Ergonomia?

Se tem uma coisa que me tira do sério, é a quantidade de posts nas redes sociais com imagens como a acima (tirada de Neuffert). Poucos são os que tem a capacidade de real de escrever sobre o tema. Minha vontade é de entrar e comentar algo, mas prefiro me calar e prefiro escrever aqui em meu blog para evitar gente melindrosa que certamente se sentirá ofendidinha ao invés de repensar seu “conhecimento” e rever suas postagens carregadas de baboseiras.

Quando postados por DInts, deixam claro que sua formação nessa disciplina foi superficial, certamente ofertada por alguém não especializado na ciência, tampouco formado(a) em Design. Provavelmente daquele tipo de “professor(a)” que não está ali para ensinar e sim, apenas pra ganhar uns trocados afim de pagar suas contas no final do mês. Ou seja, está ocupando uma vaga, atrapalhando e atrasando o ensino em nossos cursos.

Já nos posts de arquitetos (a maioria, diga-se de passagem), resta evidente que nem de longe margeiam o real significado da Ergonomia.

Pior é que vejo tais postagens sendo republicadas e/ou compartilhadas freneticamente por outros estudantes e profissionais.

Para quem não prestou atenção nem na capa do livro, isso se trata APENAS de dimensionamento. E, mesmo assim, não é aplicável a qualquer (ou todos) os usuários uma vez que temos biotipos diversos dentro de um mesmo núcleo familiar. Quiçá dentro de uma empresa… isso é apenas um pequeno conteúdo (recorte) dentro da Ergonomia.

No Brasil, décadas atrás, diversos grupos acadêmicos se uniram para fazer um levantamento na tentativa de definir as medidas padrão de nossa população de acordo visando ajustar Neuffert à nossa realidade bem como, outros aspectos da Ergonomia. Foram centenas de pesquisadores trabalhando e outros milhares de voluntários servindo de modelo. Mas simplesmente desistiram. Nossa mistura de raças é tão grande que não há um padrão de biotipo – ou dimensional – que atenda às necessidades de todos. Por fim, a indicação que ficou pode ser resumida da seguinte forma: observe atentamente as características INDIVIDUAIS antes de projetar. E projete de maneira a atender as necessidades ergonômicas de TODOS.

Vejo isso em minha própria família:

Eu, 1,82m;

Meu pai, 1,78m;

Minha mãe, 1,60m;

Minha irmã, 1,65m.

Além das diferentes alturas, existem as questões de extensões de membros superiores e inferiores que também variam bastante. Também, acuidade visual, auditiva, alergias, tons e sensibilidade de peles, etecéteras. Somos uma mistura de italianos, portugueses, espanhóis e índios(!) que vem de, ao menos 4 gerações se misturando. Dê uma espiada no Google sobre as características físicas destes povos. Agora tente imaginar cruzar tudo isso e os possíveis resultados.

Dê uma analisada de leve em sua família e perceba se não estou escrevendo uma verdade. Faça uma listinha com cada integrante e anote as características de cada um.

Logo, as medidas “padrão” demonstradas por Neuffert servem apenas – e tão somente – de base para os projetos e não para serem levadas ao pé da letra como muitos pregam em seus posts – e em sala de aulas.

Lamentavelmente, percebo que nas aulas de Ergonomia, em muitos cursos de DInt, ainda é pregada a questão da “distância mínima” entre sofá/mesa de centro, cadeira/mesa/parede, altura de bancadas e similares, reduzindo de forma absurda a disciplina mais importante de nossa profissão. Por acaso seus professores de Ergonomia e de iluminação alguma vez falaram sobre aspectos ergonômicos da luz? DUVIDO!

Longe de desmerecer os decoradores, mas essa preocupação é a deles que trabalham de forma mais superficial/visual os espaços. Nós, designers, não ficamos na superfície e temos o dever de mergulhar fundo nos problemas dos espaços. E este mergulho começa pela análise ergonômica completa.

O(a) de Ergonomia provavelmente ficou nessa brincadeira e o(a) de iluminação certamente se prendeu na NBR e na estética. Escrevo isso baseado na quantidade de curtidas e pelo conteúdo – se é assim que posso chamar – dos comentários nesse tipo de post.

Se serve de alerta, evite compartilhar esse tipo de postagem. Assim você estará ajudando a não disseminar desinformação.

Quer aprender realmente sobre a área? Leia livros, faça cursos, siga perfis de ergonomistas (profissionais e empresas) e, principalmente, de grupos de pesquisa e estudos sobre o assunto. Também, leia artigos sobre Ergonomia.

Menos desinformação.

Mais informação e conhecimento por favor!

Design de Ambientes – Breve histórico, definições e considerações

Paula Glória Barbosa

Profª MSc da Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais

Considerações sobre o termo design

A palavra design tem ambiguidade em sua etimologia. Designare, do latim, origem mais remota do termo, significa, simultaneamente, designar (conceber, projetar, atribuir) e desenhar (registrar, configurar, formar) (CARDOSO, 2008)[1]. Segundo Schneider (2010, p.195)[2], em 1588, o termo foi mencionado pela primeira vez no Oxford English Dictionary, definido “como um plano elaborado por uma pessoa ou um esquema de algo a ser realizado, além de um primeiro esboço para uma obra de arte (ou) um objeto de arte aplicada, necessário para a realização de uma obra”.

Do inglês, a palavra foi apropriada pelo português, mantendo a ideia de concepção, intenção, desígnio, projeto (referência ao abstrato) e configuração, arranjo, estrutura, desenho, produto de uma concepção (âmbito concreto) (HOUAISS, 2013)[3]. O design, na sua acepção de substantivo que determina uma profissão ou área do conhecimento, pode ser entendido, conforme apresenta Cardoso (2008)[4], como uma atividade destinada a atribuir forma material a conceitos intelectuais. Moura (2005)[5], em seus estudos, discute o design a partir do significado de desenho, projeto e desígnio, três sentidos que, inter-relacionados, dizem da intenção de levar algo da não presença à presença. Nesse processo, o projeto, visualizado principalmente por desenhos, configura-se como o meio pelo qual é possível levar uma ideia do imaterial ao tangível, possibilitando a concretização da intenção.

Como organização internacional dedicada à discussão e ao reconhecimento do design e sua comunidade, o International Council of Societies of Industrial Design (Icsid) apresenta, desde a sua fundação em 1957, diferentes definições para design que acompanham o seu processo evolutivo. A última conceituação de design publicada pelo Icsid contextualiza algumas das principais temáticas presentes no debate contemporâneo da disciplina, como as novas tecnologias e seus impactos socioculturais e ambientais:

Design é uma atividade criativa na qual o objetivo é estabelecer as qualidades multifacetadas dos objetos, processos, serviços e seus sistemas, compreendendo todo o ciclo de vida. Portanto, design é um fator central de inventiva humanização das tecnologias e fator crucial de trocas culturais e econômicas. (ICSID, 2013).[6]

Cabe, portanto, ao designer, o papel de interpretar e relacionar, de forma holística, os múltiplos aspectos dos objetos, processos, serviços e seus sistemas com o contexto de projeto, visando o equilíbrio entre a inovação tecnológica e o ecologicamente correto, o economicamente viável, o socialmente justo e o culturalmente aceitável. Essas interpretação e relação são, em suas essências, complexas, exigindo do designer uma abordagem criativa e multidisciplinar na busca por soluções pertinentes, viáveis e eficientes. Ressalta-se, nesse processo, o usuário final como centro das atenções do projeto.

Nessa definição, percebe-se, também, a expansão do campo de atuação do design, antes centrado em produtos industriais e agora capaz de abarcar objetos, processos e serviços, a partir de uma visão integral do sistema que os envolve, se expandindo, pois, em especialidades como o design de ambientes, o design gráfico, o design de serviços, o design de moda e o design de produtos.

Para Schneider (2010)[7], o design, de um modo geral, expressa-se por meio de suas três funções: a prático-técnica, a estética e a simbólica. A primeira, conhecida também como funcional, refere-se às características intrínsecas do objeto, como durabilidade, confiabilidade, qualidade técnica, segurança e manuseabilidade, ou seja, aos aspectos que podem ser avaliados e mensurados de forma racional pela percepção humana. A função estética, ao contrário, é emocional e subjetiva, tratando do aspecto formal do objeto a partir da composição de cores, materiais, formas e superfícies. Essa composição dá ao objeto a conotação de signo, tornando-o “legível” e dando indicações visuais para o seu uso. Por fim, a função simbólica diz respeito ao significado do objeto, codificado e transmitido pelo proprietário às pessoas de seu convívio social. Refere-se, portanto, a estilos e a filosofias de vida. Assim, os objetos identificam personalidades e se configuram como uma forma de expressão decodificável, possibilitando integração social, diferenciações e classificações.

Os objetos de design refletem, portanto, formas de vida e de produção de uma sociedade, de uma época. Segundo Shcneider (2010, p.201)[8], “o projeto de objetos de design é tanto uma prática social quanto a reflexão sobre essa prática”. Tal discussão corrobora com a ideia do design enquanto “fator crucial de trocas culturais e econômicas”, conforme exposto na ultima definição de design elaborada pela Icsid.

Em conclusão, o design pode ser entendido como uma atividade capaz de solucionar diversos problemas da sociedade contemporânea, marcada, principalmente, pelo incentivo à inovação, pela diversidade de materiais e tecnologias, pelo processo de globalização e pela necessidade do consumo sustentável. Nesse cenário, o designer se posiciona como um profissional habilitado a responder, a partir de uma perspectiva sistêmica de gestão da complexidade, pelo desenvolvimento de projetos centrados nos usuários, sob a perspectiva da abertura à pesquisa, do diálogo interdisciplinar, do apoio à diversidade cultural e da capacidade de articular inovação e sustentabilidade, posicionando-se como uma disciplina capaz de moldar o ambiente humano e influenciar os padrões de vida em sociedade (Cardoso, 2012; Krucken, 2008; Moraes, 2008)[9].

Da Decoração ao Design de Ambientes: um brevíssimo histórico

O contexto industrial das décadas de 1940 e 1950 – a profusão de artefatos, de móveis e de eletrodomésticos disponíveis para o consumo – caracterizou, segundo Santos (2009)[10], os hábitos da vida moderna e influenciou, diretamente, a configuração dos espaços habitados, bem como as relações que ali eram estabelecidas, evidenciando extrema preocupação com a aparência e a praticidade.

Organizar os espaços interiores do cotidiano para usufruto das vantagens da cidade moderna e das novidades industriais era, mais do que um desejo, uma necessidade. Embora houvesse recursos alternativos para o aprendizado sobre as tendências de composição dos interiores – como reportagens e propagandas veiculadas em revistas especializadas no assunto – na década de 1950 a presença de um profissional que considerasse, em projeto, aspectos técnicos e estéticos da composição se tornou mais requisitada. Surgiu, assim, a demanda por um profissional que soubesse planejar os interiores domésticos e comerciais, de modo que o antigo de então recebesse, harmônica e funcionalmente, o novo daquele tempo. (MOREIRA, 2006)[11].

De início, dada a novidade da ocupação cuja essência e demanda passavam a se desenhar, tal atividade era desenvolvida substancialmente por arquitetos, artistas e pessoas de “bom gosto”, obviamente não por quem se dedicasse profissional e exclusivamente à tarefa, então denominada Decoração.

O significado do termo decoração está intimamente associado à arte de ornamentar, adornar, embelezar (HOUAISS, 2012)[12]. No entanto, no contexto da vida moderna, além da preocupação com a aparência, existia a necessidade de se planejar o uso e a ocupação dos espaços habitados da cidade, visando facilitar a prática das atividades cotidianas em virtude da maneira cada vez mais dinâmica de viver.

Em Belo Horizonte, visando à capacitação profissional de alunos interessados nessa área inaugurou-se, em 1957[13], a Escola de Artes Plásticas (ESAP), subordinada à já existente Universidade Mineira de Arte (UMA). A ESAP entrou em funcionamento oferecendo quatro cursos inéditos na época, estruturados em quatro áreas distintas, dentre elas a Decoração, inicialmente na forma de curso livre. Em 1963[14], foi instituída a Fundação Universidade Mineira de Arte (FUMA), que passou a congregar a ESAP.

Em 1964[15], foi concedido reconhecimento à ESAP/FUMA por parte do governo federal, garantindo o título de bacharel em Decoração aos alunos graduados pela instituição. No ano de 1994[16], a FUMA foi extinta, seu corpo docente e administrativo foi transferido à recém-criada[17] Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) e, posteriormente, a ESAP passou a ser denominada Escola de Design (ED).

Para obter o título de decorador era necessário cursar disciplinas práticas e teóricas por um período mínimo de quatro anos. O objetivo desse curso era, conforme apresenta Moreira (2006, p.67)[18], “formar profissionais qualificados para compreender as demandas do público alvo, seu contexto social e cultural, entender o espaço, suas funções e possibilidades, propor soluções adequadas, considerando aspectos históricos e artísticos, e ainda, representar graficamente suas ideias”.

A sociedade, por sua vez, experimentou grandes mudanças desde a década de 1950. A revolução tecnológica, que se iniciou na segunda metade do século XX e perdura até os dias de hoje, implicou maior velocidade no ritmo de vida das pessoas, já acelerado desde a revolução industrial. A Decoração, então, precisou ser adaptada a esse novo cenário. Fez-se necessário, portanto, a compreensão da abrangência da profissão, desvinculado-a da simples ideias de ornamentação e organização.

Diante desse contexto, desde a inauguração do curso de Decoração o respectivo colegiado buscou adequá-lo às necessidades da sociedade e do mercado de trabalho, alterando diversas vezes a matriz curricular e o conteúdo das disciplinas de forma a acompanhar as inovações ocorridas nos campos de atuação do decorador (ESCOLA DE DESIGN, 2003)[19].

Por meio de esforços empreendidos desde 1994 pela necessidade de reformulação geral do conteúdo das disciplinas, implantou-se, em 2004, um novo currículo para o curso de Decoração, que passou a se chamar Design de Ambientes.

Dessa forma, o então curso de Decoração da ED/UEMG modificou-se para adequação à ideia vigente de design, pautada em uma metodologia de desenvolvimento de projeto com foco no usuário, no incentivo à pesquisa, no trato da inserção das novas tecnologias no cotidiano e no compromisso com a inovação e a sustentabilidade, se propondo a fazer design para ambientes.

Design de ambientes é, portanto, uma especialidade do design, responsável por identificar e analisar problemas oriundos das relações entre o individuo e o espaço que habita, propondo soluções que promovam bem estar e qualidade de vida aos usuários.

Considerações sobre o Design de Ambientes

O design de ambientes pode ser entendido como uma atividade criativa e de caráter multidisciplinar dedicada ao planejamento da ocupação e do uso dos espaços habitados – sejam internos ou externos; residenciais, empresariais, institucionais, industriais ou efêmeros; arquitetônicos ou não arquitetônicos –, tendo o usuário como foco de projeto e considerando os aspectos funcionais, estéticos e simbólicos do contexto sócio-econômico-cultural em que atua, de modo a resultar em ambientes confortáveis e eficientes às demandas instituídas, contribuindo para o bem estar e a qualidade de vida dos seus usuários.

O planejamento de um ambiente envolve, basicamente – e a partir da articulação entre os referidos aspectos funcional, estético e simbólico –, a elaboração do layout; o estudo e a definição das cores, formas, texturas, mobiliários, equipamentos e obras de arte que compõe o ambiente; a especificação dos materiais para revestimentos de pisos, paredes, divisórias, forros, etc.; e a elaboração das estratégicas de conforto ambiental, como a configuração da iluminação e dos sistemas de condicionamento de ar. Deve, também, atender às exigências normativas pertinentes e dar atenção a questões como sustentabilidade e inovação. Cabe, no ponto, ressaltar a limitação de atuação do designer de ambientes quanto às alterações estruturais construtivas, hidrossanitárias e elétricas.

A ocupação de um ambiente está relacionada ao sentimento de apropriação, em que o projeto tem, intencionalmente, o objetivo de estimular determinada sensação com o intuito de despertar, no usuário, o sentimento de identificação, de posse, de pertencimento àquele lugar. O uso, por outro lado, refere-se à utilidade prática do ambiente de acordo com a sua natureza, como dormir, estudar, comer, conversar, entre outras ações possíveis a partir da relação do indivíduo com o espaço e entre os próprios indivíduos envoltos pelo ambiente.

A diferença conceitual entre interno e externo se dá pela existência (no caso do primeiro), ou não (em se tratando do segundo), de uma estrutura que circunde o ambiente em questão. Exemplos de ambientes internos são o interior de uma embarcação ou de um trem, uma vitrine de loja de roupa, um cômodo de dormir, uma sala de aula, uma clínica odontológica ou o palco de um teatro. Para os ambientes externos, há a possibilidade de se trabalhar, dentre outros, o paisagismo de uma pousada, a configuração de uma exposição ao ar livre ou um show musical em uma praça. A partir desses exemplos é possível perceber a diversidade de espaços possíveis para interferência do designer de ambientes, sejam esses arquitetônicos ou não, para as funções residencial, empresarial, institucional, industrial ou efêmera.

Assim, o designer de ambientes se posiciona, na atualidade, como um profissional capacitado tecnicamente e hábil na compreensão das demandas contemporâneas, na interpretação dos modos de vida e na proposição de soluções que promovam conforto, bem-estar e qualidade de vida aos usuários.

A diferença que há entre o trabalho do designer de ambientes e de outros profissionais ligados ao planejamento e à configuração dos espaços, como os arquitetos, é a forma como os designers analisam as necessidades, as experiências e os desejos dos usuários; pesquisam as condicionantes técnico-práticas, estéticas e simbólicas do contexto projetual; interpretam os modos de vida e as respectivas possibilidades de adequação ao ambiente em questão; e propõem soluções pertinentes, viáveis e singulares, posicionando-se como um profissional especialista no planejamento e na configuração dos ambientes para vivência humana.


[1] CARDOSO, Rafael. Uma Introdução à História do Design. 3.ed. São Paulo: Edgar Blücher, 2008.

[2] SCHNEIDER, Beat. Design – Uma Introdução: o Design no contexto social, cultural e econômico. Trad.: Sonali Bertuol, George Bernard Sperber. São Paulo: Editora Blücher, 2010.

[3] HOUAISS. Grande Dicionário da Língua Portuguesa. Design. Disponível em:

<http:// http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=design&gt;. Acessado em: 09 de Setembro de 2013.

[4] Idem nota 1.

[5] MOURA, C. O desígnio do design. In: Livro de Actas – 4º SOPCOM | Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, Aveiro, 2005, p. 73-81.

[6] ICSID. International Council of Societies of Industrial Design. About ICSID. Disponível em:

<http://www.icsid.org/about/about.htm&gt;. Acessado em: 26 maio 2013. Traduzido pela autora. Texto original: “Design is a creative activity whose aim is to establish the multi-faceted qualities of objects, processes, services and their systems in whole life cycles. Therefore, design is the central factor of innovative humanisation of technologies and the crucial factor of cultural and economic exchange”.

[7] Idem nota 2.

[8] Idem nota 2.

[9] CARDOSO, Rafael. Design para um Mundo Complexo. São Paulo: Cosac Naify, 2012.

KRUCKEN, Lia. Competências para o design na sociedade contemporânea. Caderno de Estudos Avançados: Design e Transversalidade, Caderno 2, v. 1. Belo Horizonte: Santa Clara: EdUEMG, 2008. P. 23-32.

MORAES, Dijon de. Design e Complexidade. Caderno de Estudos Avançados: Design e Transversalidade, Caderno 2, v. 1. Belo Horizonte: Santa Clara: EdUEMG, 2008, p. 07-22.

[10] SANTOS, Edgar Souza. A caminho do lar – a narrativa dos anúncios de eletrodomésticos. 2009. 207 f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, 2009.

[11] MOREIRA, Samantha. C. de O. Interiores de Casas Residenciais em Belo Horizonte: a década de 1950. 2006. 137f. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006.

[12] HOUAISS. Grande Dicionário da Língua Portuguesa. Decoração. Disponível em:

<http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=decora%25C3%25A7%25C3%25A3o&gt;. Acessado em: 21 de Setembro de 2013.

[13] Escola de Design/UEMG. História. Disponível em: < http://www.ed.uemg.br/sobre-ed/historia&gt;. Acessado em 09 de Setembro de 2013.

[14] Lei Estadual nº 3.065, de 30 de dezembro de 1963. Disponível em: Diário do Executivo. 31/12/1963. p. 3_col5.

[15] Decreto nº 55.068, de 24 de novembro de 1964. Disponível em: Diário Oficial da União – Seção 1 – 16/2/1965, Página 1881.

[16] Decreto Estadual nº 36.639, de 10 de janeiro de 1995. Disponível em: Diário do Executivo. 11/01/1995. p. 1_col2.

[17] Constituição Mineira de 1989: Art. 199 – Estabelece autonomia universitária e define a forma de constituição da UEMG; Ato das Disposições Constitucionais Transitórias: Art. 81 – Cria a UEMG; Art. 82 – Possibilita a absorção, pela UEMG, de fundações educacionais.

[18] MOREIRA, Samantha. C. de O. Interiores de Casas Residenciais em Belo Horizonte: a década de 1950. 2006. 137f. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006.

[19] ESCOLA DE DESIGN da Universidade do Estado de Minas Gerais (ED/UEMG). Projeto Pedagógico – Curso de Design de Ambientes. Belo Horizonte, 2003.

Sensação, percepção e emoção no espaço projetado

Bom pessoal, entre as novidades deste ano aqui no blog está a participação de colaboradores escolhidos a dedo para vocês. Começo então com este excelente artigo da mestre Vivian.

Sensação, percepção e emoção no espaço projetado

Profa. Me. Vivian Fetzner Ritter*

Certas características da contemporaneidade alteraram profundamente os modos de organização social, a vida pessoal e emocional dos indivíduos e os seus espaços. Entre essas características está a redução do espaço vital e o fenômeno do confinamento funcional.

Os arquitetos e designers de interiores já consideram essas características projetando balizados pela minimização das dimensões dos espaços arquitetônicos e buscando por estratégias para que esse espaço seja otimizado e percebido como um espaço de dimensões satisfatórias.

É importante lançar um olhar sobre a percepção como uma estratégia a ser utilizada nos projetos de arquitetura e design de interiores. Os conhecimentos sobre percepção, sensação e emoção devem ser entendidos como vitais no projeto, uma vez que não é recomendável separar a subjetividade da objetividade de um projeto. Essas alterações são percebidas com rigor na iluminação, antes se comprava lâmpadas, hoje se compra efeitos de luz.

A subjetividade está por trás da objetividade do projeto. Por vezes, as qualidades não residem propriamente no objeto ou na estrutura da edificação, mas na percepção do usuário do espaço.

Freqüentar várias vezes um restaurante onde a comida não é tão boa, mas o espaço é agradável pode ser explicado pela percepção positiva e a relação afetiva desenvolvida pelos usuários em relação à estrutura física e sensorial desse restaurante. Tratam-se de aspectos como sons, aromas, texturas, cores, conforto térmico e outros atributos que dependem das capacidades perceptivas dos indivíduos. Os freqüentadores desse restaurante são fundamentais para a interpretação do discurso desse espaço.

 A experiência sensível é o início de todo o conhecimento. Por isso, a sensação é a primeira das fases do processo perceptivo, seguida da atenção, percepção, emoção e memória.

Segundo o escritor inglês John Berger (1999) “a maneira como vemos as coisas é afetada pelo que sabemos ou pelo que acreditamos”. Uma loja de vestuário feminino utiliza o que chamamos de design sonoro e escolhe uma música “agradável” para os clientes, da mesma forma, elege uma essência “agradável” para ser associada à identidade da loja, entre outros recursos. Apesar de haver a mesma condição ambiental, e uma certa semelhança de impressões de percepção, cada sujeito que entrar nessa loja a perceberá de maneira diferente, assim, o mesmo espaço arquitetônico será visto de diferentes formas e interpretado de maneira particular.

A percepção é conduzida pela experiência sensorial, conhecemos as coisas mediadas pela nossa experiência. Olhar, cheirar, ouvir, tocar e saborear é um ato de escolha, elegemos o que nos chama mais atenção para ver. É preciso muito mais do que olhar para compreender um espaço e a emoção que ele enseja, é preciso ver com os ouvidos, com o nariz, com o estômago, com a pele. Ver aquilo que os olhos não vêem. Ver com os olhos da mente é sentir aquilo que se olha.

Recebemos muitos estímulos contínua e simultaneamente. Por isso, para que haja percepção é preciso dar significado a esses estímulos. Não conseguimos dar sentido a tudo que ouvimos, a tudo que olhamos, a tudo que sentimos. Normalmente, aquilo que nos chama mais a atenção é mais facilmente percebido.

 A porta de entrada de um estímulo são os canais sensoriais, os cinco sentidos do organismo humano e a forma como organizo e interpreto esses estímulos é o que chamamos de percepção. O produto de um estímulo é o prazer ou o desprazer que dão origem às emoções, explicando, assim, a agradabilidade referida ao restaurante e à loja. A emoção foi o resultado da percepção, ou seja, da interpretação do aroma e da música. Ambos, nesse caso, contribuíram para que o espaço fosse interpretado e percebido positivamente, ou melhor, prazerosamente pelos clientes.

Cabe ressaltar que toda informação carregada de emoção é mais facilmente armazenada na memória e pode influenciar na interpretação dos dados percebidos.  A percepção é a resposta à organização das informações obtidas pelos sentidos de modo que se possa ouvir e interpretar o discurso (a fala) do espaço arquitetônico.

Ao fazer referência a discurso, portanto, atentamos para a forma como as palavras, conjuntos de sentenças e práticas relacionadas funcionam como discurso e apontamos a importância do discurso do espaço que, mesmo não utilizando palavras, exerce efeito de poder, de persuasão, de enlevo e de subjetivação. Pode-se, assim, considerar que um espaço pode proferir um discurso através da cor das paredes, da altura do pé direito, dos únicos e poucos respingos de iluminação que adentram por frestas um espaço e, por essas características físicas, constituem efeito de poder para torná-lo assustador ou interessante.

Se o discurso tem efeito de verdade e de poder, pode-se pensar esse discurso emitido pelo espaço de forma “não verbal”. O espaço ordenado é um discurso não verbal, que exerce poder sobre os usuários ou freqüentadores; é o poder de um discurso, que pode conter verdade e engano. O discurso do espaço tem o poder de modificar comportamentos e atuar na subjetividade dos sujeitos. Sendo assim, os discursos do espaço são percebidos, absorvidos e entendidos sem o uso da escrita ou de fala, por isso, o discurso proferido pelo espaço “diz” para os sujeitos de forma “não dita” ou “dita” de forma “não verbal” ou “não verbalizada” ou “não visualizada”.

Assim, o sujeito vai sendo moldado, disciplinado e incitado a comportar-se de acordo com as características e finalidades de um espaço, que condicionam silenciosamente a percepção. Todos os receptores sensoriais participam invisivelmente desse discurso do espaço arquitetônico.

Os espaços são concebidos para atender às necessidades do sujeito, ou é o sujeito que é reinventado a partir da forma e das regras de comportamento pretendidas por aquele espaço, em seu discurso disciplinador? O discurso do espaço é uma força que replica muitas vezes sujeitos expostos ao poder e à persuasão daquele espaço.

Modalidades discursivas são proferidas pelos espaços, inclusive as hedonistas, que incitam o sujeito a desejar “metros quadrados” que discursem “verdades” sobre o que é ser “vip”, por exemplo, e como portar-se enquanto se está sendo “um sujeito vip”. Dessa forma, os sujeitos respondem mimeticamente aos distintos discursos de um espaço. As diferentes percepções de um espaço condicionam e constituem as diversas maneiras de ser sujeito naquele ambiente, ou seja, respondendo adequadamente aos discursos do espaço.    O sujeito realiza exercícios de expressão para compor suas variáveis de apresentação e comportamento, as quais são chanceladas como “verdadeiras” pelo discurso do espaço para aquele que está no interior do espaço, ou seja, um espaço projetado não se apresenta livre de conseqüências para o sujeito.

Portanto, é através da percepção que um indivíduo organiza e interpreta as suas impressões sensoriais para atribuir significado e valor afetivo ao seu meio, fazendo uso desses saberes podemos transformar espaços existentes em espaços preferidos, comportamentos que respondem as pretensões daquele espaço, um espaço projetado que projeta comportamentos.

Por estas razões, a arquitetura e o design de interiores, além de solucionar demandas funcionais, devem projetar sensações que sejam percebidas emocionalmente pelos usuários, pois são parte decisiva do efeito e do sucesso de um projeto arquitetônico.

Vivian Ritter

* Vivian Fetzner Ritter – Pesquisadora e Doutoranda em Filosofia com a tese “Discurso do espaço arquitetônico e seus modos de subjetivação” (UNISINOS-RS). Mestre em Educação e Estudos Culturais (ULBRA-RS). Especialista em Iluminação e Design (OSWALDO CRUZ-SP). Graduada em Design de Interiores (ULBRA-RS). Graduanda em Direito. Acumula ainda, extensões em Design Estratégico: o projeto da Inovação (UNISINOS-RS); Método Etnográfico como ferramenta de pesquisa para o Design (UNISINOS-RS) e Docência do Ensino Superior (IPOG-GO). Atualmente é Coordenadora do MBA em Construção Sustentável e Edificação Eficiente e professora de pós – graduação junto ao IPOG, lecionando, nos cursos Master em Arquitetura, Iluminação e Design de Interiores, MBA em Construção Sustentável e Edificação Eficiente, Gestão da Produção Sustentável e, ainda, Design de Interiores, respectivamente, as disciplinas “Sustentabilidade e Eficiência Energética”, “Arquitetura de Interiores Corporativa”, “Projeto de Arquitetura de Interiores Corporativa”, ”Percepção Visual”, “Design Corporativo”, “Educação Ambiental e práticas responsáveis: ecodesign, redesing e bioconstrução.

Carta aberta ao Senado Federal

Excelentíssimos Senadores e Senadoras da República Federativa do Brasil.

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Venho através desta mensagem solicitar a sua atenção para a regulamentação da minha profissão: Design de Interiores/Ambientes.

Tenho visto com tristeza profissões sendo regulamentadas enquanto a minha parece ser desprezada pelo Congresso Nacional ou não sendo devidamente considerada diante de sua técnica, complexidade e seriedade.

Segundo a Lei, devem ser regulamentadas as profissões que coloquem o usuário (outrém) em risco por causa das ações de seus respectivos profissionais. No entanto tenho visto profissões como palhaços, astrólogos, DeeJays, peão de rodeio, entre outras, sendo regulamentadas desconsiderando o que a Lei determina: risco ao usuário e não ao profissional.

Medicina, engenharia, arquitetura e outras mais são profissões que foram regulamentadas exatamente por isso: colocam o usuário em risco.

Com tristeza percebo que muitos parlamentares confundem Design com Artesanato. E também confundem Design de Interiores/Ambientes com Decoração. Creio que tal confusão ocorra pela desinformação afinal é difícil encontrar tempo suficiente para estar a par de tudo de forma correta.

Gostaria então de auxilia-los corretamente na distinção destas áreas:

O Decorador é aquele profissional formado (ou não) naqueles antigos cursos de finais de semana ou de curtíssima duração (antigos do SENAC, por exemplo). Sua função é a escolha de acessórios como vasos, toalhas, almofadas e afins. Na realidade o seu trabalho acontece depois de tod o trabalho de engenheiros, arquitetos e designers ou seja, após a obra estar finalizada. Ele não está apto a especificar trocas de pisos, lidar com gesso e outros elementos que não são estruturais, mas fazem parte da estrutura ou podem vir a afetar a mesma. Sua atuação restringe-se ao espaço interno de uma edificação.

O Designer de Interiores/Ambientes, além de incorporar as atribuições do Decorador limitadas ao final do projeto, tem por competência profissional elaborar o espaço coerentemente, seguindo normas técnicas de ergonomia, acústica, térmico e luminotécnica além de ser um profissional capaz de captar as reais necessidades, explícitas ou não, dos clientes e concretizá-las através de projetos específicos. A reconstrução do espaço a ser habitado ou utilizado comercialmente através da releitura do layout, da ampliação ou redução de espaços, dos efeitos cênicos e aplicações de novidades tecnológicas, do desenvolvimento de peças exclusivas de mobiliários e acessórios entre outras tantas atribuições deste profissional. A formação acadêmica deste profissional lhe permite atuar fora dos limites internos de uma edificação podendo atuar em paisagismo e iluminação de áreas externas, concepção de praças, clubes e parques. No entanto, sua atuação nas áreas que afetem elementos estruturais, mantém-se, por segurança técnica e respeito à legislação vigente, sob a supervisão/acompanhamento de um engenheiro estrutural e/ou arquiteto.

Tais atribuições do Designer de Interiores/Ambientes constituem um fato inequívoco – mesmo que estas ainda não tenham sido regulamentadas – pois o mesmo teve em sua formação superior conteúdos curriculares suficientes que o  habilitam em conhecimentos técnico-operacionais específicos para desenvolver tais projetos. Segundo a Constituição Federal este é o principal requisito necessário para o exercício profissional.

Para que os senhores e senhoras tenham a exata noção da formação do Designer de Interiores/Ambientes, baseado nas matrizes curriculares e ementários dos cursos de nível superior oferecidos aqui no Brasil, estas são as possíveis áreas de atuação profissional do Designer de Interiores/Ambientes:

Design e decoração de Interiores:
Residencial
Comercial
Corporativo
Espaços Públicos
Eventos
Estandes (concepção e ambientação)
Show-Room
Feiras
Vitrinismo
SET Design (TV, Editoriais e Desfiles de Moda, Cenografia para Teatro)
Acompanhamento de obra

Iluminação:
Residencial
Comercial
Corporativa
Paisagística
Acompanhamento de obra

Design:
Desenvolvimento de Mobiliário
Desenvolvimento de Luminárias
Desenvolvimento de Acessórios
Comunicação Visual (concepção)
Manuais técnicos

Educacional:
Aulas
Palestras
Cursos
Seminários
Treinamentos
Desenvolvimento de material didático
Pesquisa

Porém muitas destas atribuições vem sendo tolhidas ou coibidas através de denúncias a conselhos federais de outras profissões correlatas baseadas em argumentos que demonstram claramente o desconhecimento da formação acadêmica do profissional de Design de Interiores/Ambientes, atentando contra o que prega o que prega a CF, art. 5.º, inciso XIII – “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;”.

Formação acadêmica sufuciente para o pleno exercício profissional nós temos, somente nos falta o reconhecimento Legal através da regulamentação de nossa profissão.

Esta área profissional deve ser regulamentada à parte, respeitando sua identidade própria, de forma específica, pois ela mescla elementos do Design (Desenho Industrial) e da Arquitetura não cabendo então, uma regulamentação conjunta com qualquer destas duas áreas sob risco de perda da autonomia profissional. São áreas correlatas e complementares que se sobrepõem em alguns pontos e se distanciam em outros aspectos. Por isso a necessidade da regulamentação específica e em separado.

Sobre os riscosque a Lei exige para qualquer processo de regulamentação profissional – posso citar alguns exemplos para que V.Excia compreenda a importância específica ao Designer de Interiores/Ambientes , no que tange às suas competências:

1 – SITUAÇÃO: uma residência onde há idosos: o profissional não considera as limitações naturais dos idosos e especifica um piso de porcelanato polido, liso, incluindo nos banheiros e outras áreas úmidas. Também não especifica as barras de segurança dentro do box de banho. Faz um projeto de iluminação onde a luz não é suficiente para atender às necessidades visuais do idoso e também projeta armários altos dificultando o acesso. RISCOS: quedas com fraturas de leves a gravíssimas e até risco de morte.

2 – SITUAÇÃO: uma residência onde há crianças: o profissional não considera este aspecto altamente relevante e especifica móveis com quinas secas (90°), piso liso, móveis ou tampos de vidros, projeta ou especifica mobiliário (estantes e armários) que facilitem a escalada, entre outros itens. RISCOS: quedas, lesões de leves a gravíssimas incluindo o risco de morte.

3 – SITUAÇÃO: uma loja onde há as exigências técnicas e estruturais do local (ex: shoppings e lojas de rua): o profissional não considera nem estas exigências e também despreza as normas da ABNT sobre estruturas e segurança. RISCOS: incêndios, desmoronamento de estruturas por sobrecarga, ferimentos em usuários, etc.

4 – SITUAÇÃO: alterações estruturais: o Designer de Interiores/Ambientes, apesar de possuir conhecimentos suficientes para ler e analisar uma planta arquitetônica/estrutural para conseguir propor soluções visando a melhoria dos ambientes, não tem uma sólida formação em estruturas como ocorre com os engenheiros e arquitetos. Esta prática, portanto, não é de competência do Designer de Interiores/Ambientes e convencionalmente proibida. A regulamentação do Designer de Interiores/Ambientes permite que se estabeleça as devidas competências impedindo que estas sejam ultrapassadas. Para realizar as alterações estruturais o Designer de Interiores/Ambientes deve trabalhar em parceria com engenheiros ou arquitetos que, por competência, são os responsáveis por esta parte na obra. No entanto, alguns profissionais da área de Interiores/Ambientes, não considerando os limites de suas competências profissionais (aproveitando-se da ausência da regulamentação), determinam que os pedreiros derrubem paredes e abram vãos sem o acompanhamento dos profissionais adequados. RISCOS: desabamento de partes da estrutura ou toda ela colocando os usuários em riscos até mesmo de morte.

5 – SITUAÇÃO: projeto de mobiliário: o profissional “desenha” a forma de uma cadeira e simplesmente “larga nas mãos” de algum marceneiro para execução sem atentar para questões como resistência dos materiais, segurança, normas técnicas, insumos, qualidade, etc. RISCOS: esta cadeira que o senhor ou a senhora encontra-se sentado neste momento pode ceder provocando graves ferimentos através das lascas e ferragens que ficam expostas. E isso pode acontecer com qualquer mobiliário.

6 – SITUAÇÃO: mercado de trabalho: temos percebido uma desvalorização do profissional de Design de Interiores/Ambientes por esta profissão não ser regulamentada. Esta desvalorização – e por vezes desrespeito – finca-se na questão da responsabilidade técnica sobre os projetos executados especialmente. A responsabilidade técnica é o equivalente às ARTs que os engenheiros e arquitetos são obrigados a assinar junto ao CREA. Por este documento,  no caso de haver qualquer problema futuro, a justiça irá encontrar e punir os responsáveis. Como ainda não temos um Conselho Federal que normatize e fiscalize a profissão, elaboramos contratos com cláusulas específicas sobre este assunto discriminando claramente até onde vai a nossa responsabilidade sobre o projeto. Isso torna o documento extenso demais. Ressalta-se ainda que os clientes ao perceberem que não temos um órgão fiscalizador acabam optando por arquitetos ou tentam nos obrigar a inserir responsabilidades para as quais não fomos formados e nem temos interesse em atuar profissionalmente. Sem contar que qualquer problema futuro o transtorno é bem maior para ambos os lados pois tudo deve correr dentro da justiça comum, bastante onerosa e demorada. Porém esta prática de acrescentar no contrato tais cláusulas não é uma prática de todos os profissionais. Na verdade são poucos os que agem eticamente nesse sentido.

7 – SITUAÇÃO: eventos: o profissional projeta a ambientação de um evento desconsiderando questões como acessibilidade, circulação e áreas livres de barreiras, segurança e rotas de fuga, mistura e proximidade de materiais e equipamentos, informação visual. RISCOS: incêndios, pânico na fuga, dificuldades de acesso/saída, quedas, atropelamentos, pisoteamentos, etc.

Vale salientar também que por não ser uma profissão regulamentada, somos impedidos de realizar vários projetos em outros segmentos como por exemplo:

Não existem concursos específicos para a área – uma perda considerável tanto para os profissionais quanto para os órgãos públicos e sociedade;

Não podemos lecionar nas IES públicas – pois, por um lado, a maioria das IES não considera ainda estes profissionais aptos por mero desconhecimento real sobre a profissão e, por outro lado, não se reconhece um estatuto epistemológico do Design de Interiores/Ambientes necessário para se implementar cursos de pós-graduação stricto sensu, necessários para a produção de conhecimento na área e  habilitação docente para o ensino superior;

– A grande maioria das mostras de decoração exige o registro profissional no respectivo conselho federal o que nos impede de participar e mostrar as competências e habilidades desta profissão;

– A maioria dos shoppings exigem o registro no CREA por causa das ARTs (responsabilidade técnica) o que nos faz perder clientes importantes.

A mídia não valoriza e nem respeita esta área profissional e acaba sempre colocando profissionais de outras áreas para falar sobre Design de Interiores/Ambientes;

Ainda não somos reconhecidos como pesquisadores/pensadores o que gera uma desacreditação sobre a área e sua produção acadêmica;

As bolsas para iniciação científica não contemplam ou facilitam o ingresso de projetos nesta área mantendo o Brasil praticamente fora dos ciclos científico e editorial mundiais nesta área.

Eu poderia salientar ainda várias outras situações mas creio que esta mensagem ficaria extensa demais.

Lembro também que o Design de Interiores/Ambientes não visa apenas projetos majestosos de ambientes luxuosos e caros mas também pode – e deve – ser aproveitado no social visando a melhoria da qualidade de vida dos menos favorecidos através de projetos voltados para este público. Já existem alguns exemplos deste trabalho sendo desenvolvido por algumas IES através de incubadoras de empresas ou projetos de extensão que tem conseguido resultados excelentes.

Sem a regulamentação profissional continuaremos vivendo em um mercado bastante impreciso e perigoso onde alguns profissionais, ao extrapolar os limites de sua formação e competência, acabam colocando muitas pessoas em risco além de prejudicar os profissionais que atuam corretamente e eticamente, dentro de suas delimitações.

Espero também que não sejam convidadas apenas associações profissionais para debater sobre este assunto,  mas também, e especialmente, profissionais da área, formados em Design de Interiores/Ambientes pois só assim chegaremos a uma visão real do mercado, bem além daquela pretendida pelas associações que insistem em não diferenciar os profissionais.

Assim, espero que V.Excia reflita sobre este assunto com carinho, ética e seriedade que a matéria exige pois é de grande importância para a sociedade brasileira.

Grato pela preciosa atenção, conto com a Vossa compreensão e apoio nesta matéria.

.

Paulo Oliveira

Designer de Interiores/Ambientes

Especialista em Educação superior

Especializando em Lighting Design

Design no dia a dia

Vi recentemente um texto no blog da Letícia Ávila que me chamou a atenção. Aí comecei a pensar como aproveitar as comuns rotinas diárias em favor do design como forma de mostrar às pessoas como esta ferramenta está presente no dia a dia, sem que estas percebam.

Assim, abaixo a minha contribuição – já que ontem a noite acabei fazendo um

BOLO DE CHOCOLATE

Vá até a sua design e pegue em sua design o design de leite, o design de margarina, o design de fermento em pó e o design com os ovos. Nos designs pegue o design de farinha de trigo, o design de chocolate em pó, a design, as designs medidas e coloque sobre a design.

Com a design montada, você precisará das seguintes quantidades dos ingredientes:

2 designs de farinha de trigo
2 designs de açúcar
1 design de leite
6 designs de sopa cheias de chocolate em pó
1 design de sopa de fermento em pó
6 ovos

Modo de Preparo:

1. bata na design as claras até que fiquem em ponto de neve, acrescente na design as gemas e bata novamente, coloque o açúcar e bata outra vez;

2. coloque a farinha, o chocolate em pó, o fermento, o leite e bata novamente

3. Untar uma design e colocar para assar no design por aproximadamente 40 minutos em temperatura média

4. Enquanto o bolo assa no design faça a cobertura numa design com:
2 designs de chocolate em pó
1 design de margarina
meio design de leite
e leve ao fogo no design até começar a ferver

5. jogue quente sobre o bolo já assado

 Como a cobertura é fácil e rápida, você pode aproveitar para lavar em sua design os designs utilizados na preparação deste bolo e coloca-los para escorrer no design.

Pra servir, corte o bolo da maneira preferida com uma design e, com uma design sirva em designs. Se preferir, pode colocar a cobertura sobre cada pedaço do bolo na hora de servir utilizando uma design. Acrescente um bom design de refrigerante ou suco e,

6. É só saborear sentado confortavelmente em sua design.

Para guardar, pegue um design hermético e coloque o bolo dentro. Guarde em sua design pois este bolo geladinho é uma delicia.

Claro que ainda me faltaram elementos nesse texto pois o estou fazendo na correria antes de sair para uma reunião, mas a idéia está aí.

E você?

Já parou para pensar em como o Design está presente no seu dia a dia?

Daí a importância e necessidade da Regulamentação Profissional do Design aqui no Brasil.

Insistem em dizer que o Design não coloca a vida do usuário em risco. No entanto, ao observar o roteiro acima percebemos vários elementos/situações que podem colocar sim. Até mesmo a simples batedeira pode causar sérios transtornos e danos.

Portanto, creio que basta de alegações absurdas feitas por quem não entende absolutamente nada sobre o que está falando – não é mesmo senhores Deputados?

Manual do Usuário – precisa disso?

Já há algum tempo venho analisando e percebendo algumas dificuldades de clientes meus e de outros profissionais das áreas de Interiores e Lighting em entender e saber como funcionam alguns elementos do projeto.

Depois de ler um artigo postado pelo Jonas no blog http://www.design.com.br, em meu comentário sobre o mesmo, já demonstrei e deixei pendente algo sobre o assunto voltado especificamente para estes projetos.

Muito podem alegar que é uma piração ou exagero do profissional propor-se a fazer um manual de instruções/uso sobre estes elementos. Pois bem, eu digo que não é não, especialmente nos dias de hoje em que a tecnologia nos coloca dia a dia frente a inovações.

Fico pensando em como irá se comportar um de meus clientes que estou finalizando seu projeto diante de alguns detalhes como: eletros de cozinha novos de última geração, lâmpadas e equipamentos de iluminação complexos (ex: LEDs RGB e sua parafernália), revestimentos extras (tecidos ou palha em paredes, por exemplo), pisos entre muitas outras coisas.

Quando o cliente recebe a “chave de volta” ele está inebriado por causa das novidades, da beleza, do cheiro do novo enfim, encontra-se absorto num mundo utópico de perfeição. Até precisar clicar em algum botão.

Pronto, aí começam as brigas do cliente com o projeto.

Como entender os interruptores paralelos? Qual está paralelo com qual e porquê, pra quê?

E as persianas automáticas ou não, como usa-las corretamente? Como fazer a limpeza das mesmas?

Da mesma maneira, tem aquela parafernália de luzes, spots, pendentes, reatores, controladores… A lâmpada queimou! Ah, vou colocar essa que tem aqui – porém não atenta se a lâmpada serve para aquele circuito, se vai sobrecarregar a rede. Isso sem contar o transtorno até ele descobrir como soltar aquele spot embutido sem arrebentar com o gesso e o próprio spot.

Ainda dentro da parte de light, hoje em dia não se aplica mais uma iluminação única para um ambiente. Nos projetos é comum encontrarmos 3, 4 ou até mais sistemas independentes que podem ser usados individualmente ou agrupados, mas nunca TODOS de uma só vez. Além do excesso de luz que causará desconforto, temos também a questão da conservação de energia elétrica (meio ambiente) e o bolso dele no final do mês com a conta que virá bem alta.

Dentro da parte de equipamentos, encontramos uma infinidade destes que tem suas características distintas e únicas seja no manuseio diário, seja na manutenção.

Passe uma esponja de aço numa torneira cromada pra você ver o que vai te sobrar.

Limpe uma geladeira ou fogão com produtos abrasivos (ex: veja) pra ver o estrago.

Estes são apenas alguns exemplos bem básicos. Portanto vamos destrinchar algumas áreas:

ILUMINAÇÃO:
– Lâmpadas:
Num projeto existem diversos tipos de lâmpadas que, obviamente, o cliente desconhece suas características. Portanto, nada melhor que ele receber em seu manual do usuário informações importantes para que o projeto luminotécnico não acabe por ser descaracterizado ou até mesmo destruído por falta destas.
Quais informações devemos colocar sobre as lâmpadas e como fazer isso? Primeiramente devemos dividir as informações por cômodos e detalhar como por exemplo:

Estar/Living:
Sistema 1 (abajoures): lâmpadas fluorescentes compactas 16W, 120V, 2800K, preferencialmente todas da mesma marca/lote “X”. Tipo/marca/modelo do abajour. Características das cúpulas, etc.
Sistema 2 (sanca RGB): barra LED RGB, marca “X”, seguir instruções do manual em anexo. Para os controladores fazer a mesma coisa: uma instrução básica (guia rápido) e anexar o manual técnico ao final do Manual do usuário.
Sistema 3 (geral): modelo/marca dos spots, explicar basicamente a fixação, cuidados com limpeza, se há ou não reatores/transformadores, etc.
Interruptores: caso existam interruptores de ultima geração, especificar quais são (localização) e explicar suas características e funcionalidades especiais.

E assim por diante até fechar todos os sistemas que compõem o ambiente.

PISOS:
– Porcelanatos:
Explicar como deve ser realizado os trabalhos de limpeza e manutenção dos mesmos. Existem peças porosas que podem vir a manchar caso seja derramado sobre as mesmas algum produto/pigmento. Já outras peças não correm este risco, porém se forem utilizados produtos abrasivos os mesmos podem acabar com riscos, perda de brilho entre vários outros problemas. Alguns vem com uma “capa” antiderrapante que também pode acabar sendo removida por causa do uso constante de produtos químicos.
Nos sites dos fabricantes geralmente estão disponibilizados arquivos em PDF com estas informações. Busque-os e os anexe ao final do Manual.

REVESTIMENTOS:
Tecidos, lâminas, BP, melamínicos, vinil, palhas e outros naturais/rusticos, enfim. São muitos produtos que utilizamos nos revestimentos dentro de um projeto. Assim como os pisos, estes materiais também tem suas características próprias que merecem atenção.

Especialmente os tecidos, os naturais e papéis de parede. Cada tecido tem sua característica, forma de lavar, produtos que devem ser evitados, se podem ou não ser passados, etc. Os clientes geralmente desconhecem estas informações.
Portanto lembre-se de detalhar nesta parte cada revestimento especificando as suas características e cuidados.

EQUIPAMENTOS:
Não existe coisa mais chata que você chegar à frente de um aparelho eletrônico e ficar um tempão tentando adivinhar como fazê-lo funcionar.
Estes equipamentos vem de fábrica com seus manuais de instruções. Porém você pode inserir dicas rápidas sobre uso/manutenção dos mesmos – ou no manual ou destacando aqui.

Um problema muito sério é com relação à limpeza dos mesmos. Vemos constantemente geladeiras riscadas (arranhadas), peças de metal idem. Os cuidados devem ser destacados. Existem na web inúmeras informações e dicas sobre como evitar problemas como estes.

MOBILIÁRIOS/MARCENARIA:
Alguns moveis tem características particulares, outros são aqueles multi-funções enfim.
Estas características devem ser destacadas e explicadas para o usuário final.

Como escrevi acima, são apenas algumas informações que eu iria passar. No entanto, se formos pensar no todo de um projeto existem muitos outros pontos que devem ser destacados neste manual. Basta observar bem tudo o que está sendo especificado.

Como apresentar isso a um cliente?

A coisa mais irritante é, quando preciso de alguma informação, ter de ficar revirando gavetas e armários atrás dos manuais de instruções.


Que tal juntar tudo isso numa pasta – pode ser daquelas A-Z – onde você coloca tudo ali dentro?
Manuais técnicos, garantias, notas fiscais e, claro, o seu manual profissional.
Pode-se optar por mandar alguém fazer um scrapbook bem bonito, transado e que promova uma apresentação legal do mesmo. Tudo vai depender de você.

Claro que isso tem um custo para ser feito e não é só referente aos custos dos materiais para confecciona-lo mas também o seu tempo de trabalho e empenho para a construção deste manual.

Pense com carinho neste assunto. Seus clientes merecem esta atenção e isso certamente vai valorizar e muito o seu trabalho.

E.T.: a primeira imagem deste post é de uma obra – da mais interessante – da Nuit Blanche. A instalação de Robert Stadler na Igreja Saint-Paul Saint-Louis. Ao entrar na igreja, por uma porta lateral, o público vê apenas grandes esferas luminosas, que parecem organizadas aleatoriamente. Ao se dirigir para o centro da igreja, entretanto, as esferas formam um grande ponto de interrogação sobre o altar.

Trens metropolitanos e inter-urbanos

Ha muito que venho observando os investimentos públicos e privados nos sistemas de transportes com trens – trem e metrô -motropolitanos e inter-urbanos.

Infelizmente não há avanços nem alterações enfáticas que visem solucionar realmente os problemas. O que vemos são um conjunto de soluções paliativas que resolvem os problemas por algum tempo, mas logo depois tudo fica como antes. Não quero entrar no entando, no “campotécnico” e “burrocrático” da coisa, prefiro ater-me ao senso estético utilizado aqui no Brasil e lá fora.

Começo pelos veículos propriamente ditos. Os metrôs e trens precisam ser realmente aquelas geringonças quadradinhas, feias, cinzas e sem graça? Porque os carros tem de ter aquela frente quadrada e reta? Porque os vagões tem de ser sempre iguais? Porque geralmente cinza/metálico? Porque os trens ainda tem de rodar sobre rodinhas provocando toda a trepidação e desconforto, solavancos que por vezes chegam a derrubar passageiros dentro dos vagões? Como vemos existem muitos porquês ainda além destes citados.

Porque não se aplicam cores, arte urbana, adesivagem, copias de arte usadas de forma educacional? Porque o carro nao pode ser mais arredondado e bonito no estilo daqueles trens que vemos no exterior? Aqui também podemos apontar incontaveis soluções que, além de embelezar, poderiam servir como fonte educativa/informativa através da exposição de arte aplicada – adesivada ou pintada – ou ainda informativa sobre eventos culturais/educativos. Não digo publicidade pois fatalmente cairíamos na poluição visual e isso vai na contramão do que pretendemos: o embelezamento urbano.

Observe o trem do trem de Metrô abaixo:

Mas este processo nao fica restrito apenas aos trens e metrôs, isso teria de ser aplicado já dentro das proprias estações. Um bom exemplo está no post Estações: Westfriedhof, Munich Germany aqui mesmo no blog.

ou então, veja o exemplo das 165 estações (!!!!) de Moscovo:

 

E agora observe as nossas:

Nossas estações e plataformas são horríveis – salvo raras e novas excessões. As bilheterias são péssimas, banheiros piores ainda, plataformas medonhas e que não contribuem com o bem estar dos usuários.

Muitos podem alegar – e até eu mesmo fui pessimista no post citado acima – que o vandalismo é o contra que impede este tipo de ação. Porém fiquei pensando sobre isso e vou concluir sobre este assunto no final deste post.

Já na parte interior dos trens e metrôs o que vemos é uma repetição de erros comuns, esteticamente falando. As empresas responsaveis parecem não se importar nem com a estética e nem com o bem estar dos usuários. O que vale é quanto mais usuários caberão nos vagões. O que vemos dentro dos trens são sempre as mesmas poltronas/bancos, o mesmo tipo de informação visual – por vezes confusas, uma total e absoluta frieza e dureza estética, entre vários outros fatores que podemos observar facilmente andando em qualquer um dos trens.

Os equipamentos internos geralmente são comuns, simples. As cores idem e repetem-se à exaustão. Os sistemas de segurança confusos e incompletos. Há muito o que se fazer para melhorar o sistema de transporte por trens aqui no Brasil.

Ao olharmos para os interiores dos vagões, a primeira sensação que temos é a de frieza, impessoalidade. Eu sempre que entro num trem ou metrô me remeto a cenas de filmes como Blade Runner onde o que importa são as máquinas e não o ser humano. É desconfortável.

O Metrô do RJ parece que está querendo mudar um pouco isso, mas ainda está longe de ser o ideal:

Apesar da mudança estética, mantem-se a máxima: maior número de usuários por cm².

Isso sem contar na absoluta falta de educação da maioria dos usuários. São jovens sentados em bancos destinados a idosos e ocupando espaços destinados a portadores de deficiências, um empurra empurra danado, riscos de assaltos entre vários outros fatores humanos.

Dentro de nossa área, Design de Interiores e Ambientes, podemos trabalhar em qualquer uma das citadas acima. Na verdade, esse todo exposto faz parte de um projeto global de melhorias que podem sim ser projetados por um Designer. Alguns pontos que podemos implantar visando a melhoria:

Nas estações:

Interiores: mais leves e humanizados, menos cinza-concreto, menos quadrados.

Iluminação: mais eficiente, menos ofuscante ou ausente.

Equipamentos: bancos, lixeiras, painéis informativos, catracas, segurança, etc.

Embelezamento: aplicação de arte, literatura, musica, exposições itinerantes, propor uma mudança radical nos projetos arquitetônicos e de engenharia visando a melhoria estética dos espaços.

Bilheterias: mais funcionais e esteticamente degustáveis. 

Segurança: implantação de sistemas de monitoramento remoto por câmeras, detectores de metais e outros, etc.

Ainda existem várias outras ações que podemos implantar, é só observar.

Nos carros:

Gráfico: implantação de projetos gráficos que valorizem as artes, a literatura, a educação excluindo contrapondo com as linhas sempre retas e repetitivas dos vagões.

Cores: aplicação de cores nos vagões como forma de suavizar  a frieza do metal.

Modelos: propor novos modelos com formas mais suaves ou utilizar os modelos já existentes no mercado exterior.

Intervenções: ampliando janelas para melhorar a visão para o externo quando em áreas não subterrâneas, tetos panorâmicos entre outros. Incluem-se aqui ações voltadas a reduzir o atrito, solavancos, barulho, etc.

Nos vagões:

Poltronas mais confortáveis e em maior número, mesmo que isso signifique menor numero de passageiros por vagão. Fala sério, as empresas faturam e muito bem com a quantidade de usuários. Poderiam investir numa maior quantidade de carros tranquilamente.

Beleza estética e nos materiais utilizados dentro dos vagões, nos acabamentos. Mais cor e alegria para os usuários que são trabalhadores e merecem um minimo que seja de conforto.

Cultura tomando o lugar da publicidade. Arte, literatura, música, etc podem tranquilamente servir de ferramentas pró-educação. Ao contrário da publicidade que só polui.

Acústica: quem não se estressa ou irrita com aquele barulho infernal?

Equipamentos como as barras e ganchos de segurança (pegada) mais ergonômicos.

Iluminação: menos fria e dura, uma iluminação que contribua para o embelezamento interno e o conforto dos usuários.

Segurança: implantação de sistemas de monitoramento remoto por câmeras. Com isso, fica fácil a identificação por imagem de vândalos e marginais. 

Como se vê, existem várias intervenções que podemos realizar nos trens e metrôs com a finalidade de melhorar a qualidade dos serviços prestados e ao mesmo tempo, trazer uma qualidade e bem estar aos usuários.

Sei que podem parecer utópicos alguns pontos, porém temos de analisar estes por outro lado: gestão pública.

A culpa deste sistema ruim que temos vem das péssimas administrações publicas anteriores e atuais. Sabemos que no Brasil há muita corrupção, verbas publicas são desviadas e embolsadas por alguns, os projetos são mega-faturados entre varias outras coisas. É exatamente aqui que está o  ponto X de toda esta problemática.

Se tivéssemos políticos realmente preocupados com um projeto de cidade, de estado, de país e não com projetos pessoais, partidários e de coleguismos certamente o nosso país seria muito melhor e estaríamos já ha bastante tempo no primeiro mundo.

De acordo com o Dr. Bianco Zamora Garcia, prof. de Ética do Mestrado de Direito da UEL, estas questões envolvem políticas publicas que orientam a gestão da cidade na sua totalidade. Entretanto, as políticas públicas se apresentam como reféns da sazonalidade de governos mais preocupados com sua visibilidade do que com a cidade. Enquanto as políticas públicas se constituírem estratégias de governabilidade (e reduzidas a elas), nada podemos esperar sobre implemento de ações efetivas e de impacto duradouro. Para estabilidade e eficácia das políticas públicas, inclusive aquelas que envolvem a gestão da cidade, importa que estas se tornem políticas estratégicas  de Estado, elaboradas de modo efetivamente democrático pela sociedade (esfera pública), cabendo aos sucessivos governos apenas a sua execução sob controle social das instituições organizadas em conselhos representativos, de caráter público.

Portanto, a defesa do patrimônio público e, consequentemente, de todas estas alterações possíveis cabe única e exclusivamente à administração pública. É ela que terá de, por exemplo, aumentar o efetivo policial nas estações reprimindo, assim, a ação de vândalos que depredam o patrimônio público, bem como atuar firmemente na educação para formar cidadãos conscientes de que, da porta da sua casa pra fora, o mundo não é “a casa da mãe Joana” onde se pode fazer o que quiser.

E cabe a nós Designers – e a qualquer outro profissional – termos consciência de que além de profissionais, somos antes de tudo cidadãos e que temos o dever de cobrar das administrações públicas que estas e outras ações sejam implantadas.