Mais um excelente artigo da Mestre Viviam para vocês:
CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL E EDIFICAÇÃO EFICIENTE: UMA BREVE INVESTIGAÇÃO SOBRE PREÇO E VALOR
RITTER, Vivian Fetzner (1)
As construções sustentáveis e edificações eficientes, onde se inserem, por exemplo, o controle do uso do solo, a aplicação eficiente dos recursos hídricos, a eficiência energética, a gestão dos resíduos sólidos, a preocupação com o ciclo de vida das edificações, com as energias renováveis, a iluminação sustentável e suas aplicações nas edificações, tem relação direta com a busca da eficiência e a conseqüente minimização do consumo de energia, e tais aspectos, antes de um modismo, estão efetivamente relacionados com o futuro da arquitetura, da construção civil e por que não dizer, com o futuro do planeta.
Atualmente entendemos como mera opção as questões vinculadas à sustentabilidade e às possíveis alternativas de construções sustentáveis, algo que não poderá perdurar por muito tempo. Num futuro bem próximo (2), seremos obrigados a projetar as edificações pautadas na sustentabilidade e eficiência energética. Assim, cogitando, como exemplo, o fim anunciado das lâmpadas incandescentes, outras leis deverão legitimar mudanças urgentes e necessárias, apontando para uma necessária alteração de paradigma.
Imediatamente conscientes da maneira pouco sustentável que a maioria orienta suas condutas no âmbito pessoal e profissional, vislumbramos a virada. Virada esta a nos alertar da necessidade de efetivamente mudar nossas atitudes perante o meio ambiente e todos serão chamados a fazer a sua parte. É preciso – e é possível – começar logo, através de atitudes sustentáveis no escritório, na rua, no trabalho, nas obras, nas nossas casas, nos nossos espaços. Uma mudança de concepção. Os erros do passado precisam ser sepultados. Muitos profissionais se vêem desestimulados e acreditam que a sustentabilidade somente poderia ser adotada nas construções totalmente sustentáveis, as auto- sustentáveis. Um equívoco. Uma construção mais sustentável, onde o “mais” é o fio condutor do projeto. Articular, pensar e repensar quais as lacunas latentes e passíveis de intervenção através da engenharia e da arquitetura capazes de tornar determinada construção mais sustentável e energeticamente mais eficiente.
Especificar este “mais” sustentável fará a diferença.
São infindáveis as alternativas que se apresentam, desde a utilização de placas fotovoltaicas nas construções, as válvulas de descarga com fluxo duplo, o reuso da água, a utilização consciente da iluminação natural e as alternativas para diminuir o consumo de energia através dos aparelhos de ar condicionado, cogitar a ventilação cruzada, atentar para o acionamento e desligamento das lâmpadas fluorescentes preservando, assim, sua vida útil. Enfim, definitivamente, há uma multiplicidade de práticas possíveis de serem adotadas pelos profissionais e por todos os quais desfrutam das benesses da natureza, que deveriam ser respeitadas.
Em razão disso, a atividade dos arquitetos, dos engenheiros e dos designers de interiores é de significativa importância na busca de alternativas concretas para alterar a perspectiva sombria derivada da falta de conscientização no sentido da adoção de boas práticas direcionadas à sustentabilidade. Não basta mais o cidadão ter a preocupação de separar seus resíduos domésticos, algo que ainda não foi adotado pela maioria. É necessário, cada vez mais, que todos se envolvam na busca de soluções para a matriz energética, com a construção de edificações sustentáveis e eficientes vinculadas à preservação do meio ambiente, onde o consumo dos bens legados pela natureza necessita de preservação imediata e efetiva.
O futuro irá depender, sem dúvida, das escolhas que fizermos, pois “[…] enquanto houver a presença da família humana no planeta Terra. Em todo o tempo que durarem as relações homem-natureza, esta questão estará presente, embora num processo contínuo de mudanças e adaptações” (3).
O crescimento da escassez dos recursos encontrados no meio ambiente (4) requer o desenvolvimento de novas técnicas para a sua administração, com o objetivo de evitar o fim dos recursos disponíveis. Nesse sentido, o aumento da escassez exige um crescimento econômico vinculado ao uso ponderado de recurso não havendo dúvida de que o homem, desde os primórdios da humanidade, está destinado ao crescimento econômico (5).
Trata-se de adotar, com consciência, uma visão multidisciplinar que, apesar de alguma complexidade, integra diversas áreas do conhecimento, a fim de reeditar a diversidade que compõe o próprio mundo onde são indispensáveis conhecimentos de arquitetura, das engenharias, do design, dentre outras.
O crescimento da escassez requer o desenvolvimento de novas técnicas para a sua administração, com o objetivo de evitar o fim dos recursos disponíveis. Nesse sentido, o aumento da carência exige um crescimento econômico vinculado ao uso ponderado de recurso não havendo dúvida de que o homem está submetido ao desenvolvimento econômico. Por isso, na discussão de preço e valor, que envolve, por exemplo, a escolha de uma lâmpada incandescente ou uma lâmpada led, não afasta a logicidade da opção pela segunda, seja por deixar de contribuir com o aquecimento global, proporcionar uma economia de energia de aproximadamente 70% a 80% em relação ao consumo de uma lâmpada incandescente, pela manutenção, por sua durabilidade, insumos estes inerentes ao conceito de sustentabilidade. Assim, o preço a ser pago por uma construção pautada pela sustentabilidade e eficiência energética, a curto e médio prazo será muito mais econômica, eficiente e adequada à preservação do meio ambiente.
Partindo de tais premissas, concluímos ser fundamental a adoção de componentes teóricos e práticos possíveis de fomentar alternativas destinadas à otimização na utilização dos recursos naturais, com respeito senão absoluto pelo meio ambiente, ao menos próximo daquilo que as demais gerações, num futuro não muito distante, irão agradecer. Não se pode olvidar que a natureza, como se pode perceber das inúmeras catástrofes, decidiu cobrar um preço que, talvez, por não termos dado o devido valor ao meio ambiente, nunca estejamos preparados para pagar. Quem sabe não seja esta a diferença entre “preço” e “valor” que nunca soubemos administrar.
(1) Doutoranda em Filosofia, Mestrado em Educação, Especialização em Iluminação e Design de Interiores, graduação em Design de Interiores, Professora de Pós-Graduação perante o IPOG, Coordenadora do MBA em Construção Sustentável e Edificação Eficiente pelo IPOG, graduanda em Direito. (2) Por exemplo, o Programa Brasileiro de Etiquetagem em Edificações (PBE Edifica), que avalia as construções (residenciais, comerciais e prédios públicos) quanto à eficiência energética, como já acontece com os eletrodomésticos da linha branca, e já possui parceria com o Inmetro e com a Adene, empresa de Portugal, exemplo no referente à eficiência energética, hoje facultativa, num futuro próximo irá se tornar uma obrigatoriedade. (3) COIMBRA. José de Ávila Aguiar. In Curso de Gestão Ambiental: Arlindo Philippi Jr., Marcelo de Andrade Romero, Gilda Collet Bruna editores – Barueri, SP: Manole, 2004, p. 527. (4) Por meio ambiente se considera um conjunto de unidades ecológicas que funcionam como um sistema natural, e incluem toda a vegetação, animais, microorganismos, solo, rochas, atmosfera e fenômenos naturais que podem ocorrer em seus limites. Meio ambiente também compreende recursos e fenômenos físicos como ar, água, e clima, assim como energia, radiação, descarga elétrica, e magnetismo. Para as Nações Unidas, meio ambiente é o conjunto de componentes físicos, químicos, biológicos e sociais capazes de causar efeitos diretos ou indiretos, em um prazo curto ou longo, sobre os seres vivos e as atividades humanas. (5) PINHEIRO PEDRO, Antonio Fernando e all. Direito Ambiental Aplicado, obra citada, p. 619.