Seja lá como você se denomina profissionalmente, pare e reflita um pouco.
Diante de uma indefinição terminológica parece natural que cada um busque valorizar sua área de formação principal. Entretanto isso desencadeia – sobretudo para o mercado – uma confusão na definição e na atuação específica dos vários profissionais da área da iluminação.
Percebe-se uma forte rejeição ao termo Lighting Designer, apesar de reconhecido mundialmente para denominar esta profissão. Não é incomum se deparar com vários profissionais que apresentam desculpas de todo tipo para justificar a não utilização do termo. Numa palestra, tive a oportunidade de ouvir um profissional, num tom bastante irônico e debochado, afirmar que ele se recusava a usar este termo, pois, como brasileiro, não admitia estrangeirismos, além de afirmar como “afrescalhado” (sic!) o uso desta denominação.
Em Londres, no dia 27 de outubro 2007, na sessão plenária da The Professional Lighting Design Convention (PLDC) – foi aprovada e proclamada a “Declaração para a Instituição Oficial da Profissão do Designer de Iluminação de Arquitetura”. Vários brasileiros que estavam presentes assinaram esta declaração.
De acordo com o Art. 2º desta declaração, não faz o menor sentido as insistentes tentativas de usar termos variados para denominar profissionais que fazem a mesma coisa. Ainda mais considerando como imprescindível a formação específica para esta atividade. Assim como soa imoral e até ilícita a tentativa de defender uma apropriação do Lighting Design como reserva de mercado para profissionais de certas áreas apoiando-se em argumentos falaciosos e desprovidos de conhecimento, irresponsáveis e desrespeitosos com aqueles profissionais que com preparo teórico-prático e competência trabalham com a luz.
O pessoal da cênica não foi considerado explicitamente nesta declaração. Porém, a International Association of Lighting Designers, a mais forte, séria e respeitada entidade da área de iluminação internacional, reconhece estes profissionais como Lighting Designers. Há que destacar que a IALD não faz distinção entre formações acadêmicas. O que vale é a qualidade do portfolio, o conhecimento, a técnica, a estética, a capacidade de solucionar os projetos através da experiência profissional.
Por aqui temos três associações: AsBAI, ABIL e ABrIC. O que nos impede de termos apenas uma englobando – e congregando – todos os profissionais que atuam na área de iluminação, com interesses comuns?
Das três, a meu ver, a mais isenta de segregação, enquanto ativa, foi a ABIL. Na AsBAI, reconheço a coragem de impor uma análise curricular para nela se associar, mais que necessária. Porém, nenhuma delas oferece aos seus associados uma forma de identificação profissional (carteirinha, selo, etc).
Na contramão da interdisciplinaridade como requisito de qualidade da atuação profissional, ainda nos deparamos com segmentação, segregação, divisão e cisão entre os profissionais brasileiros. De qualquer modo, essa situação reforça a ideia de que estamos em busca – e necessitamos com urgência – de uma identidade própria. Isso, porém, só conseguiremos quando houver ética e respeito mútuo entre os diversos profissionais.
Se continuarmos incapazes de falar a mesma língua e de, ao menos, usar a mesma denominação para nos identificar profissionalmente, além de facilitar o entendimento e reconhecimento da profissão pelo mercado, dificilmente conseguiremos o devido respeito e reconhecimento profissional. Neste contexto atual, dificilmente conseguiremos uma regulamentação profissional, mais que importante e necessária.
*Coluna “Luz e Design em foco” da revista Lume Arquitetura ed n° 55.
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