é… estamos ferrados???

A falta da regulamentação profissional do Design de Interiores/Ambientes está afetando cada dia mais o nosso exercício profissional. Muitos acadêmicos nem fazem idéia do que anda acontecendo e incontáveis profissionais já formados simplesmente fazem de conta que o problema não é com eles.

Pois bem, está tramitando no Congresso Nacional o PL 1391/11, de autoria do Deputado Luiz Penna, que regulamenta a profissão do designer. No entanto, abre-se uma grande discussão em torno desta regulamentação.

O PL contempla apenas as seguintes áreas: Comunicação Visual, Desenho industrial, Programação Visual, Projeto de Produto, Design Gráfico, Design Industrial, Design de Moda e Design de Produto. Design de Interiores/Ambientes ficou de fora.

Esta é uma discussão que já tenho há vários anos com alguns “cabeças do referido PL”. Com um deles, especificamente, não há mais qualquer respeito no tratamento um com o outro – e também nem faço questão disso com relação especificamente a esse cara. Explico:

Em todos os fóruns que participo sobre o assunto sempre tentei mostrar a área de Interiores/Ambientes como parte integrante da raiz Design. Tanto é verdade isso que até mesmo as diretrizes do MEC a mantém ligada à raiz Design. No entanto, nunca recebi qualquer argumento convincente que me calasse. Todas as tentativas foram baseadas em máscaras e deixavam claro o desconhecimento total deste(s) com relação à área de Interiores/Ambientes. Não passam de meros “achismos”.

Sempre questionei sobre as escolhas das pessoas que iriam compor este comitê para estudos do PL, especialmente sobre “quem” representaria Interiores neste grupo. Também me posicionei radicalmente contra a escolha da ABD como representante em detrimento da AMIDE, ou melhor, porque associações são ouvidas e os profissionais não? Porque alguns profissionais de outras áreas do Design foram ouvidos e nenhum da área de Interiores foi? Alertei inúmeras vezes de que isso não funcionaria, pois a ABD não é uma associação de Design. Ela é uma associação que congrega decoradores, arquitetos decoradores E designers de interiores/ambientes. Para piorar a situação, a própria associação é incapaz de distinguir os três profissionais que fazem parte de seu corpo de associados. Mas foi a escolha deste grupo, sem qualquer tipo de consulta aos profissionais da área. Claro e óbvio que não funcionou e a ABD caiu fora alegando ter “um projeto próprio de regulamentação”.

Certa vez, depois de um forte debate e, quando vários designers de outras áreas perceberam a enrolação dele e começaram a pegar no seu pé para que me respondesse claramente ele soltou:

“Não queremos problemas com os arquitetos”.

Na sequência, quando percebeu que isso revoltou vários profissionais presentes, ele apagou o post. Nesse mesmo período, o pessoal das comunidades de arquitetura estavam com um forte movimento pela criação do conselho próprio, o CAU. Vários assuntos eram debatidos e entre eles, claro, ficava claro o descontentamento deles com a invasão (na verdade percebia-se o medo pela competitividade) dos Designers de Interiores/Ambientes, raça infeliz que tinha de ser extirpada. Como, legalmente, isso não é possível, começaram com um trololó de fazer a regulamentação da área através do CAU. E esse fulano juntou-se ao coro deles apoiando integralmente a ideia. Aí foi quando o respeito meu por ele acabou de vez (o dele por mim nunca existiu).

Então é assim. Corta-se na carne para beneficiar alguns grupos – ou áreas – e que se danem os outros. Uma postura no mínimo vergonhosa e que deve ser motivo de vergonha para todos os designers, de todas as áreas, nesse processo em andamento e para os parlamentares que o estão aprovando cegamente.

O Design no Brasil está sendo regulamentado, porém, antes disso, foi estupidamente amputado.

E pior, ainda tem gente que acredita que fazendo isso o Design brasileiro vai encontrar finalmente a sua identidade…

Mas devemos culpar apenas este grupo por esse erro insano?

Não!

Querem saber de quem também é a culpa? Vamos lá:

Das IES:

Enquanto tivermos cursos de Design de Interiores ligados à coordenações de Arquitetura e não de Design, enquanto tivermos uma maioria do quadro docente oriundos da Arquitetura e não do Design, dificilmente teremos cursos reais de Design de Interiores/Ambientes. Grande parte dos cursos está formando meros decoradores por causa destes dois problemas citados.

Ponto 1: O curso deve, assim como direciona o MEC, ser ligado ao departamento de Design;

Ponto 2: Os professores devem ser primeiramente das diversas áreas do Design que são utilizadas num projeto de Interiores/Ambientes. Arquitetos e engenheiros entram apenas nas disciplinas técnicas de plantas arquitetônicas, hidráulica, elétrica e similares. O resto tem de ser ministradas por DESIGNERS.

Ponto 3: os coleguismos nas contratações devem acabar. Professor que não tem comprometimento com a educação e não está disposto a compartilhar conhecimento, não merece espaço numa IES séria. E temos muitos pseudos-professores que não vêem alunos e sim futuros concorrentes no mercado de Interiores e evitam a todo custo, compartilhar corretamente os conhecimentos.

Ponto 3: Devemos pressionar e incentivar as IES públicas no sentido da abertura deste curso. A grande maioria dos cursos brasileiros é oferecida por IES privadas e todos sabem muito bem como estes funcionam (PP e PPP).

Ponto 4: O reconhecimento de qualquer profissão e o fortalecimento vêm através de pesquisas e, nas IES privadas isso não interessa. Para as IES provadas a pesquisa é um gasto desnecessário. Tanto é verdade isso que a bibliografia brasileira na área é ridícula.

Ponto 5: Nos vestibulares faz-se urgente a exigência de THE (Teste de Habilidade Específica). Da forma como vem sendo feito, muitas IES privadas cobram apenas uma redação que, muitas vezes, não passam de um parágrafo ridículo e mal escrito. Não à toa que muitos calouros desistem do curso ao descobrir que o curso de Design de Interiores/Ambientes não é mera decoração como pensavam e sim algo bem mais complexo. Um THE já eliminaria essa visão errada do curso e, certamente, teríamos alunos mais preparados para o curso.

Ponto 6: as IES devem ver este curso como uma importante área para o bem estar da sociedade e não apenas como um mero arrecadador de dinheiro, já que está na moda e a procura é grande.

Ponto 7: eliminação da oferta deste curso na modalidade “à distância”. É uma área técnica e que exige a presença constante do professor ao lado do aluno para corrigir seus erros e ensinar a forma correta de fazer um projeto e tudo que engloba o mesmo. Não vemos cursos de Arquitetura à distância. Da mesma forma é impensável um curso de Design de Interiores/Ambientes à distância dada a sua complexidade e transdisciplinaridade.

Das associações:

Ponto 1: Seriedade. Ninguém aqui estudou e investiu tanto para ficar brincando de casinha. As associações tem de acordar para a realidade do mercado e posicionar-se claramente sobre o mesmo. Não devem agir apenas quando um problema acontece com um dos membros da corte e na sequencia simplesmente fazer o problema cair no esquecimento da mídia.

Ponto 2: Jamais uma associação deve ficar em cima do muro por melindres ou medinhos. Deve encarar de frente os problemas que afetam os profissionais por ela representados.

Ponto 3: Transparência. As associações devem ser claras nas informações destinadas ao público, distinguindo corretamente os profissionais que agregam.
Ponto 4: Ação. Elas devem promover ações propositivas e positivas no sentido de educar o mercado corretamente e de maneira eficiente.

Ponto 5: Isenção. Uma associação jamais deve deixar-se guiar por fornecedores tornando-se refém. Em primeiro lugar devem vir os profissionais por ela representados, depois idem, depois idem e se sobrar tempo, idem.

Dos Profissionais:

Depois de formados saem feito loucos atrás de clientes sem se importar com questões profissionais. Só aparecem quando enfrentam algum problema. Mas assim que é resolvido, desaparecem novamente sem se importar com os colegas de profissão. Na verdade o problema é bem mais sério.

Ponto 1: A maioria atua como decoradores e se esquecem dos princípios do Design em seus projetos. Vivem dentro do mesmo mercado que os decoradores e os arquitetos decoradores. Raramente aplicam seus conhecimentos em Design em seus projetos. A maioria não desenha um móvel mais que a forma externa e esboços do que pensaram para as divisões internas. Especificar ferragens e materiais pra que se o marceneiro sabe tudo e fará o trabalho? A maioria prefere largar o projeto da cozinha nas mãos dos vendedores projetistas das lojas. Também pra que perder esse tempo todo se temos móveis prontos em lojas de qualquer esquina? Onde enfiaram os conhecimentos aprendidos na faculdade? Ou será que só frequentaram faculdades do tipo PP (pagou passou) ou PPP (papai pagou passou)? Ou ainda, será que cursaram mesmo Design de Interiores ou algum curso mascarado de decoração? Foram enganados?

Ponto 2: Será que a formação foi tão deficiente para lançar no mercado meros decoradores com canudo de designers?

Ponto 3: profissionais que preferem ficar com suas bundas gordas confortavelmente sentados esperando que alguém faça o “trabalho sujo”, que “dê a cara pra bater”. Assistem tudo de camarote e são covardes ao ponto de não se pronunciar, mesmo sabendo que a situação pode afetar o seu lado profissional.
Ponto 4: estes mesmos profissionais folgados que, depois de regulamentada a profissão e, antes mesmo da instalação do Conselho Federal, já estarão berrando nas redes sociais que querem a sua carteira profissional.

Como muito bem colocou a Keylla Amelotti no grupo Design de Ambientes – UEMG:

“Acredito que se os próprios designers de ambientes se entendessem como uma disciplina de design e não um “braço” da arquitetura, não bateríamos tão de frente com a arquitetura. Porque nós, designers de ambientes, fazemos muito mais do que decorar e humanizar a edificação que o arquiteto projetou; nós podemos ser paisagistas, designers de móveis, cenógrafos, designers de eventos; nós podemos fazer a diferença na qualidade de vida dos trabalhadores de uma loja, de uma fábrica, de um consultório; nós podemos auxiliar na produtividade de uma empresa, nós podemos transformar a forma como uma criança pode ver e sentir toda a sua vida escolar; nós podemos fazer o sonho de uma vida virar realidade num casamento, numa festa de aniversário, num quarto com alma… Nós somos e podemos muito mais do que a maioria pensa – muito mais do que alguns de nós mesmos pensam, e é por isso que parece que lutamos por migalhas de arquitetos. Nós temos muito mais a oferecer à sociedade do que querem nos fazer acreditar. Basta que a gente descubra isso, inclusive dentro da escola de design.”

Disse tudo!

Todo Designer de Interiores/Ambientes é também um Decorador. Mas não é Arquiteto.

Todo Arquiteto é também um Decorador. Mas não é Designer.

Todo Decorador é apenas Decorador. Não é Arquiteto. Também não é Designer.

Isso é um fato real e tem de ser encarado de frente, sem achismos, melindres e ego(ísmo)s.

Daí a necessidade de um profissional necessitar da parceria com os outros numa equipe multidisciplinar. Cada um no seu quadrado correto.

Ou preferem ficar aí vendo a banda passar para depois chorar sobre o leite derramado se fazendo de vítimas do sistema?

Brieffing – #ComoFaz?

É bastante comum leitores me perguntando ou pedindo dicas sobre como briffar os clientes. Então vou ser bem direto e franco:

Não há uma receita de bolo para isso. Cada caso é um caso e isso só se aprende com a experiência profissional.

O brieffing TEM de ser dividido em duas grandes áreas: a objetiva (técnica) e a subjetiva (gostos, estilos, etc) sendo a segunda a mais complicada e certamente aquela que gera maior desconforto nos profissionais iniciantes.

A primeira parte é aquela composta por todos os elementos técnicos iniciais do projeto. Nesta parte teremos de:

– Conhecer o orçamento disponível;

– Saber o que será feito (qual a área total, quais ambientes, etc);

– Saber qual será o uso e quem serão os usuários (quantificação e necessidades de acessibilidade, segurança, etc);

– Fazer as medições dos ambientes que serão projetados (incluindo portas, janelas, aberturas, elementos arquitetônicos, etc);

– Fazer a locação (nos croquis) dos pontos de elétrica e hidráulica existentes;

– Anotar, item por item, o que o cliente deseja alterar (pisos, revestimentos, pintura, móveis, louças e metais, iluminação, etc);

– No caso de condomínios, saber os horários limites para realização das obras e normas de limpeza internos;

– Conseguir com o cliente o projeto estrutural da edificação (original e de alterações posteriores se houver);

Enfim, esta é a parte “grossa” do Brieffing comum e necessária à todos os projetos. Existem ainda outros elementos que podem ser colocados aqui nesta parte. O importante é que os croquis sejam feitos em folhas separadas para cada ambiente e, no verso, sejam anotadas as alterações – unica e exclusivamente – daquele ambiente.

Imagem: Lu Brito – DG

Já a segunda parte é bastante complexa pois iremos trabalhar com a parte subjetiva do projeto. É aqui que entram os gostos, estilos, definições de cores, texturas, identidade, personalidade, regionalismos, história, etc etc etc etc etc etc…

Dica: ouça atentamente e aprenda a “ler nas entrelinhas” do que os clientes falam.

A imagem acima é bastante clara: nesta parte exige-se muita conversa. Se a habilidade de conversar com o cliente para conhecê-lo ainda está meio crua em você, comece brincando com seus familiares e amigos.

O ideal é que você vá caminhando com o cliente pela edificação e conversando com ele sobre cada ambiente. De posse dos croquis, vá anotando o que o cliente deseja no croqui daquele ambiente. Se está na sala, tenha o croqui da mesma em mãos e somente fale sobre a sala.

Tem clientes que são maritacas: não param de falar, falam de tudo ao mesmo tempo. Nesses casos você tem de direcionar a conversa com o famoso “Calma, vamos por partes. Estamos na sala, jajá chegaremos ao banheiro”. (rsrs)

Se você não tomar esta atitude vai perceber depois que as suas próprias anotações estarão uma bagunça.

Já, muitos clientes são mais reservados. Por mais que nos contratem para realizar o projeto, são resistentes em abrir-se, especialmente sobre questões mais pessoais e íntimas. Muitos também tem uma dificuldade gigantesca em definir-se com relação a estilos: lembre-se que a grande maioria das pessoas que não trabalham com áreas correlatas à nossa são leigos sobre este tipo de coisa. Então não entupa os ouvidos deles com palavras técnicas.

Para este tipo de cliente o melhor, na maioria das vezes, é pedir que eles folheiem revistas e tragam recortes de ambientes, móveis, cores, acessórios e etc que eles gostem. Através destes recortes você conseguirá traçar o perfil estético do seu cliente. Porém, estas imagens devem servir APENAS COMO REFERÊNCIA – jamais para cópia.

A pior parte – no meu ponto de vista – é a pessoal. Dificilmente uma cliente irá dizer que quer o seu quarto “quente”. Geralmente usam termos como “romântico”. É óbvio que ela não vai dizer de pronto que quer uma cadeira de dominação no quarto. Esse tipo de intimidade somente vai aparecer no decorrer das conversas.

DAS CONVERSAS sim! Pois o brieffing subjetivo é constante e NUNCA acontece numa única conversa. É uma ferramenta que deve ser utilizada durante TODO o processo, do primeiro contato até o pós ocupação.

Também, dificilmente os pais irão dizer que o filho ou a filha é gay (raramente isso acontece). Então o quarto da menina pode não ser tão rosa quanto você imagina e o do menino também pode não ser tão azul. Por isso é importante que você tenha contato com todos aqueles que serão os usuários e procure atender às exigências de cada um para o seu quadrado.

Outro elemento importantíssimo é com relação à vida social da família. Haverão recepções e festas na casa? e sim com que frequência? Qual o número de convidados normalmente?

Quem geralmente oferece muitas festas quer uma casa para mostrar (status-CUS). No entanto devemos alerta-los sobre o risco do projeto não refletir a personalidade, o “eu” da família e tornar-se um ambiente desagradável.

Bom, como podem perceber, essa segunda parte do brieffing é bastante complexa. É como uma construção: tijolinho por tijolinho. Pesca uma informação aqui, arranca à forceps outra ali e assim conseguimos IDENTIFICAR o cliente e, consequentemente, o projeto.

É como escrevi no início: não se desespere. Isso você só vai dominar com o tempo, com a experiência.

de novo…. então é Natal…..

Eu até acho que ja postei isso por aqui mas tou sem tempo de procurar.
Todo ano é a mesma repetição de postagens sobre o Natal. Encontramos imagens e mais imagens pela web e fica cada dia mais difícil definirmos o que faremos em nossa casa (não faço a menor idéia ainda aqui para a minha casa). O assunto vem à tona novamente com a ligeira proximidade do Natal.

Mas, não sou adepto dos natais tradicionais. Ok, para quem tem crianças ainda vá lá incentivar a fantasia porém, porque temos de reforçar uma imagem nada a ver com a nossa identidade e cultura brasileiras (considerando ainda a nossa realidade climática) ao usarmos simbolos que não tem a menor relação conosco?

Tradição? Tudo bem. Estas são feitas para serem quebradas. No mais, elas só servem realmente para as sociedades que as criaram.

Então, que tal deixarmos essa utopia para os shoppings e lojas e assumirmos que somos brasileiros? (gostou do plágio Elenara? ahahaha). Que tal rechearmos a nossa festa com elementos típicos de nossa cultura?

Wilma Camargo – compositora curitibana – é a culpada por esta minha visão realista e patriota com relação ao Natal. Assisti uma vez em Curitiba o Natal do Palácio Avenida e as crianças cantaram uma de suas músicas: Natal verde e amarelo. Diz a letra (pena que não tou encontrando o áudio ou um vídeo decente):

“Feliz Natal,
Natal brasileiro, sem nada estrangeiro,
Calor de dezembro sem neve e sem frio.
Natal todo nosso, com sinos tocando,
Nas velhas matrizes do nosso Brasil.

Feliz Natal,
Na hora da ceia não sirva peru,
Sirva um bom café, vatapá, caruru.
Família reunida, contente da vida,
Que bom festejar, festejar o Natal a cantar.

“Não há, oh gente, oh não…”
Natal tão bonito, Natal tão azul,
Luar do sertão e o Cruzeiro do Sul,
A iluminar o Brasil por inteiro.

Eu quero este ano,
ver Papai Noel de verde e amarelo,
Chegar alta noite e em cada chinelo deixar
O orgulho de ser brasileiro.”

Refiro-me especialmente às imagens de renas, flocos e bonecos de neve e o tal Papai Noel (que todos sabemos é um simbolo meramente comercial) que não tem absolutamente nada a ver com o Brasil especialmente nesta data quando estamos em pleno verão enfrentando temperaturas médias de 35 a 40°C.

Gosto demais de trabalhar com as bolas (tem umas maravilhosas) e claro, abusar nas luzes. Também sempre tenho o meu presépio montado: este sim é o verdadeiro sentido do Natal.

Vejamos algumas imagens que encontrei com idéias:

1) Lembro-me saudosista da época em que aconteciam os concursos de fachadas e áreas públicas decoradas. As cidades ficavam lindas, alegres… Hoje poucas cidades investem nesses concursos. Muitas tentam mas oferecem premios tão ridículos que não compensa o esforço e investimento dispensados.


2) Decoração de casa: eu particularmente não tenho mais paciência para todo o processo envolvido nisso (pegar as caixas, desempacotar tudo, montar, limpar a sujeira, depois de um tempo fazer o processo inverso, limpando a sujeira no final). Prefiro decorações diferenciadas, simples ou sofisticadas,e  isso depende de vários fatores. E porque tem de ficar no enjoado verde, vermelho e dourado? Algumas idéias:

Para quem não tem muito espaço...

Para quem não tem muito espaço... adesivos

Para os minimalistas

Já pensou em algo semelhante para o seu jardim???

Que tal usar acrílico e luz para montar a sua árvore?

Para os roqueiros

No entanto eu gosto demais dos elementos decorativos, especialmente os bem diferentes. Cores não somente neles, sua casa pode ter renovado o ar com a simples pintura das paredes para fundo da decoração natalina que pode ficar depois.

Ok, tem rena e flocos de neve. Mas observem o contraste da cor da parede.

Como já falei, adoro as bolas e as infinitas possibilidades de uso delas.

Porque não usar e abusar dos tons de roxo e lilás?

 

Olhem que idéia genial. Mas claro que algo bem montado e decorado, não esse "baguio" aí da foto rsrsrs

Bolas e mais bolas....

... e mais bolas...

... e mais bolas ainda...

O que me fez definir que vou aproveitar o globo espelhado que usei na bilheteria da mostra e que ele será o ponto de partida da decoração deste ano aqui de casa.

Sorte que não vou precisar comprar outros dois beams para conseguir o efeito (já que me roubaram os meus dois na desmontagem da mostra e agora ninguém é responsável por isso e tenho de morrer com esse prejuízo) e posso contar com lâmpadas e luminárias que tenho aqui em casa mesmo.

Bom é isso. Idéias lançadas. Vamos ver o que vai dar.

;-)

Luxuria ou futilidade?

Estava rascunhando a algum tempo um post específico falando sobre o livro “A Linguagem das Coisas” de Deyan Sudjic. Desde que li o livro estou rabiscando algo sobre e nunca chego num ponto em que digo para mim mesmo: está digno, fiel ao livro e à visão que tenho sobre o Design…

Mas dias atrás, lendo meu reader, me deparei com um post num blog que me indignou (também porque eu já disse que iria retira-lo de meu reader e ele ainda se mantém lá rsrsrs).

Uma das partes do livro que mais gostei é a que ele diz sobre a deturpação (e desidentificação) que o Design vem sofrendo desde que iniciou a invasão de não designers na área, o que acabou por futiliza-la. A perda da identidade da profissão começou neste ponto. Procurem pesquisar sobre quando foi que surgiu essa porcaria de onda sobre “tendências” no Design e entenderão.

É mais que comum vermos hoje em dia profissionais de outras áreas fazendo suas incursões no Design, especialmente o de produtos. Tem também designers de outras áreas se metendo onde não deve pois não estudou especificamente para aquilo. Tudo isso à custa do certo renome que tem (muitas vezes o jabá $$ mesmo) , então se acham no direito de invadir, impor suas sandices e que todos tem de aplaudir, aceitar e comprar, claro que também elogiando (babando-ovo) com frases de efeito: fantástico, genial, maravilhoso….

É um tal de estilista lançar linha de móveis, arquiteto lançar roupas e mais uma infinidade de combinações estranhas e bizarras às suas raízes acadêmicas que dá medo…

Até parece que virou moda, tendência esse tipo de coisa, #credo.

O resultado disso?

FUTILIDADES que destróem a essência do Design!

Aham, a Rocca lança uma linha nova de metais – que já são caros e belos – e aí vem um imbecil e craveja a peça com cristais, diamantes ou a folheia com ouro e voilá: a futilidade personificada usando erradamente a palavrinha RE-DESIGN!!!

Se esse tipo de coisa for um Re-Design eu não sei mais quem eu sou, onde está o céu e a terra, etc…

Re-Design significa muito mais que simplesmente alterar a cor, textura ou revestimento de um objeto ou produto.

Vamos ser francos gente? Pra que uma coisa dessas folheada a ouro?

Tem público que consome? Sim, mas são mínimos se comparados ao publico normal do nosso mercado diário.

O pior é que este nosso público começa a querer copiar esse lixo e muitas vezes nos vemos em “sinucas-de-bico” por causa disso sabem porque? Porque eles não tem $$ para comprar o original e aí caem nas porcarias das cópias fajutas.

Vemos diariamente essas tendências sendo forçadas por sites, revistas e mídia em geral. Já escrevi aqui sobre tendências e os cuidados que temos de ter com esse tipo de coisa.

Além de não representar a personalidade do cliente e sim apenas um desejo forjado e forçado pela mídia de consumo, as tendências são passageiras. O que hoje é moda, semana que vem já não é mais. E o cliente como fica nisso tudo? Vai ficar com um trambolho demodê ou “over” e sua casa? E quando ele cair na realidade e perceber que este produto não atende às suas necessidades diárias? Que aquilo não tem absolutamente nada a ver com a sua personalidade e está incomodando?

A grande maioria destes produtos feitos por não designers ou por designers de outras áreas se esquecem do principal: atender a necessidade do usuário (função) e a usabilidade. Sim, são estes elementos que devem nortear todos os projetos seja em qual área do design for. E as tendências não tem nada disso, não consideram isso. Tem só desejo de consumo.

Voltando aos projetos estúpidos feitos por “dezáiners”, vejo diariamente um show de horrores pela web e pelas revistas. Sinceramente? Não tem como não acreditar na existência do “jabá” ($$).

Pois é, acreditem ou não, essa mesinha de torno – que eu aprendi a fazer em minhas aulas de técnicas industriais quando estudei no Polivalente lá em Assis Chateaubriand nos anos 70 – foi tempos atrás lançada no mercado por um arquiteto brasuca através de uma marca podero$a.

O que tem isso de novidade??? O que tem isso de Design??? O que tem isso demais que justifique o valor insano que é cobrado por essa peça?

NADA!!!

Nenhuma novidade na forma ou na estética, nenhuma técnica ou tecnologia inovadora seja em materiais ou processo de fabricação ou seja, é um NADA!

Porém ele tem grana pra pagar o “jabá” e colocar esse lixo em lojas de renome por um preço absurdo e também para divulgar em revistas como sendo “dezáine”… é Design o c*

Pra piorar vi dias atras um estilista internacional lançando uma linha de móveis através de uma grande marca internacional… Sinceramente? A pior aluna de minha turma de graduação ainda no 1° mês desenhava coisa bem mais útil e interessante que ele.

Um profissional sério e que respeite o seu cliente acatar e aceitar pacificamente este tipo de imposição demonstra claramente que não entendeu absolutamente nada durante os anos de faculdade.

Se este é incapaz de mostrar ao cliente a futilidade de determinados modismos, também cabe a mesma afirmativa anterior.

São pouquíssimos os profissionais de outras áreas que realmente conseguiram fazer Design.

Não é à toa que o Design continua sendo confundido com artesanato, especialmente aqui no Brasil.

Vamos parar de idiotices e de dizer amém pra tudo que esta mídia tosca e desinformada (movida por $$) tenta impor como “IN”?

Vamos centrar a nossa atenção no usuário e não nas revistas? Afinal fomos formados para isso e não para consumir deliberadamente porcarias.

Sobre tendências, revistas, cópias e o “eu” do cliente

Hoje acompanhando meu facebook vi uma postagem da Maria Alice Miller com o link para um texto da Danuza Leão. Fazia tempo que não lia nada dela e, como sempre gostei, fui ver do que se tratava. E não é que ela continua sempre acertando na “boca do estômago” de uns e outros por aí???

Pois bem pessoal, segue então o texto. Sugiro que leiam duas vezes:
1) leitura normal
2) transfira tudo isso para as nossas áreas. Ex: quando ela fala do sapato, imaginem no lugar aquele pendente “da moda” ou outras coisas comuns de vermos por aí.
Volto na sequência.

“Danuza Leão tem razão. Olha o texto que escreveu…
Há muito, muito tempo, bacana era ser nobre; começava pela rainha, depois vinham as duquesas, condessas, marquesas etc. O tempo passou, cabeças foram cortadas, e os novos ricos foram os herdeiros, digamos assim, do que era a elite da época.
O tempo continuou passando; vieram os grandes industriais, os empresários, os donos de supermercado, os bicheiros, os marqueteiros, a indústria da moda, até mesmo os políticos, houve os yuppies e surgiu uma curiosa casta nova: a das celebridades. Desse grupo fazem parte atores de televisão, personagens da vida artística, jogadores de futebol, pagodeiros, sertanejos etc., e começaram a pipocar dezenas de revistas cujo objetivo é mostrar a intimidade dessas celebridades, contando os detalhes da vida (ou morte) de princesa Diana, Madonna ou Michael Jackson.
Quanto mais íntimos e escabrosos, melhor. Nesse admirável mundo novo, a moda tem uma enorme importância, e nesse quesito o que conta -mais que a elegância e o bom gosto- é saber de que grife é cada peça que está sendo usada; quanto custou cada uma todos sabem, já que são tão cultos. Um pequeno detalhe: quando duas celebridades se encontram, mesmo que nunca tenham se visto, se cumprimentam efusivamente.
Antes, muito antes, era diferente: um nobre, mesmo pobre, era respeitado por suas origens, pelo que teria sido feito por algum de seus antepassados. Mais tarde, os homens de negócios eram admirados por sua inteligência, sua capacidade em construir alguma coisa importante na vida. Agora as pessoas são definidas por símbolos, a saber: onde moram, a marca do sapato, da saia, da jaqueta, da bolsa, do relógio, do carro, se têm ou não Blackberry, para onde costumam viajar, em que hotéis se hospedam, a marca de suas malas, que restaurantes frequentam, aqui e quando viajam. Ninguém tem coragem de arriscar férias em um lugar novo, um restaurante que não é famoso, usar uma bolsa sem uma grife facilmente identificável.
Mas quem responder de maneira certa às tais indagações poderá, talvez, ser aceito na turma das celebridades. Acordei hoje falando muito do passado; acontece, vou continuar. Houve um tempo em que mulheres do maior bom gosto apareciam com uma bonita saia e uma amiga dizia “que linda, onde você comprou?”.
Hoje, isso não existe mais, porque as pessoas -aquelas- não usarão jamais uma única peça de roupa que não seja grifada. Outro dia fui a um jantar em que havia umas 40 pessoas, sendo 20 mulheres. Dessas 20, dez usavam sapatos Louboutin, aquele que tem a sola vermelha. Preço do par, em São Paulo: R$ 10 mil. Estavam todas iguais, claro, mas o pior é ser avaliada e aceita pela cor da sola do sapato; demais, para minha cabeça.
O prazer -e o chique, a prova da capacidade de improvisar- era botar uma roupa bonita comprada em um mercado qualquer de Belém, Marrakech ou Istambul, e ser diferente. Hoje é preciso mostrar que folheou a revista que tem a informação do que está na moda e que tem dinheiro para comprar. E os jogadores de futebol e os pagodeiros, que não aprenderam o que é bonito na infância, porque eram pobres, nem na vida adulta, porque não deu tempo, olham as revistas, entram no Armani e fazem a festa, já que são também celebridades.
Não há mais lugar para a imaginação, a criatividade, para uma sacada de última hora, que faz com que uma determinada mulher seja a mais especial da noite. Eu não frequento este mundo, mas de vez em quando esbarro nele sem querer, e é difícil.
Um mundo de clichês; mas como tudo passa, estou esperando a hora de acordar e pensar que essa época não passou de um pesadelo”.
Fonte: http://blogs.estadao.com.br/chris-mello/2010/06/10/danuza-leao-tem-razao-olha-o-texto-que-escreveu/

Voltei.

Então, perceberam as semelhanças disso tudo com a nossa atuação profissional junto à alguns clientes? Também junto à algumas revistas tidas como referência ou “a melhor ou maior” no assunto? Perceberam a futilidade das tendências eliminando a autenticidade e identidade individual?

Já escrevi aqui sobre tendências e aqui e aqui e aqui sobre a péssima influência que estas revistas fazem junto ao mercado.

Repito: arquitetura e design não são meras roupas que podem ser trocadas baseadas em modismos e depois descartadas.

Ambas áreas devem considerar a identidade do cliente e este, por sua vez e em sua grande maioria, deve ter consciência que o projeto vai permanecer ali por um bom tempo devendo acolhe-lo, fazê-lo sentir-se confortável e num ambiente que reflita a sua personalidade, onde ele se identifique.

Não à toa que grandes redes hoteleiras estão investindo pesadamente em modelos (reformas) diferenciados de seus quartos para atender as características individuais de cada cliente. Cada quarto tem um projeto diferenciado, com estilo próprio (e até autores diferentes para cada um deles) e somente é indicado ao cliente após uma breve entrevista para perceber o estilo do mesmo. Isso se deve à grande reclamação dos clientes com relação aos hotéis: ambientes frios, despersonalizados e impessoais onde eles não conseguem se sentir “em casa”. Daí que tantas pessoas odeiam permanecer em hoteis por muito tempo. (eu mesmo não suporto mais que 2 dias).

Assim, ver nas revistas “da moda” as tendências ou fotos das casas das celebridades e querer trazê-las para dentro de nosso lar (ou de nossos clientes) é o pior caminho a ser trilhado pois certamente resultará num fracasso projetual em pouco tempo – assim que o usuário começar a conviver diariamente com aquele amontoado de coisas estranhas.

Devemos considerar que, quando uma celebridade (leia-se cheia da $$) mostra a sua casa nas revistas, ela contratou um profissional que projetou baseado no que ela é na verdade – dado que estas são narcisistas o suficiente para não copiar dos outros e sim impor o seu estilo – e não em cópias disso ou daquilo. Porém a mídia irresponsável (ah essa maldita novamente) acaba por vender o “eu” da celebridade como produto para o consumidor que, ávido por “estar na moda”, compra-os prontamente e só percebe o erro, depois de um tempo (ou pouco tempo) de uso e vê que aquele corpo estranho está mais atrapalhando e incomodando que ajudando.

Portanto, clientes e, especialmente, profissionais é hora de dar um basta nisso tudo.

Não é porque o lustre é da marca tal e custou uma fortuna que ele proporciona a melhor ou mais adequada luz.

Não é porque o sofá da Galisteu é lindo que ele irá atender às suas necessidades ergonômicas.

Não é porque fulano diz que a cor da moda é tal que esta irá refletir ou influir positivamente em seu organismo.

Isso me faz lembrar de uma vez quando eu lecionava em Curitiba quando, no intervalo, rolava na rádio da escola músicas do “É o Tcham”. Desci no pátio e vi uma multidão repetindo a coreografia com perfeição. Quando acabou comecei a bater palmas e diaer: “Parabéns!!! Parecem um bando de cachorrinhos poodles adestrados. Tosos fazendo a mesma coisa. Pula. Se faz de morto. Dá a patinha.” E soltei uma forte gargalhada.

Depois, em sala de aulas, alguns (poucos mas corajosos alunos) me questionaram sobre aquilo. Expliquei que a indústria de massa estava eliminando a identidade individual, formando um bando de seres cada vez mais parecidos uns com os outros onde até mesmo o simples ato de pensar diferente (ou ser) era motivo de bullying. Questionei do porque de quando se ouvia uma das musicas deles a obrigação (aceita socialmente) era ter de dançar exatamente como o grupo e não se podia mais “dançar como eu gosto ou como eu quero”. Eles conseguiram entender o recado e para a nossa alegria (professores e administradores da escola) percebemos grandes mudanças em vários alunos, até mesmo o aparecimento de novos (até então adormecidos) líderes.

Então, vamos parar de palhaçada???

Sejamos sensatos?

Sejamos nós mesmos e vamos respeitar o “eu real” do cliente e não o que ele acha que é ele apenas por estar na moda?

Se você se acha incapaz de fazer o cliente perceber isso, mude de profissão ou volte para a academia pois certamente esta parte de sua formação foi bastante falha.

R Design Londrina 2010 – oficineiro

Olá pessoas!

Ontem tive a felicidade de receber um e-mail da CORDE confirmando que a minha oficina foi escolhida para o RLondrina2010.

A proposta da oficina é a seguinte:

Nome: Design Crítico – formação de pensadores próprios em Design.

Justificativa: É cada dia mais urgente a necessidade da formação de pensadores e críticos específicos em Design. O que temos visto na mídia são profissionais de outras áreas tecendo seus comentários ácidos sobre as áreas do design em virtude da carência de pessoal próprio disposto a realizar este trabalho.

A crítica séria (positiva ou negativa) feita através da observação ou da análise de algo (ambiente, produto, serviço, etc) faz-se necessária em um país que não tem ainda o Design regulamentado e, muitas vezes, confundido com artesanato.

Esta oficina busca fazer os participantes pensar o Design além do projeto. É comum vermos a maioria dos acadêmicos nos cursos voltando o seu foco apenas para a área projetual, esquecendo-se que existem áreas editoriais e acadêmicas que podem ser tão ou até mais rentáveis que a projetual.

Objetivo: Formar pensadores próprios em Design é uma necessidade urgente.

Turma: min 15 máx 30 – sala de aula

participantes levar:
papel almaço (2 folhas)
caneta
revistas e catálogos que possam ser recortados

Bibliografia: A Linguagem das Coisas. Deyan Sudjic. Ed Intrínseca.

Informações e inscrições: no site do RLondrina2010

Zés, preparem-se pois a cobra vai fumar nessa oficina!

 

 

Tendências: muita calma nessa hora…

É bastante comum ver pessoas antenadas e correndo atrás das tendências lançadas nos maiores eventos mundiais, seja qual for o segmento: moda, decoração, novos produtos, dentre tantos outros. Enfim, sempre temos algo de novo, praticamente todos os dias.

Mas será que isso tudo tem realmente algo a ver com você usuário, seu estilo, suas necessidades, seus sonhos e expectativas?

Muitos clientes chegam até os profissionais com recortes de revistas (ou até mesmo várias delas inteiras) dizendo: é exatamente isso o que eu quero. Isso não só compromete negativamente a vida do profissional especializado como pode complicar a sua também.

Causa estranheza quando algum profissional de Design de Interiores/Ambientes, que passou por uma formação acadêmica bastante profunda e específica tanto na área técnica quanto na criativa, se submete a simplesmente “chupar” (copiar) um projeto seja lá de onde for. Isso tolhe a capacidade criativa do profissional. Ele tem habilidades e conhecimentos para muito mais que o simples copiar algo. E, com esta prática, fatalmente ele não vai conseguir responder à altura das suas expectativas pessoais.

Mas tal situação não se reduz à relação profissional – cliente. Este profissional poderá se tornar alvo de sérios problemas judiciais por plágio, cópia, etc. E não será você – cliente – quem irá responder por esta ruptura com o necessário comportamento ético, mas o profissional, na maior parte das vezes, pressionado pelo cliente.

Deixando esta questão profissional de lado, vamos ao que realmente interessa: você, caro cliente.

Tendências são boas? Sim e não. Vejamos por que:

Segundo o dicionário Michaelis: “tendência – ten.dên.cia – sf (lat tendentia) 1 Disposição natural e instintiva; pendor, propensão, inclinação, vocação.(…) 3 Força que determina o movimento de um objeto. (…)”

As tendências são criadas para mostrar conceitos, idéias, aplicação para novos e velhos materiais. Mostrar o que vem pela frente. E só isso. Ninguém vive de ou com tendências, salvo aqueles que as ditam. E, todos nós sabemos que qualquer coisa dita ou imposta, não presta.

Vale lembrar também que hoje determinada coisa é tendência, amanhã já não mais será, pois já foi superada por alguma outra novidade, outra regra, desbotaram um pouco a cor que ontem era um “must” e assim por diante.

É o que podemos perceber claramente na Bienal de Arquitetura de Veneza. Diferenças enormes entre projetos nos países – que levam em consideração suas características (climáticas, geográficas, etc) particulares. Até mesmo aqueles que tratam do mesmo tema tem diferenças enormes. Mas também percebemos isso dentro dos próprios países. Um material excelente para o sul não é bom na mesma medida para o norte/nordeste. Assim como a Bienal, as tendências devem servir simplesmente para nos fazer pensar sobre o que vemos, queremos e desejamos.

Na Semana de Arte Moderna (1922) podemos perceber claramente como isso deve ser tratado: devemos receber essas informações estrangeiras e passa-las por um filtro. No Manifesto Antropofágico, isso é feito com a arte, literatura, etc. Traziam o que tinha de melhor lá fora que, uma vez “digerido”, era assimilado e transformado à realidade cultural brasileira. Isso nem de longe quer dizer que devemos nos tornar xenofóbicos, mas sim que devemos, acima de tudo, manter viva a nossa cultura, limpa e isenta de qualquer subserviência à padrões culturais estrangeiros.

As revistas estão certas? Sim e não.

As revistas são as responsáveis por nos apresentar essas tendências, não obstante o fato de muitas dessas tendências, enquanto produtos culturais, estarem submetidas à lógica do mercado e impostas artificialmente segundo interesses comerciais. Entretanto, para além desta observação crítica, temos de levar em consideração muitas coisas dentro de uma revista. Não basta olharmos uma foto de um ambiente, um objeto ou móvel. Temos de observar o contexto geral no qual aquilo está inserido ou pode vir a ser inserido.

Um living “dos sonhos” qualquer um quer ter, porém aquela da revista pode não ser aquela que você realmente necessite por um simples detalhe: ela não foi projetada para você e sim para uma outra pessoa (família), que tem hábitos, gostos, rotinas e muitas outras variáveis diferentes das tuas. Ou então aquele móvel belíssimo, pode não adaptar-se corretamente à você pelo simples fato de que aqui no Brasil não temos uma homogeneidade corporal – na verdade estes padrões já não mais existem na maioria dos países. Ergonomicamente falando, aquela cadeira pode ser perfeita pra mim, mas para você pode não ser. Você pode ser mais alto ou mais baixo que eu, ter a mesma altura, porém ter pernas mais curtas. Enfim, são muitas coisas que precisam ser levadas em consideração na hora de projetar e montar o ambiente.

Falando diretamente de produtos, muitas outras variáveis têm de ser levados em consideração também. Aquele novo revestimento para pisos pode não ser adequado às suas necessidades pelo simples fato de haver crianças ou idosos em sua residência. A escada de vidro causa desconforto, desequilíbrio, insegurança. A fechadura pode não ser a ideal. A automação pode lhe trazer sérios transtornos se você não for uma pessoa com um mínimo de habilidade com aparelhos eletrônicos. Isso e muito mais na parte mais técnica.

Indo para a área psicológica, poderemos cair em problemas como cores que não batem com a tua personalidade, texturas não agradáveis ao seu tato, sensação de não pertencer ao espaço ambientado, desânimo, entre outros. Isso tudo porque você não levou em consideração as suas características pessoais, suas emoções, seus gostos, seu psicológico. Preferiu correr atrás das tendências, daquilo que está na moda. E não do que te agrada, do que tem “a tua cara”, o teu jeito.

Temos de pensar seriamente que um projeto de Design de Interiores não deve se submeter aos modismos sempre passageiros. O projeto de Design de Interiores de sua casa permanece para além dos modismos e você terá de conviver com ele por algum tempo, ou por muito tempo. Importa discernir e fazer escolhas sobre os aspectos que dizem respeito ao seu estilo.  Isso refere-se a sua identidade pessoal.

Portanto, o uso de revistas como referência e a percepção das tendências apresenta-se como positivo desde que você, cliente, coloque-se aberto para uma conversa e troca de idéias com o profissional sobre as escolhas que você fez para melhor adequá-las ao seu uso às suas necessidades. Torna-se fundamental a presença do profissional para oferecer uma orientação certa sobre o melhor produto, atento a seu estilo, seus sonhos e às demandas cotidianas de sua vida pessoal e/ou familiar e, ao mesmo tempo, atento às tendências que se apresentam.

Artigo escrito para a Revista Mary in Foco.