Já fazia algum tempo que eu vinha querendo escrever sobre isso mas com a correria do dia a dia sempre acabava deixando pra depois. No entanto, em um debate com o Foster num outro blog o assunto acabou por ficar mais importante e tomar forma.
Falo sobre áreas de atuação em que o Designer de Interiores/Ambientes pode atuar e que a maioria não faz a menor idéia da existência das mesmas. Interiores de meios de transportes.
No começo do ano quando estive no litoral de São Paulo conheci uma designer que trabalha exclusivamente com interiores de embarcações. Ela começou a me falar sobre o trabalho e garanto: é encantador ao mesmo tempo que é um desafio dos grandes.
Deixando de lado a questão financeira envolvida (que é o sonho de qualquer designer) pensemos na parte técnica envolvida. Um iate ou um transatlântico são meios de transporte que necessitam sim de projetos muito específicos especialmente pelas pequenas dimensões dos ambientes. Isso também ocorre com outros segmentos: aviação, carros, ônibus, trens, metrôs, caminhões enfim, muitas possibilidades de atuação.
Dentro desta área voltada para o transporte, o trabalho do designer de interiores vai ter muita base no desenvolvimento de mobiliário e equipamentos específicos. Ergonomia e acessibilidade serão sempre elementos primordiais neste trabalho. E, claro, não podemos deixar de levar em consideração as outras normas técnicas envolvidas, especialmente as sobre segurança.
Pensemos em um avião com rotas internacionais. O usuário permanece por horas dentro do mesmo, confinado em um espaço consideravelmente pequeno. Alguns aviões de grandes empresas dispõe de espaços alternativos (salas de estar, bar, etc) para aqueles que desejam. Porém, temos de pensar que existem usuários que por vários motivos irão permanecer a viagem toda em suas poltronas seja por não gostar de voar, seja por ter tomado algum remédio para dormir para que aquela tormenta que é a viagem passe logo. Com tudo isso, temos de pensar na melhor forma de oferecer ao usuário ambientes e equipamentos o mais confortáveis possível.

Não devemos nos esquecer que existem normas específicas sobre iluminação para interiores em aviões e também que, quando fazemos um projeto deste, temos de pensar também no conforto da tripulação, seja lá na cabine de comando, seja em tudo que diz respeito ao trabalho e bem estar dos comissários de bordo (área de trabalho, equipamentos de trabalho, áreas de descanso, etc).
Os elementos citados acima devem ser considerados também no caso de projetos para interiores de embarcações, especialmente nas cabines que são espaços bastante reduzidos. Já em outros espaços, bem mais amplos fica mais fácil trabalhar, porém, atenção redobrada nas normas técnicas e de segurança. Lembre-se sempre de onde os usuários estarão no caso de um acidente: no mar. Portanto além de rotas de fuga limpas, devemos pensar na comunicação visual, iluminação de emergência, equipamentos de segurança e mais um monte de coisas. Nunca somente na beleza e conforto.

Em interiores de transportes terrestres (à excessão dos trens) o trabalho já é bem diferente e resume-se especialmente à concepção de equipamentos que venham a solucionar a falta de espaço interno. Seja num carro ou num caminhão sempre teremos espaços pequenos tendo de ao menos, aparentar ser grande ou maior do que é de fato. Com isso, a ergonomia é uma constante neste tipo de projeto.
Podem questionar o porque de eu ter colocado os caminhões neste meio: já ha bastante tempo as montadoras vem pensando no conforto e bem estar dos caminhoneiros. Lembrem-se sempre que a maioria deles dormem dentro das cabines, cozinham do lado de fora enfim, vivem um vida dentro e junto de seu caminhão.

Nos ônibus o trabalho não é diferente e também importante. Lembre-se sempre que existem grupos que fazem longas viagens de ônibus por ser mais barato que de avião. Também existem aqueles ônibus de grupos musicais, teatro e outros que sempre sofrem alterações internas de modo a tornar os ambientes mais agradáveis e compatíveis com as necessidades dos usários. Não posso deixar de citar também o trabalho junto aos motorhome (aquelas “casas ambulantes”) e trailers.

Também os ônibus urbanos e metropolitanos merecem atenção. No entanto vemos pouquíssimas alterações dentro ds mesmos. O básico e comum a todos seria uma visão como esta:

São pontos a se pensar: como podemos trabalhar para melhorar este tipo de transporte com o nosso trabalho?
Ainda na área terrestre temos os interiores automotivos. Os carros estão sofrendo alterações constantes sempre na intenção de melhorar o conforto, a segurança e praticidade para o usuário. Muitas destas alterações são feitas pelos fabricantes porém a maioria está vindo do pessoal que trabalha com tunning. Pra quem ainda não sabe, tunning é aquele trabalho de personalização dos carros tanto externa quanto interna. O programa Lata Velha do Caldeirão do Huck é um bom exemplo deste trabalho. É o tipo de projeto que vai exigir muito conhecimento técnico do designer seja em equipamentos, em materiais, em estilo e conceito.

Indo para os trilhos temos: trens e metrôs. Infelizmente aqui no Brasil, não sei se por corporativismos, poucas são as cidades que ainda contam com transporte através de trens seja municipal ou intermunicipal. Lembro-me saudoso de minha infância quando cruzava as paisagens embalado pelo suave balanço dos trilhos. Nos trens temos de pensar que o usuário – à excessão dos trens bala – permanecerá um tempo considerável no transporte. Por isso é comum vermos vagões específicos: vagão restaurante, vagão bar, vagão dormitório, enfim… Já nos trens bala, temos uma situação parecida com a dos aviões: espaço relativamente pequeno. Mas também pensemos que estas viagens são muito rápidas então, podemos ser menos rudes no trato com espaços. Mas também não podemos nos esquecer de pensar nos que trabalham ali assim como nos avões: pilotos, pessoal de bordo.

Já nos metrôs encontramos uma situação semelhante à dos ônibus urbanos e metropolitanos: grande quantidade de usuários. Portanto devemos pensar sempre na comodidade e conforto destes. Por isso não podemos deixar de observar questões de ergonomia, acessibilidade e também segurança.

Bom, se formos analisar bem, mercado de trabalho nesta área é o que não falta.
Esta é uma área que é deixada de lado na maioria dos cursos de Design de Interiores talvez por desconhecimentos dos próprios alunos, talvez por desconhecimento das próprias IES e talvez porque a maioria dos professores destes cursos vem da área de arquitetura e não do Design. Porém, pelo nome do curso sendo Design de Interiores, todos podem sim exigir que sejam repassadas informações e conteúdos sobre esta área em seus cursos.
Também vale a pena repensar as Matrizes Curriculares dos cursos existente no sentido de acrescentar ou trabalhar de forma mais aprofundada este segmento dentro dos mesmos.
Saudações luminosas a todos!!!
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