clientes. Esta pode ser feita de diversas maneiras que vão desde a distribuição de panfletos até a utilização de outdoors, mídias, ter uma vida social ativa, etc. Encontrado o cliente, entramos naa fases de desenvolvimento do projeto propriamente dito.

Uso como base o modelo da Jenny Gibbs, expandindo-o e retraindo-o quando necessário são no total cinco fases que qualquer projeto envolve. Descrevo-as a seguir.

PRIMEIRA FASE:

1.       Reunião preliminar

reuniao-com-cliente

É aquela reunião inicial onde você se apresenta ao cliente e vice-versa. Aqui rola a apresentação de seu portfolio e onde você tem o primeiro contato com o cliente. Esta reunião pode ser em seu escritório, em algum café, não importa. Aqui não serão tratados a fundo questões do projeto em si. É a oportunidade onde você irá saber o que o cliente deseja, as dimensões aproximadas do projeto, etc.

Aqui você deverá explicar como é realizado o trabalho de um designer de interiores/ambientes, suas limitações profissionais e possíveis necessidades durante o projeto (ex. contratação de um engenheiro para derrubar uma parede), a importância do cliente confiar nas indicações de mão de obra especificadas por você, etc.

2.       Brieffing do cliente

briefing21

Nesta etapa você terá que trabalhar em duas frentes:

– Entrevista com o cliente: aqui sim entrará a parte mais puxada do contato com o cliente onde você terá que “extrair” dele toda a problemática envolvida no projeto. Não basta saber apenas “o que” ele deseja no projeto mas, especialmente, o “por que” deste desejo. Lembro que por trás de todo desejo existe, na verdade, um problema a ser resolvido. O “feio” É um problema estético.

Vale ressaltar que havendo mais de um usuário no espaço a ser projetado, TODOS devem ser entrevistados. Não tenha receio em explicar àquela senhora mãe-esposa-matrona-mandona que quer decidir absolutamente tudo sozinha, incluindo os quartos dos filhos que já estão na faixa dos 18 anos, além dos espaços privativos do marido. Lembre sempre a ela (quando acontecer isso) que os espaços são de todos e não somente dela. Assim como existem coisas que ela não gosta e deseja alterar, com eles também acontece a mesma coisa. (Tou escrevendo um post específico sobre brieffing, postarei em breve).

É importantíssimo que até aqui você já saiba o quanto o cliente deseja investir no projeto. Por exemplo: se ele dispõe de R$ 20.000,00 você tem que estar ciente que dentro deste montante está incluso o pagamento do designer pelo projeto. Ou não? Será que este dinheiro está livre apenas para a obra e ele dispõe de mais recursos?

É, portanto, imprescindível que o profissional tenha conhecimento deste fator ainda nesta fase de levantamentos iniciais.

Após o brieffing com o cliente deverá acontecer um levantamento prévio do espaço a ser projetado. Apenas uma visita para tirar as dimensões básicas e uma análise geral da edificação está bom afinal, você necessita destes dados para elaborar seu orçamento (proposta de trabalho).

3.       Proposta de trabalho/aprovação do cliente

Esta é a etapa onde você irá apresentar ao seu cliente a sua proposta de trabalho (orçamento) onde deverá constar basicamente:

– valor

– formas de pagamento/parcelamento

– prazos para elaboração dos projetos

– o que será feito (descrever os ambientes com as alterações solicitadas para cada um)

– prazo de validade da proposta (geralmente 20 dias)

– que após o OK do cliente sobre a proposta, será encaminhado o contrato formal de prestação de serviços para assinatura.

Quando o cliente der o OK no orçamento encaminhe a ele então o contrato devidamente preenchido, com todas as especificidades do projeto a ser elaborado, os valores, formas de pagamento e prazos, a cláusula de responsabilidade técnica, a existência ou não das RTs, da preferência por mão de obra indicada por você, etc.

Somente após a assinatura do contrato é que se deve iniciar a segunda fase do trabalho.

SEGUNDA FASE:

1.       Diagnóstico, análise e levantamento do local

levantamento

Esta é a fase onde você terá de ir até o local da obra e fazer todo o detalhamento dos espaços. Aqui entram as medidas exatas de todos os ambientes, estruturas existentes, levantamento de instalações (elétrica, hidráulica, gás, ar, telefonia, TV), esquadrias, situação geral da edificação (se necessita de reparos/reforço/restauro), áreas permeáveis externas, enfim, tudo que se faz necessário para projetar espaços mais eficientes, práticos e funcionais.

2.       Conceito inicial

É a fase de desenvolvimento do projeto conceitual.

Primeiramente o profissional deverá transformar o brieffing numa análise do projeto. Isso deve ser feito em papel onde conseguimos cruzar dados levantados tanto no brieffing quanto no levantamento predial. Somente de posse dessa analise podemos seguir adiante.

Neste ponto o profissional deverá fazer uma pré-seleção dos materiais, mobiliários, equipamentos e acessórios a serem utilizados nos ambientes para apresentação ao cliente. Tudo vai depender do partido/conceito adotado para o projeto. É a fase onde o designer irá esboçar suas ideias, usar de sua criatividade para solucionar os problemas detectados no brieffing.

Claro que medidas devem ser respeitadas, mas nesta fase não é necessário que estas sejam seguidas à risca (ex: 3 cm não farão tanta diferença) para a apresentação ao cliente. Aqui, nada é definitivo e pode ser alterado. Lembrem-se que estamos ainda na fase de criação e o cliente não aprovou nada!

3.       Pré-orçamentos

Todos os materiais especificados devem vir acompanhados de seus respectivos orçamentos (quantitativo /valor unitário / valor total).

Temos também que fazer um levantamento preliminar dos orçamentos – incluindo a mão de obra (pedreiro, eletricista, pintor, encanador, jardineiro, etc) – para apresentação ao cliente.

Não devemos nos esquecer de orçar também as caçambas para entulhos.

Lembre-se de sempre apresentar 3 orçamentos de fornecedores distintos. Isso garante a transparência e profissionalismo.

4.       Preparação da apresentação

conceitos

Esta é a fase onde iremos pensar em como apresentar o conceito ao cliente. Aqui temos que prestar atenção em muitos detalhes como, por exemplo:

– ter embasamento teórico/técnico/estético dos porquês das soluções apresentadas;

– possuir “cartas na manga” para o caso de necessidades emergenciais;

– ter conhecimento sobre todos os materiais e insumos especificados;

– apresentar catálogos de materiais/equipamentos;

– finalização e revisão dos painéis conceituais;

– finalização e revisão das perspectivas, layouts e maquetes 3D conceituais;

– separar os pré-orçamentos por área/material/mão de obra;

Lembro que devemos apresentar uma solução ao cliente. Quando apresentamos mais que uma ele pode confundir-se. No entanto, isso não impede que você leve separado outras soluções. Quando começarem a surgir as indagações, os “não gostei disso”, apontamentos de alterações, você terá estas outras “cartas na manga” (possibilidades) para apresentar e chegar a um consenso entre as partes.

5.       Apresentação / aprovação

Aqui é a hora de mostrar tudo o que você pensou para a solução dos espaços ao cliente. Você não pode ter absolutamente nada na apresentação que não domine, que não consiga explicar os porquês da necessidade deste elemento no projeto.

Por exemplo: se você propôs a derrubada de uma parede deve saber se esta vai afetar a estrutura ou não, se precisará do acompanhamento de um engenheiro civil ou não. E também deverá saber explicar o porquê da necessidade da presença dele na obra.

Se você especificou um piso fosco e o cliente desejava um espelhado para uma área úmida você tem que saber explicar o porquê dessa escolha.

Você também deve saber quanto tempo será necessário para implantação do projeto (obra).

Enfim, você deve mostrar completo domínio sobre o projeto, materiais, execução.

Não se esqueça que a cada item aprovado pelo cliente ele deve dar um visto no mesmo, o “de acordo” ou simplesmente “OK”.

TERCEIRA FASE:

1.       Projeto executivo

PROJETO-EXECUTIVO01

Após a aprovação do projeto conceitual devemos partir para a elaboração do projeto executivo. Esta é a parte mais técnica do trabalho do designer. É aqui que faremos todos os projetos cuidando milimetricamente de cada detalhe. Nesta fase devemos realizar, quando necessário, os seguintes projetos:

– instalações elétricas

– instalações hidráulicas

– instalações de ar condicionado

– instalações de TV/telefone/interfone

– paisagismo/jardinismo

– projeto de iluminação

– projeto de gesso

– marcenaria

– paginação de pisos e revestimentos

– acústica/térmico

– plantas de layout

– cortes e elevações

– detalhamentos diversos

– plantas de alterações prediais (troca de esquadrias, derrubada/construção de paredes)

– lista de acessórios

– memorial descritivo

– existem outros ainda mas já deu para entender que o trabalho não é fácil e simples.

Aqui, TODOS os elementos relativos ao projeto devem ser apresentados de maneira clara para a correta e fácil leitura e compreensão por parte dos executores, e também do cliente.

2.       Especificações

Aqui entra o trabalho em cima do memorial descritivo e da seleção de construtores/fornecedores.

Num primeiro momento devemos elaborar o memorial de forma clara, preferencialmente separado por área/espaço a ser trabalhado,  constando todos os materiais / elementos / acessórios que serão utilizados no projeto.

Após isso, devemos fazer um pré-orçamento (pode ser via internet mesmo) buscando ofertas de tudo isso. Esta pesquisa servirá como base de negociação com os fornecedores e construtores para que apresentem suas propostas.

3.       Orçamento definitivo

Aqui, após as negociações com os fornecedores e empreiteiros, temos como fechar o orçamento final do projeto para apresentar ao cliente. De posse deste, é o momento de fazer a programação/planejamento financeiro, junto com o cliente.

Não se esqueça de que o valor do seu pagamento pelo projeto pode estar inserido no orçamento disponível do cliente.

4.       Solicitação de documentações públicas

Somente quando necessário. Por exemplo: você planejou derrubar uma parede e necessitou da presença de um engenheiro civil. Este deve recolher junto ao seu Conselho (CREA) a ART.

Em algumas cidades, as prefeituras exigem os alvarás de obras até mesmo para simples pinturas de paredes (absurdo!).  Então fique atento à cidade onde está sendo realizada a obra e tenha em mãos todos os documentos necessários.

5.       Seleção de construtores e fornecedores

contrato

Após o recebimento das propostas orçamentarias dos construtores e fornecedores, você deverá selecionar os vencedores. É importante que o cliente participe desta etapa.

Lembre-se: nem sempre o menor preço significa qualidade na execução de obras.

Por isso é importante que junto com o orçamento os construtores encaminhem uma lista de obras já realizadas e, se possível, que você visite algumas delas para atestar a qualidade dos serviços.

Fique atento pois tudo isso está intrinsecamente amarrado ao orçamento disponível.

Não se esqueça de também elaborar os acordos de prestação de serviços para serem assinados pelos construtores. Este é um documento entre o profissional e os prestadores de serviço. Este documento deve conter itens como, por exemplo, no caso de pintura:

– o responsável deverá preparar todas as superfícies para o seu melhor acabamento;

– toda nova marcenaria e carpintaria serão  preparadas, emassadas, lixadas e seladas;

– o selador e demais demãos de pintura serão aplicados de acordo com as instruções do fabricante;

– toda marcenaria preexistente será limpa, emassada, lixada e receberão uma demão de pintura;

– Todos os revestimentos de parede preexistentes serão retirados – as paredes serão limpas, emassadas, lixadas e pintadas;

– o responsável pelo serviço utilizará adesivos e toda forma de proteção das áreas adjacentes à superfície que for trabalhada;

– não realizará qualquer alteração do produto (consistência, cor, etc) sem a aprovação do designer responsável pela obra;

Este documento deve ser assinado por todos os envolvidos na obra. No caso de pedreiros é fundamental que conste um item exigindo a correta observação das paginações de piso/revestimentos.

Também faz-se necessário neste documento um item para TODOS os construtores/fornecedores:

– o responsável pela execução do projeto fica proibido de conversar diretamente com o proprietário da obra sobre propostas de alterações no projeto/obra. Qualquer necessidade nesse sentido deve ser tratada apenas com o designer responsável pela obra.

Isso evita os corriqueiros problemas de alterações que ocorrem sem a autorização/conhecimento do profissional.

É muito importante que o profissional disponibilize aos seus clientes modelos de contratos de prestação de serviços para serem firmados entre o cliente e os contratados. Este documento garantirá a execução dos serviços contratados e servirá como prova à seu favor em caso de problemas judiciais.

QUARTA FASE:

1.       Programação da obra

É diferente do cronograma, que entra a seguir.

Aqui fazemos uma programação da obra constando tudo sobre o que será feito, de acordo com a cronologia necessária:

– demolições

– estruturas 1 (gesso, pisos, etc)

– estrutura 2 (elétrica, hidráulica, ar, etc)

– revestimentos de paredes

– iluminação

– acabamentos

– mobiliários

2.       Cronograma de obra

cronograma

É programação e definição das obras que devem ser feitas e suas datas de inicio/finalização. Quando e o que entra/começa/termina, em que data entra/começa/termina.

Este documento é necessário para que os construtores (especialmente) conheçam os prazos disponíveis para a execução de seus serviços, principalmente as datas máximas, para que não atrapalhem o andamento das obras e a entrada de outros profissionais.

Por exemplo: se um pedreiro tem uma semana para assentar os pisos e estoura este prazo, ele estará comprometendo os trabalhos de outros profissionais que já tem suas agendas apertadas e comprometidas. A marcenaria não poderá ficar esperando que os pintores terminem seu trabalho atrasado por causa do assentamento de piso que atrasou. É uma bola de neve.

3.       Compras

Como o próprio nome diz é a fase de aquisição dos produtos e insumos necessários à obra e ao projeto.

Estas devem ser acompanhadas pelo profissional designer para, principalmente, evitar a interferência externa no projeto. É bastante comum vendedores forçarem os clientes a trocar produtos e quando o designer vai na obra recebe-los tem geralmente surpresas desagradáveis.

Portanto é fundamental deixar acertado (em contrato) junto ao cliente que as compras deverão seguir exatamente as especificações realizadas no projeto.

Outro fator importante da presença do profissional no momento das compras é com relação às RTs. Ainda na fase de conversas e apresentação da proposta o designer deve deixar claro ao cliente esta pratica de mercado e negociar com ele a presença ou não desta no orçamento/contrato.

Caso haja, é a garantia do designer recebe-las dos fornecedores e assim, ser ressarcido pelo desconto dado no valor do projeto.

Caso não haja, é a maneira do designer conseguir negociar melhores descontos para o cliente junto aos fornecedores.

4.       Acompanhamento das obras / instalações / fase “suja” da obra

Tem gente que diz que isso não é necessário. Eu acredito o contrário: é SEMPRE necessário, desde pequenas reformas aos grandes projetos.

É durante o acompanhamento que o designer vai verificar a correta execução do projeto, sanar dúvidas dos construtores, solucionar problemas inesperados, etc.

É a fase de instalações de granitos, mármores, carpintaria, obras em alvenaria, gesso, pinturas, etc. Todos os elementos que fazem parte da estrutura do projeto.

Portanto é sim importantíssima a presença do profissional durante as obras.

Estas podem ter seu valor diluído no valor total do projeto ou podem ser cobradas à parte (por visita).

Mas nunca deixe de acompanhar as suas obras.

5.       Instalações de equipamentos e mobiliários

Aqui entram as instalações pós obra pesada. São elas basicamente:

– mobiliário e marcenaria

– iluminação

– acabamentos (metais, louças, vidros, etc)

– splits

– trilhos

Ou seja, tudo que não faz parte da estrutura do ambiente.

6.       Finalização / decoração

decoração final

Nesta fase entram todos os acessórios para dar acabamento aos espaços projetados. Almofadas, mantas, peças de arte/decoração, tapeçaria, penajamentos, etc.

Nesta etapa também é realizada a afinação da iluminação.

É onde o designer irá fazer a finalização do projeto.

7.       Entrega

Tudo tem que estar finalizado e pronto pois este é o tão esperado dia para o cliente: quando poderá entrar em seu novo espaço e usufruir do investimento feito.

É também um momento especial para o designer pois poderá ver nos olhos de seus clientes a satisfação.

QUINTA FASE:

 avaliação

1.       Avaliação pós-entrega

Se pensam que o trabalho terminou no item anterior estão redondamente enganados.

Após a entrega é sempre oportuno que o designer entre em contato com os clientes para fazer uma avaliação pós-entrega. Esta é a oportunidade de verificar se o projeto realmente atendeu as necessidades e aos desejos/sonhos do cliente, se houve alguma alteração feita pelos usuários após a entrega (e descobrir os porquês disso).

É também a oportunidade de descobrir o que os visitantes acharam do projeto, elogios, criticas, etc.

Esta avaliação deve ser feita:

– um mês após a entrega

– seis meses após a primeira avaliação

– um ano após a entrega.

 UFA!!!!

Bom, basicamente é isso.

Como podem ver o trabalho de um profissional de Design de Interiores/Ambientes é bastante complexo e extenso, cheio de detalhes e pontos importantíssimos para atender às necessidades/desejos/sonhos de nossos clientes.

Não é um trabalho fácil, não é apenas um “deseinho numa folha de papel” ou um acompanhamento a uma loja para ajudar a escolher materiais.

Os clientes precisam saber o quanto podem solicitar se um profissional de Design de Interiores/Ambientes.

E nós, profissionais, temos de saber o quanto podemos oferecer a eles.

Precificando o projeto

Muitas pessoas me perguntam como faço para precificar os meus projetos. Nos diversos fóruns pela web encontramos diversos tópicos sobre este assunto, poucos com uma visão diferenciada. É complicado explicar isso uma vez que o mercado está muito confuso por dois motivos:

1 – a prostituição de muitos profissionais que dão projetos em troca de RTs ou que cobram valores ridículos.

2 – a ineficiência e alienação da ABD e outras associações (nacionais ou locais) sobre o assunto.

Bom, não há como querer seguir os valores colocados na tabela da ABD. São surreais e só quem deve conseguir aplica-los são as estrelinhas da mídia. Os profissionais normais e mortais não conseguem. Outro problema é que a tabela contempla o valor por m² e não considera a complexidade do projeto.

Se por um lado temos este problema dos valores muito altos da tabela, por outro temos os profissionais que não a respeitam e cobram valores bem abaixo do mínimo desejável para manter a saúde do mercado.

SE os profissionais se conscientizassem e começassem a valorizar o seu próprio trabalho e os colegas profissionais isso tudo não ocorreria mas o que vemos são prostitutos e prostitutas profissionais emporcalhando o mercado.

Enquanto isso não for resolvido vamos continuar a nos deparar com situações constrangedoras diariamente frente os clientes. Quando um me fala que o orçamento do fulano está bem mais barato que o meu respondo simplesmente:

EU SEI O QUANTO ME CUSTOU SER QUEM SOU HOJE E VALORIZO ISSO. SE QUER QUALIDADE, COMPETÊNCIA E SERIEDADE FIQUE COMIGO.

Sou anti-ético? Nem um pouco. Anti-ético é o outro que cobrou menos de 10% do valor cobrado por mim. Isso mostra o desespero do outro para manter-se sobrevivendo no mercado. (Note que sobreviver não é o mesmo que viver.)

Também tenho uma resposta na ponta da língua para aqueles que vem com a história de que a loja tal dá o projeto de graça:

BOBINHO, VOCÊ ACREDITA EM PAPAI NOEL? (rindo ironicamente)  VOCÊ ACREDITA MESMO QUE O VALOR DO PROJETO NÃO ESTÁ EMBUTIDO NO VALOR FINAL DO PRODUTO QUE VOCÊ IRÁ PAGAR?

(Por sinal essa história dessas lojas de planejados merece um post na veia….)

Bom, como eu precifico? Vou tentar explicar para vocês.

Em primeiro lugar tenho todo o levantamento de quanto me custa manter o meu negócio. É aquela tabela dos custos fixos que gera o índice e blablablabla. Abaixo disso, jamais.

Junto ao cliente, num primeiro momento analiso a situação através de uma ENTREVISTA informal: dimensão do projeto, estilo, nível social, vida social, quem é o cliente, etc.

Num segundo momento, busco fazer o BRIEFFING melhor direcionado pois já tenho algumas informações importantes que colho durante a entrevista. Depois, ao pensar o orçamento peso muito bem estes itens para chegar ao valor final.

Uso por base o valor da tabela da ABD (sim eu valorizo o meu trabalho) mas não uso a referência do meu estado (PR) e sim os valores mais altos da tabela – se é pra ser algo sério que seja igual para TODOS os profissionais independente da região onde moram afinal, tem clientes de todos os níveis em todos os cantos do país. Mas é claro que se o cliente não tem grandes recursos abro novas formas de negociação, com valores mais condizentes com a realidade do mesmo.

Digamos que o valor final pela tabela tenha ficado em R$ 15.000,00. Aí passo a cruzar este dado com os dados do brieffing.

Se o ambiente/projeto for mais simples e numa linguagem que eu goste mais de trabalhar – portanto já tenho os conceitos e conhecimentos em minha mente – vou automaticamente levar menos tempo para projeta-lo então posso abaixar um pouco o valor. Digamos para R$ 13.000,00.

Se o ambiente é num estilo mais clássico (rococó ou algo similar), cheio de detalhes, ornamentos isso vai me exigir mais pesquisa de materiais e tempo na prancheta para resolvê-lo. Então procuro manter o valor inicial ou, dependendo do caso posso até mesmo aumentá-lo chegando facilmente aos R$ 20.000,00.

No entanto só isso não serve para fechar o valor do projeto. Outras questões devem ser levadas em conta como por exemplo a tecnologia, a automação e o controle. O uso destas ferramentas nos obriga a atualização constante e eu não sou do tipo de profissional que entrega um projeto destes nas mãos de um projetista de loja (até os de móveis planejados são feitos por mim e a fábrica que se vire para executa-los exatamente conforme meus desenhos indicam). Entrego para o lojista o projeto pronto e já especificado para ele orçar materiais, equipamentos e instalação. E ai do lojista que tentar modificar meu projeto…. Isso eleva sim o custo do projeto. É a questão da personalização/autoria do projeto atendendo à individualidade e personalidade do cliente. Não quero meus clientes com “casa de revista” que não dizem absolutamente nada sobre eles.

No caso da automação é mais fácil. Mas mesmo assim exige pesquisa e atenção ao projetar. Dá pra elevar uns R$ 4.000,00 no preço final.

Já se o cliente pensa em controle aí a coisa é bem diferente. É algo bem mais complexo que a mera automação. E tem também o ponto que se o cliente pode pagar pelo controle, é sinal que tem dinheiro no caixa. Então, dá pra subir uns R$ 8.000,00 no valor final.

Isso tudo eu estou falando em projeto de Interiores/ambientes que levam agregado o projeto de iluminação básica. Caso o cliente queira um projeto de LD junto com o de ambientes aí a história é outra.

Lighting é a minha especialidade, estudei muito para dominar o assunto e saber muito bem – e como poucos – o que estou fazendo. E isso não vem de agora, desta pós que finalizei recentemente. Este especializar-me ja vem acontecendo ha mais de 10 anos, diariamente. Não posso – e nem devo – dar isso de graça a quem quer que seja afinal, nem o relógio trabalha de graça: ou você tem de dar corda ou tem de trocar a pilha.

Então, se o cliente deseja um projeto personalizado de LD – sim, LD é personalização – vamos nos sentar e negociar os valores pois cobro pelo projeto de LD o mesmo que cobro pelo de Interiores/Ambientes. Algumas vezes o LD sai até mais caro dependendo do nível tecnológico.

Então quer dizer que se for um projeto de Interiores/Ambientes + LD sai por R$ 30.000,00?

SIM!

Negociamos a forma de pagamento.

Não posso deixar de citar a existência das RTs nessa negociação. Sempre deixo isso bem claro para meus clientes e explico direitinho como elas funcionam. Se o cliente não quer com RTs e resolve pagar o preço total, fazer o que? Obrigo os lojistas a darem os 10% de desconto extra para os clientes após o fechamento do preço. Mas se ele quer o valor com as RTs, dou um desconto de 10% no valor total e ele se compromete a fazer as compras apenas onde eu indicar.

Isso tem de ser muito bem negociado e você tem de ser mais esperto que os lojistas. Jamais fale do desconto das RTs antes do vendedor apresentar o valor final do orçamento. Afinal, dentro deste valor final ele já embutiu os 10% das RTs que vai te pagar. Fechado o valor e negociado os descontos do cliente, aí você entra e pede o abatimento dos 10% das suas RTs. A grande maioria das lojas não gosta disso, torce o nariz, te chama no canto para “conversar”, porém quem não gosta não trabalha eticamente com seus clientes logo, não merece vender. Pule para o próximo fornecedor então.

É complexo? Sim. Dá pra explicar melhor? Consegui expressar-me corretamente? Talvez sim talvez não. Na certa muitos só entenderão isso com a experiência profissional e o decorrer dos anos atuando no mercado.

Por hora é isso. ;-))

Picaretagem via internet

É, tentei não escrever sobre o assunto mas diante da barbárie que o mesmo representa para o mercado e, principalmente, para a classe de profissionais sérios, não posso deixar passar em branco.

Desculpem o palavreado chulo mas, que M* é essa?

É por isso que a nossa profissão não é respeitada e valorizada nesse país.

Dá para trabalhar via internet? SIM. Nunca neguei isso. Desde que se tenha um mínimo de ética profissional e seriedade.

No entanto, enquanto assistimos aos amigos designers gráficos sérios lutarem contra empresas como a WeDoLogos – que prega um estilo de concorrência criativa à preço de banana (ou seja: você faz o projeto da logoMARCA, envia pro site e o cliente escolhe entre os trabalhos enviados. Quem leva, leva por uma ninharia absurda) – descobri dias atrás um site que não faz a concorrência criativa, porém desrespeita completamente as regras básicas de mercado na área de Design de Interiores.

Já até tinha colocado esse assunto no grupo do blog lá no facebook mas vale a pena voltar ao mesmo por aqui para alertar o mercado e até mesmo os profissionais sobre isso. Depois quando eu escrevo que o mercado está sendo invadido por um bando de prostitutas(os) que só fazem denegrir a profissão, tem gente que vem me xingar nos comentários.

Pra piorar o tal site não apresenta absolutamente nada de currículo das “profiçonaiz” envolvidas. Só uns deseinhos (nem fotos reais são) com os nomes que deixam o site mais com cara de coisa relacionada a moda que a decoração ou interiores.

Mas vejam isso que marravilha:

Valores de projetos:

‎1 Ambiente: R$ 700,000
2 Ambientes: R$ 1.260,00
3 Ambientes: R$ 1.770,00
4 Ambientes: R$ 2.220,00
5 Ambientes: R$ 2.600,00

Achou péssimo isso? As fulanas sem rosto e sem CUrrículo ainda conseguem piorar tudo…

Pois ainda tem promoção de férias no site:

2 ambientes com 5% off – de R$ 1260,00 por R$ 1197,00
3 ambientes com 10% off – de R$ 1770,00 por R$ 1539,00
4 ambientes com 15% off – de R$ 2220,00 por R$ 1887,00
5 ambientes com 20% off – de R$ 2600,00 por R$ 2080,00

Quer mais ainda? Encontrei o anúncio desse absurdo virtual no site da revista Casa Claudia. Tudo com as bênçãos dessa que diz ser a maior e melhor revista da área. LA-MEN-TÁ-VEL!!!! Depois querem que eu acredite que não existe “jabá” para figurar lá dentro…

Me poupe!!!!

Depois que lancei a coisa no facebook, olhando o site hoje, percebi algumas alterações. Dentre elas uma seção de perguntas e respostas onde em uma diz que sim, são designers reais. Logo após, em outra pergunta sobre reforma da casa toda eles dizem que para isso é necessário que a pessoa entre em contato com um escritório de “arquitetura de interiores”.

Pera lá, se realmente fossem Designers e tivessem tido uma formação séria numa universidade também séria saberiam que um Designer de Interiores/Ambientes tem conhecimento e capacidade para fazer a reforma da casa toda (incluindo aqui cozinhas, banheiros, área de serviços que eles não fazem) portanto, não indicariam um escritório real de arquitetura e sim o de um designer. Como se não bastasse o desrespeito com os valores ainda fazem o desfavor de denegrir e menosprezar a classe profissional à qual “dizem” pertencer ao se apresentarem como “dezáiners”.

Outro detalhe é que de Design de Interiores os projetos não tem nada. É apenas o trabalho que qualquer pessoa com um mínimo de bom gosto numa cidade que tenha lojas decentes de móveis e acessórios consegue fazer.

Lançar móveis prontos sobre uma planta baixa de forma “bonitinha” ou “arrumadinha” qualquer um faz. Quero ver é entrar com projeto que exija produção, intervenções mais profundas no ambiente, personalização. Com a “vitrine de parceiros” o que me vem à cabeça é o seguinte: jogam o preço do projeto lá embaixo pois ganham nas RTs dos tais parceiros e, claro, isso eles não dizem no site.

Como se não bastasse isso, a Ro (Simples Decoração) me mostrou lá no face um outro site semelhante que apresenta um tal de “Coach Decorador” – que não faço a menor idéia do que venha a ser isso – e ainda apresenta um selo de certificação de um órgão que nunca ouvi falar em lugar algum.

Pera lá gente. Assim não tem como, assim não dá. Alguém me arranja uma bazuca???

Temos de matar um leão por dia no mercado para conscientizar o mesmo da importância e seriedade de nossa profissão para, do nada, me aperecer um bando “sem cara e sem currículo” e foder – desculpe a palavra mas não cabe outra – com todo o trabalho de anos de profissionais sérios??

Trabalhar via web é possível SIM. Mas por mais distante que esteja o cliente, ao menos uma visita real você tem de fazer se quer que seu projeto seja realmente executado e que tudo saia dentro do planejado. Isso o cliente tem de ter consciência.

Se quando estamos com uma obra, visitando-a diariamente, os parceiros (pedreiros, encanadores, eletricistas, etc) já conseguem aprontar poucas e boas, imagina se você nem der a cara na obra? O que vai virar a bagaça??? 90% dos parceiros não tem leitura de planta baixa e os clientes sempre buscam os preços mais baixos destes.

Sinceramente? Cliente honesto e mercado ético não tem como levar a sério isso.

E onde está a ABD que diz representar e trabalhar em nome dos profissionais para coibir esse tipo de absurdo?

Eu aderi à ABD à convite do Jéthero – que respeito muito – que está na diretoria atual. Mas já estou arrependido pois só estou pagando, pagando e pagando pra não receber absolutamente NADA em troca.

Não se vê qualquer ação séria e efetiva da ABD para arrumar o mercado, impor normas e tampouco buscar um projeto de regulamentação profissional sério – pois o que estão tentando colocar não vai melhorar em nada e sim manter tudo na mesma zona que está.

Desde que criei este blog venho cobrando da ABD que faça a correta distinação entre decorador, designer e arquiteto porém eles comodamente e covardemente não o fazem. Antes alegavam que por eu não ser associado não tinha direito a exigir nada. Agora, como associado pagante, simplesmente não recebo resposta alguma. O resultado dessa falta de atitude e peito da ABD de enfrentar os problemas de frente? Isso que acabo de relatar neste post é apenas um dos resultados – os outros vocês já conhecem bem e encontram facilmente aqui em meu blog. Isso já é o fundo do poço para os profissionais de Design de Interiores/Ambientes.

Se você é cliente e leu isso tudo, abra seus olhos e exija do seu profissional o seu currículo acadêmico. E se ele colocar valores muito baixos, desconfie da seriedade do mesmo.

Até onde podemos ser lesados por “parceiros”

Pois é, como um profissional reconhecido pelas associações de Lighting Design tenho meus clientes particulares mas também tenho clientes que aparecem através das parcerias profissionais.

Estas parcerias podem ocorrer através de outros profissionais ou de lojas. Nos dois casos podemos conseguir efetivar excelentes parcerias mas, se não tomarmos o devido cuidado, podemos entrar numa bela roubada.

Ano passado fiz uma parceria para um projeto grande e, por confiar numa suposta amizade recíproca e sincera, acabei me descuidando. Resultado: tomei no zóio!!!

Trabalhei feito doido para resolver o projeto de Lighting, ainda tive de fazer uma boa parte do projeto paisagístico e acertar questões de acessibilidade, etc. Tive meu nome retirado do contrato de forma canalha e covarde, não recebi um centavo pelo meu trabalho e ainda descubro que a pessoa ainda teve o disparate de chegar a tentar forçar o meu eletricista a assinar uma declaração onde dizia que eu tinha feito a especificação das lampadas, luminárias e equipamentos toda errada. Fato é que ele constou que a listagem de peças na tal declaração não era a mesma que eu tinha entregue em cópia para ele. Ou seja, para justificar o meu afastamento do projeto junto ao cliente e, claro, esta pessoa receber todas as RTs sozinha (deu uma boa bolada), vale até mesmo falsificar documentos.

Como se não bastasse, vejo lá o meu projeto de Lighting implantado.

Estou aguardando a implementação real do CAU para fazer nova denúncia uma vez que, feita junto ao CREA, a coisa está empacada não sei por que motivo.

Outro acontecimento estranho, no mínimo, foi o contato de um arquiteto “amigo” meu dias atrás me chamando para uma parceria num projeto. Ele queria de todo jeito que eu precificasse sem nem ao menos olhar a planta ou o layout para ter noção do que teria de ser feito. Passou pouquíssimos detalhes sobre o cliente e o projeto e queria o valor.

Forcei-o a me passar a planta e depois de horas de insistência consegui. Quando abri no CAD percebi que a “coisa pouca” que ele se referia media nada menos que 180m² de área social de um mega apartamento.

Fui puxando conversa e, papo vai papo vem, ele me confidenciou que já haviam sido adquiridos algumas coisas para este projeto como, por exemplo, um lustre Maria Antonieta, um aparador e uma cristaleira, comprados em um antiquario famoso e nada barato que tem aqui no Brasil.

Pensei com meus botões: “esse cliente tem dinheiro. Um apartamento desse tamanho e gastando rios de dinheiro em antiquarios, a tem sim. Então posso colocar o meu valor normal de projeto.

Lancei a proposta: R$ 11.700,00 pelo projeto de LD. Pagamento no padrão do mercado (50%, 20%, 30%).

Após alguns segundos de silêncio (acho que devia estar levantando do chão depois do tombo da cadeira) ele me solta que é um absurdo esse valor. Que ninguém em sã consciência pagaria esse valor por um projeto de iluminação. Que em lojas ele consegue este projeto de graça.

Rebati alegando que em lojas os projetos são feitos por vendedores ou por formados em arquitetura ou design que não são especialistas na área e que, antes de atender as necessidades dos clientes, buscam vender o que tem de melhor e mais caro. Também aleguei que, assim como qualquer profissional parceiro, eu tbm tenho uma profissão para a qual estudei – e estudo ainda – muito para conseguir me destacar e diferenciar no mercado.

Em meio à choradeira e  críticas ácidas e duras dele, descobri que ele tinha cobrado R$ 15.000,00 pelo projeto e ainda não tinha avisado aos clientes sobre as RTs.

Se ele pode cobrar os 15 paus pelo projeto de interiores, porque eu não posso cobrar o meu valor pelo projeto de LD e ainda, sem RTs???

Ofereci então a ele um desconto de 10% e acabei arredondando para R$ 10.000,00, porém as RTs da parte de iluminação seriam minhas.

Pronto, lá veio choradeira, decontentamento, agressões e mais um monte de blablabás novamente. Além de me menosprezarpois ele é arquiteto e eu designer – ainda tive de ouvir dele que ninguem sabe o que é esse tal de Lighting Design, que com todos os amigos dele que conversou ninguém sabe do que se trata. Que nem reconhecida entre os profissionais e juridicamente essa profissão é entre várias outras coisas.

Pior: ele me disse que é um absurdo eu exigir as RTs pois ele (tadinho) tem de sobreviver em Sampa e, sem elas, não consegue.

Como não se já está levando 15 paus só de projeto???? Pelos meus cálculos, só as RTs dos tres itens do antiquário dariam uma media de R$ 3.500,00 – isso sem contar as RTs de todo o resto que envolve o projeto.

Bati o pé e disse que essas eram as minhas condições. Ele ficou de conversar com o cliente e me responderia no dia seguinte.

Sumiu, nunca mais vi no MSN nem em rede social ou lugar algum.

Me faz falta este projeto? NÃO!

Me faz falta esta “parceria”? NÃO!


Também já levei tombos com parceiros de lojas que no primeiro contato oferecem uma coisa e depois é outra.

As lojas geralmente oferecem 10% de RT. Quando dou o desconto para o cliente é porque ele está ciente da existência delas e deixo isso mais que claro para os lojistas.

No entanto, é muito comum acabarmos levando rasteiras de lojistas. Vejam bem:

Estou com um cliente agora que, por sua situação financeira e também por sua amizade de longos anos, além do desconto especial que fiz, acrescentei – e expliquei muito bem o que era – sobre o acrescimo de 10% de desconto por causa das RTs.

Ele concordou e começamos a obra. Só comprar onde eu indicar pois são parceiros. O cliente está sim fazendo exatamente o que acordamos.

No entanto, em uma das lojas, num primeiro contato foi falado sobre as RTs de 10%. O cliente – e eu – escolhemos varios produtos e afetuamos a compra. Pouco mais de R$ 10.000,00 na primeira compra e mais um belo montante na segunda compra.

Passados alguns dias, recebo um telefonema desta loja dizendo que meus creditos já estavam disponíveis lá na loja. Fui ver e levei um susto.

A loja tem a pachorra de me oferecer 2% sobre as vendas EM MERCADORIAS a serem retiradas nela mesma como RT!!!

Disse que não tinha sido aquele o acordo mas de nada adiantou. Ou eu aceito os R$ 355,00 (perdendo mais de R$ 1.500,00) ou nao poderiam fazer nada.

“Levei no zóio” de novo!!!

Porém, nesta loja não levo mais cliente algum.

Não sou eu quem perdeu um parceiro e sim eles.

No segundo exemplo, não sou eu quem perdeu um parceiro e sim aquele arquiteto que me desrespeitou como profissional e como amigo.

No primeiro caso, não fui eu quem perdeu uma parceria, e sim aquela pessoa que perdeu o pouco de respeito que raras pessoas ainda nutriam por ela. Todos me conhecem e sabem o trairagem que foi feita comigo. Outros profissionais, fornecedores, amigos em comum. Todos nos conhecem e conseguiram perceber claramente de onde estava vindo a verdade, e quem estava mentindo descaradamente.

Isso tudo me afeta? NÃO!

Isso tudo serve apenas para que eu tenha mais cuidado e preste bastante atenção em possíveis “parcerias” profissionais.

Serve também para que eu tenha cada dia mais gana de preservar a dignidade de minha profissão e o respeito entre os profissionais.

Por isso também defendo a urgência da Regulamentação Profissional tanto para Design de Interiores/Ambientes como para Lighting Design.

Fica o alerta e a dica a vocês ok??

My Reader 6/11/2010

Bom, vou começar uma série de posts nesse estilo para compartilhar com vocês um pouco sobre o que ando lendo pela web, aqui em meu reader.

Vamos lá então?

1 – No Arch Daily, dois posts me chamaram a atenção hoje:

primeiro o TED Prize-winner JR com suas impressionantes instalações fotográficas levando beleza e, em muitos casos, humor para as ruas das cidades seja em muros, fachadas, áreas degradadas ou qualquer outro ponto. Belíssimo trabalho, merecedor do prêmio.

Depois o Tourist Stop Hardanger Fjord do Huus Og Heim Architecture. Um belíssimo exemplo de projeto para o que chamamos por aqui de Ponto de Apoio Turístico. Mas infelizmente, assim como o nome feio que recebe por aqui no Brasil, os projetos são geralmente ridículos de feios. Quem sabe um dia cheguaremos a esse nivel de projeto.

2 – Do excelente blog de minha amiga Marcia Nassrallah, um excelente post sobre casa acessível. Um post muito bem elaborado sobre como devemos pensar os projetos que realizamos. Não somente visando o hoje mas também pensando e prevendo questões futuras que poderão tornar os ambientes inviáveis. São as casas para uma vida inteira, alguns cuidados que devem ser considerados na hora de projetar.

3 – No Kuriositas um post com mais uma bela apresentação em vídeo sobre mapeamento arquitetural, trabalho de Lighting Design e Arte digital: The LightLine of Gotham.

4 – No deliciosamente machista Papo de Homem, uma cobertura excelente sobre o Salão do Automóvel, em especial um post para aqueles que assim como eu, adoram os carrões.

5 – Do sempre excelente e muito crítico Urbanismo: ainda mais negligências, um post fora do contexto do blog falando sobre as problemáticas RTs. De forma simples e curta a Mary conseguiu levantar alguns pontos fundamentais e suas consequências possíveis. O que fazer?

#pausa… sinceramente não sei pq continuo seguindo alguns blogs…. #pensandoalto

5 – Já no Born Rich – que sepois que eu li o livro A Linguagem das Coisas, passei a vê-lo como um desserviço ao Design pela futilidade de muitas coisas ali – continuo acompanhando pelos excelentes projetos de interiores de embarcações e aviões, como este aqui, realizado pela empresa International Jet Interiors de New York.

6 – No sempre excelente Brainstorm9, confesso que ri muito com esse vídeo sobre o Serra e a Dilma pós-eleições.

7 – Do ChairBlog, uma verdadeira biblioteca sobre este móvel, um post apresentando o trabalho incrível do Sebastian Brajkovic. São peças muito inusitadas que brincam com a sensação motion gerando cadeiras e poltronas muito interessantes. A impressão é de uma foto tirada movimentando o objeto, ou esticando-o, deformando-o. Não sei se são confortáveis, ergonômicas ou seguras, mas que são lindas são!

8 –  Já o Contemporist, apresenta um grupo que trabalha com paisagens urbanas: o Urban Landscape Group. Vale a pena a visita ao site deles pois tem uns projetos incríveis para áreas públicas e algumas intervenções e/ou soluções bastante interessantes como a apresentada no post para iluminação de uma via pública.

Por hoje está bom né pessoal?

Depois volto com mais news e infos pra vocês sobre o que ta rolando pelo meu reader.

Abs e um excelente final de semana!

Mais do mesmo… RTs.

Recebi a newslwtter da ABD essa semana (maio/2010) e esta tem em sua matéria de capa um tema muito importante:

“Ser assertivo para evitar possíveis conflitos”.

Creio que nem precisa reforçar o que vem a ser este “ser assertivo”, mas vamos lá. Temos de ser assertivos com o cliente, os fornecedores e os profissionais envolvidos na obra.

Ser assertivo pressupõe uma relação transparente entre as partes. Essa transparência nos obriga a firmar uma relação ética.

Se a transparência e a ética não estiverem presentes nessas relações a chance da nau virar são grandes.

Porém, na newsletter há um erro grave dentro deste assunto: quando fala sobre as RTs ainda na matéria de capa. Segundo a matéria:

“Uma das áreas de maior conflito é o recolhimento de Reserva Técnica pelo profissional. Quando o cliente ‘descobre’ o fato no meio da relação existe um sentimento de decepção. O assunto é polêmico, mas a posição da ABD é clara. O associado deve comentar o assunto antecipadamente com o cliente e deixar claro que isso não onera as compras e não interfere na indicação de fornecedores, prevalecendo sempre a decisão do cliente.” (NEWSLETTER, ABD. Ano 4, Maio 2010 – n° 14. Pag 1)

Fala sério ABD… vocês realmente acreditam que as coisas funcionam assim? Pois bem, vou explicar exatamente como as coisas funcionam nesta área:

1 – raríssimos são os profissionais que comentam com o cliente sobre a existência da RT. Tanto que temos muitos “profissionais” que estão vivendo com as RTs, não cobrando projeto e assim, prostituindo cada dia mais nosso mercado;

2 – “Comentar” não pois este termo é superficial demais. O profissional tem a obrigação de detalhar sobre como funciona esta prática para o cliente. O cliente tem de estar ciente da existência desta prática para poder optar e o profissional tem de ser ético ao oferecer dois orçamentos para o cliente: um com RT (valor aproximado das mesmas descontado do valor de projeto) e outro sem RT onde o valor do projeto é cobrado integralmente e o profissional tem de negociar as RTs como desconto para o cliente. Se não for assim, não há ética.

3 – Como “não onera as compras”? Em qualquer loja que você chegar e disser que quer a sua RT como desconto para o cliente isso é feito. Logo, este valor está sim embutido no custo do produto. Assim, o cliente está pagando duas vezes o profissional (no caso de contrato celebrado com valor integral de projeto livre de RTs). Paga o projeto e paga a “comissão” das lojas. Creio que falta leitura para a ABD sobre este assunto. Comecem por este meu texto aqui no blog: “O Paradoxo das RT’s.”

4 – Ainda sobre onerar o preço, já fiz testes sobre como o pagamento das RTs interfere no valor final. Fui a várias lojas fazer a cotação de diversos produtos. Com os orçamentos nas mãos pedi a uma amiga que passasse uma semana depois nas mesmas lojas, orçando os mesmos produtos dizendo estar sem acompanhamento profissional pois ela sabia exatamente o que precisava. Para minha não surpresa o resultado foi uma diferença de valores absurda: todas vieram com o valor das RTs descontadas já no preço acrescidas de um desconto extra para pagamento a vista. As diferenças ficaram na casa dos 20 a 30%. Então, como não onera?

5 – Também interfere sim na escolha dos fornecedores. Hoje é só ficar um pouco nas lojas observando os “profissionais” negociando com os vendedores, gerentes ou proprietários das lojas. O que mais se ouve são frases do tipo: “Ah, mas a loja tal me dá 15%, esses seus 10% eu não quero. Vou levar meu cliente na outra…” e coisas nessa linha. Isso independe de qualidade dos produtos, o que vale é a comissão mais alta. E ainda tem “profissionais” que tentam impor o percentual a receber. Já vi isso acontecendo diversas vezes.

6 – Por falar em percentuais hoje encontramos lojas pagando absurdos 20% de RT. Dois pontos aqui: A) se isso não onerar o valor final para o cliente…. B) Ainda existem lojas que diferenciam o valor pago pela RT para arquitetos e para Designers.  Geralmente o Designer recebe metade do que um arquiteto. É justo isso?

7 – As questões orçamentárias também são uma área bastante complicada pois o que vemos no mercado são “profissionais” oferecendo aos clientes somente aqueles orçamentos onde as RTs são mais gordas deixando de lado outros fornecedores que tem um produto igual por um preço mais baixo e com RTs menores. Mas aí o “profissional” pode cair numa armadilha como bem coloca o texto da Newsletter: “Depois o cliente descobre que pode obter melhores preços diretamente com o fornecedor, o que acaba reduzindo a importância da ação do profissional“.

Assim, creio que esta diretoria deveria tomar uma postura mais séria e dura com relação a este ponto fundamental da relação profissional x cliente e não ficar somente “achando que é assim”. Não se esqueçam que este texto me soa exatamente como outros da ABD sobre a prática profissional e as dificuldades que os Designers tem no mercado onde denuncias vazias, fiscalizações de um órgão que não tem nada a ver com a nossa profissão atravancavam a nossa prática profissional e as nossas relações com os clientes. A ABD não acreditava nas coisas absurdas que eu e outros blogueiros da área denunciavamos. Porém,  teve de acontecer com uma diretora recentemente para a ABD se mexer e ver que ninguém aqui está vendo “homenzinhos verdes”. São problemas reais, do mundo real, do cotidiano profissional dos Designers.

Esta prática das RTs da forma que vem sendo levada hoje em dia, é o câncer da profissão de arquitetura, design, engenharia e tantas outras. Ou os “profissionais” passam a agir eticamente ou cada dia mais corremos o risco de ter nosso mercado cada dia mais prostituído.

* Coloquei a palavra profissionais entre aspas algumas vezes para dirigir-me àqueles que são os responsáveis pela prostituição do mercado. Estes nem de profissionais com letra minúscula deveriam ser chamados pois se a RT é o câncer da profissão, estes são a metástase.