Mais do mesmo de sempre

É gente, é assim que me sinto toda vez que abro meu reader. Na verdade eu já logo com o pensamento:

“Prepare-se para ver mais do mesmo de sempre…”

Porque digo isso? Simples. A grande maioria dos sites e blogs são meras ferramentas de replicação de informações e imagens que já foram replicadas por outros que replicaram de outros. Então caímos naquela velha história das tendências e modismos de sempre.

Vou começar este post fazendo uma análise de um debate que ocorreu anteontem no grupo deste blog lá no facebook e que, na verdade, me encorajou a escrever sobre esse tema. Observem a imagem:

Pois bem. O que vocês acham desta poltrona?

Para mim, tem cor demais, geometrismos demais, confusão visual demais. Comentei com o arquiteto José Carlos sobre isso. SE eu fosse comprar uma dessas tiraria o excesso de cores do estofamento. Assim a moldura da base ficaria mais visível, mais perceptível. E, certamente, mais confortávem para aqueles que não se sentem à vontade diante de tantas cores (sim existem pessoas assim).

Menos é mais ou mais é mais? Diferenças de escolas do passado com as de agora? Evolução? O que foi que levou à este tipo de situação que vemos nos dias de hoje?

No meu ponto de vista sim, há grandes diferenças entre as escolas. A principal delas é que hoje em dia, na maioria das escolas os estudantes chegam à fase do TFG (ou TCC) totalmente despreparados para fazê-lo. Infelizmente é isso que temos visto. E não é mentira não. É só olharem a quantidade de gente comprando trabalhos prontos ou pagando pra algum profissional desocupado fazê-los. O pior é que estes alunos recebem o canudo pois temos, especialmente dentro das IES privadas, uma quantidade absurda de pessoas totalmente despreparadas para atuar como educadores, professores. Mas estão lá, pois são amiguinhos da corte.

Vejo, com tristeza, muitos trabalhos expostos na e-vitrina onde o trabalho do designer que deveria aparecer está cedendo lugar apenas à meras questões decorativas. Outros, um amontoado de móveis comprados prontos em lojas e soluções mais que duvidosas para os problemas apresentados. (Problemas? SIM! O Design serve para solucionar problemas!)

Isso não é Design de Interiores. Isso é Decoração. E não é para isso que estudamos tanto. Para fazer o que tenho visto pela web, bastam aqueles cursinhos de finais de semana de decoração ou, como dizem alguns congressistas, basta ter bom gosto.

O que isso tudo tem a ver com a poltrona? Simples, vou explicar.

A Maria Alice Müller postou na sequencia o seguinte:

“Gente, peralá: isso é Alessandro Mendini! O cara queria era cor! Tirar cor, de qualquer canto deste “monumento do design”, num dá…”

Bingo! Aí que chegamos à mola propulsora deste post! (Ma, não tem nada a ver diretamente com você o que vou escrever daqui pra frente. Te conheço e sei que você não é o que vou retratar à seguir ok?).

Quer dizer então que apenas por ele ser quem é temos de engolir mesmo que atravessado? Apenas porque a mídia o fez famoso temos de aceitar tudo dele? Apenas por ele ser quem é não podemos criticar ou duvidar de seu trabalho?

Calma lá, as coisas não são bem assim.

Volto a colocar o que já escrevi algumas vezes aqui sobre Karin Hashid. Para mim ele, hoje, é apenas mais um. Seus projetos tornaram-se repetitivos demais. O seu forçar de impor a cor pink de maneira exagerada aliada sempre às mesmas formas tornaram o seu trabalho repetitivo, cansativo e, não criativo. A cada novo projeto dele que aparece na mídia fico me perguntando: de qual gaveta ele tirou isso tudo?

Não entenderam a indagação? Vocês nunca ouviram falar em “projetos de gaveta”? Aqueles que alguns profissionais fazem e largam em alguma gaveta. Quando aparece algum cliente ele escolhe o que se encaixa melhor no perfil do cliente, faz umas poucas alterações e bingo! Ganha do cliente sem trabalhar como realmente deveria. Pois bem. Hashid para mim parece isso: um cara que monta uma enorme colcha de retalhos das gavetas, pega um elemento de um projeto, outro daquele outro projeto, vai juntando tudo num desenho e pronto.

Para “baba ovos” é o máximo. Para mim, é nada. Já deu.

Karin não se reinventa, não aceita críticas. É o rei e ponto final. Até mesmo o mesmo terninho rosinha de sempre não muda…

Mas como eles chegaram à isso? Por causa das malditas tendências que NUNCA deveriam existir ou imperar dentro da arquitetura e do design. A técnica e a estética deveriam impor-se sobre todas as outras faces de um projeto. Mas o que temos visto é apenas um festival de ctrlC+ctrlV apenas porque “está na moda”.

Engraçado que as pessoas não se tocam que o que aparece nas revistas está ali simplesmente porque o fabricante PAGOU PELO ANÚNCIO. Raras vezes vemos algo que foi colocado de maneira espontânea ou por sua real relevância seja estética ou tecnológica. É um mercado movido à jabá: pagou, apareceu!

E ninguém questiona isso e fica tudo por isso mesmo.

Zaha Hadid é uma arquiteta que está em alta ja faz algum tempo.  É daquelas que leva o orgânico ao extremo para criar suas formas. Porém ela mesma percebeu que seu trabalho estava ficando repetitivo e de um ano para cá comecei a perceber algumas mudanças sutis em seu estilo. Quem olha um projeto feito por ela hoje percebe uma grande diferença dos da época em que ela explodiu na mídia tornando-se a queridinha e referência mundial. Mas ainda assim, mantém um quê de mesmice. Diferente do Hashid, ela está mudando e podem ter certeza de que em breve seremos brindados com projetos espetaculares dela bem diferentes dos que já conhecemos.

Devo ressaltar que, como bem colocou o José Carlos lá no grupo, são escolas diferentes. Onde é que foram parar nos currículos atuais aquelas disciplinas que faziam o aluno pensar, analisar, criticar, discordar? As poucas que restam foram transformadas em “veja a imagem e não pense sobre, apenas aceite”. Não há mais a solicitação dos professores para que os alunos escrevam, soltem suas idéias e pensamentos, a sua visão, explorem a capacidade de seus cérebros além de um ctrlC+ctrlV.

Como professor, creio que uma disciplina é mais que urgente nos cursos de arquitetura e Design: Análise e Crítica. Esta deveria vir em dois módulos sendo o primeiro no início do curso e o segundo, antecedendo o TCC. Mas com professores realmente preparados para tal disciplina e não leitores ávidos do “Cafofo da Cráudia”.

Já fiz alguns posts aqui no blog sobre este assunto como podem ver aqui e aqui. Recebi duras críticas ao primeiro principalmente referentes à questão maior: você não entendeu o partido que ele adotou, deve respeita-lo e não critica-lo.

Discordo. Ele não é rei nem senhor absoluto do saber. Analiso pelo que a imagem fotográfica ou real me mostra. Pelo que percebo quando entro no espaço. Uso meus conhecimentos para buscar erros e acertos, problemas e soluções. Se ele não aceita críticas, que vá viver isolado da sociedade. Se ele acha que seu trabalho é tão perfeito que não merece ser criticado, que funde um reino e monta a sua corte com seus “baba ovos”.

Essa idéia equivocada de não criticar é que tem levado a arquitetura e o design ao calabouço da mesmice.

Bom, o que quero dizer com isso tudo? Simples:

Tem muitos profissionais tão ou muito mais competentes que estes que figuram na grande mídia mas que simplesmente não aparecem pelo simples fato de não ter $$ pra bancar o amargo jabá cobrado pela mídia.

Nesse sentido, quero indicar alguns excelentes sites (que acompanho pelo meu reader) para que vocês acompanhem diariamente:

1 – Arch Daily

2 – Contemporist

3 – Yanko Design

Não, não quero que vocêsprestem atenção ou percam tempo lendo matérias sobre Karin Hashid, Zaha ou Alessandro que porventura apareçam nestes sites e sim, que observem atentamente os projetos de outros profissionais que aparecem por ali. Irão perceber claramente que temos profissionais muito melhores que estes citados mas que não conseguem atingir a grande massa por passarem despercebidos diante do brilho das “estrelinhas”.

Aqui no Brasil mesmo tem profissionais fantásticos, excelentes mas que não aparecem na grande mídia, no “Cafofo da Cráudia” ou onde quer que seja simplesmente por não ter condições de bancar o alto valor do “jabá”. Logo, as referências acabam sendo sempre as mesmas.

Lembro-me de, ano passado, terem saído em TRÊS edições seguidas, matérias com o mesmo profissional. E, ara quem é um mínimo crítico, sacou que ele estava ali não por sua genialidade ou criatividade pois, apresentando o seu melhor, mostrou ser apenas mais um na linha da mediocridade.

Para quem sempre me pergunta “de que fonte você bebe” ou “onde você encontra estas coisas maravilhosas”, a resposta está, principalmente nestes tres links acima.

Bom, por hoje é isso.

Abraços.

;-)

Análise da iluminação… mais do mesmo: erros

Bom, vamos lá analisar mais algumas imagens de projetos.

(E foda-se se são ambientes de pseudas estrelinhas das revistas).

Começando por erros crassos cometidos com o uso das lâmpadas AR111 e 70.

Vocês acreditam realmente que estas plantas (especialmente as orquídeas e bromélias) não irão sentir essa luz e tudo que ela carrega em si (radiação e calor)? Fala sério… Sem contar ainda que o “destaque” pretendido não foi alcançado (prefiro acreditar nisso que na péssima estética projetual) seja por erro de especificação de luminária/lâmpada ou de instalação.

Bah, num ambiente desse, com esse pé direito, apresentar um projeto desse porte carregado de AR111 é de doer heim? Não digam que é por ser uma mostra e que o “conceito” é que manda pois esse erro é cometido repetidas vezes em diversas obras por aí.

Já disse e repito: sim, a luz das ARs é linda e os efeitos alcançados com o uso delas é único. Porém, creio que cliente algum deseja ter o seu inve$$timento destruído ou manchado em pouco tempo por causa de danos provocados por uma iluminação errada. Isso sem contar que o ambiente fica insuportavel, especialmente onde a luz incide diretamente sobre os usuários.

Conseguiram perceber a belezura da luminária sobre a mesa???

DEZ (10) AR111 sobre essa mesa… Talvez não seja uma mesa e sim um fogão ou forno… É só colocar os pratos ainda crus ali em cima, deixar por algumas horas e depois chamar o povo pra sentar-se e comer. Seria isso um conceito sobre a facilidade que a vida atual exige??? Também a família e convidados aproveitam para “pegar um bronze” enquanto se alimentam… Vai saber…

Depois acham ruim quando o cliente liga reclamando que as peças que são expostas estão ficando manchadas, desbotadas ou os tecidos enfraquecidos, queimados, etc… Ah, os manequins também estão “entortando”… Sempre tem um cheiro estranho de queimado dentro da loja, etc etc etc etc etc…

Essa está ÓTEMAAAA!!!!

Descontando a quantidade de reflexos, fico imaginando como estes materiais – especialmente as imagens – estarão daqui a uns 6 meses…

Saindo das ARs, vamos a outros erros também crassos:

Gente do cecéu!!! Quem vai limpar a gordura e sujeira que fatalmente vão emporcalhar estas peças???

.

Ai, pelamor!!! Luzinha verdinha na plantinha???

Pior que isso só isso aqui ó:

Pra quê essa mistureba de cores??? Pra que alterar de forma tão estúpida a cor natural das plantas? Pra que essa variedade de cores???

Mas tem gente que ainda consegue fazer pior:

Splash de luz já é ridículo, pior ainda quando usa a mesma luz para iluminar as plantas.

Mas tem quem consiga fazer pior que isso:

O splash numa cor já é ridículo, usando duas então…  Irão dizer que isso é um walwash em uplight?

Noooooooooooooooo!!!! Olhem os refletores no chão. É splash mesmo!!!

Melhor nem escrever mais nada sobre essa foto…

Esse tipo de coisa só contribui para o EMPORCALHAMENTO URBANO!!!.

Olhem isso agora:

Que efeito, digamos, interessante não? (Uma bosta mesmo!)

Que é isso???

Ah, não posso deixar de apontar também as ARs…

“Ah, são peças caras…”

Problema do cliente que escolheu isso por conta própria ou pior: do projetista que especificou isso.

Quer “status-cús” ou gordas RTs, dá nisso…

Por falar em gordas RTs, o que dizer disso:

Aham… montar um projeto chiqueterrérrimo desse é fácil quando os clientes são cheios da grana e querem ambientes pra esfregar na fuça dos “amigos”. E também para o projetista encher os bolsos com poupudas RTs.

Energeticamente ineficiente, ergonomicamente instável, com relação à manutenção é bastante complicado e ao uso volto à velha questão: sentado até que tudo bem (tirando o peso sobre a cabeça das pessoas) mas em pé, são obstáculos visuais para lados opostos da mesa.

Luz direta sobre os travesseiros???

G-Zuiz!!!

Bom, paro este post por aqui… Tem ainda várias fotos que eu poderia colocar neste post mas fica para os próximos ok?

Observem as imagens. Atentem para as críticas que faço e as relacionem com o uso. Imaginem as pessoas usando estes ambientes no dia a dia.

Como bem colocou o Oz Perrenoud nesse ultimo modulo da pós (este exercício que faço tem tudo a ver com este modulo), pensem a iluminação já no inicio do projeto, se possível, iniciem pela luz e o seu uso diário.

JAMAIS deixem a iluminação para o final e muito menos se deixem seduzir pelo “status” de luminárias.

É a luz que tem de ser SENTIDA, PERCEBIDA pelo usuário e não a luminária cara. Deixe o caro, o “status” para mobiliarios, revestimentos, etc.

Só assim estes erros serão eliminados nos projetos.

E claro, muito conhecimento sobre iluminação.

Abraços e até o próximo post!!

Concepção e Crítica da Iluminação – pós

Pois é, tive nesse final de semana este módulo na pós com o Oz Perrenoud.

A aula foi bem diferente do que eu imaginava inicialmente.

Como ando numa fase meio estranha em minha vida, confesso que foi bastante complicado este modulo. Por incrível que pareça, não consegui desenvolver um texto corrido no trabalho e parti para responder à lista de itens.

Tivemos de analisar o filme “Moça com brinco de Pérola” que retrata parte da vida do pintor holandês Johannes Vermeer, mais especificamente, o período da pintura do quadro “Girl with a pearl earring” (1665) que empresta o nome ao filme.

Eu já tinha assistido este filme logo em seu lançamento portanto, quando foi passado na sala de aulas pude fixar a minha atenção nos detalhes exigidos na lista.  Pura observação da luz no filme todo – tanto a natural quanto a artificial. É estranho observarmos como a nossa luz natural, diurna ou noturna, é diferente da existente na europa ou em qualquer outro local do planeta. Vamos nos dando conta de detalhes que geralmente passam despercebidos quando assistimos a filmes.

Já na iluminação artificial, especialmente em filmes de época, isso também ocorre. No entanto percebem-se detalhes que nos tiram daquela realidade.

Um exemplo é a iluminação artificial daquela época que era baseada no fogo: velas, toucheiros e lanternas. Por vir do fogo, a luz deveria ser toda trêmula mas percebem-se em diversas cenas que esse detalhe fica apenas no cenário. As personagens sempre são iluminadas por luz complementar o que acaba deixando a luz chapada e fixa.

Porém neste filme especificamente, isso não tira totalmente a beleza e realismo das cenas por um detalhe técnico: o angulo de incidência da luz. O projeto da iluminação foi muito bem elaborado refletindo com precisão isso nas cenas. São raras aquelas onde isso não ocorre.

Naquela época, como já coloquei acima, a luz era produzida através de candelabros, velas, tochas. Quase não existiam lustres pela dificuldade em ficar acendendo e apagando ou trocando as velas – estes resumiam-se a grandes áreas. Então, a luz vinha ou de um plano semi baixo (candelabros nas mesas, lareiras, etc) ou de um plano médio (tochas = arandelas). Assim, a sombra das personagens é essencialmente paralela à sua altura ou levemente mais alta que ela.

Já na iluminação natural o que impressiona – especialmente para nós dos trópicos – é a tonalidade da luz mais branca e por vezes azulada. Não vemos a luz amarelada que temos naturalmente por aqui. Esta última só aparece nas cenas de outono mas não nos espanta pois já estamos acostumados com as belas fotos retratando o outono europeu e mesmo assim, é diferente da nossa pois é um pouco mais carregada de séphia.

Mas o interessante é a percepção exata dos ângulos de incidência dessa luz natural nas diversas cenas do filme, tanto diurna quanto noturna. Muito bem feito.

Além da iluminação tivemos de analisar outros itens como cenografia, estética, cor, texturas, etc. Foi um trabalho exaustivo onde detalhes mínimos tiveram de ser observados, com o controle do DVD player na mão adiantando, voltando, pausando, ajustando imagem, zoom e etcéteras para conseguir obervar com detalhes toda esta bela obra dirigida p/ Peter Webber.

Para quem não assistiu é uma excelente dica pois vale cada cena.

#FicaDica

;-)

R Design Londrina 2010 – oficineiro

Olá pessoas!

Ontem tive a felicidade de receber um e-mail da CORDE confirmando que a minha oficina foi escolhida para o RLondrina2010.

A proposta da oficina é a seguinte:

Nome: Design Crítico – formação de pensadores próprios em Design.

Justificativa: É cada dia mais urgente a necessidade da formação de pensadores e críticos específicos em Design. O que temos visto na mídia são profissionais de outras áreas tecendo seus comentários ácidos sobre as áreas do design em virtude da carência de pessoal próprio disposto a realizar este trabalho.

A crítica séria (positiva ou negativa) feita através da observação ou da análise de algo (ambiente, produto, serviço, etc) faz-se necessária em um país que não tem ainda o Design regulamentado e, muitas vezes, confundido com artesanato.

Esta oficina busca fazer os participantes pensar o Design além do projeto. É comum vermos a maioria dos acadêmicos nos cursos voltando o seu foco apenas para a área projetual, esquecendo-se que existem áreas editoriais e acadêmicas que podem ser tão ou até mais rentáveis que a projetual.

Objetivo: Formar pensadores próprios em Design é uma necessidade urgente.

Turma: min 15 máx 30 – sala de aula

participantes levar:
papel almaço (2 folhas)
caneta
revistas e catálogos que possam ser recortados

Bibliografia: A Linguagem das Coisas. Deyan Sudjic. Ed Intrínseca.

Informações e inscrições: no site do RLondrina2010

Zés, preparem-se pois a cobra vai fumar nessa oficina!

 

 

analisando iluminação

No post anterior, onde expliquei o porque de não postar freneticamente, coloquei também o porque não gosto de realizar postagens apenas com imagens. No entanto quero deixar claro que não acho este tipo de postagem inútil, muito pelo contrário.

Eu sempre olho estes posts porém usando uma metodologia bastante analítica e crítica. Já escrevi aqui sobre ela num post ja ha bastante tempo. Ele foi alvo de críticas de algumas pessoas que alegaram não ser possível realizar este exercício uma vez que não conhecemos o autor do projeto, o conceito, etc. Porém alguém aqui sabe esses e outros dados de todos os ambientes que entramos diariamente? Claro que não. E sempre ouvimos comentários sobre os ambientes.

Então, mantendo a linha de pensamento deste exercício, vamos aplica-lo à iluminação neste post.

Pode parecer estranho para quem lida com interiores, mas sempre que olho para uma foto ou entro num ambiente, o faço “olhando para cima” ou seja, para a iluminação. Claro né, sou lighting designer. Depois de observar este item é que parto para a parte de interiores propriamente dita.

Nesta primeira observação, a intenção é conseguir detectar de onde vem a luz, ou luzes. Quantas, onde e quais são as fontes de luz.

Isso ajuda a perceber como o projeto foi trabalhado e também se houve cuidados com ofuscamento direto, se o trabalho foi feito usando fachos retos (fácil) ou cruzados (difícil), se a temperatura de cor está correta para o projeto, se o IRC é adequado, se houve a preocupação com luz e sombra entre tantos elementos. Outro elemento importante a ser observado é o tipo de iluminação empregado. Uplight, downlight, built-in, sidelight, direta, indireta, etc. Há variações? Se há, ponto positivo.

Por exemplo: você sabe dizer que tipo de lâmpada foi utilizada para conseguir este efeito?

Aqui também já dá para ter uma idéia do tipo de fonte de luz que foi utilizado e, sabendo disso, se a aplicação está correta de acordo com os dados técnicos destas. Por exemplo: uma lampada AR111 foi originalmente projetada para ser utilizada em pés direitos duplos, no mínimo. No entanto, vemos constantemente nos diversos projetos que isso não é considerado pelos projetistas.

Depois de detectados estes elementos, passa-se para uma análise das luminárias e equipamentos empregados no projeto. Muitas vezes as pessoas confundem os efeitos de lâmpadas com os efeitos produzidos por luminárias, especialmente as mais técnicas. As lâmpadas halógenas mais conhecidas (AR, dicróica, PAR, etc) geralmente tem uma variedade de aberturas de fachos, dos mais fechados até os abertos. No entanto existem luminárias que promovem efeitos de fachos que as lampadas sozinhas não conseguem atingir. A observação e reconhecimento deste item é fundamental para a compreensão do projeto. Você conhece todos os tipos de luminárias e suas respectivas aplicações?

Você sabe qual equipamento é usado para conseguir este efeito? 
A cor que vemos na luz é original da lâmpada ou conseguida através de algum acessório? (se há acessório...)

Conhecer tecnicamente as luminárias é essencial para um bom projeto de iluminação. A diferença dos bons projetos é que estes usam peças técnicas. Elas não são tão vistosas quanto as peças de design, porém, a maioria é projetada para ficar o mais neutra possível no ambiente.

Saber o funcionamento e limitações delas também é fundamental. Quais as suas partes, que tipo de refletor é utilizado, temperaturas máximas de operação, resistência dos materiais, qualidade da marca, etc. E estes elementos não se consegue nos catálogos comerciais, apenas nos técnicos, que são, via de regra, bem difíceis de conseguir junto à indústria. Por falar nisso, na indústria nacional são raras as empresas que disponibilizam este tipo de material, fundamental para o desenvolvimento e especificação nos projetos. Você já viu alguma luminária com uma aplicação técnica sendo utilizada de outra forma?

Muitas vezes nos deparamos com detalhes dos projetos de iluminação que nos deixam a pensar se é uma luminária industrializada ou se é algum elemento feito especificamente para aquele projeto. Existe na indústria uma luminária assim? Se não, como foi feito? Quais materiais foram empregados? Como é o seu funcionamento? Consegue visualizar este elemento em corte? Quais as suas partes? Houve necessidade de intervenção/integração ao projeto arquitetônico?

Depois disso tudo, passamos a “olhar para baixo” ou seja, para o ambiente de um modo geral. Aqui buscamos detalhes que possam valorizar ou depreciar, qualificar ou denegrir o projeto. Nesta fase buscamos elementos como ofuscamento indireto (reflexos) e danos em materiais, produtos e superfícies, principalmente. Também é hora de procurar por luminárias que estejam desligadas e verificar o tipo de luz x altura de montagem. Qual a temperatura (calor) dentro do espaço? Você consegue se posicionar tranquilamente embaixo de qualquer uma das luminárias sem se sentir desconfortável? Observando os usuários percebe alguém “desviando da luz”, forçando os olhos?

Também devemos considerar outros elementos nessa observação:

1 – A iluminação atende às necessidades?

2 – A iluminação é econômica?

3 – Há excessos ou falta de luz?

Tem uma loja num shopping daqui que eu não consigo olhar para dentro dela pois ela é ofuscante. O excesso de luz ali, num ambiente pequeno, é absurdo. Dias atrás fui a este shopping e percebi de longe que tinha algo de diferente nesta loja e fui olhar. Para piorar a situação, eles retiraram um lado da vitrina e colocaram um piso branco. Resultado: a luz ficou mais ofuscante ainda. Se eles queriam chamar a atenção conseguiram porém, qualidade projetual nota 0.

4 – Há padronização na temperatura de cor de lâmpadas iguais?

Pode parecer absurdo mas direto encontro lojas com fileiras de lâmpadas com diferenças entre elas: abertura de fachos, TC, angulação, etc. Caso o projeto não seja tão novo e já houveram trocas de lâmpadas, o erro é do projetista que não deixou um manual técnico para o usuário saber exatamente qual a especificação da lâmpada que deve ser utilizada.

De uma maneira geral é este o exercício que faço, especialmente em ambientes reais (não imagens) mas dá para fazer isso observando as diversas fotos que vemos diariamente pela web.

Espero que ajude vocês a lerem melhor os diversos projetos e imagens e que consigam aumentar seus conhecimentos fazendo este exercício.

Estudos de casos: observação, análise, crítica e contextualização

Vou disponibilizar aqui para vocês um exercício que sempre desenvolvo com meus alunos em sala de aulas. Aqui este exercício está voltado para o Lighting Design, mas deve também ser aplicado em Interiores e Ambientes.

 

Sem a menor sombra de dúvida, a principal arma de um LD é a sua capacidade de observação. É através da observação que o profissional vai perceber todas as nuances e características que formam o espaço ou ambiente a ser projetado.

É um exercício diário que por muitas vezes deixamos de lado. Devemos observar não só o foco de nosso trabalho ou nossos projetos em desenvolvimento, mas sim, e principalmente, observar toda e qualquer imagem que encontramos pela frente seja ao vivo, impressa ou na web.

É através deste exercício de observação que vamos construindo o nosso leque de possibilidades e cultivando a nossa capacidade criativa.

Porém, para este exercício não podemos ser apenas observadores, meros espectadores de uma cena. Temos também que exercitar em conjunto, outras habilidades que possuímos: análise, senso estético, conhecimentos específicos, contextualização e finalmente a crítica.

Analisar algo impõe que tenhamos conhecimentos sobre o objeto que está sendo observado. Durante a análise você vai detectar as formas, cores, texturas, luz e sombra, volumetria, estética, possíveis equipamentos utilizados, entre vários outros elementos.

É uma leitura “fria” do objeto observado. Toda análise deve ser isenta de partidarismos e favoritismos (amizades) para que seja realmente séria e realista. Disto nasce a crítica que, na verdade, não é nada mais que um relatório onde descrevemos as sensações que tivemos durante a fase de observação. A crítica é o lado duro deste exercício, é aquele que todo profissional – seja de que área for – detesta e prefere mantê-la bem longe de si.

Porém, não estou me reportando àquelas críticas já conhecidas que figuram em jornais e revistas, cujos autores muitas vezes são considerados personas non gratas em vários meios. Refiro-me a uma crítica particular, íntima do profissional, que atesta dia a dia o seu crescimento profissional, a apuração e refinamento de seu senso estético.

Mas claro que tal crítica vem a se tornar como uma outra área de atuação quando se pode contar com uma imprensa especializada realmente independente e não corporativista como já acontece em vários ramos de atividade profissional.

Muitas vezes nos deparamos com alguma coisa que nos tocam de maneira tão profunda que acabamos por emudecer, por não conseguir expor nossos sentimentos, travamos literalmente. Seja por nos provocar sentimentos bons ou maus. Aqui entra o papel do exercício da contextualização. É através deste exercício que iremos expor – pelo uso de palavras escritas, desenhos, etc – o que estamos sentindo. Porém este exercício serve também para todos os outros casos e é uma excelente fonte de informação e referência para a crítica.

Muitas vezes fazemos estes exercícios sem nos dar conta do que estamos fazendo e da importância disso no seu percurso profissional. Quem já não parou diante de uma imagem em uma revista onde rapidamente apareceram frases e sua cabeça como estas:
– Maravilhoso!!!
– Que cor horrorosa a deste sofá…
– Eu jamais me sentiria bem neste espaço com toda essa luz incidente.
– Interessante a solução para o cortineiro com a sanca built-in.

Essas frases e incontáveis outras são pura e simplesmente reflexos involuntários ou intuitivos de nossa capacidade de observação, análise e crítica. Já estão impregnadas em nós, fazem parte do ser humano. Porém alguns em maior ou menor grau, menos ou mais desenvolvida e aguçada.

Para efetivação destes exercícios permita-se ao menos 5 minutos diários trabalhando com isso. Pode ser quando está na frente do computador navegando. Sempre temos uma imagem na nossa frente que nos chamam a atenção ou não.

Se sim, por quê? O que tem de especial, de belo, que esteja em sintonia com o meu gosto?

Se não, por quê? O que tem de errado, feio, que me desagrada?

Alguns podem dizer que este tipo de análise e crítica é um erro pois desconhecemos a realidade da concepção do projeto, o briefing do cliente, a linha e estilo projetual do autor bem como do todo que engloba o projeto (áreas próximas) entre várias outras alegações. Concordo com tudo isso. Porém temos que relembrar que isso é apenas um exercício de refinamento estético, de observação. Tudo o que você pensar, rabiscar e anotar não irão para nenhuma página de revista e tampouco aparecerão em programas de TV. É uma coisa sua, o SEU olhar sobre determinada cena. Isso se chama análise e crítica às cegas – quando não temos informações detalhadas e técnicas sobre o objeto ou cena em questão. Temos somente a imagem. Para ser mais exato, aquela cena da foto como se fosse uma tela de algum artista. E como tal, deve ser observada da mesma maneira. Não vale aqui ler os textos explicativos sobre conceitos, equipamentos enfim, nada que lhe dê informações sobre a cena em si. Legendas sim estão liberadas desde que não apresentem as locações de cada peça. Depois que você fizer a sua análise, aí tudo bem, pode ler.

É um exercício de leitura e releitura. Por exemplo, observe a imagem abaixo:

Você concorda com o projeto executado acima? Onde estão os erros e acertos? O que você faria diferente, que soluções proporia para melhorar este espaço? Que materiais, equipamentos e plantas utilizaria? A cor da luz foi bem escolhida? Está bem empregada?

Outra imagem:

O que a imagem acima lhe diz? Que sentimentos provoca em você? Quais os recursos e equipamentos que provavelmente foram utilizados para confecção desta cena? Você parou para contar quantas pessoas estão presentes na cena? Usam roupas ou não? Que cores você jogaria ao fundo? Como se comportaria a cena se houvesse a projeção de uma imagem neste ________ (qual é mesmo o nome daquele pano de fundo dos palcos?)? Qual música deve estar tocando e qual eu colocaria?

E quando nos deparamos com imagens que nos trazem alguma informação, será que somos capazes de fazer a leitura técnica desta imagem? Você seria capaz de alocar cada equipamento observando apenas a imagem?  Consegue perceber onde começam os fachos? A luz usada é simétrica? É um sistema MIX?

A realização deste tipo de exercício diariamente afina e apura a nossa sensibilidade para coisas que normalmente passam despercebidas por vários motivos. Porém, um LD tem de ser perfeccionista quanto à observação. Isso vai refletir em seu trabalho de uma forma ou de outra. É esta capacidade de observação que irá tornar os projetos perfeitos em todos os sentidos seja no que diz respeito às instalações quando nos efeitos reais obtidos.

Outro ponto importante a destacar neste tipo de exercício é o fato de que ele nos permite uma leitura mais complexa quando estamos na fase de análise de correlatos, onde conseguimos perceber detalhes que antes passariam despercebidos ou simplesmente não daríamos a devida atenção. Detalhes estes que podem fazer toda a diferença num projeto.

Sempre sugiro uma tabela onde meus alunos irão colocar suas observações. A ordem é esta:

1 – Objeto de estudo:

2 – Imagem da cena.

3 – Percepção sensoria: onde você irá descrever as sensações que a cena provoca em você (aconchego, frio, etc)

4 – Percepção técnica: onde você irá descrever as suas observações técnicas da cena (fachos, pontos de luz, luminárias, prováveis equipamentos, etc).

5 – O que eu gosto: (e manteria)

6 – O que eu não gosto: (e alteraria ou teria feito diferente)

7 – Conclusão:

 

Bom exercício!!!

 

Paulo Oliveira