Você tem medo de quê? Você tem fome de quê?

Revista Lume Arquitetura
Coluna Luz e Design em Foco
Ed. n° 67 – 2014
“Você tem medo de quê? Você tem fome de quê?”
By Paulo Oliveira

67É perfeita essa frase tirada da música “Comida”, da banda Titãs, para representar o momento atual com relação ao mercado de LD aqui no Brasil. Explico: Chip Israel esteve aqui no início de fevereiro palestrando em um evento da LIGHTFAIR International, que foi realizado em São Paulo. Após a palestra, fui conversar com ele sobre a Resolução N° 51 do CAU, com relação a quem pode e quem não pode trabalhar com iluminação arquitetônica. Ele me falou que isso está acontecendo em alguns poucos lugares do mundo também. Pouquíssimos!

Questionado então sobre qual a melhor maneira – e mais justa – de resolver essa problemática, ele comentou sobre uma possível saída: a aplicação de uma prova, pela IALD, com a finalidade de atestar os conhecimentos de quem quiser trabalhar com iluminação, outorgando, assim, a chancela deste importante órgão internacional aos aprovados. Isso não é oficial ainda, mas ele acredita ser o melhor caminho. Eu também!

No entanto, percebe-se que aqui no Brasil há uma forte resistência à aplicação desta – ou de qualquer outra – prova, especialmente pelo pessoal ligado à arquitetura. Já li diversas vezes que as “autoridades nacionais” em iluminação arquitetônica se posicionam fortemente contra esta ideia. Qual o medo? Quais os motivos dessa negativa?

Bom, primeiro temos que lembrar a tentativa de legislar em benefício próprio do CAU com a Resolução Nº 51. Por esta, qualquer recém-formado em arquitetura já encontra-se apto a ser um “arquiteto de iluminação”.

Mas não podemos nos esquecer de que todos os presidentes da AsBAI – incluindo o atual – e diversos outros profissionais de arquitetura entrevistados por esta revista são categóricos em afirmar que os cursos não se aprofundam o suficiente em iluminação e que em muitos esta área é diluída dentro da disciplina conforto. Há até entrevistas onde eles afirmam que precisam retrabalhar as matrizes dos cursos de arquitetura para aumentar a carga horária, visando cobrir esta falha para que os arquitetos aprendam realmente como iluminar a sua própria arquitetura.

Oras, se é necessário isso tudo por que então a 51 vai contra a realidade da academia e do mercado? Perguntem a qualquer vendedor de lojas de iluminação o quão corretas são as especificações de lâmpadas e luminárias feitas por um arquiteto comum – não especializado em iluminação. É um show de erros crassos!

É óbvio então que o pessoal que comanda a arquitetura nacional iria se posicionar fortemente contra a aplicação desta ou de qualquer outra prova: a maioria absoluta dos egressos seria reprovada. Muitos com anos de mercado também. E a vergonha seria imensa.

Mas essa movimentação tem a ver simplesmente com a reserva de mercado (que é crime), deixando-o livre e fechado apenas para eles, mesmo aqueles que não sabem diferenciar uma lâmpada incandescente de uma halógena. É puro desespero por um mercado altamente rentável. Não tem absolutamente nada de questões técnicas ou de conhecimentos maiores que os habilite mais que qualquer outro profissional que teve iluminação na academia.

É a fome desesperada e desenfreada. Desesperada pela garantia de exclusividade de um mercado em grande expansão e seus consequentes lucros. Desenfreada por egos exacerbados e arrogantes que mancham cada dia mais a arquitetura brasileira. Sim, pois até agora de argumento real não houve nada em defesa dos arquitetos além das suposições e especulações.

E eles continuam com o bordão: “A gente não quer só dinheiro, a gente quer inteiro e não pela metade…

pelo meu reader…..

Bom, vamos a mais um post sobre o que encontrei de interessante pelo meu reader.

Para iniciar, quero compartilhar este texto “Diploma para quê?” da Ligia Fascioni. Ele não é novo e não estava na atualização de meu reader, mas fuçando no blog dela acabei encontrando-o e vale o comentário e citação neste post. Não o copiei e colei aqui pois não pedi permissão para ela, então fica aí o link. Posso copiar e colar aqui na íntegra os que eu gostar Ligia????

Ela tem muito material interessante em seu site e em seu blog que vale a pena vocês conhecer.

Hoje que percebi que ainda não tinha colocado o link do blog dela aqui no meu blogroll. Agora já está devidamente arrumada esta minha falha ok Ligia? Mais que merecida a citação de seu trabalho aqui.

Bom, com relação ao texto é aquilo que eu sempre escrevo: um diploma só – ou vários de vários níveis como ela diz no texto – não valem absolutamente nada se você não coloca todos estes conhecimentos em prática no dia a dia. Nem as revistas, nem as IES, nem eu e nem os outros blogs mentem quando dizem que a atualização e especialização profissional são importantíssimas em nossa área, porém,

“Não estão. É que, teoricamente, se você tem vários diplomas, teve acesso a vários conjuntos de informações específicas. Isso aumenta muito as suas chances de recombiná-las e criar algo que, de fato, tenha valor para o mercado. Que faça diferença na vida das pessoas. Que seja desejável a ponto de alguém poder pagar mais por isso. Quanto mais cursos, mais combustível e mais matéria prima para converter em excelência. Quem sabe aproveitar isso, ganha mais, claro.”

Leiam este texto, ele esclarece muitas coisas em poucas linhas ok?

E parabéns Lígia por mais este brilhante texto!!!

Encontrei também este vídeo no Youtube mostrando a importância do Design na nossa vida, brincando com dois mundos paralelos:

1 – com a presença do Design em todas as suas áreas

2 – sem a presença do Design

Simples, bonito e vai direto ao ponto. Foi feito, pelo que entendi, por um grupo de estudantes de Design da UFRGS.

Parabéns pela iniciativa e pelo resultado pessoal!!!

Por falar em resultados e aplicação dos conhecimentos adiquiridos em busca de algo novo, diferente, até que ponto você tem aplicado seus conhecimentos em seus projetos?

Você é daqueles que prefere especificar mobiliário de lojas ou é do time da criação personalizando seus projetos?

Pois é, tenho percebido uma grande quantidade de profissionais da área de Design de Interiores/Ambientes acomodando-se dentro de lojas de planejados e buscando as terríveis RTs.

E onde você enfia todo o conhecimento restante que adiquiriu em seu curso? Pra que então você investiu tempo e dinheiro na sua formação? Especificar modulados onde o vendedor é quem vai fazer o projeto qualquer um faz, até minha vizinha de 5 anos. Isso não faz o Designer pelo contrário, depõe contra a nossa profissão. Transformam o Designer num mero decorador ou pior, atestam o que falam e escrevem por aí que esta área é coisa de madame desocupada.

Isso inclusive reforça a visão tosca que alguns arquitetos* disseminam aos quatro cantos contra a nossa profissão sendo inclusive um dos “boatos” de que o CAU – recém aprovado e em fase de implantação – deve restringir a área exclusivamente para arquitetos. Estão usando erradamente a denominação “arquitetura de interiores” como sinônimo de Design de Interiores – o que é um erro gravíssimo e demonstra total e absoluto desconhecimento sobre as duas coisas – uma vez que muitos profissionais formados em Design de Interiores/Ambientes estão manchando a profissão com atitudes umbiguistas e equivocadas abrindo então esta brecha.

Gente, com as matrizes curriculares dos cursos de Design de Interiores/Ambientes é inadmissível que esse tipo de atitude aconteça. Buscar soluções exclusivas, criativas, inovadoras e que atendam principalmente à personalidade do cliente é fundamental. E não é numa loja de planejados ou de móveis prontos que isso vai acontecer. Não mesmo!

Nem é tão difícil assim chegar a uma solução com identidade própria. Veja este exemplo:

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Fotos: String_Gardens

Observem como uma solução simples deu um toque todo especial neste projeto. Tá, eu sei que isso não tem muito a ver com as soluções de mobiliário que eu vinha falando, mas faz parte do processo criativo.

Por falar nisso, você só projeta quando tem um cliente ou faz isso diariamente como forma de estudo, testes, aplicações, etc? Prefere deixar a sua mente atrofiar ou explora seus conhecimentos, pesquisa sobre novas coisas?

Olhem o que Robert Butkovic fez: estipulou que produziria 100 logos diferentes em 100 dias. Não foram projetos para clientes mas sim apenas uma forma de desenvolver, explorar e ampliar o seu pensamento criativo. Esse tipo de atitude serve como estudo através do qual acabaremos descobrindo e criando muitas coisas. Só temos a ganhar com esse tipo de atitude.

Outra coisa é a absurda falta de união dos profissionais. Vejo uma grande parcela olhando o colega profissional como um inimigo comercial e não como um aliado até mesmo quando o assunto refere-se a questões como a regulamentação profissional que é de interesse de todos: nós profissionais, nossos clientes e o mercado.

#ficadica: se não nos unirmos urgente a coisa vai ficar feia em pouco tempo. Vamos levar uma rasteira e depois não adianta ficar de chororô por aí não.

Então pessoal, que tal começar a levar mais a sério a profissão e trabalhar pelo coletivo em benefício de todos nós?

Vamos parar de olhar apenas para nossos umbigos quando o assunto refere-se à atuação e exercício profissional?

Pensem e reflitam seriamente sobre isso ok?

Abraços e até o próximo post.

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*alguns arquitetos: não me refiro a todos os arquitetos mas como a expressão diz, apenas a alguns que insistem em denegrir, deturpar, desinformar, fazer denúncias vazias e atrapalhar os trapalhos desenvolvidos pelos Designers de Interiores.