2014, um ano bastante peculiar…

Olá pessoal, sei que estou em falta com vocês tanto aqui pelo blog quanto nas redes sociais. Tenho meus motivos particulares que justificam esta ausência (algumas pessoas sabem do que se trata). Mesmo tendo um segundo semestre bastante complexo – e complicado em alguns momentos – o ano de 2014 foi bem interessante, de aprendizado e crescimento pessoal e bastante positivo.

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De um lado ocorreram coisas que reafirmaram a minha total e absoluta descrença naqueles que dizem nos representar (mesmo sem o aval de mais de 90% dos profissionais e acadêmicos da área) como, por exemplo, o acordo absurdo com o CAU num projeto que trata da regulamentação de NOSSA área. Acordo este que, se aprovado irá destruir a nossa profissão, nossa liberdade criativa bem como nos forçará a atuar APENAS como Decoradores. Mas já escrevi bastante sobre isso e, sinceramente, não tenho mais estômago. Como já escrevi antes, o que eu podia fazer foi feito (até mais do que devia). Ao menos não vendi minha alma ao diabo e durmo com a minha consciência tranquila todas as noites.

É um ano também que completou 1 ano de calotes que levei pelos quais tive que arcar com as despesas de palestras para as quais fui convidado e acabei, de bom grado e acreditando na honestidade das pessoas, pagando passagens e transporte e até agora NADA. Mas vejo pelas redes sociais estas pessoas festando (e promovendo festas) aos montes, torrando dinheiro e posando de poderos@s. É… tudo é aprendizado nesta vida… Mas acredito na honestidade do universo e na lei do retorno.

2014 também me ensinou a me resguardar e a cuidar. Me lançava tresloucadamente em debates que acabavam virando discussões insanas por absoluta inconsistência argumentativa do outro lado. Até ataques no nível pessoal recebi quando o outro lado via todos as suas tentativas de argumentação ruírem. Isso foi elevando meu nível de estresse e ansiedade que desviou a minha atenção dos sinais que meu organismo dava. Acabei tendo uma crise no final de agosto bem mais séria e grave do que eu suporia um dia ter. Fato este que me levou a me afastar o máximo possível das redes sociais e até mesmo cancelar a participação em eventos no segundo semestre, por ordens médicas.

Foi um ano também onde meu nome, como padrinho, foi retirado da lista de uma instituição que eu ajudei a criar, colaborei com tudo que podia, sempre estive à disposição e apoiei. O mais engraçado nesta história é que meu nome foi substituído por outro que eu sequer havia ouvido falar como colaborador desta instituição de alguma forma, antes da troca da pessoa que gerenciava a mesma. Antes era uma pessoa ligada ao Marketing e Publicidade, que é quem fez a coisa toda acontecer. Agora, assumiu uma arquiteta (eu sei, tá explicado…). Eu só dou risada disso e lamento pela instituição que está fadada ao fracasso.

Porém, mesmo com isso e muitas outras coisas que ocorreram e que nem valem a pena ser comentadas aqui dada a pequenez e baixarias de bastidores de seus promotores afinal, este blog é propositivo! Então, vamos às boas deste ano!

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Iniciando o ano tive a honra de renovar meu contrato com a Revista Lume Arquitetura para continuar com a minha coluna “Luz e Design em foco”. E, mesmo em meio à bagaceira toda que me rodeava, escrevi colunas que foram bastante elogiadas seja por acadêmicos, profissionais e até mesmo pessoas ligadas a órgãos públicos. Agradeço o carinho destes através dos diversos e-mails e mensagens pelas redes sociais. E agradeço especialmente à “família” Lume por acreditar e confiar em meu trabalho. Por falar nisso, foi um imenso prazer visita-los durante a Expolux.

Com relação aos projetos, este foi um ano estranho para todos nós. A insegurança, a desconfiança e descrença no País – e em seu futuro – fez com que tivéssemos uma baixa considerável nos investimentos de nossos clientes. Muitos optaram por realizar os projetos em etapas, outros resolveram botar os pés no freio e aguardar passar a instabilidade do mercado e outros (a maioria residencial) mantiveram os projetos em andamento. Mesmo assim foi um ano positivo.

Também foi um ano onde os convites para ministrar aulas em pós-graduações aumentaram bastante. Por causa de minha agenda já bastante complicada, alguns aceitei e outros recusei, mas apenas por causa da distância. Aliás o ano acadêmico no Brasil foi excelente em vários aspectos: vi diversos cursos sendo reformulados e outros sendo criados, ajustados ao que deve realmente ser um curso de Design de Interiores/Ambientes. Isso demonstra que sim, temos pessoas que mesmo diante de tanta adversidade (processo de regulamentação que elimina diversas de nossas possibilidades profissionais, resoluções ridículas e arbitrárias, NBRs que auxiliam na reserva de mercado para um grupo específico, etc) ainda tem a decência e a coragem de lutar e defender a nossa área como deve ser feito: de cabeça erguida, sem medos e aliados às demandas REAIS do mercado e às regras internacionais de nossa profissão, sem aceitar ingerências absurdas de gente com mente obsoleta.

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Participei como convidado de diversos eventos por este nosso País. Dos pequenos aos grandes, todos foram de grande valia. No segundo semestre tive que cancelar a participação em vários eventos e palestras agendadas por ordens médicas. Agradeço a compreensão dos organizadores bem como o apoio dos amigos que me substituíram.

Galera do N_Goiânia, sei que estou em falta com vocês mas prometo que sim, farei postagens específicas sobre este grandioso evento que foi o NDesign2014. Um evento onde virei praticamente um vegano por uma semana (rsrs) e tive todas as minhas atividades cheias de alunos de diversas áreas do Design comprovando a multidisciplinaridade do Design. Valeu também por me forçarem a falar “ingrêis” (ahahahahah) e perceber que, realmente, tenho que finalizar meu curso. Mas até que me saí bem… Foi um período de reencontrar amigos como o Bruno Porto, o Marcelo Fernandez, o Renato Faccini e o mestre Eddy entre outros tantos, e também de conhecer (pessoalmente) tantas pessoas incríveis como o Gabriel Patrocínio, a Gisela Schulzinger, o Alberto Antoniazzi, Helen e Jason, Jonny Macali, Edith Lotufo, Juliana Buso, Sebastiany, Rafo Castro… Só fiquei chateado pois o Carson não foi e deu um bolo em todos nós… Mas também tem toda aquela galera incrível e mais que competente da CONDe, todos os monitores, a galera do bazar… E o que dizer dos encontristas? Finalmente conseguiram me tirar do hotel e me arrastaram pras festas (né dona Aline? rsrsrrs). Não foi bom. FOI BOM DEMAIS!!!!

E que venha o N_SP, o NDesign2015!!!

Também foi um ano onde acabei voltando a atenção para as minhas coisas, meus planos adiados por dar mais atenção ao externo que ao interno. Ano de tomar decisões importantes tanto no pessoal como no profissional.

Sim, voltei com tudo à escrever meus livros que estavam parados há mais de 3 anos. Em 2015 ao menos um deles será publicado e, fatalmente, será no N. Resolvi escrever um deles em parceria com outros amigos profissionais que também pretendo publica-lo em 2015. Um outro resolvi mudar o tema depois de uma extensa pesquisa que me fez perceber que não há bibliografia falando sobre o assunto. Apenas alguns artigos (que não contemplam, juntos, a totalidade do tema) espalhados pelo mundo. Portanto, haja dedos para escrever tanto…

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Também decidi que em 2015 vou fazer (finalmente) meu Mestrado. Já defini onde e o projeto de pesquisa. Esta, certamente vai descer rasgando a goela de muita gente obsoleta e ensimesmada. E eu vou rir, novamente.

Pois é. Como podem ver 2014 foi um ano bastante peculiar, mas que valeu a pena: valeu cada segundo vivido, cada experiência vivida, cada nova amizade feita (e também as desfeitas quando as máscaras caíram), os trancos e o despertar, pude perceber o quanto sou odiado (pel@s invejos@s de plantão) e amado e respeitado pelo pessoal que vale a pena: @s séri@s e que não usam máscaras.

Diante disso tudo, só tenho a agradecer ao ano de 2014. Agradecer por me engrandecer como pessoa e como profissional. Agradecer por todas as oportunidades, pelas conquistas e vitórias, pelos objetivos alcançados e, especialmente, pela agenda de 2015 que já está bombando!!!

E, claro, nada disso seria possível sem a minha fé inabalável em meu Deus, a quem tudo devo e agradeço!

Vem 2015, pois você será, literalmente falando, ILUMINADO!!!

Afinal, você será o “Ano Internacional da Luz”!!!!

Entrevista: Jamile Tormann – iluminadora

Bom, prometi que iria começar a sessão de entrevistas aqui no blog em alto estilo. Cumpro a promessa com esta entrevista exclusiva da lighting designer Jamile Tormann.

Uma “iluminadora de bolso” (como ela mesma se entitula) que tem um trabalho de excelência e respeitadíssimo. Pesquisadora, autora de livros, coordenadora de cursos, faz parte e ajudou a fundar as principais associações de iluminação do Brasil além de ser uma pessoa adorável.

Agradeço a ela pela presteza e simpatia de sempre no atendimento aos seus contatos e também, por aceitar compartilhar -e muito – de sua experiência profissional com todos através desta entrevista.

Para quem desejar conhecer mais de seu trabalho, visite o site dela, sempre recheado de informações e novidades.

Segue a entrevista:

Jamile, fale um pouco sobre a sua formação e início de carreira.

Trabalho há 21 anos com iluminação. Tornei-me iluminadora graças à minha fada madrinha, Marga Ferreira, que desde os meus seis anos, me levava para os teatros gaúchos todos os finais de semana. Minha escolha profissional teve influência também em minha mãe, que foi professora de artes dramáticas, em meu pai, que chegou a ser editor de revistas, meu irmão que sempre me incentivou e por muita gente que sem saber passou por mim, e me influenciou no jeito de ver “luz”, de conceber, de agir, de pensar e de ser. Como diz Kafka: “somos a quantidade de pessoas que conhecemos”. Com 14 anos me tornei assistente de iluminação de João Acir de Oliveira, então chefe do Teatro São Pedro e, entre separar um filtro e outro, meu interesse pela área cresceu. Hoje, moro em Brasília, realizo projetos de iluminação cênica e arquitetural, sempre executado por equipes das empresas atuantes no mercado, supervisionadas por minha equipe. Como pesquisadora, investigo há seis anos a educação profissional no mundo produtivo da iluminação, com o objetivo de atuar no processo de formação, bem como de encontrar subsídios para desenvolver minha proposta de regulamentação profissional no Brasil, junto à Câmara Legislativa.

Sou sócio-fundadora de duas associações: A Associação Brasileira de Iluminação (ABIL) e a Associação Brasileira de Iluminação Cênica (ABrIC). Coordeno o curso de especialização em Iluminação e o Master em Arquitetura, ambos do Instituto de Pós-Graduação (IPOG). Cursei Arquitetura e Urbanismo, no Rio de Janeiro, e Licenciatura Plena em Artes Visuais, em Brasília, tenho pós-graduação em Iluminação, mestrado em arquitetura.

Quais as principais dificuldades encontradas nesse início? Como as superou?

O problema, desde sempre, foi a ausência da regulamentação da profissão de iluminador.  O governo necessita deste olhar mais apurado e urgente sobre o assunto para colocar ordem na casa. Fala-se tanto em eficiência energética e etiquetagem de edifícios, sabe-se que a economia gerada pelo entretenimento é a quarta maior do mundo, que sem luz não vivemos, e ainda assim não sabemos qual profissional estará de fato qualificado para atender estas demandas e lidar com a tecnologia de ponta que nos invade a cada dia. Quem sabe projetar com luz ? Ser projetista de iluminação é ser responsável por direcionar o olhar do outro. É ser um alfabetizador visual. É oferecer conforto luminoso para todos que quiserem nos contratar e usufruir deste prazer necessário. No entanto, ainda não há esse reconhecimento e nossa profissão sequer consta na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO, do Ministério do Trabalho). Somos aquele item “outros” para a lei e para os formulários que preenchemos quando, por exemplo, fazemos um check in nos hotéis. Essa é uma das razões para eu realizar uma pesquisa, por meio do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, sob a coordenação da professora doutora Cláudia Naves Amorim. Esta pesquisa pretende revelar qual a importância do profissional de iluminação, sua trajetória, área de atuação, organização, atribuições, condições de trabalho e formação profissional e, ainda, se o mercado está apto a recebê-lo. A pesquisa será a base para a elaboração do projeto de lei que pretende regulamentar o setor e será apresentado à Câmara dos Deputados pelo deputado federal Luiz Paulo Velloso Lucas (PSDB/ES).

A falta de formação do profissional de iluminação e a falta de uma metodologia de projeto, com uma linguagem unificada, são duas coisas que sempre me incomodaram muito desde o inicio. Busco desafios e tento abrir o mercado de trabalho para os que estão se formando, pesquisando e estudando, pois o empirismo acabou nos anos 90 e precisamos dar um basta a ele.


Jamile, você que também trabalha diretamente com educação, sendo coordenadora e professora do curso de pós em iluminação do IPOG, como vê a formação em iluminação nos cursos de superiores (não pós) existentes no Brasil? Falta alguma coisa?

Não há exigência de diploma para que iluminadores/lighting designers, eu chamo “projetistas de iluminação”, possam exercer suas atividades. Não há cursos regulares de iluminação, mas sim cursos livres, esporádicos, inclusive oferecidos por empresas de iluminação.

Os interessados devem procurar estágios com profissionais que tenham escritórios, em teatros, TVs, produtoras, lojas de iluminação, empresas de iluminação ou a indústria, para aprender na prática. Para quem tem graduação em outra área, já podem contar com os cursos de especialização em Iluminação que algumas Universidades oferecem em cidades como: Rio de Janeiro, Florianópolis, Brasília, Belo Horizonte, Manaus, Belém, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Londrina, Fortaleza, Salvador, Aracaju, João Pessoa, Natal, Vitória, São Paulo, Florianópolis e São Luiz. Tais cursos trazem em sua grade excelentes profissionais e docentes, com uma boa proposta pedagógica e de especialização para o profissional voltar ao mercado de trabalho com formação adequada.

Uma proposta de curso, em nível superior, poderia criar diferenciais para se crescer na profissão, seja pela aquisição de um conhecimento objetivamente sistematizado, isto é, para aplicação na vida prática do mundo produtivo, seja pela inserção do profissional no campo da pesquisa, que ainda é quase inexistente no Brasil. Eu apresentei um projeto de graduação em iluminação em 2006 mas ao longo de minha pesquisa descobri que falta mesmo é função técnica, de nível técnico, no mercado. Temos deficiência de profissionais qualificados em executarem nossos projetos. Profissionais que saibam ler o que está nas plantas e ser reconhecido como tal. Espero que a pesquisa e a regulamentação da profissão, possam ajudar a modificar para melhor o cenário da formação do profissional em iluminação, no Brasil, com o apoio da indústria, das empresas e dos profissionais deste segmento.

Pós -formação. Qual a importância disso na vida do profissional?

Sabe-se que o mercado de trabalho, nos dias de hoje, vem exigindo dos trabalhadores níveis de formação cada vez mais altos, para que desenvolvam competências cada vez mais refinadas, exigidas pela complexidade que caracteriza a vida em sociedade.

Segundo relatório da UNESCO para a Educação do século XXI (UNESCO, p. 1, 2002) a Educação Profissional no Brasil está mudando. O país alertou-se para o fato de que sua população economicamente ativa não pode permanecer com tão baixos níveis de escolaridade e de formação profissional.

Nesse contexto, a educação profissional precisa proporcionar às pessoas um nível mínimo de competências que lhes possibilitem:
– Capacidade de adaptação a um aprendizado ágil e contínuo;
– Flexibilidade na aprendizagem;
– Domínio das novas tecnologias, incorporadas ao mundo do trabalho e ao conhecimento humano;
– Refletir sobre o que diz Berger Filho, quando escreveu em 2002 sobre a educação profissional e o mundo produtivo, que “o princípio da educação profissional é o da empregabilidade, pois não adianta formar pessoas para um mercado que não existe.

O mercado existe e isso explica meu esforço para com a educação profissional.

Hoje existem cursos de pós-graduação em iluminação, e o acesso ao conhecimento está mais fácil do que há 10 anos. A troca de informações entre os profissionais também melhorou bastante. Existe uma demanda grande no mercado de iluminação para profissionais capacitados e, nesse sentido, se o profissional quer sobreviver ao mercado, precisa se especializar. Não tem para onde correr.

Com relação ao mercado de trabalho, percebo que fora dos grandes centros, a resistência do mercado a projetos de Lighting Design ainda é grande. O que vemos na maioria das vezes é a aplicação daqueles “splashes” de luz colorida. Qual a situação atual e as perspectivas para o Lighting Design aqui no Brasil fora dos grandes centros?

O fazer iluminação evoluiu e transformou-se no mundo produtivo, mas não tão rápido e nítido como os equipamentos de iluminação disponíveis atualmente no mercado. A razão disto está ligada ao fato de que o material humano não é tão maleável como a aparelhagem técnica. (ROUBINE, 1998, p.182).

Quando o assunto diz respeito aos profissionais de iluminação, o ato de intervir no espaço com a luz agrega um conjunto de ações que resultam no ato de iluminar, ato sujeito às especificidades de cada situação (local, prazos, objetivos, espaço, estrutura física, outros profissionais envolvidos, tipos de equipamentos, materiais disponíveis, nível de conhecimento do projetista de iluminação (lighting designer) sobre o “objeto” que vai iluminar). Ser um profissional de iluminação significa pertencer a uma categoria com funções determinadas pela natureza do trabalho e conhecimento na área, que não pode se desvincular do desenvolvimento tecnológico da área e das áreas multidisciplinares com as quais é necessário dialogar.

O cenário de iluminação no Brasil, muitas vezes, apresenta uma dicotomia: de um lado profissionais com muita prática e sem o aprendizado teórico, e outros com muita formação teórica e nenhuma prática.

Não se trata aqui de julgar ou atribuir valores aos tipos de formação existentes, mas, antes, questionar o que seria necessário ou suficiente em termos de formação profissional. O que está na pauta, atualmente, nas reflexões que busco nutrir juntos aos pares, junto aos alunos, por exemplo, é que o mercado de trabalho, de maneira geral, vem buscando cada vez mais o profissional com conhecimento específico, aprimorado e atualizado. Em suma, alguém com desenvoltura artística e técnica, prática e teórica. Principalmente em virtude dos avanços tecnológicos e dos altos custos dos equipamentos de iluminação, bem como a sua manutenção.

Como o debate gira em torno de formação profissional, ou, ainda, a educação profissional e a sua relevância para as demandas do mundo produtivo, que são grandes, seria o caso de reconhecer o valor de uma formação que compreenda, no objeto de estudo, a prática e a teoria como fatores indissociáveis e complementares. Pois a teoria precisa estar vinculada à prática e esta, muitas vezes, precisa recorrer à teoria para obter respostas e soluções.

Assim, para que isto seja viável, entretanto, o mercado de trabalho precisa se adequar e promover as adaptações que se mostrarem necessárias para responder ao conjunto de necessidades que estiverem em jogo, seja por parte do empregador, seja por parte do novo ou antigo profissional.

A demanda é grande em centros urbanos mais populosos, mas fora deles não existe ainda a cultura de se contratar um profissional de iluminação. Muitas pessoas sequer sabem da nossa existência (profissional com formação acadêmica e pós-graduado) e quando sabem, por se tratar de algo ‘novo’, muitas vezes não querem pagar o valor que cobramos.

Quais pontos falham nesse sentido e que medidas poderiam ser tomadas visando o reconhecimento da profissão fora dos grandes centros?

Neste contexto de idéias que citei anteriormente, é necessário promover ajustes no espírito de um novo paradigma: a educação profissional do projetista de iluminação (lighting designer). Valorizar-se o estudo, o aperfeiçoamento, a teoria e a prática – o conhecimento cientifico (realização de pesquisas) em diálogo com o conhecimento adquirido empiricamente, situações de ensino e aprendizagem em favor do profissional, em favor da produção artística, em favor do mercado. Penso que há muita demanda de trabalho, mas os profissionais e o mercado de trabalho estão mais preocupados em resolver o agora e não a sustentabilidade do mercado e do profissional qualificado. É difícil o reconhecimento deste profissional fora dos grandes centros, pois as grandes indústrias estão nas grandes capitais brasileiras. No entanto, creio que o reconhecimento, por meio de lei, da nossa profissão, ajudará muito. Os profissionais também precisam se reconhecerem e compreenderem que pertencem a um núcleo de profissionais ou a uma categoria profissional.

Uma mostra pública – como a Luminalle, Fête dês Lumières, etc – não tornaria mais fácil a visualização por parte do mercado da diferença entre o trabalho do Lighting Designer especializado do daqueles profissionais com apenas a carga horária acadêmica de sua formação universitária? Quais as possibilidades disso acontecer aqui no Brasil mesmo que em menor porte que estas internacionais?

No Brasil já existem alguns eventos específicos, prova de que já existe um vasto mercado nessa área e público para essas mostras. Um exemplo é a Expolux, que já está indo para a 13ª edição e a Lighting Week Brasil, que acontecerá em São Paulo, no mês de setembro de 2010. Os organizadores precisam investir no material humano e a indústria precisa investir em pesquisa. O que se tem feito é marketing cultural e não cultura de disseminação em iluminação tampouco eventos de cunho científico.

“A aplicação de elementos cênicos na iluminação arquitetural” ou “A iluminação hoje em dia tem um caráter cênico”. Frases desse tipo já caíram nos discursos de profissionais não especializados na tentativa de trazer para o seu trabalho um valor a mais. Eu particularmente não percebo o Lighting Design presente nos projetos de grandes nomes da arquitetura e Design de Interiores (nacionais e locais) e sim apenas uma iluminação melhorzinha – esteticamente falando – que a anterior. Quais os pilares que o projeto deve estar alicerçado para poder realmente ser considerado um projeto de Lighting Design?

Meu processo de desenvolvimento de projetos é sempre criar o espaço a partir da luz, encontrar a função e o significado da luz naquela obra de arte, objeto ou espaço que estou iluminando, contar uma história com ela, depois analiso os recursos que tenho disponíveis e quais podem me auxiliar a contar esta história.  Ou seja, só depois parto para as especificidades de cada situação (local, prazos, objetivos, espaço, estrutura física, outros profissionais envolvidos, tipos de equipamentos, materiais disponíveis). Neste caso, creio que os principais fatores que devem ser levados em conta são:

1º. – cuidado e atenção. Tento pensar em várias possibilidades e achar soluções eficientes para aquele projeto. Pois não existe uma solução e sim uma para cada projeto. Projetar em escala e fazer o que está ao nosso alcance, com os pés no chão. Projeto que não é executado é sonho, não é realidade. A realidade, ou seja, a implantação do projeto de luz é que nos permite fechar o círculo infinito da criação, da contemplação, da reflexão, da mudança.

2º. – observar onde o projeto estará inserido, sob que contexto, que cultura. Que tipo de espectador ou usuário estará se apropriando dele, o quanto o usuário se apropria, o quanto este compreende os seus signos e valores, o quanto aquela luz é importante no cotidiano de vida dele. Eu acredito que a luz influenciou e influencia até hoje a vida e o comportamento das pessoas. Gosto de projetar pensando nestas questões e o quanto posso intervir e interferir neste percurso.  Procuro conhecer as pessoas, tento me familiarizar com o “modus operandi” delas.  Observo muito e fico calada. Depois, troco idéias com quem me contratou para projetar e tento trabalhar dentro da realidade local, agregando valor àquela cultura, através da iluminação.

Concordo com o Lighting Designer mexicano Gustavo Avilés, quando diz que “a luz pode ser considerada um elo entre aspectos subjetivos e objetivos da humanidade, pois funciona como mensageiro visual que permite ao ser humano fazer diversas correlações, como medidas lineares, volumes, área, geometria, contagem do tempo, outros eventos”.

3º. – projeto coerente ao orçamento, para que possa ser realizado integralmente.

E por fim – a escolha dos equipamentos (abertura de facho, desenho do facho, alcance em metros da luz, potência de luz – lumens – e temperatura de cor), em virtude dos fatores supramencionados.

Finalizando, sobre a ABIL. Como e porque surgiu esta associação?

A ABIL é uma associação, cultural e social, sem fins lucrativos, que surgiu para desenvolver o conhecimento da luz no âmbito nacional, criando assim uma cultura da luz.  Nossa missão é oferecer cursos, organizar palestras, organizar simpósios e mostras, que visam à divulgação da produção mundial das técnicas e arte de iluminar. Editar ou reeditar publicações nacionais e estrangeiras. Disponibilizar informações sobre assuntos luminotécnicos e afins de maneira mais eficaz. Mas a correria do dia-a-dia tem nos impedido de sermos mais eficientes como gostaríamos. Mas isso não anula os motivos que deram origem à Associação Brasileira de Iluminação (ABIL), isto é, a paixão pela iluminação em suas diversas linguagens e inserção no ambiente onde o ser humano interage. Já arcamos do próprio bolso a vinda de profissionais da França, Estados Unidos, Argentina, Chile, Áustria, Alemanha, além dos profissionais residentes nas várias cidades brasileiras. Tudo isso para mobilizar idéias, compartilhar experiências, produzir uma cultura da iluminação e consolidar a profissão. Nesse sentido, quero lhe parabenizar, Paulo Oliveira, por sua gestão na proliferação da cultura da iluminação, quando idealiza a realização de entrevistas com profissionais, quando administra um blog chamado Design: Ações e Críticas. Precisamos de mais pessoas como você. Obrigada.

Design 21

Design 21 | Better design for the greater good

O Design 21 assume-se como uma rede de contactos cuja missão é inspirar/promover, através do design, a consciência social. Esta rede, promovida pela Felissimo e pela UNESCO, permite colocar em contacto todas as pessoas que desejem explorar novas formas de fazer com que o design tenha um impacto positivo na comunidade. Para os promotores desta comunidade, a verdadeira beleza do design é o seu potencial para melhorar a vida.

As principais causas do movimento são: educação; ajuda humanitária; pobreza; comunidade; ambiente; comunicação; arte & cultura; paz e bem-estar.

Juntem-se à causa, por uma vida melhor cheia de “bom” design!!!

Via: O Design e a Ergonomia