E tudo isso é mera reserva de mercado

Revista Lume Arquitetura
Coluna Luz e Design em Foco
Ed. n° 68 – 2014
“E tudo isso é mera reserva de mercado”
By Paulo Oliveira

68[…] caso o PL 4.692/2012 siga tramitando sem que tenhamos uma forte ação em defesa do campo de atuação da Arquitetura de Interiores, a atividade que mantém escritórios de inúmeros profissionais[…].”

Este trecho destacado faz parte de um documento que encontrei na internet chamado “Manifestação sobre o PL 1.391/2011”, de autoria da Associação de Arquitetos de Interiores do Brasil – Seccional RS (AAI Brasil/RS).

Para quem não sabe, o citado PL é de autoria do deputado Penna e trata da regulamentação profissional do Design. Todo o documento versa sobre como esta entidade, o CAU, o CEAU e outras entidades ligadas diretamente à Arquitetura vêm atuando nos bastidores para atrapalhar a regulamentação do Design (produto, gráfico, moda, etc.) e impedir – chegando ao absurdo de propor a extinção – a profissão de Design de Interiores.

Causa náuseas e nojo a qualquer pessoa com o mínimo de bom senso e ética a leitura deste documento. Tudo o que há de mais podre no meio corporativo e politiqueiro encontra-se ali relatado. O que já foi feito, o que está sendo feito e o que será feito. Percebe-se que a AsBAI, apesar de não ter sido citada no documento, está seguindo os mesmos passos.

Não vou escrever aqui sobre este documento como prova criminal, pois este está nas mãos de meus advogados que, de pronto, encontraram quatro crimes gravíssimos que somadas as penas dão, em média, 30 anos de cadeia para os responsáveis. Vou aproveitar e seguir a linha da citação no início desta coluna.

O que esta frase destacada representa senão uma tentativa descarada e absurda de reserva de mercado para aqueles profissionais que saem da academia sem saber fazer Arquitetura? Aliás, a Arquitetura brasileira faz muito tempo que se encontra esvaziada e sem rumo. Daí a constante necessidade de atacar outras áreas, numa novela que começou anos atrás com os engenheiros. E sempre os culpados são os outros. Eles sempre são os santos e vítimas.

Vejam bem, se os arquitetos soubessem fazer Arquitetura, não ficariam brigando por Interiores, Lighting, Moda, Gráfico, Produto e não encheriam os cursos de outras áreas com péssimos professores. Se os arquitetos trabalhassem para valorizar a Arquitetura – e FAZER Arquitetura – não precisariam ficar buscando válvulas de escape na tentativa de garantir mercados para ganhar o seu pão de cada dia e conseguir pagar suas contas mensais.

Se a arquitetura brasileira fosse realmente Arquitetura, a área seria respeitada e necessária naturalmente. Não seriam necessárias leis lobistas exigindo isso ou aquilo e resoluções típicas de uma ditadura. O Mercado e o Governo a reconheceriam como uma área estratégica e necessária para o desenvolvimento social, econômico e cultural do país.

Na contramão, preferem distorcer fundamentos e princípios básicos da Arquitetura para tirar proveito, sem ao menos ter capacidade intelectual para finalizar com solidez a argumentação, ficando tudo sem sentido claro.

Só o arquiteto é capaz de iluminar a Arquitetura”.

Por quê? Lá vem um monte de besteirol, sem qualquer lastro de legitimidade acadêmica e prática, como já ficou claro nas páginas desta revista na Edição n° 64.

Alegam que os designers não são regulamentados, mas escondem que eles mesmos estão atrapalhando, barrando, agindo nos bastidores para impedir a regulamentação.

Mas esse documento deixa claro que, além de perdida, a arquitetura brasileira é adepta dos golpes mais vis que um ser humano pode utilizar: o crime.

 

IES e Design: THE

Num post da Lígia Fascioni no facebook uma seguidora dela estava triste pois desistiu do curso. O detalhe é que ela descobriu que não sabe desenhar – já DENTRO DO CURSO.

Respondi à ela dizendo que o problema poderia ser um destes dois:

1 – a falta de um THE (Teste de Habilidade Específica) no vestibular que verificaria este problema através de provas de conhecimentos específicos como desenho, cálculos e outros;

2 – a péssima formação (ou escolha, ou capacidade, ou, ou, ou) dos professores que se mostraram incapazes de ajuda-la nesse sentido por causa de sua falta de didática, metodologia, comprometimento com a EDUCAÇÃO.

A Mônica Fuchshuber respondeu no mesmo momento comentando sobre a ausência dos THEs nos vestibulares.

Primeiro vamos analisar o segundo item:

É visível o despreparo (didático e metodológico) de grande parte dos professores das Instituições de Ensino Superior (IES), principalmente dentro das particulares. Nestas o que vale é a “amizade” e não o mérito. Se você é amiguinho do coordenador do curso ou do reitor (dono) está dentro sem ter de passar por uma banca. Os que tem mérito ficam de fora. Pra piorar a situação vemos inúmeros professores dentro das particulares que são profissionais frustrados, que não deram certo dentro de suas áreas profissionais e acabam entrando para a “educassão” primeiramente como bico e depois acabam ficando lá, sem aprender a ministrar aulas, a preparar aulas, a pesquisar ou seja, continuam os mesmos porqueiras de quando entraram. Ou aqueles que ficam por lá apenas como “bico”, para complementar a sua renda. Ou seja: não levam a Educação à sério.

Tive vários professores assim nas particulares por onde passei: completos ignorantes na disciplina que estavam ministrando.

Já nas IES públicas é bem diferente: para entrar o postulante a professor tem de passar por uma banca examinadora que, além do currículo (títulos), você tem de prestar provas, ministrar uma aula teste e ainda ser entrevistado por esta banca.

Ok, podem ocorrer coleguismos, mas são raros uma vez que se o outro candidato tiver um currículo melhor e for melhor nas outras partes da banca, não há como reprova-lo em favorecimento do amiguinho.

Mas temos de lembrar também que isso não garante a excelência profissional deste professor. Tem muita gente que manda super bem nestas bancas e depois, por causa da estabilidade do emprego público, viram vagabundos plenos e acabam prejudicando o nome da IES e o curso. Grande parte deste grupo são ligados a sindicatos e partidos de esquerda. São sempre os primeiros a apoiar greves, são aqueles que sempre dizem que “não são pagos para fazer mais que a chamada” ou ainda que “o que eu recebo não paga o tempo que gasto preparando aulas” e assim por diante. Sempre tem uma “desculpa na ponta da língua” para justificar a sua safadeza.

Porém, a grande maioria dos professores das IES públicas são mais que competentes e dominam a didática e a metodologia.

Já sobre o primeiro item citado posso afirmar categoricamente: os Testes de Habilidades Específicas (THE) são mais que necessários para os cursos de Design – de TODAS as áreas.

Como pode uma pessoa querer ser Designer se não sabe desenhar? Não sabe ao menos esboçar através de rabiscos as suas idéias? Não sabe ou menos o básico sobre o que é o Design e os conhecimentos envolvidos e necessários para atuar profissionalmente?

Por isso percebemos que as turmas (nas IES particulares) começam com 60/80/100 alunos e formam-se com uma média de 20 – quando chega nisso. A ausência deste tipo de prova no vestibular é a responsável pelo sentimento de frustração de acadêmicos como a Isabella, que gerou essa breve discussão através do facebook da Lígia.

É triste vermos alunos frustrados e desistindo de seus cursos por descobrirem lá dentro que não são capazes (não sabem e nem conseguem aprender a desenhar) assumindo uma culpa que não é deles e sim dos péssimos professores e da IES que não aplica o THE – claro, o idiota do aluno já injetou uma boa quantidade de dinheiro até descobrir a “sua” incompetência e incapacidade. AH AH AH.

IES que não aplicam os THEs nos vestibulares devem ser olhadas não com um, mas com os dois pés atras pelos vestibulandos.

Devo ressaltar ainda (novamente) que tem muita IES particular por aí que só cobra uma redação no vestibular. E olha que se o vestibulando escrever um único parágrafo (mal escrito, com péssima gramática e ortografia) já está valendo. Imaginem então o níve da “tchurma” que você terá de conviver durante o curso.

Nesse ponto concordo plenamente com a Monica quando ela colocou que “Por isso é que as públicas continuam sendo as melhores.

Então fica aí a dica:

VESTIBULANDOS:

Não é porque você é descolado, sociável, tem na cabeça zilhões de idéias fervilhando, seus olhos brilham quando vêem algo sobre Design entre tantas outras desculpas corriqueiras que você serve para ser um Designer. Se quer fazer Design procure então IES sérias, que cobram um vestibular completo (provas de conhecimentos gerais + THE) pois se você já começa sendo preguiçoso em não esforçar-se e preparar-se para enfrentar um vestibular completo, dificilmente será um profissional competente e reconhecido.

Design não é “modismo”, não é uma coisa meramente “legal”. É sim uma profissão séria, que exigem muito esforço e empenho pessoal, muita pesquisa, técnica e visão.

IES:

Não sejam dinheiristas em excesso.

Apliquem o THE e uma prova de vestibular normal (redação + conhecimentos gerais).Não sejam safadas ao ponto de abusar da recomendação do MEC (outro safado e culpado por isso) onde diz que a IES é livre para elaborar o seu vestibular sendo exigência mínima a cobrança de uma redação.

TODAS as pessoas de bem sabem perfeitamente que esta recomendação surgiu através de lobbie, de corrupção feita nos bastidores envolvendo tanto os gestores do MEC como os representantes das IES particulares dinheiristas.

Não façam valer os coleguismos na contratação dos professores*, usem critérios de mérito.

Não sejam meros acolhedores de alunos mal formados no ensino básico, passando a mão na cabeça da incompetência dos governos municipais, estaduais e federal.

Assim vocês estarão reforçando a imagem positiva de vocês perante a sociedade.

Do contrário, vocês estão sendo co-responsáveis pelo emburrecimento da população, pela formação de péssimos profissionais, pela falta de senso crítico, pela ausência de uma sociedade sadia e pensante.

Ou vocês acreditam mesmo que a grande maioria dos seus alunos escolheram vocês pela “excelência” do nome da IES? Pela qualidade de seus cursos?

Não mesmo!!!

Se nunca ouviram falar disso lá vai o nome da escolha: PPPPapai Pagou Passou – ou simplesmente PPPagou Passou. Ah, tem também a alcunha de “UniEsquina” que muitos usam para referir-se à estas IES irresponsáveis.

Por sinal este detalhe deve ser repensado também na pressão que os coordenadores de cursos fazem sobre os professores que não podem reprovar alunos que não aparecem nas aulas, não fazem provas e não entregam trabalhos – mas pagam a mensalidade né…

Dá para pensar num Brasil decente e parar de serem coniventes com esse país que está afundando dia a dia?

E tenham consciência de que vocês (IES e professores coleguinhas) são co-responsáveis por isso.

#ProntoFalei

* talvez as porcarias de vestibulares aplicados por muitas IES seja para facilitar a vida dos “profeçores” coleguinhas dentro das salas de aulas né??? (pensando, refletindo, acrescentando).