Sensação, percepção e emoção no espaço projetado

Bom pessoal, entre as novidades deste ano aqui no blog está a participação de colaboradores escolhidos a dedo para vocês. Começo então com este excelente artigo da mestre Vivian.

Sensação, percepção e emoção no espaço projetado

Profa. Me. Vivian Fetzner Ritter*

Certas características da contemporaneidade alteraram profundamente os modos de organização social, a vida pessoal e emocional dos indivíduos e os seus espaços. Entre essas características está a redução do espaço vital e o fenômeno do confinamento funcional.

Os arquitetos e designers de interiores já consideram essas características projetando balizados pela minimização das dimensões dos espaços arquitetônicos e buscando por estratégias para que esse espaço seja otimizado e percebido como um espaço de dimensões satisfatórias.

É importante lançar um olhar sobre a percepção como uma estratégia a ser utilizada nos projetos de arquitetura e design de interiores. Os conhecimentos sobre percepção, sensação e emoção devem ser entendidos como vitais no projeto, uma vez que não é recomendável separar a subjetividade da objetividade de um projeto. Essas alterações são percebidas com rigor na iluminação, antes se comprava lâmpadas, hoje se compra efeitos de luz.

A subjetividade está por trás da objetividade do projeto. Por vezes, as qualidades não residem propriamente no objeto ou na estrutura da edificação, mas na percepção do usuário do espaço.

Freqüentar várias vezes um restaurante onde a comida não é tão boa, mas o espaço é agradável pode ser explicado pela percepção positiva e a relação afetiva desenvolvida pelos usuários em relação à estrutura física e sensorial desse restaurante. Tratam-se de aspectos como sons, aromas, texturas, cores, conforto térmico e outros atributos que dependem das capacidades perceptivas dos indivíduos. Os freqüentadores desse restaurante são fundamentais para a interpretação do discurso desse espaço.

 A experiência sensível é o início de todo o conhecimento. Por isso, a sensação é a primeira das fases do processo perceptivo, seguida da atenção, percepção, emoção e memória.

Segundo o escritor inglês John Berger (1999) “a maneira como vemos as coisas é afetada pelo que sabemos ou pelo que acreditamos”. Uma loja de vestuário feminino utiliza o que chamamos de design sonoro e escolhe uma música “agradável” para os clientes, da mesma forma, elege uma essência “agradável” para ser associada à identidade da loja, entre outros recursos. Apesar de haver a mesma condição ambiental, e uma certa semelhança de impressões de percepção, cada sujeito que entrar nessa loja a perceberá de maneira diferente, assim, o mesmo espaço arquitetônico será visto de diferentes formas e interpretado de maneira particular.

A percepção é conduzida pela experiência sensorial, conhecemos as coisas mediadas pela nossa experiência. Olhar, cheirar, ouvir, tocar e saborear é um ato de escolha, elegemos o que nos chama mais atenção para ver. É preciso muito mais do que olhar para compreender um espaço e a emoção que ele enseja, é preciso ver com os ouvidos, com o nariz, com o estômago, com a pele. Ver aquilo que os olhos não vêem. Ver com os olhos da mente é sentir aquilo que se olha.

Recebemos muitos estímulos contínua e simultaneamente. Por isso, para que haja percepção é preciso dar significado a esses estímulos. Não conseguimos dar sentido a tudo que ouvimos, a tudo que olhamos, a tudo que sentimos. Normalmente, aquilo que nos chama mais a atenção é mais facilmente percebido.

 A porta de entrada de um estímulo são os canais sensoriais, os cinco sentidos do organismo humano e a forma como organizo e interpreto esses estímulos é o que chamamos de percepção. O produto de um estímulo é o prazer ou o desprazer que dão origem às emoções, explicando, assim, a agradabilidade referida ao restaurante e à loja. A emoção foi o resultado da percepção, ou seja, da interpretação do aroma e da música. Ambos, nesse caso, contribuíram para que o espaço fosse interpretado e percebido positivamente, ou melhor, prazerosamente pelos clientes.

Cabe ressaltar que toda informação carregada de emoção é mais facilmente armazenada na memória e pode influenciar na interpretação dos dados percebidos.  A percepção é a resposta à organização das informações obtidas pelos sentidos de modo que se possa ouvir e interpretar o discurso (a fala) do espaço arquitetônico.

Ao fazer referência a discurso, portanto, atentamos para a forma como as palavras, conjuntos de sentenças e práticas relacionadas funcionam como discurso e apontamos a importância do discurso do espaço que, mesmo não utilizando palavras, exerce efeito de poder, de persuasão, de enlevo e de subjetivação. Pode-se, assim, considerar que um espaço pode proferir um discurso através da cor das paredes, da altura do pé direito, dos únicos e poucos respingos de iluminação que adentram por frestas um espaço e, por essas características físicas, constituem efeito de poder para torná-lo assustador ou interessante.

Se o discurso tem efeito de verdade e de poder, pode-se pensar esse discurso emitido pelo espaço de forma “não verbal”. O espaço ordenado é um discurso não verbal, que exerce poder sobre os usuários ou freqüentadores; é o poder de um discurso, que pode conter verdade e engano. O discurso do espaço tem o poder de modificar comportamentos e atuar na subjetividade dos sujeitos. Sendo assim, os discursos do espaço são percebidos, absorvidos e entendidos sem o uso da escrita ou de fala, por isso, o discurso proferido pelo espaço “diz” para os sujeitos de forma “não dita” ou “dita” de forma “não verbal” ou “não verbalizada” ou “não visualizada”.

Assim, o sujeito vai sendo moldado, disciplinado e incitado a comportar-se de acordo com as características e finalidades de um espaço, que condicionam silenciosamente a percepção. Todos os receptores sensoriais participam invisivelmente desse discurso do espaço arquitetônico.

Os espaços são concebidos para atender às necessidades do sujeito, ou é o sujeito que é reinventado a partir da forma e das regras de comportamento pretendidas por aquele espaço, em seu discurso disciplinador? O discurso do espaço é uma força que replica muitas vezes sujeitos expostos ao poder e à persuasão daquele espaço.

Modalidades discursivas são proferidas pelos espaços, inclusive as hedonistas, que incitam o sujeito a desejar “metros quadrados” que discursem “verdades” sobre o que é ser “vip”, por exemplo, e como portar-se enquanto se está sendo “um sujeito vip”. Dessa forma, os sujeitos respondem mimeticamente aos distintos discursos de um espaço. As diferentes percepções de um espaço condicionam e constituem as diversas maneiras de ser sujeito naquele ambiente, ou seja, respondendo adequadamente aos discursos do espaço.    O sujeito realiza exercícios de expressão para compor suas variáveis de apresentação e comportamento, as quais são chanceladas como “verdadeiras” pelo discurso do espaço para aquele que está no interior do espaço, ou seja, um espaço projetado não se apresenta livre de conseqüências para o sujeito.

Portanto, é através da percepção que um indivíduo organiza e interpreta as suas impressões sensoriais para atribuir significado e valor afetivo ao seu meio, fazendo uso desses saberes podemos transformar espaços existentes em espaços preferidos, comportamentos que respondem as pretensões daquele espaço, um espaço projetado que projeta comportamentos.

Por estas razões, a arquitetura e o design de interiores, além de solucionar demandas funcionais, devem projetar sensações que sejam percebidas emocionalmente pelos usuários, pois são parte decisiva do efeito e do sucesso de um projeto arquitetônico.

Vivian Ritter

* Vivian Fetzner Ritter – Pesquisadora e Doutoranda em Filosofia com a tese “Discurso do espaço arquitetônico e seus modos de subjetivação” (UNISINOS-RS). Mestre em Educação e Estudos Culturais (ULBRA-RS). Especialista em Iluminação e Design (OSWALDO CRUZ-SP). Graduada em Design de Interiores (ULBRA-RS). Graduanda em Direito. Acumula ainda, extensões em Design Estratégico: o projeto da Inovação (UNISINOS-RS); Método Etnográfico como ferramenta de pesquisa para o Design (UNISINOS-RS) e Docência do Ensino Superior (IPOG-GO). Atualmente é Coordenadora do MBA em Construção Sustentável e Edificação Eficiente e professora de pós – graduação junto ao IPOG, lecionando, nos cursos Master em Arquitetura, Iluminação e Design de Interiores, MBA em Construção Sustentável e Edificação Eficiente, Gestão da Produção Sustentável e, ainda, Design de Interiores, respectivamente, as disciplinas “Sustentabilidade e Eficiência Energética”, “Arquitetura de Interiores Corporativa”, “Projeto de Arquitetura de Interiores Corporativa”, ”Percepção Visual”, “Design Corporativo”, “Educação Ambiental e práticas responsáveis: ecodesign, redesing e bioconstrução.

Abaixo o Splash!

Este ia ser o tema de uma de minhas colunas futuras na revista Lume Arquitetura. Mas diante de alguns acontecimentos recentes resolvi cortá-lo da revista para dar espaço a um outro texto mais sério e contundente. Portanto segue aqui no blog o texto sobre o uso do “Splash” na iluminação.

Para quem não sabe, o termo “splash” é utilizado pelos designers gráficos para designar um elemento gráfico que os clientes deles (especialmente os comerciantes) adoram colocar em suas peças:

É isso mesmo… esse espirro que geralmente vem com inscrições como:

– Imperdível!

– Oferta!

– Grátis!

– Promoção!

Dentre outras palavras ou conjunto de palavras que sempre “puxam o olhar e a atenção do observador”. Não podemos negar que realmente chama, mas isso deve-se a vários fatores dentre os quais podemos destacar:

– busca do cliente pelo menor preço;

– aos olhos mais “esteticamente treinados”, pela bizarrice desse elemento.

Sim, é bizarro, feio, emporcalha e estraga o material. Em Design, um elemento mal planejado ou pensado pode estragar todo o projeto. É o caso do “splash”.

Mas o que isso tem a ver com iluminação? Simples, explico: costumo usar este termo para indicar aquelas aplicações de projetores que lavam as fachadas. Verdinho, lilás, azul, vermelho enfim, seja a cor que for deveriam proibir este tipo de iluminação.

Não, “splash” é bastante diferente do “wall-wash”. Splash estraga enquanto o wall-wash valoriza.

Mais que modismo, isso virou uma praga nas cidades. De empresas privadas a espaços públicos, temos assistido ao aumento vertiginoso deste tipo de aplicação. O resultado disso? O enfeiamento das urbes e o descaso com o meio ambiente. E, para piorar a situação, o “projeto” e instalação disso geralmente foi feito por algum eletricista. Mas tem também muito profissional de engenharia, arquitetura e design implantando este lixo pelas cidades.

Observem atentamente a imagem acima. Onde foram parar os relevos e detalhes arquitetônicos desta construção? Perceberam como a construção ficou “chapada”, esmagada pela luz que não valoriza sua volumetria?

Outro detalhe a destacar é o desperdício de energia elétrica e a poluição luminosa que este tipo de iluminação provoca. É só olhar a potência das lâmpadas normalmente utilizadas nos refletores e projetores  que promovem este efeito. Observe também a quantidade de luz vazando para fora do espaço iluminado e afetando o entorno.

Devemos considerar também o risco de acidentes aos usuários afinal, pela alta potência destas lâmpadas, a temperatura das luminárias é sempre muito alta.

Mais um péssimo exemplo do emprego do “splash”. Porém nesta mesma foto percebe-se um elemento interessante sobre o uso desta técnica: observem a parte mais colorida (azul/lilás). Aqui temos um excelente exemplo do que diferencia o “splash” do “wall-wash”: o posicionamento das luminárias e o direcionamento da luz.

Perceberam como a parte alta da edificação está chapada, lisa? E perceberam como na parte baixa conseguimos – mesmo à distância – perceber melhor seus relevos e formas?

Geralmente o “splash” vem de iluminação aérea (aquela instalada em postes pegando a construção de frente) mas não somente assim. É óbvio que qualquer elemento com volume perderá a sua percepção ao olhar pois as sombras desaparecerão. Já no caso de luminárias instaladas lateralmente ou no chão, o excesso de luz pode distorcer as formas.

É bem diferente deste caso:

Conseguem perceber como, apesar da explosão de luzes e cores, conseguimos perceber a volumetria e texturas das árvores? Isso é a técnica do wall-wash aplicada ao paisagismo.

Nesta outra imagem, conseguem perceber a textura do reboco da parede apesar da quantidade de cores? Isso é wall-wash.

Não há a menor necessidade de fazer uma construção explodir em luz para que ele fique perceptível ou bela à noite afinal, a sombra faz parte da iluminação e o olhar necessita dela para perceber as formas.

Assim, proponho com urgência o movimento ABAIXO O SPLASH!

Como adultos e crianças percepcionam as cores…

Parece que a percepção das cores é feita de forma diferente nos adultos e nas crianças.

Estudos sugerem que as crianças processam as cores, de uma forma pura, numa parte pré-linguística do cérebro enquanto que, os adultos, o fazem nos centros da linguagem do cérebro. Isto significa que, nos adultos, as cores são processadas sob a influência dos conceitos previamente formados sobre elas.

Uma equipa de investigadores testou o fenómeno do processamento das cores pedindo, a adultos e a crianças pequenas, para se concentrarem num circulo colorido, ao qual eram expostos de forma breve. Por vezes, o estimulo surgia no seu campo visual direito (transmitido ao hemisfério cerebral esquerdo, onde é processada a linguagem) e, noutras vezes, surgia no campo visual esquerdo. Quando lhes foi pedido para identificaram um alvo colorido, exibido sobre um fundo de cor da mesma categoria, as crianças tiveram maior facilidade em faze-lo quando o alvo surgia no seu campo visual esquerdo. O inverso aconteceu com os adultos. Como era expectável, a detecção dos estímulos foi mais rápida quando estavam em oposição cores de categorias diferentes.

Estes resultados sugerem que, devido à vivência, o processamento puro das cores dá lugar a um processo mediado pela linguagem. Pouco se sabe sobre como ocorre esta mudança e também persistem dúvidas sobre se as cores percepcionadas, por adultos e crianças, são diferentes.

É uma descoberta que pode ter bastante interesse para os designers que são confrontados, constantemente, com a tarefa de escolher cores para os seus projectos…
Ler artigo original:
A. Franklin, A.; Drivonikou, G. V., Bevis, L., Davies, I. R. L. , Kay. P. & Regier, T. (2007). Categorical perception of color is lateralized to the right hemisphere in infants, but to the left hemisphere in adults. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America.

SUGADO do sempre excelente: O Design e a Ergonomia

Tendências: muita calma nessa hora…

É bastante comum ver pessoas antenadas e correndo atrás das tendências lançadas nos maiores eventos mundiais, seja qual for o segmento: moda, decoração, novos produtos, dentre tantos outros. Enfim, sempre temos algo de novo, praticamente todos os dias.

Mas será que isso tudo tem realmente algo a ver com você usuário, seu estilo, suas necessidades, seus sonhos e expectativas?

Muitos clientes chegam até os profissionais com recortes de revistas (ou até mesmo várias delas inteiras) dizendo: é exatamente isso o que eu quero. Isso não só compromete negativamente a vida do profissional especializado como pode complicar a sua também.

Causa estranheza quando algum profissional de Design de Interiores/Ambientes, que passou por uma formação acadêmica bastante profunda e específica tanto na área técnica quanto na criativa, se submete a simplesmente “chupar” (copiar) um projeto seja lá de onde for. Isso tolhe a capacidade criativa do profissional. Ele tem habilidades e conhecimentos para muito mais que o simples copiar algo. E, com esta prática, fatalmente ele não vai conseguir responder à altura das suas expectativas pessoais.

Mas tal situação não se reduz à relação profissional – cliente. Este profissional poderá se tornar alvo de sérios problemas judiciais por plágio, cópia, etc. E não será você – cliente – quem irá responder por esta ruptura com o necessário comportamento ético, mas o profissional, na maior parte das vezes, pressionado pelo cliente.

Deixando esta questão profissional de lado, vamos ao que realmente interessa: você, caro cliente.

Tendências são boas? Sim e não. Vejamos por que:

Segundo o dicionário Michaelis: “tendência – ten.dên.cia – sf (lat tendentia) 1 Disposição natural e instintiva; pendor, propensão, inclinação, vocação.(…) 3 Força que determina o movimento de um objeto. (…)”

As tendências são criadas para mostrar conceitos, idéias, aplicação para novos e velhos materiais. Mostrar o que vem pela frente. E só isso. Ninguém vive de ou com tendências, salvo aqueles que as ditam. E, todos nós sabemos que qualquer coisa dita ou imposta, não presta.

Vale lembrar também que hoje determinada coisa é tendência, amanhã já não mais será, pois já foi superada por alguma outra novidade, outra regra, desbotaram um pouco a cor que ontem era um “must” e assim por diante.

É o que podemos perceber claramente na Bienal de Arquitetura de Veneza. Diferenças enormes entre projetos nos países – que levam em consideração suas características (climáticas, geográficas, etc) particulares. Até mesmo aqueles que tratam do mesmo tema tem diferenças enormes. Mas também percebemos isso dentro dos próprios países. Um material excelente para o sul não é bom na mesma medida para o norte/nordeste. Assim como a Bienal, as tendências devem servir simplesmente para nos fazer pensar sobre o que vemos, queremos e desejamos.

Na Semana de Arte Moderna (1922) podemos perceber claramente como isso deve ser tratado: devemos receber essas informações estrangeiras e passa-las por um filtro. No Manifesto Antropofágico, isso é feito com a arte, literatura, etc. Traziam o que tinha de melhor lá fora que, uma vez “digerido”, era assimilado e transformado à realidade cultural brasileira. Isso nem de longe quer dizer que devemos nos tornar xenofóbicos, mas sim que devemos, acima de tudo, manter viva a nossa cultura, limpa e isenta de qualquer subserviência à padrões culturais estrangeiros.

As revistas estão certas? Sim e não.

As revistas são as responsáveis por nos apresentar essas tendências, não obstante o fato de muitas dessas tendências, enquanto produtos culturais, estarem submetidas à lógica do mercado e impostas artificialmente segundo interesses comerciais. Entretanto, para além desta observação crítica, temos de levar em consideração muitas coisas dentro de uma revista. Não basta olharmos uma foto de um ambiente, um objeto ou móvel. Temos de observar o contexto geral no qual aquilo está inserido ou pode vir a ser inserido.

Um living “dos sonhos” qualquer um quer ter, porém aquela da revista pode não ser aquela que você realmente necessite por um simples detalhe: ela não foi projetada para você e sim para uma outra pessoa (família), que tem hábitos, gostos, rotinas e muitas outras variáveis diferentes das tuas. Ou então aquele móvel belíssimo, pode não adaptar-se corretamente à você pelo simples fato de que aqui no Brasil não temos uma homogeneidade corporal – na verdade estes padrões já não mais existem na maioria dos países. Ergonomicamente falando, aquela cadeira pode ser perfeita pra mim, mas para você pode não ser. Você pode ser mais alto ou mais baixo que eu, ter a mesma altura, porém ter pernas mais curtas. Enfim, são muitas coisas que precisam ser levadas em consideração na hora de projetar e montar o ambiente.

Falando diretamente de produtos, muitas outras variáveis têm de ser levados em consideração também. Aquele novo revestimento para pisos pode não ser adequado às suas necessidades pelo simples fato de haver crianças ou idosos em sua residência. A escada de vidro causa desconforto, desequilíbrio, insegurança. A fechadura pode não ser a ideal. A automação pode lhe trazer sérios transtornos se você não for uma pessoa com um mínimo de habilidade com aparelhos eletrônicos. Isso e muito mais na parte mais técnica.

Indo para a área psicológica, poderemos cair em problemas como cores que não batem com a tua personalidade, texturas não agradáveis ao seu tato, sensação de não pertencer ao espaço ambientado, desânimo, entre outros. Isso tudo porque você não levou em consideração as suas características pessoais, suas emoções, seus gostos, seu psicológico. Preferiu correr atrás das tendências, daquilo que está na moda. E não do que te agrada, do que tem “a tua cara”, o teu jeito.

Temos de pensar seriamente que um projeto de Design de Interiores não deve se submeter aos modismos sempre passageiros. O projeto de Design de Interiores de sua casa permanece para além dos modismos e você terá de conviver com ele por algum tempo, ou por muito tempo. Importa discernir e fazer escolhas sobre os aspectos que dizem respeito ao seu estilo.  Isso refere-se a sua identidade pessoal.

Portanto, o uso de revistas como referência e a percepção das tendências apresenta-se como positivo desde que você, cliente, coloque-se aberto para uma conversa e troca de idéias com o profissional sobre as escolhas que você fez para melhor adequá-las ao seu uso às suas necessidades. Torna-se fundamental a presença do profissional para oferecer uma orientação certa sobre o melhor produto, atento a seu estilo, seus sonhos e às demandas cotidianas de sua vida pessoal e/ou familiar e, ao mesmo tempo, atento às tendências que se apresentam.

Artigo escrito para a Revista Mary in Foco.

Qualidade num projeto de LD

Preparando materiais (textos, artigos, etc) para os alunos do curso que estou ministrando em Maringá sobre LD, no meio de um deles encontrei um tópico que fala sobre questões de qualidade em um projeto de LD.

Trata-se do artigo e material que o prof. Luis Antônio Greno Barbosa usa nos cursos sobre LD na Universidade Estácio de Sá falando sobre LD em Museus, Galerias de arte e similares.

Ele baseou-se no IESNA Lighting Handbook (9ª ed) que coloca os procedimentos recomendáveis para projeto que estão baseados no conceito de qualidade da iluminação.

Segundo Peter Boyce (Lighting Research Center), a qualidade de um projeto de iluminação está dividida em três categorias:

Iluminação ruim: quando o sistema de iluminação sofre defeitos de qualidade;

Iluminação  imparcial: quando o sistema de iluminação não tem defeitos de qualidade;

Iluminação excelente: quando o sistema de iluminação está tecnicamente correto, sem defeitos, e estimula o sentidos do observador, atingindo o estado da arte.

Para atingirmos estes graus de qualidade, temos de observar alguns critérios que foram utilizados para a elaboração das Diretrizes Avançadas para Iluminação do IESNA:

Distribuição da Luz:

      – Iluminação de tarefa e do ambiente;

      – Integração com a iluminação natural;

      – Poluição luminosa e luz abusiva.

Considerações sobre o ambiente e local de trabalho:

      – Flexibilidade;

      – Aparência do local e luminárias;

      – Aparência da cor;

      – Luminância das superfícies do local;

      – Tremulação da luz;

      – Ofuscamento direto;

      – Ofuscamento refletido.

Iluminação sobre pessoas e objetos:

      – Modelagem de feições e objetos;

      – Características das superfícies;

      – Pontos de destaque e interesse;

      – Cintilamento.

Posto isto, passemo a destrinchar e detalhar estes critérios para as Diretrizes para a Qualidade da Iluminação:

1- Aparência do Local e das luminárias:

      – Estilos de luminárias de acordo com o estilo do projeto de interiores/arquitetura;

      – Luminárias embutidas ou aparentes;

      – Sistemas de iluminação auxiliam na formação da imagem do espaço (casual, luxuosa, industrial, modernista).

2- Aparência e contraste de cor:

      – Temperatura de cor (cromaticidade);

      – Índice de Reprodução d Cor (IRC);

      – Curva de Kruithof (amenidades);

      – Atualmente preferência por temperatura de cor entre 3000K e 4500K;

     – Influência das latitudes (geográficas) na escolha da cor;

      – Influência da TC na percepção do conforto térmico;

      – Integração com a luz natural;

      – IRC – qualidade da cor

      – 100% = luz natural fonte padrão CIE;

      – Influência dos filmes e tratamentos nos vidros da janelas:

      – Classes de temperatura de cor:

         – 2500-3000 – morna

         – 2950-3500 – neutra

         – 3500-4100 – fria

         – 4100-5000 – muito fria

         – 5000-7500 – gélida

3- Controle e integração com a luz natural:

      – Conservação de energia;

      – Controle automatizado da luz artificial;

      – Acendimento individualizado;

      – Compatibilidade entre a cor das fontes de luz.

4- Ofuscamento direto:

      – Visão direta da fonte de luz – evitar visão direta a fonte de luz dentro de m ângulo entre 0° e 40° com a horizontal;

      – Brilho exagerado da fonte de luz – fontes de pequenas dimensões;

      – Curvas de limites de ofuscamentos.

5- Efeitos de tremulação e estroboscópico:

      – Frequencias mais altas evitam o efeito estroboscópico;

      – Persistência das fluorescência com o uso de modernos pós fluorescentes;

      – Baixa voltagem provoca tremulação.

6- Distribuição da luz nas superfícies:

      – Erros da montagem do ambiente pela iluminação;

      – Luminárias embutidas próximas às paredes criam “conchas” de luz e espaços de sombra;

      – Luzes dirigidas para o teto, com menos de 60cm de dist^ncia para o teto, causam manchas e explosões de luz;;

      – Desequilíbrio da iluminancia de teto, parede e piso (grandes variações);

      – Desalinhamento entre a malha das luminárias no teto e o alinhamento desta com as paredes ou variaçõs na modulação das luminárias;

      – Aproximação em excesso das luminárias da parede.

7 – Uniformidade da iluminação:

      – Distribuição da luz no local da tarefa;

      – Estabelecer a iluminância efetiva entre 1/3 e 2/3 do total desejado, completando com a iluminação geral do ambiente.

8- Luminância das superfícies do local:

      – Aproximação da luminância das paredes e do teto da luminância do local da tarefa;

      – A ilumiância entre as superfícies do ambiente e a iluminância do fundo da tarfa (papel branco) deve ser entre 1/10 e 10 do nivel da tarefa e preferencialmente ser inferior a ela;

      – Evitar grandes contrastes de luminância, utilizando cores com reflexões aproximadas;

      – Luz difusa sobre superfícies claras e redução na utilização de superfícies escuras.

9- Modelagem dos objetos e feições:

      – As sombras e luzes de destaque provocam uma melhor percepção de objetos tridimensionais, evidenciando profundidade, forma e textura;

      – A luz do sol acentua a modelagem e a luz do céu difuso (nublado) iguala a iluminação, reduzindo a modelagem;

      – Uma mistura entre luz direciona e luz indireta é interessante, e a luz direta pode corresponder a no mínimo 20-25% do total.

10- Pontos de destaque:

      – A vista é atraída para pontos mais claros (iluminados) de um ambiente, com variações superiores a 10 vezes das superfícies próximas.

11- Reflexões de ofuscamentos:

      – Ofuscamentos desabilitadores e reflexões celatórias estão associads a superfícies brilhantes, que proporcionam reflexões especulares (papéis brilhantes,  monitores de vídeos, canetas, vernizes);

      – Iluminação indireta cria uma solução uniforme e difusa, um boa solução para prevenir ofuscamentos desabilitadores em locais de trabalho;

      – Observar os angulos críticos de visão, evitando reflexo direto da própria luminária;

      – Atenção especial para os monitores de vídeo.

12- Sombras:

      – Sombras podem dificultar a visibilidade da tarefa, se algm detalhe estiver dentro da área sem luz;

      – Sombras realçam a percepção de objetos tridimensionais;

      – Iluminação localizada reduz as sombras no local de tarefa.

13- Tarefa / Percepção visual:

      – Relação entre o ângulo de maior sensibilidade do campo de visão (cone de 60°) do observador, a tarefa e a luminária.

14- Brilhância / Reflexos propositais:

      – Está relacionado ao princípio dos pontos de interesse, explorando aqui o brilho das superficies.

15- Características da superfície:

      – Destaque das caracteristicas (textura, cor, relevos) da uperfície.

16-Flexibilidade e controle do sistema:

      – Possibilidade de reposicionar as luminárias em função da modificação do posicionamento do mobiliário ou do uso do local;

      – Luz ligada quando necessária, luz desligada quando não necessária;

      – Versatilidade na ligação elétrica e mecânica das luminárias.

17- Iluminância horizontal:

      – Medida da iluminância sobre os planos de horizontal;

      – Verificação das normas e níveis sugeridos.

18- Iluminância vertical:

      – Medição da iluminância sobre os planos verticais;

      -Verificação das normas e níveis sugeridos.

Muitos podem vir a dizer depois disso tudo que com esta formatação os projetos de iluminação acabarão por ficarem engessados pois estas diretrizes eliminam muitos efeitos possíveis. Porém não é bem por aí.

Esta diretrizes apontam os erros mais comuns cometidos por aqueles que se colocam a iluminar um ambiente e apontam elementos que muitas vezes passam despercebidos. Porém é aí que entra o trabalho criativo do LD onde mantendo os efeitos e fazendo uso destas observações todas, consiga atingir este grau de qualidade em seus projetos.

Para que isto aconteça, de nada adianta o LD ser um exímio calculista, conhecer todas as normas e lidar primorosamente com softwares específicos. Ele tem sim de conhecer as caracteristicas da luz “in loco”. Tem de manipula-la, brincar com ela sea em casa, o trabalho, na rua, no carro. É só através desta manipulação que ele terá conhecimento de como a luz comporta-se e como os diversos equipamentos disponíveis no mercado podem nos auxiliar no trabalho com os projetos.

Dias atrás comentei com os alunos do curso de LD em Maringá sobre a importância disso. Se você tiver espaço (sala, quarto, oficina) e dispor de dinheiro para investir em equipamentos (luminárias, lâmpadas, etc) será de grande importância estes exercícios na hura de projetar e criar. Caso não haja disponibilidade você pode começar brincando com lanternas, papel celofane e outros materiais e objetos que lhe permitam moldar e perceber a luz.

De qualquer forma, um outro exercício fundamental é a observação dos espaços onde você vai. Neste caso, não basta apenas sentir a iluminação (que é imporante sim) mas antes de tudo, a observação dos fachos (desenhos), instalações (como, onde, distâncias), equipamentos, lampadas e acessórios que foram utilizados no projeto observado.

Com este simples exercício a sua biblioteca de informações vai crescendo gradativamente e os leques de possibilidades para seus projetos também. Isso sem contar que neste mesmo exercício de observação é onde conseguimos detectar os erros e falhas projetuais (ofuscamentos, instalações imperfeitas, fiação aparente, desalinhamento, mistura de cores e lâmpadas diferentes, etc).

Lembre-se: você trabalha com a luz, portanto da próxima vez que entrar num ambiente olhe e perceba-a. Depois pode partir para a observação dos móveis, etc.