Home Staging???

Já sei que muitos vão tentar afirmar que esse trabalho é uma das competências (por Lei) dos arquitetos e engenheiros. Mas calma, antes de atirar pedras e vir com trololó, não vou me referir à parte estrutural ok? Se insistirem em englobar o todo que esse tipo de parceria pode gerar em serviços tudo bem.

Fica aqui registrada então a denúncia de reserva ilegal (e criminosa) de mercado, que fique bem claro, e que as autoridades competentes façam a sua parte punindo (dentro da LEI) os que defendem isso.

No exterior, essa parceria com os corretores de imóveis e imobiliárias (e até mesmo com particulares) é chamada de “Home Staging”. Diferente do que muitos (dentre os poucos que conhecem esse trabalho) possam pensar, esta técnica não visa somente uma mera “encenação do imóvel ocupado ou vazio” ou seja, dar uma arrumada, redistribuir os móveis com um layout melhor. Esta técnica pode e deve ser aplicada de maneira mais ampla.

Digamos que você leitor tem uma casa e quer vendê-la. Já parou para analisar que qualquer benfeitoria realizada na mesma aumenta o seu valor no mercado? Já percebeu que todo possível comprador torce o nariz para qualquer manchinha que tiver na parede ou riscadinho no piso?

Sim, é bem isso mesmo. As pessoas quando buscam um imóvel novo tem preferência por aqueles que não lhe trarão trabalho assim que o adquirir. Poucos são os que buscam algo para entrar em reforma, principalmente as pesadas.

Assim, temos nesse nicho de mercado mais uma área para os profissionais de Design de Interiores/Ambientes.

Como? Vou explicar.

É certo que uma casa mal arrumada, com uma distribuição ruim dos móveis acaba gerando uma visão poluída (e distorcida) dos ambientes para o possível comprador. Ele (a grande maioria) não consegue visualizar os espaços e suas possibilidades especialmente quando o imóvel ainda está habitado e consequentemente cheio dos móveis do atual morador. Então, aqui está o primeiro meio de trabalho neste mercado: arrumação.

Mas não ficamos só nisso. Quando somos chamados para este serviço devemos fazer uma vistoria completa no imóvel. Devemos estar atentos a absolutamente tudo, dentro e fora do imóvel. SE, e somente SE, houverem problemas estruturais, aí sim devemos chamar profissionais qualificados (arquitetos e engenheiros) para resolvê-los. O restante (não estrutural), podemos trabalhar livremente no imóvel:

– Verificar se a pintura está ok ou se precisa ser renovada/retocada.

– Verificar as condições dos pisos e revestimentos e se necessário propor alterações.

– Verificar se as instalações elétricas e hidráulicas estão ok,e propor as alterações nevessárias.

– Verificar a situação dos armários embutidos que permanecerão no imóvel.

– Verificar os gessos.

– Verificar o paisagismo (quando houver).

– Entre várias outras coisas.

Percebam que para cada item destes é um trabalhão danado.

E é assim que este DEVE ser feito. Este é o verdadeiro Home Staging.

Tem alguns sites e profissionais (incluindo já aqui no Brasil) que pregam que devemos apenas “dar um tapa”, ou seja, mascarar os problemas, torná-los imperceptíveis ao possível comprador. Em resumo: ele que se exploda depois com o azedo abacaxi fantasiado de doce e suculento morango que o venderam.

Isso não é ser profissional. É ser desprovido de qualquer ética e respeito pelo mercado e pelas pessoas.

Muitos podem se perguntar: vale a pena investir antes da venda? Vou contar uma historinha:

Uma conhecida minha de Ribeirão Preto ficou desempregada e recebeu o seu FGTS. Como estava difícil arrumar um novo emprego (por causa de sua já adiantada idade) ficou pensando em como investir de forma segura e rentável aquele dinheiro. Um dia andando pela cidade, viu num dos bairros uma casa popular à venda num dos conjuntos mais disputados da cidade e teve uma idéia. Não me recordo os valores exatos agora, mas lembro-me perfeitamente da relação entre eles. Comprou-a por aproximadamente R$ 17.000,00. Sobrou um dinheirinho e ela resolveu ajeitar a casa antes de vendê-la. Chamou uns pintores, deu uma arrumada no jardim, gramou o terreno, reformou o banheiro e a cozinha (troca de revestimentos, louças e metais). Investiu pouco mais de R$ 5.000,00 nisso tudo. Quando chamou um corretor ficou pasma ao ver que ele avaliou o imóvel em mais de R$ 30.000,00.

O que ela fez? Vendeu, comprou outra, reformou, arrumou e vendeu e comprou outras e assim por diante. Hoje vive (e muito bem) fazendo isso. Mas como ela não é designer nem arquiteta, faz apenas para ela mesma. Me falou ainda esta semana pelo telefone (sim, já se dá ao luxo de contratar minha consultoria) que está atualmente mexendo com 12 imóveis ao mesmo tempo. Melhor que a realidade de muitos profissionais.

Agora, imaginem vocês, meus leitores acadêmicos/profissionais, o nicho de mercado sensacional que é este.

Imaginem vocês, meus leitores corretores/imobiliaristas/clientes, as vantagens que este tipo de prestação de serviços podem trazer para vocês.

E isso não deve ser aplicado apenas às residências e apartamentos. Uma historinha de um outro amigo pessoal:

Ele comprou um apartamento dele em 2003 por aproximadamente R$ 43.000,00. Fez uma reforma pesada e o valor não subiu quase nada. Com o passar do tempo acabou assumindo como síndico do condomínio. Nisso começou a perceber as absurdas gambiarras que o ex-síndico vinha fazendo e resolveu que estes problemas todos deveriam ser tratados com seriedade. Claro que, de início, os proprietários colocaram-se contra por causa do investimento necessário. Primeiro refez toda a parte elétrica e de iluminação das garagens (lighting). Os moradores perceberam que a conta de luz do condomínio diminuiu muito. Depois refez a pintura das paredes e tetos do Hall, escadarias e circulações. Na primeira visita de um corretor, este confidenciou a este meu amigo que agora, com essas pequenas melhorias, o valor do apartamento já ultrapassava os R$ 65.000,00. Os proprietários gostaram e perceberam que investir é sinal de lucrar. Resolveram então melhorar a área externa (portão de pedestres/acesso). Tiraram o telhadinho ridículo que não protegia ninguém e fizeram uma entrada decente (projeto meu executado por uma engenheira parceira). O valor do apartamento subiu para R$ 90.000,00. Alteraram a calçada implantando uma calçada verde com paisagismo, dentro da norma de acessibilidade municipal. Aumentou ainda mais o valor. Implantaram um sistema de segurança com acesso por tags e senhas individuais e câmeras de segurança. Hoje, o valor dos apartamentos está mais de R$ 150.000,00. Sempre tem corretor tocando o interfone desesperado para saber se tem algum apartamento à venda no prédio. Outro detalhe: antes eram 4 proprietários e 8 inquilinos. Hoje são 10 proprietários e 2 inquilinos no edifício. Todo esse trabalho foi feito com a minha consultoria em alguns momentos e projeto em outros. Agora, estão se preparando para uma reforma geral das fachadas e dos telhados, incluindo uma possível alteração para telhados verdes, tudo feito sob a minha concepção e supervisão (e executados por profissionais parceiros qualificados para tal).

O que isso tudo tem a ver com Home Staging?

Serve para mostrar que não apenas os proprietários, mas também os síndicos devem começar a repensar as suas decisões sobre investimentos nos imóveis, incluindo nas áreas comuns, no caso de condomínios.

Isso é mercado, isso é valorização de um bem seu (ou de todos, no caso dos condomínios) e que o mercado sabe reconhecer.

Serve também para mostrar que, apesar do termo “home”, este trabalho é bem mais amplo e não está atrelado apenas aos espaços interiores das edificações.

OBS> e não me venham falar em direito autoral em residências e edifícios com mais de 10 anos (que são as que mais necessitam desse tipo de serviço) onde os proprietários já pagaram ao autor pelo DIREITO de fazer o que quiser com o SEU imóvel. Inclusive, botar “na chom”, caso algum birrento insista em atormentar e atrapalhar o processo alegando que “só ele, por ser autor, tem direito de alterar”. Isso é reserva de mercado. Isso é CRIME! O direito autoral já está lá registrado no acervo técnico, nas fotos, registros e plantas ok?

Então, vamos que vamos. Temos muito trabalho a fazer.

E a sociedade tem muito a ganhar conhecendo e investindo no trabalho sério dos Designers de Interiores/Ambientes, especialmente os proprietários e corretores de imóveis.

Parcerias sérias só faz bem a todos.

Do It Yourself (DIY) – perguntas a se fazer antes de começar uma reforma sozinho(a)

Para auxiliar os clientes a eliminar as frustrações na hora de se decidir a enfrentar um projeto de melhoria em casa sozinho(a) (Do It Yourself – DIY), ou contratar um profissional de design de interiores/ambientes, segue uma lista de perguntas para fazer a si mesmo(a) que vai ajudá-lo(a) a tomar a decisão correta.

Seja para apenas melhorar a sua sala ou redesenhar a ambientação de vários cômodos de uma só vez, isso nos obriga a prever e planejar corretamente para alcançar os resultados desejados que temos em mente. Embora você possa ter talento criativo para usar as cores em sua casa e seus amigos e familiares lhe digam que seu bom gosto para decoração são excepcionais, como você sabe realmente se quer assumir os riscos do projeto por si mesmo (DIY) ou deve contratar um profissional?

Aqui estão perguntas para ajudá-lo(a) no processo. Depois de terminar de anotar suas respostas, só você mesmo(a) pode tomar essa decisão.

1. Ao olhar para o calendário, você tem grandes blocos de tempo disponível a cada semana para as tarefas que o projeto vai exigir?

2. É fácil e natural que você coloque uma amostra da tinta que será usada na pintura ao lado de uma amostra de tecido e imagine o resultado, de como as cores e materiais ficarão depois de finalizados no ambiente que você quer modificar?

3. Quando você pensa em reformar três cômodos de sua casa, fazer as tarefas necessárias para você o(a) faz se sentir cansado(a), considerando que você terá que fazer tudo sozinho(a) (DIY)?

4. Você alguma vez já comprou tintas ou acessórios para um dos ambientes e depois já não tinha mais certeza sobre as cores e arranjos que você escolheu?

5. Você achou inspiração para reambientar um ou mais cômodos de sua casa a partir de uma foto em uma revista da moda, mas agora você não tem certeza se você gosta do estilo, se retro, eco-friendly, minimalista, tradicional ou contemporâneo?

6. Você tem dificuldade de definir-se com relação ao estilo que deseja para sua casa?

7. Você é a única pessoa tomando as decisões sobre cor e decoração ou você vive com mais pessoas que discordam totalmente ou parcialmente com as mudanças que você está prestes a realizar?

8. Seus planos incluem mais que fazer alterações com tintas, tecidos e escolha de acessórios?

9. Para alcançar seus objetivos desejados para melhorar a sua casa, será necessário derrubar paredes ou realocar fontes de água,e componentes elétricos e cabeamentos telefônicos  e de TV?

10. Você tem dinheiro disponível agora porque você estava pensando em comprar uma casa nova, mas recentemente decidiu ficar em sua casa atual em vez de se mudar para outra casa e começar tudo de novo?

11. Você vive em uma parte histórica da cidade e você gostaria de ter o interior de sua casa que refletisse a área onde você vive, mas você não tem a menor idéia por onde começar?

12. Você vive em uma parte histórica da cidade e você gostaria de ter o interior de sua casa totalmente diferente da área onde você reside, mas você não tem a menor idéia de como trabalhar questões sobre patrimônio histórico, restauração e outros assuntos e Leis relativos à  isso tudo?

13. Você conhece equipes de profissionais realmente qualificados para fazer os serviços (pintura, instalações, marcenaria, gesso, etc)?

14. Você vai alterar os móveis de um ou mais ambientes e já conversou com uma loja de planejados que prometeu o projeto “de graça”?*

Como podem observar, alterar os ambientes pressupõem vários elementos que devem ser considerados. Ainda caberiam diversas outras perguntas nesta lista mas só por estas já dá para perceber que uma simples alteração pode não ser tão simples assim.

Não basta apenas bom gosto e vontade. É necessário conhecimento técnico e uma equipe coerente e competente para a execução dos serviços agregados a um projeto de reforma ou remodelação de ambientes.

Portanto, pense seriamente sobre isso tudo antes de começar uma reforma por conta própria. Você pode acabar com prejuízos financeiros e com um resultado que não te agrade plenamente.

Fonte do texto base: http://EzineArticles.com/2704153

* Sabia que estes projetos são feitos por vendedores que na maioria das vezes não são profissionais qualificados e que a personalização depende do que está disponível no catálogo e na linha de produção da marca? E também que o custo pelo desenvolvimento do “projeto” sempre está embutido no valor do produto e não sai de graça?

(RE)Design

(re)formar, (re)fazer, (re)dimensionar, (re)distribuir, (re)organizar, (re)locar, (re)layoutar, (re)fluxogramar, (re)orientar, (re)aproveitar, (re)criar, etc.

Palavras todas parecidas, com significados diferentes, mas que fazem parte do significado da palavra REDESIGN!

Redesign: n (change in design) redesenho sm; reestruturação sf. vtr (change design of) replanejar vt; v Replanejar, planejar novamente.

Espanhol: v. rediseñar, reformar; Francês: v. remodeler; reconcevoir, replanifier; Alemão: v. neu entwerfen; Italiano: v. rimodellato, riprogrammato; Russo: г. спроектировать заново; переделать; Holandês: ww. opnieuw ontwerpen; Inglês: v. plan again, devise again; draft again, make a new preliminary sketch; Grego: (Lex**) επανασχεδιασμός;

O re-design é a reformulação do design de algo. Essa necessidade de renovação pode surgir por diversar razões. Pode ser pelo aparecimento de novas técnicas, de novos materiais, para eliminar falhas existentes, para adequar algo a um novo uso ou como estratégia de marketing para renovar o produto no mercado – em interiores especificamente aparece no nicho Home Staging que falarei num próximo post.

O termo design tem também outra forma de interpretação além de desenho. Pode ser compreendido como projeto, projetar. Portanto, o redesign poderia ser entendido como reprojetar, reformular não só conceitos visuais, mas sistemas, produtos, etc.

É difícil – quase ausente – a presença deste conteúdo nas academias infelizmente. Os professores preferem fazer de conta que isso não existe ou que isso não faz parte das atribuições do Designer.  Muitas vezes tenho lido a palavra redesign como sinônimo de restauração de móveis apenas, o que é um absurdo. Em alguns casos parece que este é um assunto proibido. Um tabu “moderno”.

Pois eu digo que faz sim parte de nossas atribuições como Designers de Interiores/Ambientes!

Longe de questões arquitetônicas e estruturais (que ficarão nas mãos de profissionais habilitados para tal), a questão do redesign de interiores/ambientes ou de edificações merece uma maior atenção nos cursos superiores. Se estudamos para melhorar a qualidade de vida do usuário, adequando os espaços/ambientes às suas necessidades, faz-se necessário, vez ou outra, que as alterações sejam mais profundas.

Nesse sentido, o ReDesign aparece como uma ferramenta necessária e útil para o exercício profissional pleno dos Designers de Interiores/Ambientes. Importante salientar que o ReDesign não é arquitetura ou engenharia. A edificação já está pronta, já foi entregue, já foi paga, já possui um proprietário/usuário real.

Para exemplificar sobre o que estou falando vou utilizar um exemplo prático vivido por mim tempos atrás:

Uma cliente minha comprou uma casa em fase de acabamento. No entanto ela não buscou a mim ou a qualquer outro profissional para acompanha-la nas visitas para realizar uma avaliação do imóvel. Acabou comprando uma bomba de alvenaria. SE ela tivesse me chamado para ver esta residência, teria falado para esquecer esta casa e procurar outra. Em resumo a situação era a seguinte:

1- A casa começou a ser construída na década de 80. Nesse período foi construído apenas o pavimento inferior sem ser acabado, ficando no reboco apenas.

2- Já vi casas e apartamentos mal divididos mas essa residência supera qualquer absurdo nesse sentido.

3- Em 1993 foi feito um projeto para acrescentar o pavimento superior, repetindo exatamente o mesmo desenho do inferior somando, no final das contas, mais de 300m² de área construída.

4- A casa não respirava e tampouco aproveitava o que fosse de luz natural.

5- A escada é absurdamente inclinada e desproporcional.

6- A divisão (organograma e fluxograma) era bastante confusos.

7- Não havia lavanderia, sala de jantar, despensa, lavabo. No entanto, há um excesso de quartos e salas com dimensões, digamos, estranhas.

8- Não havia área permeável no terreno.

9- Ficou parada, no reboco todo este período (mais de 18 anos).

10- O telhado não foi finalizado – as telhas apenas foram colocadas e não fixadas e o madeiramento não foi envernizado e/ou protegido.

11- Por ser um aterro dos muito mal feitos, o terreno movimentou-se provocando diversas rachaduras e pontos de infiltração no terreno e na edificação.

12- Não havia ligação com o sistema de esgoto público. Tudo ia para uma fossa na parte dos fundos do terreno. Além de que todo o esgoto era ligado numa mesma tubulação provocando refluxos nada agradáveis em todos os ralos da casa.

13- Na planta da prefeitura – que não batia com o que está construído originalmente – constava apenas uma assinatura ilegível. Não se sabe nem se é arquiteto ou engenheiro o autor do projeto. Tampouco consta o número de seu CREA.

14- Também não existia o projeto estrutural/elétrico/hidráulico da edificação.

Posso citar ainda outros problemas, mas estes já bastam para exemplificar o tamanho da “bucha”.

Pois bem, ela comprou esse pacote de problemas em formato de uma residência. No entanto, além de todos os problemas citados e outros mais, a casa não atendia às necessidades da sua família. Observem a figura abaixo tirada de meu CAD do projeto original:

Pavimento Inferior original:


Pavimento Superior original:


Como podem observar, é exatamente a mesma planta em cima e embaixo com a diferença de que no pavimento superior, no lugar do Hall embaixo, foi transformado numa sacada e, a parte de cima da garagem foi transformada numa segunda cozinha com uma varandinha para os fundos. Porque duas cozinhas? Porque originalmente iriam morar duas famílias nessa casa: uma em cima e outra embaixo. Agora, uma única família, com necessidades totalmente diferentes, viria a ocupar a residência toda.

Bom, para atender as necessidades desta família seriam necessárias algumas alterações no projeto original, incluindo alterações estruturais. Após longas conversas com a família (brieffing e visitas ao local) foram definidos os quartos dos filhos, a localização do escritório e a suíte do casal. Porém muita coisa teria de ser alterada para ajustar a edificação às reais necessidades da família.

Levei dois amigos engenheiros para vistoriar a edificação afim de localizar a parte estrutural para que eu pudesse pensar o redesign. Após muita conversa, descascar de paredes, testes e análises, e muito croqui jogado no lixo, consegui chegar à solução tão esperada para a residência:

Pavimento inferior com redesign:

Como podem observar foram alterações bastante pesadas em alguns pontos específicos.

O deslocamento da cozinha para a parte dos fundos da residência, em especial, onde antes eram dois quartos. A locação ali ficou definida pois futuramente eles irão construir uma churrasqueira nos fundos do terreno e ganham assim, melhor acesso e fluxo entre estas duas áreas. Também foi aberta a parede que dividia os dois ambientes ligando a cozinha à sala de jantar facilitando a circulação e melhorando o fluxo de ar e luz nos dois ambientes.

A abertura da parede do escritório foi pensada para trazer luz para o corredor e amplia-lo uma vez que é bastante estreito e comprido.

A construção de um lavabo para atender as visitas bem como a transformação do BWC dos fundos em uma lavanderia que antes não existia.

O estendal se fez necessário pois a família possui tres cachorros que puxam as roupas do varal. A área onde ele foi locado pega sol grande parte do dia.

A despensa construída visa atender ao projeto da cozinha bastante limpo em elementos, com poucos armários. Além da guarda de utensílios e mantimentos, ela serve como elemento de isolamento para o estendal.

A casinha de gás que antes era inexistente foi projetada ali para atender à cozinha com maior proximidade.

A abertura da parede entre o hall e o living serve também para melhorar a circulação e o fluxo de ar e luz na edificação.

A escada foi alterada melhorando a acessibilidade ao diminuir a inclinação da mesma e padronizando a altura dos degraus e os pisantes.

Pavimento superior com redesign:

Já no pavimento superior, a maior alteração deu-se na parte frontal da edificação.

A construção da suíte na parte frontal da edificação deu-se por tres motivos: 1) o sonho do casal em ter uma suíte grande; 2) a existência de duas salas no pavimento superior sendo que uma era desnecessária; 3) minimização do impacto na estrutura existente.

A ampliação da sacada com a derrubada de uma parede pensando num “cantinho de relaxação” mais escondido da rua segundo as palavras da proprietária.

A inserção de duas mini sacadas nos quartos dos fundos.

A ampliação do BWC superior para que a janela deste não ficasse dentro do BWC da suíte master.

Em todo o projeto de redesign, todas as esquadrias (portas e janelas) foram alteradas por dois motivos: 1) as existentes – de ferro – estavam deterioradas e não havia recuperação. 2) a necessidade de ampliar as aberturas para melhorar o fluxo de ar e iluminação natural.

Algumas alterações não foram realizadas como pensado originalmente por causa de partes da estrutura original que iam “aparecendo” no meio do caminho, nos forçando a alterar algumas coisas, especialmente a disposição de janelas.

Tomei o cuidado de separar bem a área social da área íntima pois esta é uma família que adora receber visitas a qualquer hora. Area social embaixo e a área íntima em cima.

Como podem ver, o redesign desta edificação teve de ser muito bem pensado, cruzando diversas variáveis. A execução deste projeto ficou à cargo dos engenheiros contratados para tal e eu entrei com toda a parte de redesign de interiores, projeto de interiores e ambientes e de LD.

Na verdade, a única área que exigiu reforço estrutural foi na garagem para suportar as alterações realizadas no pavimento superior. O aumento das aberturas e derrubadas de paredes foram compensados com vergas e contra-vergas ou com vigas e colunas novas.

É bastante comum vermos nos sites e blogs internacionais da área projetos que foram executados utilizando o redesign. De ambientes residenciais aos comerciais e institucionais, vemos de tudo um pouco sendo realizado pelos designers e sem enfrentar qualquer problema com profissionais de áreas correlatas. Isso se deve a dois motivos principalmente:

1) a parceria profissional é uma realidade lá fora, enquanto por aqui…

2) as áreas já amadureceram lá fora e entenderam a compatibilidade e diálogo entre elas. Por aqui, insistem em ficar fazendo birrinha no jardim da infância.

Vamos amadurecer gente?

Atividades complementares – formação

Dando sequência aos posts relacionados à formação, gostaria de aprofundar um pouco mais aqui sobre um elemento que não é explorado pelas universidades.

Praticamente todos os cursos de Design de Interiores/Ambientes tem em sua Matriz Curricular as atividades complementares, porém estas ficam desconhecidas e/ou escondidas dentro dos ementários não possibilitando ao pré-acadêmico analisar corretamente sobre o que são, na verdade, estas. Já coloquei em outro post sobre estas atividades que, muitas vezes, estas não passam de “embromattion” para fechar a carga horária dada a dificuldade de se conseguir informações sobre o que estas vem a ser na verdade. Geralmente só descobrimos isso durante o curso.

Também tem este post a ver com o carater social que a nossa profissão deve ter já desde a formação e, através disso, além de formar profissionais mais conscientes de seu papel no mundo real – lembrando que este também é composto por pessoas de baixo poder aquisitivo que merecem ter uma vida mais digna e que a nossa profissão não só pode como deve ser utilizada com um carater social e não somente naquilo que aparece em capas de revistas – auxiliar aqueles mais necessitados com o que a nossa profissão puder alcançar.

Pois bem, as IES que oferecem os cursos de Design de Interiores/Ambientes possuem estrutura para estender estas atividades além de seus muros. É comum vermos dentro destas as incubadoras de empresas em várias áreas, menos em Design de Interiores/Ambientes.

No entanto, percebemos que a maioria dos cursos superiores exigem dos alunos o estágio. Então porque não aproveitar  uma idéia como componente curricular que atenda a esta necessidade trabalhando de uma forma socialmente responsável?

Os investimentos para isso por parte das IEs são baixíssimos se comparados aos benefícios sociais e retornos que a mídia pode oferecer.

Basicamente teríamos dois pontos de ação:

1 – desenvolvimento, acompanhamento e execução de projetos voltados a entidades assistenciais (orfanatos, asilos, centros de recuperação, hospitais, etc). Veja bem: não me refiro às casas de repouso e outras entidades particulares e sim aquelas públicas e filantrópicas que carecem de recursos de todos os tipos.

2 – desenvolvimento, acompanhamento e execução de projetos voltados às residências e comércios de populações menos favorecidas.

No primeiro caso, temos a oportunidade de desenvolver projetos que irão atender entidades filantrópicas e assistenciais buscando soluções para seus problemas funcionais através de intervenções no layout, mobiliário, iluminação, cores e texturas, paisagismo, higiene e bem-estar, etc.

Em asilos e orfanatos, por se tratar de ambientes onde os usuários permanecem o dia todo muitos por um longo período e outros até a morte, podemos entrar com ações que visem a melhoria da qualidade de vida dentro destes espaços buscando atender as necessidades de acessibilidade, higiene, segurança, fluxo e organograma, estética, conforto (térmico, acústico, sensorial) entre outros. Estas ações são necessárias para diminuir a sensação de prisão, isolamento, afastamento e rompimento dos laços familiares (abandono), rejeição, inutilidade entre tantos outros sentimentos e sensações ruins.

Nos hospitais, centros de recuperação e creches as ações são parecidas e as finalidades as mesmas, porém aqui, temos um ponto a mais de atenção que está voltada à saúde, pressupondo, assim, projetos mais específicos.

No segundo caso, dar atendimento às pessoas oriundas de classes menos favorecidas buscando soluções para melhorar a qualidade de vida delas e o bem-estar através de projetos simples com custos adequados aos seus orçamentos.

Sempre que vemos imagens dos interiores dessas residências percebemos a falta de noção espacial e de arrumação. Também é comum percebermos um sistema elétrico sobrecarregado, ou insuficiente, ou ineficaz assim como o sistema hidráulico. Além disso é comum percebermos as coisas amontoadas, armários sobrecarregados, falta de espaço para circulação, acidentes domésticos acontecendo rotineiramente por causa destes motivos.

Tanto em um como no outro, são intrínsecas as ações de conscientização e educação ambiental, higiene e saúde coletiva, segurança entre outros tópicos importantes na construção da cidadania e do cidadão.

Uma sala para atendimento/desenvolvimento/administração, uns três computadores para desenvolvimento dos projetos, suporte de mídia e/ou divulgação e um professor orientador. Basicamente esta é a estrutura que a IES tem de oferecer. Nada perto do que isso significa socialmente.

Um ponto a se destacar aqui é que não é difícil encontrar na indústria voltada para a nossa área, parceiros e patrocinadores para uma empreitada desse porte. De tintas e revestimentos, passando por mobiliários e chegando aos acessórios finais de decoração, são produtos fáceis de se conseguir através de patrocínios e parcerias afinal, responsabilidade social e ambiental estão em alta.

Eu particularmente adoraria pegar a responsabilidade de um projeto nesta linha pois não gosto de ações que visam arrecadar fundos que eu não sei como, onde e se serão realmente e corretamente utilizados. Prefiro agir, fazer. Isso faz parte de mim. A necessidade de fazer algo pelo próximo e não simplesmente pagar para que outro o faça por mim.

Ao pessoal que está no meio acadêmico fica aqui uma dica: conversem com seus professores e coordenadores de curso para viabilizar isso na sua IES.

Todos tem a ganhar com isso seja o discente, o docente, a IES, os parceiros e, principalmente, aqueles que realmente necessitam de ajuda.

Poluição pode ser evitada com medidas de baixo custo

Engenheiro da Poli-USP mostra o impacto dos materiais particulados na poluição atmosférica e propõe medidas para redução de suas emissões

Demolição, movimentação de terra, serviços de corte, raspagem, lixamento, perfuração e quebra, são as principais atividades que geram poluição

Durante a construção de edifícios, o impacto no meio ambiente é considerável em vários aspectos. Porém, uma questão ainda não havia sido abordada em profundidade no Brasil: a emissão de material particulado no canteiro de obras. O engenheiro Fernando Resende, em sua dissertação de mestrado apresentada na Escola Politécnica da USP, deu um passo importante para preencher esta lacuna – e já foi premiado por isso.

“Poluição atmosférica por emissão de material particulado: avaliação e controle nos canteiros de obras de edifícios” é o título do trabalho realizado por Resende, que teve orientação do professor Francisco Ferreira Cardoso, do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Poli. Neste mês de outubro, o trabalho recebeu Menção Honrosa no Prêmio Holcim-Antac de Excelência em Construção Sustentável, referente ao biênio 2006/2008. A pesquisa de Resende, inédita no País, aponta as principais fontes de emissão de partículas na atmosfera e sugere ações e ferramentas para seu controle.

“Meu objetivo foi estudar e propor práticas viáveis no dia-a-dia das construtoras, que precisam lidar com uma série de atividades complexas em sua rotina. Além disso, sei que o custo é fator determinante. Por isso, procurei apresentar soluções simples e baratas, para facilitar sua implantação nos canteiros”, explica Resende.

Demolição, movimentação de terra, serviços de corte, raspagem, lixamento, perfuração, quebra, são as principais atividades que geram partículas. Além disso, movimentação e armazenamento de materiais pulverulentos (agregados, aglomerantes, argamassas, resíduos), também são fontes emissoras de partículas.

Dependendo dos níveis de emissão, o material particulado pode causar impactos no meio ambiente e transtornos para a população: irritação nos olhos e na pele e problemas respiratórios e cardíacos; e incômodos como poeira e resíduos que se acumulam em imóveis, automóveis, monumentos e paisagens. Na vegetação, a poeira depositada nas folhas interfere na fotossíntese, altera o pH e os níveis de pigmentação das plantas, reduz seu crescimento e as deixa suscetíveis a doenças.

Prevenção e controle

Entre as ações preventivas e de controle, Resende aponta a diminuição do volume de escavação nas obras. “Em vez de construir subsolos para garagem, pode-se projetar edifícios com estacionamento localizado acima do nível do solo, por exemplo. Isso evita a necessidade de movimentação de terra e a dispersão de poeira no ar”, esclarece.

Entre as atividades de controle, ele cita a lavagem dos pneus dos caminhões na saída da obra, evitando que lama e terra espalhadas pela rua, ao secar, circulem na atmosfera. Outra medida é proteger os locais de armazenamento de materiais e resíduos em pó, evitando que sejam carregados pelas chuvas ou espalhados pelo vento. Executar serviços de demolição com barreiras físicas, tais como as redes de proteção, isolando o local, ou aspergindo água de reuso, também são providências que evitam a dispersão de poeira na atmosfera.

Para o monitoramento das emissões e seu controle, Resende informa que há uma série de metodologias disponíveis. “A mais comum é o uso do amostrador de grande volume ou Hi-Vol, que mede a concentração de partículas na atmosfera”, informa o pesquisador. “Essa metodologia é utilizada por várias agências ambientais do mundo todo, com padrões de qualidade do ar já estabelecidos”.

Poucas empresas brasileiras fazem controle rigoroso sobre a emissão de material particulado, ressalta Resende. Ele acredita, contudo, que a preocupação com as questões ambientais tende a crescer, seja por demanda da população, do poder público, dos órgãos financiadores, ou pela própria conscientização das empresas. “A importância do controle de emissões de partículas nos canteiros é tal que, em países como EUA, Inglaterra, China e Austrália, já existem leis específicas sobre o tema. Em alguns Estados americanos, conforme o tipo de obra, o controle é obrigatório, e passa pela elaboração de um plano de gestão de emissão, que deve ser aprovado por órgãos ambientais, antes do início das obras”, destaca.

O trabalho de Fernando Resende foi realizado no âmbito do grupo de pesquisa voltado ao tema dos ‘canteiros de obras sustentáveis’, do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Poli/USP. Coordenado pelo professor Francisco Cardoso, o grupo já realizou trabalhos enfocando diversos assuntos, como o estabelecimento de critérios para avaliação de canteiros de obras sustentáveis, as práticas de responsabilidade social empresarial no relacionamento com fornecedores, e a capacitação e a certificação profissional dos trabalhadores dos canteiros de obras.

fonte: O Bonde

Reforma by TAYzt

Mais um excelente exemplo de reforma geral aproveitando construções antigas.

Desta vez, trata-se de um projeto do Designer de Interiores TAYzt que pegou um apartamento com mais de 30 anos e o reformou geral.

SALA ANTES:

SALA DEPOIS:

COZINHA ANTES:

COZINHA DEPOIS:

QUARTO ANTES:

QUARTO DEPOIS:

Belo resultado!!

Reforma: de galpão abandonado à apartamento

Mais um belíssimo projeto que vale a pena ser mostrado.

Trata-se de um antigo galpão onde antes funcionara uma academia de ginástica e que estava ha anos abandonado. O trabalho para a equipe de designers foi transforma-lo num luxuoso e contemporâneo apartamento com 5 quartos.

ANTES:

DEPOIS:

DESTRUIÇÃO DA RESTAURAÇÃO.

Versão remodelada e amplada do texto original.

 

Restaurar? Ofício divino nas mãos de pouquíssimos felizardos, ou melhor dizendo, abençoados. Depende de quem o faz e, são poucos os que realmente tem a concepção exata do que significa isso.

Destruir, modificar, descaracterizar, isso qualquer um faz, até mesmo os bem intencionados que acreditam que isso também é uma forma de restauração.

Existe hoje uma confusão imensa sobre o uso inconseqüente e indevido do termo restauração. Não meus amigos, o que vemos hoje em dia como sinônimos de restauração não passa, na verdade, de uma destruição e desrespeito ao patrimônio seja ele qual for.

Veja bem, não quero dizer que o trabalho dos falsos ou pseudos restauradores não é bom, somente deixar claro o abismo que existe entre o trabalho de um restaurador e o de um destruidor – seria este o termo mais preciso! – mesmo que não, o adotarei a partir daqui.

O termo restauração tem a ver com a ação de recuperação, de trazer de volta o original, revitalizar, reconstruir e reconstituir elementos destruídos utilizando-se das mesmas técnicas e materiais do original sempre que possível e disponível. O cuidado com cada contorno entalhado, cada rebite corroído, amassados em metais, trincos em vidros, tecido repuxado, desbotado, a perfeita e saudável visualização dos veios da madeira e assim por diante. A busca da mesma madeira, a composição da mesma liga metálica, do mesmo verniz ou laca… Tudo é levado muito a sério pra ser rebaixado ou igualado ao trabalho de um modificador.

Quando você tem em mãos um móvel “velho” – é estou falando daquela herança da vovó, que os herdou de sua bisavó e sabe-se lá onde esse trajeto teve início – muitas vezes não se dá conta do valor que este objeto pode ter. Não digo apenas do sentimental ou histórico para a sua família, mas também de um valor real, material, palpável e de um outro ainda que agrega valor: o histórico, de estilo, do período, do artesão que o confeccionou, dos salões por onde já esteve, da história fora da sua família, aquela que é a história da humanidade em algum determinado momento, reflete a realidade social da época.

Este aparador italiano (+- 1400) é um típico exemplar de restauração consciente. Durante todo o processo de restauração desta peça (que pude acompanhar) foram realizadas analises dos vernizes utilizados originalmente, as partes danificadas foram corrigidas utilizando-se as próprias partes, os mármores (extintos) devidamente soldados com materiais específicos. A única parte nova é o espelho pois o original estava quebrado e não permitia restauro. Mesmo assim, foi utilizado um de cristal, conforme o original.

É como uma obra de arte e deve ser respeitado como tal. Cada curva, friso, ângulo, elemento faz parte de um conjunto de coisas que caracterizam o móvel em um determinado estilo e período da história, que compõem a sua harmonia, perfeição. Assim como as técnicas das pinceladas, pigmentos, tecidos utilizados numa tela. Seria tragicômico ver um Botticelli restaurado tendo sido usado tinta acrílica para repor as falhas do tempo. Meu Deus, isso seria caso de internação tanto da proprietária que permitiu quanto da autora do desastre. Da mesma forma que acontece com os móveis.

W. Benjamin define muito bem em seus escritos o que vem a ser a áura de uma obra de arte. Porém ele trata sobre questões técnicas de reproduções de obras de arte. Aquele caso da Monalisa e tantas outras obras que existem às milhares espalhadas nas casas por aí. Esta aura, no caso específico da restauração, pode ser interpretada como o todo citado no parágrafo anterior, seria algo como a vida pulsante da peça a ser restaurada:

“O que caracteriza a autenticidade de uma coisa é tudo aquilo que ela contém e é originalmente transmissível, desde sua duração material até seu poder de testemunho histórico. Como este próprio testemunho baseia-se naquela duração, na hipótese da reprodução, onde o primeiro elemento (duração) escapa aos homens, o segundo – o testemunho histórico da coisa – fica identicamente abalado. Nada demais certamente, mas o que fica assim abalado é a própria autoridade da coisa.” (BENJAMIN, 1980, P.08)

Depois que enfiaram a ditadura das pátinas, decapês e outras técnicas, as revistas entupidas de ambientes recheados de móveis com estas aplicações a impressão é que, até mesmo os profissionais de decoração, interiores e arquitetos perderam a noção do absurdo, do ridículo e do bom senso. Eu cansei de ver – e vejo até hoje – “profissionais” indicando uma patinazinha sobre aquele divano Luis XVI, pasmem, ORIGINAL (!!!!!!) como vi ainda há pouco num fórum de dicas de decoração. E é impressionante que não apenas uma profissional, mas vários, indicaram inúmeras técnicas para uma senhora que recebeu de herança móveis da bisavó que vieram mais de trás ainda. Será que realmente perderam a noção de bom senso ou nunca a tiveram?

Percebam o horror desta peça onde a madeira desapareceu por completo. Toda a textura e volume da peça foi trocado por um visual chapado em um dourado que remete a um falso luxo. Isso se também não levarmos em consideração a troca do tampo (provavelmente um mármore) por este outro.

Por favor gente, quando vocês tiverem em mãos algum objeto antigo, antes de qualquer coisa, questione seu cliente sobre a origem daquilo, a história na família, origens. Caso seja difícil, nada que um bom antiqüer não resolva com uma visita ou até mesmo uma busca pelo Google. Depois disso feito, aí sim tome a decisão sobre o que fazer com aquilo. Mas tenha bom senso, por favor. Não destrua um patrimônio.

Caso seu cliente esteja infectado pelas idéias mirabolantes dos modismos, estude em casa para conseguir traze-lo à realidade e mostrar a ele o valor daquilo. É bem melhor convencê-lo a vender a peça para um antiquário que mandar jogar uma camada de tinta sobre. Veja bem, com o dinheiro que ele ganhará pela peça, certamente vai conseguir mandar fazer uma cópia em madeira menos nobre onde, aí sim, você pode mandar jogar o que quiser em cima sem peso na consciência e sem agredir a história.

A diferença a que me refiro entre os dois profissionais é exatamente esta. Um restaurador cuida do objeto como se fosse um recém nascido. Cerca-o de todo cuidado e trata-o com todo o respeito que ele merece. Pesquisa profundamente inclusive as técnicas construtivas e materiais empregados na época para não incorrer em erros, para não danificar a peça e se danificar acidentalmente, sabe exatamente como reconstruí-la sem descaracterizá-la.

Um destruidor trabalha cegamente na contramão da história. Não leva em consideração absolutamente nada a não ser o quanto ganhará pelo serviço prestado. Ele não consegue ver na sua frente nada mais que uns pedaços de madeira velha. Pode até observar:

– Noooooooossa mas que cadeira lindaaaaaaaaaaaa!

Porém isso não vai passar de mise en scène… Uma tentativa de ganhar o cliente, massageando o seu ego. Mas logo em seguida ele continuará com a sua ânsia destrutiva:

– Um decapê em tons verde forrado com um shantung caramelo vai ficar bárbaroooooo!!!!!

O detalhe não observado na cena acima é que a cadeira em questão é na verdade uma poltrona do estilo Diretório, original. Ai… Este profissional não leva em consideração absolutamente nada, não sabe de nada. Não se importa se a madeira é rara ou já extinta, os frisos suaves e entalhes delicados, as marchetarias e desenhos. Simplesmente vem com suas latas de tintas e preparados pastosos e lança camadas e mais camadas umas sobre as outras, formando aquela massa de quibe que depois de ter imprimido as cerdas do pincel ainda recebe o delicado tratamento das lixas abrasivas que darão o toque final e ele poderá dizer:

– Aiiiiiiiiiiiiiiii!!!! Que luxooooooooooooooooo!!!!!

Desculpem-me, mas isso pra mim é uma cena digna de caracterizar o pior dos infernos de Dante e o dito cujo, o pior dos demônios. É grotesco, pavoroso, insano. Se quiserem suavizar um pouco tudo bem, uma cena digna daqueles enlatados do cinema pastelão onde tudo, por mais ridículo e absurdo que seja, se torna engraçado e consequentemente, aceito.

Para este tipo de coisa seja coerente como eu já escrevi acima. Caso o cliente deseje uma peça de estilo modificada em seu ambiente, não o leve a antiquários nem a lojas de móveis usados para não correr o risco de destruir um pedaço da nossa história. Hoje algumas fábricas fazem cópias exatas de qualquer móvel. Basta apresentar uma foto e, seja ele de que período da história for, eles pesquisam e você o recebe pronto para enviá-lo ao profissional que, aí sim, deixará de ser um destruidor e passará a ser um artista.

Eu não poderia, como amante das artes, deixar de externar a minha indignação e preocupação com este assunto e as conseqüências observadas por aí no dia a dia profissional.

Bem meus amigos, este assunto vai longe, provoca divergências e discussões acaloradas. Alguns se sentirão ofendidos e outros aliviados. Outros conseguirão entender a diferença entre os trabalhos e profissionais e outros conseguirão se manter insensíveis ao tema. Se eu consegui atingir você hoje com este texto, fazendo-o parar e analisar as situações, ou até simplesmente rir com algumas colocações, já está valendo. Já alcancei meu objetivo e minha função como educador e amante das artes.

LD&DA Paulo Oliveira