Engraçado o uso do termo oba-oba no título deste texto? A meu ver, creio que ele tem muito a dizer a respeito do mercado de Lighting Designers brasileiro. Por este termo designo tudo aquilo que é feito valendo-se do jeitinho brasileiro que algumas pessoas usam para burlar leis, aproveitar-se de situações.
Para trabalhar com Lighting Design, não basta apenas um curso superior de arquitetura, engenharia ou design. Sabemos que os alunos saem desses cursos despreparados e crus em algumas áreas por causa do todo que engloba um projeto. O que vemos na academia não passa de um esboço em disciplinas estanques do que é trabalhar com iluminação. Grande parte dos formandos desses cursos receberam seus canudos sem saber nominar as lâmpadas, quiçá usálas corretamente. Culpa do desinteresse do aluno? De uma instituição universitária particular irresponsável ou de uma pública negligente?
Esses egressos, sem qualquer especialização, vão engrossando o coro do oba-oba, e só fazem repetir conceitos e discursos aprendidos na academia ou então, dissimuladamente, apoderam-se de fragmentos de discursos alheios lançando ao vento frases de efeito. Forjam uma aparente “expertise” para vender um produto que desconhecem. Isso, de certo modo, depõe contra a seriedade profissional e formação especializada de autênticos Lighting Designers.
Temos um outro grupo, que podemos denominar como práticos, formado por vendedores e instaladores. Dentre esses, alguns, pela seriedade de sua atuação profissional, tornaram-se “experts” no assunto iluminação. Conhecem profundamente o todo que compreende este universo. São profissionais capazes de elaborar projetos complexos e, por vezes, os vemos resolvendo projetos de profissionais formados nas lojas.
Por fim, temos o grupo dos especialistas, aqueles que aliaram sua experiência profissional ao necessário aprendizado teórico-prático em cursos especializados sérios. Mas existem alguns que, mesmo com estes cursos, saem sem aprender ao menos o básico. São aqueles que pensam na especialização apenas como um livro de receitas prontas. Culpa de quem? Deles ou de uma incapacidade decorrente de uma formação generalista realizada em instituições universitárias? De ambos?
Por outro lado, temos de reconhecer aqueles (poucos) que enfrentam seriamente a especialização, incansáveis na pesquisa diária e conscientes da necessidade da formação contínua, não apenas para conhecer melhor, mas compreender os porquês, entender os conceitos e suas inter-relações, conhecer profundamente os equipamentos e sistemas e como eles se constituem e se articulam para atender às demandas dos projetos.
No entanto, esses profissionais acabam encontrando inúmeras dificuldades em estabilizar-se no mercado por causa dos erros cometidos por outros. Culpa de quem isso tudo?
Culpa nossa, Lighting Designers. Culpa das associações profissionais que dizem nos representar e que na verdade só promovem ações inócuas e fragmentadoras, geralmente,visando defender apenas os interesses de sua diretoria. Com toda certeza, culpa também do descaso dos parlamentares reféns de lobbies corporativistas.
Enquanto não tivermos a nossa profissão devidamente regulamentada através de um projeto sério, feito não apenas por associações, mas por um processo democrático, transparente e público, que envolva todos os profissionais, continuaremos com este quadro.
E você acha que não tem nada a ver com isso?
*Coluna “Luz e Design em foco” da revista Lume Arquitetura ed n° 54.
Oi Paulo! Ando um pouco sumida, este último mês foi um pouco complicado em termos de tempo para ler, digerir e responder às importantes questões que levantas.
Mas devagarinho, vou retomando este tempo que tanto gosto e creio necessário ao crescimento de nossas atividades profissionais,
Então, vamos ao primeiro comentário: parabéns pelo texto, excelente reflexão. Precisamos buscar o constante aprimoramento dos profissionais tanto na arquitetura, no design de interiores, na iluminação.
A “classificação” escrita por vezes pode parecer dura, pois na prática, encontramos profissionais que apresentam nuances de mais do que uma dessas “classes” apresentadas.. Pode-se dizer que apenas a última categoria que infelizmente preciso concordar é uma minoria, é realmente a que é mais fiel à descrição dada, no sentido de se situar realmente dentro de uma classe única.
Complemento, grifando que esses profissionais que participam da última e pequena classe descrita no texto fazem todo o esforço intelectual, pensante, congruente e analítico, com um foco muito direcionado: qualificar a vida de todos os envolvidos no desenvolvimento de suas atividades. Foco no homem, e em qualificar a vida humana. Por essa razão, além de estudar as questões técnicas, conceituais e suas inter-relações, é também absolutamente comprometido com o estudo das necessidades humanas e mantém o foco em reunir todo o seu conhecimento e competências para atendê-las.
Informar o mercado como fazes é louvável e necessário. A tendência é que o amadorismo vai desaparecer.. Até para ser cliente daqui a pouco, há que se ter conhecimento. O cliente bem informado é sempre melhor do que um desinformado – normalmente este último não valoriza os serviços de qualidade – que escolha os das outras classes.. rsrsrs
Creio que os profissionais da última classe, se realmente persistentes, se não se venderem, estes serão os que efetivamente permanecerão no mercado. A tendência dos demais é afundar ou se alimentar de migalhas… Porque afinal de contas.. quem é competente, se estabelece. Quem não é..
Um abraço!
Arq. Lise Noebauer