Sobre Responsabilidade Técnica

Bom pessoal, já escrevi isso aqui antes, mas vale ressaltar especialmente por causa dos recentes ataques do CAU aos profissionais de Design de Interiores. Sobre este assunto, o que vou escrever é válido também para os Lighting Designers.

O principal ponto de ataque do CAU contra nós designers é que não temos um Conselho Federal e não emitimos ART ou RRT. Teoricamente, o documento que indicaria judicialmente o autor e responsável pelo projeto em caso de algum problema ou sinistro na obra.

JuridicoPois bem, tanto a ART quanto a RRT são documentos INTERNOS do CREA e do  CAU, respectivamente.

Sobre a Responsabilidade Técnica, este é um item que está inserido dentro da RESPONSABILIDADE CIVIL, tema citado e detalhado no Código Civil Brasileiro (CCB), uma Lei superior a qualquer outra norma ou resolução INTERNA de Conselhos profissionais.

Ninguém ou nenhum Conselho pode estar acima do CCB.

Acima dele temos apenas a Constituição Federal.

Dias atrás o CAU voltou a lançar notas e matérias alegando sobre os riscos ao mercado e sociedade na contratação de profissionais que não possuem um Conselho Federal para fiscaliza-los e tampouco podem emitir os documentos (ART/RRT).

Pois bem, vamos esclarecer uma coisa: o CONTRATO assinado entre o profissional e o cliente tem mais valor jurídico que estes papéis dos Conselhos.

Perante a Justiça, o contrato serve para nomear o autor do projeto (uma das atribuições dos papéis dos Conselhos).

A segunda atribuição é, também teoricamente falando, indicar a responsabilidade técnica sobre a obra no caso de problemas ou sinistros.

OK! Sem problemas. Vamos ser honestos com o mercado então já que o CAU não o é?

Para solucionar este probleminha basta que os profissionais de Design insiram em seus contratos duas cláusulas básicas. Como tive que passar de meu note para um HD externo a maioria dos arquivos (e tá tudo uma bagunça ahahahaha) não consegui localizar o modelo atualizado do contrato que uso. Mas vou passar para vocês o modelo antigo que encontrei aqui e que, tenh certeza, já irá ajuda-los bastante.

Portanto insiram em seus contratos, na parte das Disposições Gerais, o seguinte:

MostrarImagem07.05. A Responsabilidade Técnica do CONTRATADO sobre o projeto, bem como as questões indenizatórias em caso de sinistros ficam garantidas conforme o que dita o Código Civil Brasileiro no tocante à Responsabilidade Civil, descartando, portanto, a necessidade da emissão e outros documentos (ART/RRT) sobre o assunto por ser o Código Civil Brasileiro uma Lei Superior.

07.06. O CONTRATADO não se responsabiliza por alterações ocorridas durante a obra que estiverem em desacordo com os serviços por ele especificados e sem a sua autorização ou alterações solicitadas pelo CONTRATANTE diretamente aos prestadores de serviços e que estiverem em desacordo com a legislação em vigor.

(Altere a numeração de acordo com o seu contrato).

MostrarImagemPronto!

Simples assim e acabou o problema sobre a Responsabilidade Técnica.

Você está nomeado como autor do projeto e responsável técnico pelo mesmo através do seu contrato assinado com o cliente.

Ninguém poderá te acusar de absolutamente nada. Nem viver na sombra de quem pode emitir os papéis dos Conselhos, nem de querer isentar-se da responsabilidade sobre seus projetos, nem de NADA!

Para vocês terem uma idéia de como isso é sério, apenas com este dispositivo nem precisamos ter a profissão regulamentada. Não estou dizendo com isso que não quero ver a nossa profissão regulamentada, bem pelo contrário. Porém quero a regulamentação por outros motivos e não por este.

Sobre isso o CCB é claro:

“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”

Perceberam que ele cita TODOS. Todo ou qualquer pessoa que fizer algo que provoque dano a terceiros.

Você é sim responsável pelos seus projetos!

Então faça constar estas cláusulas em seus contratos e ponto final!

CLD Certified Lighting Designer

Demorou mas saiu!

Finalmente temos uma certificação Internacional profissional de Lighting Design.

CLD logo

Diferentemente daqui, onde o corporativismo, o coronelismo e a falta de bom senso e ética imperam através de organismos oficiais que agem contra outras profissões e o mercado e que ficam o tempo todo tentando promover uma reserva de mercado (que é crime), o mundo evoluído continua, evoluindo ainda mais!

É o que eu sempre digo sobre “pensar fora da caixinha” e livrar-se das gaiolas (jaulas e prisões) visando a melhoria do mundo, da humanidade.

Pois bem, o que é esse tal de Certified Lighting Designer? Vou explicar resumidamente com uma tradução livre.

Segundo o próprio site

“A certificação Certified Lighting Designer (CLD) é a primeira certificação baseada em evidências do design de iluminação do mundo. O processo de certificação foi projetado para avaliar se um indivíduo é capaz de atuar como um designer de iluminação arquitetônica de uma forma profissional e competente.”

Por que foi desenvolvida a CLD?

Os profissionais que atuam na área devem ser os únicos a definir a profissão iluminação. No entanto, na ausência de uma definição oficialmente codificada internacionalmente, existia um risco real de que aqueles fora da profissão e os outros nas esferas legislativas ou públicas tentaria defini-lo em seu lugar. É o caso aqui do Brasil onde determinados grupos vem tentando fechar a área exclusivamente para arquitetos sob alegações estapafúrdias e totalmente sem qualquer fundamentação teórico-prática.

Analisando esta situação, que não acontece apenas aqui no Brasil, a IALD iniciou uma série de conversas e debates com partes interessadas, com profissionais de iluminação e com a indústria de todo o mundo para determinar se seria benéfico para a profissão criar uma certificação que identificasse e avaliasse as habilidades e conhecimentos dos lighting designers que trabalham com projetos voltados para a Arquitetura. Essas conversas também envolveram partes interessadas de profissões relacionadas, tais como Arquitetura e Design de Interiores, já que a maioria dos profissionais atuantes hoje em dia são oriundos destas duas áreas.

Com base nesses debates, a IALD montou, em 2010, uma força-tarefa internacional credenciada para continuar a conversa e determinar a viabilidade de uma certificação global. A Associação de Designers de Iluminação Profissional (PLDA) desempenhou um importante papel, representando o grupo de trabalho. Depois de extensas pesquisas internacionais de investigação envolvendo webinars, entrevistas pessoais e reuniões, a força-tarefa decidiu que existia a necessidade premente de uma certificação profissional reconhecida mundialmente e começou a desenvolver a CLD.

A certificação CLD é uma avaliação baseada em evidências que testa a sua competência profissional ao longo de sete domínios relacionados à prática. Os candidatos são obrigados a apresentar dois tipos de provas:

  • Informações por escrito: Isso inclui respostas a um conjunto de questões, bem como descrições de projetos.
  • Portfólio: Este material presta suporte às suas respostas escritas para demonstrar a sua competência em cada domínio necessário.

Cada inscrição é avaliada por revisores treinados e capacitados. O processo de avaliação demora entre 4 e 6 semanas.

Quem é considerado apto a ser certificado?

Para solicitar o CLD, os candidatos devem comprovar no mínimo três (3) anos de experiência atuando como lighting designer profissional, sendo o principal responsável por:

  • Criar estratégia de Lighting Design e na elaborar conceitos em Lighting Design para projetos;
  • Documentação relacionada ao projeto e soluções de Lighting Design;
  • Transmitir e trocar idéias com a equipe de projeto e clientes;
  • Cumprir prazos de concepção do projeto e reuniões;
  • Realizar o acompanhamento ao longo do processo de implementação dos projetos;
  • Orientar o desenvolvimento do projeto desenvolvido e documentado.

Além disso, os candidatos devem ter de dois a quatro projetos em seu portfolio que será utilizado para demonstrar a sua competência profissional.

Domínios de Prática

Os sete domínios da prática definir as competências essenciais para profissionais de design de iluminação em todo o mundo e fornecer um padrão para medir o desempenho dos candidatos CLD.

Lighting designers qualificados que são membros de alguma associação profissional de Lighting Design aprovada devem demonstrar proficiência em cinco dos sete domínios (de colaboração e de manejo são excluídos). Todos os outros candidatos devem demonstrar proficiência em todos os sete. Ser membro de uma associação de iluminação não é uma condição prévia para a certificação, no entanto.

As competências e conhecimentos exigidos são:

  • Metas e resultados – A criação do conceito de iluminação que cumpra os requisitos do projeto e a intenção do projeto para que a solução funcione como previsto.
  • Colaboração – Interação com outras disciplinas, servindo como um membro integrante da equipe de projeto na área de Lighting Design, relacionado ao seu contexto e agregando valor ao projeto.
  • Engenhosidade – A contribuição de ideias que demonstram inovação, criatividade, originalidade, imaginação ou desenvoltura para promover os objetivos do projeto.
  • Síntese – A integração dos elementos técnicos e estéticos da iluminação com o espaço e a forma.
  • Ciência – A aplicação dos princípios da luz para atender a critérios técnicos relevantes nos projetos.
  • Sustentabilidade – A resposta do projeto de iluminação para o impacto ambiental conhecido e potencial.
  • Experiência Humana – O design de soluções de iluminação que afetam positivamente as pessoas.

Documentações:

Para demonstrar sua proficiência, você deve realizar um teste, em Inglês, com questões aplicadas sobre cada domínio. Além disso, você deve apresentar evidências ilustrativas – portfolio – para cada um dos domínios, exceto colaboração.

O número de documentos para cada domínio exigido varia dependendo se você for membro de uma associação profissional de Lighting Design aprovada pela CLD. As aprovadas são:

  • International Association of Lighting Designers (IALD)
  • Asociación Profesional de Diseñadores de Iluminación (APDI)
Domínio Professional Members of Approved Lighting Design Associations All Other Applicants
Metas e resultados

1

2

Colaboração

0

1

Engenhosidade

1

2

Síntese

1

2

Ciência

1

1

Sustentabilidade

0

1

Experiência humana

1

2

Você pode enviar até três cases como documentação para cada um dos domínios exigidos para comprovar sua qualificação. Exemplos de documentações dos cases incluem esboços, planos, fotografias, consumo energético e documentação de conformidade com as normas internacionais.

As documentações devem ser encaminhadas com pelo menos dois tipos de projetos exclusivos tais como comercial, cultural, hospitalidade, residencial, ou varejo. Embora sua solicitação deva incluir projetos tanto de interiores como exteriores, não é necessário para satisfazer cada competência um exemplo interior e outro exterior.

Todos os projetos devem ter sido concluídos nos últimos sete anos, ou estar em vias de ser finalizada a sua implementação. Para obter uma lista completa de cases aceitos para avaliação ​​e tipos de projetos, consultar o Manual do Candidato CLD disponível neste link.

5 Razões para ganhar o seu CLD

  • Alcance reconhecimento global. A CLD é a referência baseada em provas de desempenho profissional reconhecida internacionalmente.
  • Aumente a sua visibilidade profissional. Diferencie-se de seus concorrentes apresentando a sua Certificação Profissional Internacional em Lighting Design.
  • Demonstre conhecimento. Mostre a seus clientes e ao mercado que você já provou proficiência e conhecimento no desenvolvimento, orientação e conclusão de projetos de Lighting Design.
  • Invista em sua carreira. Atraia novos negócios e clientes a partir do valor de uma certificação Internacional, a CLD.
  • Ganhe o respeito que você merece. Confirme o seu status profissional aos olhos do mercado, academia, parceiros e colegas profissionais, legisladores e do público em geral.

Bom demais isso não é mesmo pessoal? Uma certificação Internacional que acaba de vez com essa lenga-lenga de que “só arquiteto pode iluminar a Arquitetura”.

Com este certificação você tem o reconhecimento e o aval do maior organismo mundial de Lighting Design para atuar profissionalmente. Tenho certeza absoluta de que ninguém irá querer contestar isso e comprar briga com a CLD.

Gostou?

Para maiores informações é só acessar o site da CLD neste link.

Ah, informação importante:

O pessoal da área cênica que atua também em projetos ligados ao objeto arquitetônico também podem solicitar a sua certificação! Aqui não há corporativismo, coronelismo e golpismos visando a reserva de mercado.

Novos paradigmas, ou, os nichos negligenciados.

Esta série de artigos que publico atualmente nasceu de minha palestra “Design de Interiores e Ambientes: N Jeitos de Atuar” e as constantes solicitações de maiores explicações sobre alguns aspectos mencionados na mesma e que, por falta de tempo na palestra, acabam ficando algumas pontas soltas. Então, a intenção desta série é exatamente esta: complementar e ampliar o conteúdo da palestra. Mas antes de dar prosseguimento, faz-se necessário elencar alguns aspectos de relevância para o melhor entendimento do conteúdo aqui expresso.

Causa certa estranheza a forma como as Instituições de Ensino Superior (doravante apenas IES) e as Instituições de Ensino Técnico (doravante apenas IET) abordam a área de Design de Interiores e Ambientes. Há uma falha imensa nas matrizes curriculares bem como nos ementários das disciplinas com relação às possibilidades de atuação profissional ficando, portanto, bastante distantes da realidade do mercado. Outro fator importante a destacar é que os acadêmicos não devem ser treinados para seguir um padrão projetual, ou conjunto de procedimentos pré-determinado, já que vivemos numa constante evolução em todos os aspectos tangenciais ao projeto: tipos e usos de espaços, materiais, tecnologias, entre outros.

Antes de tudo, faz-se necessário entender o que significa esta palavra “Design” que antecede o nome de nossa profissão, um detalhe que trataremos mais adiante em outro artigo. Mas, mesmo sem este conhecimento prévio, não nos impede de pensar sobre a abrangência de nossa área.

Como um campo “multidisciplinar” – prefiro dizer que é transdisciplinar – o Design de Interiores e Ambientes é uma profissão que, por suas características específicas aliadas aquelas oriundas de nossa raiz, o Design, não podem ser limitadas por barreiras supostamente definidas por sua nomenclatura, bem como não deve ser amarrada a qualquer outra área profissional (EX. o elemento arquitetônico) à exceção de sua origem: o Design.

O projetista não deve comportar-se como um motorista de taxi: “Diga-me exatamente aonde você quer chegar e me pague que eu te deixarei no destino.” (Phillips, 2008).

Durante a formação acadêmica, é praticamente imperante o direcionamento para trabalhos voltados apenas ao elemento arquitetônico. Poucas são as IES que conseguiram livrar-se do erro acadêmico de confundir a área com a Arquitetura ou a Decoração e hoje oferecem cursos de alto nível e com uma vasta abrangência de possibilidades de atuação profissional que vão muito além dos projetos residenciais ou comerciais. Aliás, existem diferentes tipologias de espaços residenciais, bem como de comerciais. Mas não somente estes tipos existem.

Jenny Gibbs[1] lembra que

Durante muitos anos, o Design de Interiores confundiu-se com a Arquitetura, ficando, muitas vezes, encoberto. Distinções mais claras entre essas duas profissões tão relacionadas entre si estão começando a se formar atualmente e, uma vez estabelecidas de forma definitiva, será mais fácil definir o Design de Interiores como uma profissão respeitada, ética, com valores, missão e objetivos claros. De forma geral, a profissão estará em melhor posição para abordar questões importantes relacionadas com a ideologia do Design, estilo de vida, segurança, conforto e comportamento humano, e estimular os aspectos sensoriais e perceptivos do Design de Interiores, além da função e ergonomia”.

O ato de projetar sempre esteve ligado ao intelecto: arte, ciência e filosofia afinal, projetar envolve um esforço mental sofisticado: lidamos com diversas ideias (vagas e precisas), informações (criatividade e cálculos), problemas (objetivos, subjetivos), materiais (físicos e sensoriais), processos industriais e construtivos, psicologia e percepção humana entre outras variáveis (pensamento sistemático e caótico), onde temos de ordena-las de forma coerente a fim de concretizar as soluções através do projeto. E assim deve permanecer, sempre em expansão acompanhando a evolução da humanidade e, principalmente, da sociedade.

Não podemos permitir sermos transformados em robôs automatizados que seguem padrões pré-definidos eliminando de nosso labor o pensar[2]. Esta falha tem a sua base no movimento modernista da Arquitetura que pregava, sutilmente, o fim da história do projeto[3]. Apesar da sutileza, este pensamento influenciou profundamente a academia, até os dias atuais. Com isso surgiu a ideia dos laboratórios onde os alunos poderiam “pôr a mão na massa”. Não podemos discordar desta prática, porém vemos que o trabalho artesanal e visual acaba tomando quase que a totalidade do tempo do processo. Normalmente transformam-se em um parque de diversões distante da realidade, deixando de lado o pensar, a reflexão, a pesquisa, a análise das realidades e outros elementos fundamentais ao processo para a obtenção de projetos, produtos e até mesmo soluções com melhor qualidade e, até mesmo, inovadores.

Quando o aluno se forma numa graduação ou num curso técnico, são recorrentes as dúvidas:

– “E agora? O que devo fazer? Por onde devo começar? Qual caminho devo seguir?”

Isso reflete a fraca oferta de conhecimento e entendimento dentro da academia brasileira bem como o desconhecimento, por parte desta mesma academia, da abrangência possível do Design de Interiores e Ambientes.

Vale ressaltar aqui, que as IES que já adotaram o termo “Ambientes” como nome de seus cursos são aquelas que melhor conseguiram entender e derrubar as muralhas impostas sobre a nossa área visando meramente o cerceamento profissional, bem como permitiram que o Design assumisse o comando curricular ao contrário de outras que ainda insistem em manter as Artes Decorativas ou a Arquitetura direcionando as matrizes curriculares.

Durante os cursos atuais, salvo raras exceções, o foco é sempre: projeto residencial ou projeto comercial. Quando se fala em residencial normalmente estudam-se projetos do tipo “capa de revista[4]” e, quando são comerciais, o foco normalmente são lojas, esquecendo-se de todo o resto do mercado. Ficam de fora as possibilidades diversas de outros segmentos e especialidades que os profissionais desta área podem atuar tranquilamente dada a sua formação complexa e holística[5]. Embora pareça que a Arquitetura e o Design de Interiores/Ambientes – lembrando que somos designers – sejam “íntimas”, ao analisarmos o processo do desenvolvimento dos projetos percebemos que existe pouco contato real entre as áreas. Na verdade resume-se, quando é o caso, ao elemento arquitetônico, ou edificação.

É preciso ressaltar aqui que sombreamento ou suposta invasão de mercados alegados por aqueles que levantam a bandeira do “direito adquirido” não pode significar exclusividade de atribuições ou de reserva de mercado – o que é crime segundo o Código Civil Brasileiro e a Constituição Federal – deixando clara, meramente, as disputas mercadológicas e interesses financeiros.

Portanto, ante qualquer dúvida sobre exercício ilegal de profissões, atribuições profissionais, exclusão profissional e outras situações constrangedoras e segregadoras, deve-se buscar as bases nos currículos acadêmicos. Caso as Leis brasileiras sejam insuficientes, pode-se utilizar como exemplos as formações e atribuições profissionais empregadas no exterior para mostrar como a área vem sendo prejudicada aqui no Brasil em sua liberdade criativa, baseada apenas em interesses tácitos de outras categorias.

Bryan Lawson[6] diz que

Até certo ponto, podemos considerar genérica a atividade de projetar, mas, ainda assim, parece haver diferenças reais entre os produtos finais criados por projetistas de vários campos, assim, uma das perguntas presentes no livro todo será até que ponto os projetistas tem processos em comum e até que ponto esses processos variam de um campo a outro e entre indivíduos.

Uma das questões latentes nesse sentido é: como superar isso e mostrar à sociedade (governos, academia, profissionais e comunidade) o que é e até onde podemos contribuir na construção de um País melhor, seja no âmbito ambiental, cultural, estrutural, econômico e social.

O designer de interiores pode fazer as pessoas pensarem, desafiarem convenções sociais e até questões políticas, destacando temas como o desperdício, quando há pessoas com carências básicas, ou o consumo desmedido em um mundo onde os recursos naturais estão se esgotando rapidamente.” (GIBBS, 2010).

Voltando ao questionamento do egresso citado acima, a dica é: especialize-se. Durante o curso você tem contato com diversos conhecimentos e certamente terá mais afinidade com algum ou alguns. Geralmente é aquela disciplina que você tem maior facilidade e geralmente faz os trabalhos acadêmicos com gosto. Passe a analisar o que e até onde essa especialidade pode te levar, quais as possibilidades de especialização e pós-graduação que a mesma proporciona e também qual a demanda do mercado sobre este nicho específico. Pode ser também aquela disciplina que você pouco ouviu falar antes do curso e que te arrebatou, maravilhou, encantou.

Lembre-se sempre que não podemos focar apenas no efeito (estética) que pretendemos obter e que devemos saber e dominar o processo (identificação e solução de problemas, função, etc.) para alcança-lo. Projetar exige muito mais que bom gosto ou bom senso estético. É impossível pensar no produto final sem passar pela fase projetual.

Desta forma você poderá encontrar um nicho de mercado bem específico (disciplina única) ou um pouco mais abrangente (mistura de alguns conhecimentos). Porém vale o alerta: não tente abraçar o mundo pensando que pode fazer tudo sozinho. Precisamos aprender a lidar com as parcerias profissionais, trabalhar em projetos de coautoria.

A partir do momento que os profissionais de Design de Interiores e Ambientes perceberem isso, passarão a trabalhar em equipes multidisciplinares (ou multiprofissionais). São estas equipes, formadas por profissionais especialistas em diversos segmentos relacionados ao projeto global, que encontrarão as melhores soluções para os problemas do projeto.

Podem questionar: mas o mercado está inchado. Como então vamos lucrar tendo que dividir o lucro do projeto entre diversas pessoas?

Simples. Tudo começa pequeno e com o tempo e o mérito vai crescendo, ganhando credibilidade e valor. A qualidade agregada e percebida pelo mercado no resultado final dos projetos é o grande diferencial que fará o grupo ter sucesso e, consequentemente, o reconhecimento e destaque pelo mercado da marca, possibilitando assim, um valor de projeto maior.

Para que estas equipes funcionem e frutifiquem é fundamental que, além de designers, façam parte das mesmas profissionais de outras áreas como, por exemplo, engenharia civil e eletricista (para cuidar da parte estrutural e elétricas dos projetos sempre que necessário). Pode-se contar também com arquitetos na equipe, desde que estes sejam conscientes da abrangência e complexidade do Design e qual é o papel de cada integrante desta equipe.

Ser especializado dentro de uma equipe multidisciplinar não significa que você irá atuar apenas dentro de sua especialidade afinal, o seu conhecimento não se restringe à sua especialidade. Para que uma equipe desta funcione realmente, temos de ter consciência de que ali dentro ninguém manda, ou melhor, todos mandam. É como um relógio com suas engrenagens: uma depende da outra. Cada uma ajuda a outra a cumprir o seu papel. Portanto, nada impede que quando o responsável pelo paisagismo estiver projetando e você passar ao lado e perceber algo no projeto e tiver uma ideia diferente do que está vendo, tenha a liberdade de apontar e propor a ideia assim como, quando você estiver desenvolvendo a sua parte, deve aceitar e considerar as opiniões dos outros integrantes da equipe.

Todos estes questionamentos levam claramente às seguintes constatações:

Se somos capacitados tecnicamente para projetar interiores comerciais (mobiliários, revestimentos, iluminação, etc) garantindo a segurança de todos os usuários (funcionários e clientes), porque não podemos projetar um ambiente externo?

Se projetamos banheiros complexos, com hidro e diversos outros equipamentos, porque não podemos projetar ambientes como os spas em espaços externos à edificação, mesmo que em varandas?

Se somos capacitados tecnicamente para projetar um banco para usuários no interior de uma residência ou ambiente comercial, porque não podemos cria-lo como mobiliário urbano ou para um shopping?

Qual a diferença?

Nosso trabalho tem uma profunda ligação com o campo das idéias e a criatividade. Vale lembrar que,

A criatividade em Design só tem valor quando gera conceitos que resolvam o problema proposto. Isso começa pela compreensão e escolha da abordagem adequada em cada caso específico. Além disso, muitos problemas relacionados ao projeto são tratados apenas quando surgem. Essa abordagem emergencial dos problemas pode levar ao aumento dos custos e dilatação dos prazos.[7]

Como pretendo deixar claro nesta série de artigos, ao apresentar as diversas possibilidades de atuação destes profissionais, percebe-se que o termo “Interiores” não deve ser utilizado como jaula visando o cerceamento do exercício profissional e que o nosso conhecimento adquirido na academia extrapola qualquer barreira imposta pelo mesmo (EX. entre quatro paredes e/ou apenas ambientes internos da edificação). Devemos, portanto, reconhecer como verdadeiro e passar a adotar o título Design de Ambientes.

Exposto isso tudo, precisamos reconhecer os nichos de mercado específicos – alguns trabalhados em algumas universidades e outros negligenciados pela maioria – como forma de apontar novos horizontes para o Design de Interiores e Ambientes brasileiro.

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[1] GIBBS, Jenny. Design de Interiores: Guia útil para estudantes e profissionais. Ed, Gustavo Gili, 2010.

[2] Segundo o Dicionário Michaellis, pensar significa: “(lat pensare, freq de pendere) vint 1 Combinar ideias, formar pensamentos. vti 2 Meditar, refletir em. vint 3 Ser de tal ou qual parecer. vtd e vti 4 Ter na mente; lembrar-se. vtd 5 Julgar, supor. vint 6 Raciocinar. vti 7 Fazer tensão. vtd 8 Delinear mentalmente; meditar, planejar. vti 9 Estar preocupado, ter cuidado.”

[3] LAWSON, Brian. Como arquitetos e designers pensam. Ed. Oficina de Textos, 2011.

[4] Apartamentos ou residências enormes, de clientes ricos e distantes da realidade normal do mercado. Até mesmo os orçamentos propostos são fora da realidade de mais de 90% dos clientes disponíveis.

[5] Segundo Jenny Gibbs (2010), “O termo holístico costuma ser muito utilizado para designar projetos de interiores que consideram os sentidos humanos. No entanto, um projeto de interiores realmente holístico é aquele que considera todos os produtos especificados desde a sua compra e produção até o seu descarte, certificando-se de sua qualidade estética e funcional”.

[6] LAWSON, Brian. Como arquitetos e designers pensam. Ed. Oficina de Textos, 2011.

[7] PHILLIPS, Peter L. Briefing: A Gestão do Projeto de Design. Ed, Blucher, 2008.

ANTES DO DESIGNER, VEM O DESIGN. Ou, SOMOS TODOS DESIGNERS.

ANTES DO DESIGNER, VEM O DESIGN.

Somos todos designers.

É sempre bom ressaltar a diferença entre estas duas palavras: Design e designer. Constantemente vemos, do público em geral aos acadêmicos e profissionais da área (e de outras) confundindo o uso destas palavras. Este erro vindo de do público e de outros profissionais é até aceitável. Mas do pessoal ligado ao Design NÃO!

Segundo o Dicionário Michaelis estes verbetes significam,

“Design – de.sign – (dizáin) sm (ingl) 1 Concepção de um projeto ou modelo; planejamento. 2 O produto deste planejamento.

Designer – de.si.gner – (dizáiner) s m+f (ingl) Indivíduo que planeja ou concebe um projeto ou modelo.”[1]

Ou seja, o primeiro refere-se à profissão e o segundo ao profissional:

POCC_35 Apr. 21 15.18POCC_36 Apr. 21 15.19

Perceba também que no primeiro caso o verbete aparece iniciando com letra maiúscula e no segundo caso, minúscula. Isso acontece por uma convenção da língua portuguesa (e de outras também) onde os nomes das profissões sempre devem ser escritas desta forma. Design, Arquitetura, Engenharia, Medicina, Advocacia, Aviação, Jardinagem, Marcenaria e assim por diante.

Já, quando falamos dos profissionais utilizamos designer, arquiteto(a), engenheiro(a), médico(a), advogado(a), aviador(a), jardineiro(a), marceneiro(a), etc.

Mais uma vez esclarecido isso vamos seguir em frente fazendo uma análise sobre o titulo deste capítulo. Porque é necessária esta reflexão?

Simples: o Design, como área independente e específica do conhecimento, é dividido em diversos segmentos. Hoje não se fala mais em Desenho Industrial e sim em segmentos do Design. Isso se fez necessário por causa das demandas mercadológicas que exigiram, cada vez mais, a especialização do profissional em uma determinada especialidade. De inicio foi dividido em duas grandes especialidades: Produto e Gráfico. Mas isso só não bastou e hoje já contamos com uma variedade destas especialidades:

PRODUTOS:

Objetos, brinquedos, embalagens, jóias, automobilístico, instrumentos, mobiliário, vernacular, sinalização, etc:

Tecnologia de materiais: Biomateriais, pesquisa, inovação, processos, etc;

Gestão:

Branding, estratégico, projetos, eventos, etc;

Acessibilidade:

Tecnologias assistivas, desenho universal, etc;

Teoria:

História, semiótica, educação, pesquisa, institucional, etc;

Interfaces:

Usabilidade, softwares, relação usuário>produto, etc;

Sustentabilidade:

Alternativas, redesign, reuso, ecodesign, etc;

Ergonomia:

Cognitiva, física, organizacional, etc;

Tecnologia de materiais:

Biomateriais, pesquisa, inovação, processos, etc;

GRÁFICO:

Informação, editorial, impressos, ilustração, arte-finalização, comunicação visual, sinalização, etc;

 

Tecnologia de materiais: Biomateriais, pesquisa, inovação, processos, etc;

Audiovisual:

Vinhetas, produção, filmes, videografismo, animação, etc;

Jogos:

2D, 3D, flash, interativos, educativos, raciocício, etc;

Gestão:

Branding, estratégico, projetos, eventos, etc;

Acessibilidade:

Tecnologias assistivas, desenho universal, etc;

Teoria:

História, semiótica, educação, pesquisa, institucional, etc;

Interfaces:

Usabilidade, softwares, relação usuário>produto, etc;

Sustentabilidade:

Alternativas, redesign, reuso, ecodesign, etc;

Tipografia:

Historia, produção, criação, composição, paginação, etc;

Ergonomia:

Cognitiva, física, organizacional, etc;

Tecnologia de materiais:

Biomateriais, pesquisa, inovação, processos, etc;

 

MODA:

Figurino, comportamento, têxtil, estamparia, modelagem, vitrina, alta-costura, instrumentos, etc;

Tecnologia de materiais: Biomateriais, pesquisa, inovação, processos, etc;

Gestão:

Branding, estratégico, projetos, eventos, etc;

Acessibilidade:

Tecnologias assistivas, desenho universal, etc;

Teoria:

História, semiótica, educação, pesquisa, institucional, etc;

Interfaces:

Usabilidade, softwares, relação usuário>produto, etc;

Sustentabilidade:

Alternativas, redesign, reuso, ecodesign, etc;

Ergonomia:

Cognitiva, física, organizacional, etc;

Tecnologia de materiais:

Biomateriais, pesquisa, inovação, processos, etc;

 

INTERIORES E AMBIENTES:

Exposições, cenografia, varejo, mobiliário, saúde, entretenimento, residências, institucionais, paisagismo, hospitality, automotivo, aviação, embarcações. etc.

Tecnologia de materiais: Biomateriais, pesquisa, inovação, processos, etc;

Gestão:

Branding, estratégico, projetos, eventos, etc;

Acessibilidade:

Tecnologias assistivas, desenho universal, etc;

Teoria:

História, semiótica, educação, pesquisa, institucional, etc;

Interfaces:

Usabilidade, softwares, relação usuário>produto, etc;

Sustentabilidade:

Alternativas, redesign, reuso, ecodesign, etc;

Ergonomia:

Cognitiva, física, organizacional, etc;

Tecnologia de materiais:

Biomateriais, pesquisa, inovação, processos, etc;

Perceba que dentro destas especialidades principais já encontramos, hoje, outros segmentos que vem se desenvolvendo, sempre em busca dos melhores resultados. Por mais que pareçam semelhantes, a pesquisa específica dentro de cada especialidade alcança resultado distinto de uma área para outra, pois cada especialidade pesquisa temas relevantes para o seu segmento ampliando, assim, o conhecimento específico destes segmentos e das próprias especialidades.

O melhor é que os conhecimentos produzidos por estes segmentos não ficam amarrados apenas ao Design e sim, buscam auxiliar e também melhorar todas as outras profissões em diversos aspectos. E não duvidem se, em breve, termos mais segmentos específicos atendendo a uma ou diversas especialidades.

Isso será sempre bem vindo afinal, estamos constantemente contribuindo com a sociedade através do conhecimento e a visão do mundo (e das coisas) pela ótica de nossa área.

Do preconceito – ou pré-conceito

É bastante comum vermos no dia a dia, especialmente nas redes sociais, provocações preconceituosas contra a nossa área. Sejam estas provocadas por mero desconhecimento e ignorância sobre o que é Design até mesmo as mais graves vindas daqueles que sabem exatamente do que se trata e do potencial da área. Todas estas tem a sua origem no pré-conceito que, segundo o Dicionário Michaelis, significa:

“Preconceito

pre.con.cei.to – sm (pre+conceito) 1 Conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos adequados. 2 Opinião ou sentimento desfavorável, concebido antecipadamente ou independente de experiência ou razão. 3 Superstição que obriga a certos atos ou impede que eles se pratiquem. 4 Sociol Atitude emocionalmente condicionada, baseada em crença, opinião ou generalização, determinando simpatia ou antipatia para com indivíduos ou grupos. P. de classe: atitudes discriminatórias incondicionadas contra pessoas de outra classe social. P. racial: manifestação hostil ou desprezo contra indivíduos ou povos de outras raças. P. religioso: intolerância manifesta contra indivíduos ou grupos que seguem outras religiões.” (grifos meus).

Como fica claro, toda e qualquer manifestação preconceituosa tem a sua raiz na ignorância das pessoas sobre determinado assunto ou tema. E vivemos aqui no Brasil uma situação complicada, especialmente fora dos grandes centros, onde o Design e seus profissionais são alvos constantes dessa ignorância. E ele vem da sociedade, de outras áreas profissionais e o pior de todos: dos profissionais e acadêmicos de nossa própria área.

Da sociedade

Quem já não ouviu frases como “ah, você faz desenhos no computador”? Acredito que a maioria dos designers já trombaram com esta e outras frases que deixam claro o desconhecimento por parte das pessoas sobre o que é Design e o que um designer faz. Até mesmo dentro da própria família é comum isso acontecer. O ato de confundir o Design com a Arquitetura também é bastante comum porém, igualmente errado.

O problema aqui é que sempre que vemos matérias na grande mídia – seja esta digital, televisiva ou impressa – há equívocos apresentados como se verdade fossem. E, para um leigo da sociedade, ok. Se é isso que estão falando, amém. Porém o problema maior é que raramente estas mídias buscam entrevistar designers verdadeiros, com formação na área. Grande parte das matérias usam profissionais de outras áreas que acham que são designers só porque desenvolveram um ou outro mobiliário e saem falando absurdos que o mercado, por sua ignorante inocência, acaba assumindo como se verdade fosse.

Um exemplo clássico disso é o Lighting Design. Por mais que a área já tenha mais de 20 anos de desenvolvimento e conte com profissionais especializados é bastante comum profissionais sem conhecimento aprofundado em iluminação utilizarem este termo como forma de agregar valor aos seus projetos. No entanto, quando questionados sobre o que é o Lighting Design soltam respostas como: “É uma iluminação mais cênica.” (SIC). E o mercado acaba assimilando esta ideia de que o LD trabalha apenas com cenas programadas em equipamentos de automação residencial ou de efeitos visuais. Está totalmente equivocada esta informação, pois o LD trabalha desde o desenvolvimento de luminárias até as questões ergonômicas, de salubridade, segurança e informativas, qualidade da luz nos ambientes entre diversos outros aspectos antes de chegar à tal luz cênica. Aliás, a iluminação cênica é o berço do LD e muito de sua técnica é aplicada em projetos desenvolvidos por verdadeiros lighting designers.

Um exemplo?

Num bom projeto de LD o que importa é a qualidade da luz, a quantidade correta de luz para cada usuário e/ou tarefa. Num bom projeto de LD as luminárias raramente ficam visíveis por o que importa são as sensações que a luz irá provocar nos usuários. Assim como num palco de teatro onde você não vê os projetores, você apenas sente a luz – sem perceber – e como ela enriquece a cena.

De profissionais de outras áreas

Neste caso encontramos problemas variados que vão dos pré-conceitos aos preconceitos.

No caso dos pré-conceitos o problema é bastante similar ao citado no exemplo anterior, da sociedade. Resumem-se meramente à desinformação sobre o que é Design.

Já os preconceitos vêm daqueles que se julgam designers e não tem habilitação técnica específica na área. Seja como forma de se manter num nicho de mercado que encontraram, totalmente desregulamentado – portando “sem dono” – ou por mero melindre pessoal, já que não aceitam que existam outras pessoas mais criativas e capazes de solucionar problemas que eles. Estes são os mais danosos e perigosos. E sempre são estes que acabam falando bobagens nas mídias disseminando a desinformação sobre o que é Design e quem é ou qual o papel do designer na sociedade e no mercado.

Isso fica claro quando, ao mesmo tempo em que alegam que “são designers”, não sabem nem explicar o que é isso. Quando questionados, dão explicações vazias que confundem o Design com as suas áreas de origem. Quando falam sobre Design em mostras, especialmente, referem-se à esta área apenas como detalhes e equipamentos utilizados em seus projetos que fazem parte dos catálogos de lançamentos de seus patrocinadores como revestimentos, por exemplo.

Quando questionados sobre Ergonomia, sempre confundem com acessibilidade ou fazem uma verdadeira salada misturando as duas coisas e soltando respostas, por vezes, sem sentido, duvidosas e até mesmo equivocadas.

Entre os próprios designers

Sim, há preconceito dentro das universidades e no mercado de trabalho. Até pouco tempo atrás o Design de Interiores/Ambientes não era reconhecido pelos designers de outras áreas como uma área do Design. Alegavam que era decoração e que por isso era coisa da Arquitetura. Foi árdua a luta travada por diversos profissionais para conseguir mostrar a eles que sim, somos designers e a nossa raiz é o Design. Mas ainda hoje existem alguns que não aceitam.

Prova disso é que a nossa área só foi reconhecida oficialmente no NDesign (Encontro Nacional dos Estudantes de Design) em 2012, quando ganhou o devido espaço e reconhecimento na grade do evento. Já na Bienal Brasileira de Design a nossa área ainda não foi aceita. Preferem contratar cenografistas ou resolver da forma deles mesmos, a inserir a nossa área na Bienal, aproveitando para aprender mais sobre a nossa área além de mostrar ao público do que o Design de Interiores e Ambientes é capaz.

Mas dentro da academia ainda perduram o que alguns chamam de brincadeiras, mas que na verdade expressam preconceitos e pré-conceitos seja por parte de discentes e de docentes. Infelizmente essas atitudes não se resumem apenas à nossa área.

“Ah, ele partiu pra Produto porque não tem o dom da arte”, diz um gráfico.

“Ah, ele foi pra Gráfico porque é péssimo em desenho técnico” diz o de produto.

“Ah, Interiores é coisa de patricinha ou de fresquinho”, dizem alguns.

Estas são frases comuns nos corredores e, até mesmo, em algumas salas de professores. Se fossem Docentes, seriam decentes. Mas percebe-se que não passam de pseudos-professores (com “p” minúsculo mesmo, daqueles que não estão preocupados com a qualidade da educação e formação acadêmica). Isso nos mostra que ainda falta interação:

Entre alunos; Entre turmas do próprio curso; Entre turmas de cursos diferentes; Entre docentes; Entre disciplinas; Em trabalhos e pesquisas; Em eventos acadêmicos.

Não há interação, não há integração. Ficam todos fechados em seus mundinhos, observando e absorvendo apenas o que está em seu campo visual (aproximadamente 150° somando a visão central + a periférica) nos esquecendo dos 210° restantes, não percebendo, portanto, as possibilidades que estão à sua volta.

Tenho observado, em alguns eventos que ando participando, a realidade disso. Mesmo em eventos onde todas as áreas do Design estão presentes é comum perceber as panelinhas. Desde a baixa participação e interesse por palestras, oficinas e workshops de outras áreas até a interação entre os profissionais ou acadêmicos de especialidades distintas. Na realidade são poucos aqueles que já perceberam a importância de conhecer – ao menos o básico – sobre a outra especialidade, seja para não sair falando bobagens, seja para observar e absorver conteúdos e conhecimentos que possam ser aplicados em seus trabalhos e até mesmo, analisar como criar potenciais parcerias profissionais.

No entanto, vale destacar aqui que isso tudo acontece porque fomos programados assim. Duvida? Observe estas frases:

“Somos ricos, não se misture com “aquela gentinha”;

“Aquele menino não é uma boa companhia para você”;

“Não devemos nos casar com outro de jugo desigual”;

“Meu garoto! Esse vai ser garanhão, pegar muitas meninas e ter vários filhos”.

“A sociedade, que devemos participar, é apenas aquela à qual pertencemos”;

Atire a primeira pedra quem nunca ouviu ao menos uma destas ou outras carregadas de pré-conceitos e preconceitos sobre diversos aspectos de nossas vidas. Isso reflete claramente os padrões sociais que foram sendo formulados com o tempo e que, apesar do passar de tantos anos, ainda perduram em algumas mentes e são repassadas de pai para filho, de geração em geração.

O “não se misture” ainda permanece vivo nas mentes de alguns que insistem em não evoluir, infelizmente. Saia perguntando aos designers que você conhece “O que é Design?”. Não se surpreenda se constatar que cada um vai responder de acordo com a sua especialidade. O gráfico irá responder de acordo com a sua visão. O de produtos idem. O de Interiores idem e assim por diante. Poucos são os que conseguem ver o Design antes do designer.

Dificilmente um designer de moda conseguirá lhe dizer, com um mínimo de precisão, o que é Interiores. Provavelmente ele irá responder algo bastante próximo da Decoração. Assim como o inverso é verdadeiro.

Se você perguntar como Produto interage com Gráfico, a maioria não saberá responder com precisão.

Por acaso você sabe qual a relação e interação entre Moda e a sua área e quais as possibilidades de atuação conjunta entre vocês?

O que e como o pessoal de Gráfico pode aproveitar os conhecimentos de Interiores e vice-versa?

O que e como o pessoal de Produto pode aproveitar os conhecimentos de Interiores e vice-versa?

O que e como o pessoal de Games pode aproveitar os conhecimentos de Interiores e vice-versa?

Lamentavelmente este desconhecimento acaba afastando profissionais que poderiam trabalhar em parcerias gerando excelentes projetos, aumentando a qualidade dos mesmos bem como agradando ainda mais os clientes através dos resultados.

Portanto o que devemos fazer é acabar com os guetos, com este apartheid que ainda impera, mesmo que disfarçadamente, em alguns cantos. O Design é uma área em constante mutação e evolução como já demonstrei anteriormente quando citei as especialidades. Algumas já bem posicionadas e definidas e outras ainda em evolução.

Então, vamos evoluir?

Muitos alegam que o Design é uma área multidisciplinar. Porém, esta palavra significa que existe uma temática comum, mas não existe relação entre as disciplinas.

“Mais de uma disciplina; aparentemente, não tem relação uma com a outra; cada disciplina permanece com sua metodologia própria; não há um resultado integrado. Segundo Piaget, é quando a solução de um problema requer a obtenção de informações de uma ou mais ciências ou setores do conhecimento sem que as disciplinas evocadas sejam alteadas ou enriquecidas.”[2]

Eu sinceramente não consigo perceber o Design desta forma, trancafiado numa caixinha e isolado, contribuindo pouco ou nada com outras áreas. A produção do Design já tem mostrado que isso é uma inverdade. Acredito sim que esta é uma área transdisciplinar, que acontece quando há cooperação entre todas as disciplinas e interdisciplinar.

“Etapa superior a interdisciplinaridade; não atinge apenas as interações ou reciprocidades, mas situa essas relações no interior de um sistema total; interação global das várias ciências; inovador; não é possível separar as matérias.”[3]

Design é uma área totalmente híbrida e permeável. Ao mesmo tempo em que se apodera dos conhecimentos de diversas disciplinas (ou áreas), é capaz de encontrar erros e corrigi-los, alterar a forma de observar, analisar os problemas e propor soluções mais adequadas entre tantas outras possibilidades. Sim, o Design invade outras áreas. Mas nem de longe deseja assumir o papel destas. Não deseja pois sabe que pode contribuir com o desenvolvimento das mesmas sem precisar assumir um papel que não lhe cabe. Portanto, interdisciplinar.

Apesar de tantos designers, tantos “pensares” distintos… Todas são, antes de tudo, Design.

Todas as áreas do design interagem umas com as outras. Todas necessitam de conhecimentos das outras.

Saia de sua zona de conforto e comodismo.

Evolua!

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[1] Dicionário Michaellis.

[2] https://osmurosdaescola.wordpress.com/2011/07/06/multi-pluri-trans-inter-mas-o-que-e-tudo-isso/

[3] Idem.

¿CUANTO SABEMOS DEL ARTE-CIENCIA DE ILUMINAR?

Por Carlos Laszlo*

 

En este día Mundial del Arte, 15 de abril, declarado por la por la Asociación Internacional del Arte (IAA) en homenaje al nacimiento de Leonardo Da Vinci, he querido contribuir con algunos comentarios sobre nuestro arte/ciencia de iluminar.

En este año internacional de la luz, nos hemos preguntado

¿CUANTO SABEMOS DEL ARTE-CIENCIA DE ILUMINAR?

Yo diría que lamentablemente poco, muy poco!

Antes de entrar en esta nota, quisiera detenerme en el título de la misma, que no es sino una síntesis de la magnífica frase/definición perteneciente al innovador diseñador de iluminación norteamenricano Gerry Zekowski que ha recorrido el mundo entero como una de las definiciones más exactas de esta disciplina:

“La ciencia de iluminar es un arte y el arte de iluminar es una ciencia”

Esta simple frase encierra en sí lo que “debemos saber” de lo que significa “iluminar”, y para comprender su real mensaje, debemos desmenuzarla cuidadosamente.

En primer lugar, debemos admitir que “la ciencia de iluminar” corresponde a lo que yo llamo el luminotécnico, y “el arte de iluminar” al diseñador de iluminación. Esto en sí no es un descubrimiento que me pertenezca, ya que en USA existe el Lighting Engineering y el Lighting Designer. También en Francia se distingue entre el Éclairagiste y el Concepteur Lumière.

En nuestro país, se nos conoce como Luminotécnicos (por todo concepto,) ya que el mercado en general no da como para contemplar las dos especialidades. Pero…estamos a la altura de tal calificación?

Veamos; siendo que el luminotécnico debe abarcar dichas dos especialidades, es obvio que DEBE dominar ambas. Y aquí es donde debemos comenzar a analizar la intención del título de esta nota: “Cuanto sabemos del arte/ciencia de iluminar?

Por un lado: normas, reglas, fórmulas, niveles de iluminación, uniformidad de iluminación, deslumbramiento, etc. Por el otro la concepción de los espacios según las diversas corrientes, dominio del color, la textura, y todo lo relacionado con el aspecto estético y artístico.

No faltará quien traiga al tapete el lamento del inefable maestro y magnífico diseñador de iluminación Howard Barandston, quien en su libro “learning to see”, (aprendiendo a ver) señala que “las reglas son un substituto del pensar; los códigos y normas suelen interferir en nuestra idea del diseño”.

Por supuesto que no soy quien para discutir con el Sr. Brandston, pero admitamos que cuando él iluminó Las Petronas o La Estatua de la Libertad, las normas y reglas no tenían cabida; lo importante era lograr el magnífico efecto que él ha logrado en esas emblemáticas obras.

Ahora bien, veamos una situación totalmente diferente, una de las más comunes en nuestros días. Un arquitecto debe iluminar un edificio de oficinas, para la cual ha elegido los modernos escritorios negros. Las normas (que SÍ hay que respetar so pena de sanción) nos exigen una iluminancia media de 500 lux en servicio en el plano de trabajo de una oficina. Eso quiere decir mantenidos a lo largo del tiempo según el plan de mantenimiento de la instalación. (¡?)

Para mantener ese valor de iluminancia en el tiempo, tendremos que considerar una reserva; (factor de mantenimiento o conservación) generalmente 0.8. (aunque debería ser mayor de acuerdo al tipo de luminaria!) Para que el nivel medio de iluminancia sea de 500 lux, seguramente habrá puntos de 600 o 650 lux; (para lograr el promedio total en el local:G1; E= Em/Emin = 2 : 1 máximo ) además, para que estos niveles lleguen al valor establecido a lo largo del tiempo estipulado y considerando un factor de mantenimiento de 0.8, esos 650 lux serán inicialmente unos 800 lux!

Hasta aquí todo bien, aunque un tanto exagerada la iluminancia media inicial!. (pero normas son normas!) Ahora ha llegado el momento de la inauguración del edificio y la oficina se puebla de personas que ocupan sus escritorios. Acto seguido, a trabajar!

Como en el colegio, saquen una hoja! Y la hoja blanco níveo aparece sobre el escritorio negro. Para esta situación, la norma dice que la relación de “luminancias” (sabíamos que es y para qué sirve la “Luminancia”?) entre el foco de trabajo y el entorno inmediato no debe superar una relación de 3 : 1; donde el papel blanco es nuestro foco de trabajo y el escritorio el entorno inmediato.

Supongamos que tuvimos la desgracia de que nuestro escritorio se encuentre justo bajo el punto de 800 Lux. Ahora tendremos que calcular ambas luminancias (papel blanco/escritorio negro) para lograr la relación que exige la norma. Si somos generosos y suponemos al escritorio negro como con cierto brillo, nuestra luminancia podrá ser de L= 20cd/m2 (sabíamos lo de L= cd/m2?)) mientras que el papel blanco tendrá unas 200cd/m2. Esto nos indica que nuestra relación de luminancias será de 10 : 1!!! ó sea, más de 3 veces lo admitido por las normas.

Vale señalar, que esto no solo NO cumple con las normas, sino que origina un serio perjuicio fisiológico afectando nuestra vista, la que continuamente salta del papel al escritorio y viceversa inconscientemente, obligando a la pupila a dilatarse al máximo y contraerse al máximo infinidad de veces al día, a veces en fracciones de segundo!

Esto es solo un ejemplo de los muchos elementos que se deben sopesar al realizar un proyecto, como lo son además y entre otros: el deslumbramiento fisiológico, deslumbramiento psicológico, luminancia de paredes y techos y en las nuevas tendencias que apuntan a potenciar el bienestar del personal, considerando entre otras cosas la Exitancia o Emitancia (Sabíamos que es esto?) de estas superficies, etc.

Todos estos estudio requieren fundamentalmente de una correcta elección de la luminaria, lo cual nos exigirá los necesarios conocimientos sobre óptica y fotometría, interpretación de una curva de distribución luminosa polar u ortogonal, coeficientes de utilización y su origen, etc. Ni que decir si la obra apunta a alguna certificación LEED!!!

Cuando todas estas premisas se hayan cumplido, recién podremos encarar libremente nuestras ideas acerca del Diseño de Iluminación, en el cual también habrá componentes luminotécnicos como la temperatura del color y la reproducción cromática (¿?) entre otras.

Luego de este breve análisis, que obviamente debería ser mucho más extenso y profundo, vuelve como un bumerang el epígrafe de esta nota:

REALMENTE:…¿CUANTO SABEMOS DEL ARTE-CIENCIA DE ILUMINAR?

Algunas consideraciones al margen:

He tenido alumnos que luego de “asistir” a uno de mis cursos básicos que abarca desde las magnitudes y unidades de la luminotecnia hasta la iluminación de paisajismo, todo en tan solo 18 capítulos en 6 clases de 2 horas cada una, han emitido tarjetas profesionales auto titulándose Diseñador de Iluminación o más aún, Lighting Designer! Yo me pregunto: no es un tanto aventurado? Puede un curso de 12 horas preparar a un individuo sin conocimientos previos para afrontar con idoneidad todas las dificultades que ofrece un diseño de iluminación? Para tener una idea más cabal, solamente mi curso sobre el manejo del Software de Cálculo de Iluminación (herramienta imprescindible para el diseño y cálculo de iluminación) insume al menos 12 horas reloj, y a veces algo más! Todo esto no solo atenta contra el bolsillo del cliente sino que lo hace contra los especialistas realmente avezados y con décadas de preparación y experiencia y en definitiva porqué no, contra si mismos!

Para los Arquitectos y Diseñadores de Interiores, quienes darán un carácter definitivo a cada ambiente valiéndose en gran parte de la iluminación, el consejo es: si queremos lograr algo distinto y especial en materia de iluminación, se debe atacar esta disciplina desde el mismísimo comienzo del proyecto. Cuando los plenos de los cielorrasos se encuentren abarrotados de conductos de aire acondicionado, agua, etc., el diseñador de iluminación se verá seriamente comprometido por tales elementos impidiendo muchas veces diseñar una garganta en el cielorraso, o rajas iluminadas, o bien una determinada distribución de las luminarias; en fin, su trabajo se verá limitado y supeditado al resto de los servicios que integran una obra.

Carlos* CARLOS LASZLO é diretor na Carlos Laszlo Lighting Design & Assoc – Consultora Luminotécnica. Possui mais de 40 anos de experiência em projetos de Iluminação. Para saber mais clique aqui.

Concursos: cuidado!!!!

Vira e mexe rola um burburinho nas redes sociais com relação a um ou outro concurso em vigência. Vejo diversas pessoas divulgando-os, outras animadas e até mesmo inscrevendo-se nos mesmos.

Bom, até aí tudo bem. O problema é que a maioria simplesmente não lê o regulamento, ou se lê, não o entende.

Hoje, aqui no Brasil, são raríssimos os concursos que demonstram um mínimo de respeito pelos participantes. Quase todos simplesmente usurpam, se aproveitam principalmente dos profissionais formados recentemente – pior ainda quando é voltado a acadêmicos – que necessitam de projetos para compor seus portfólios e aumentar suas chances no mercado.

Quando se trata de concursos voltados para os acadêmicos, a coisa piora ao vermos professores (se fossem docentes não fariam isso) incentivando seus alunos a participar. Claro, além dos prêmios que alguns concursos oferecem também para estes professores orientadores, conta pontos em seus Lattes.

Nesse sentido, nada melhor que alguma premiação ou menção em algum concurso não é mesmo?

#SQN

Sempre que pensar em participar de algum concurso leia atentamente, quantas vezes necessárias, o regulamento do mesmo. Caso tenha algo que não entenda, solicite ajuda de alguém mais esclarecido que consiga “traduzir” algumas cláusulas. Vou explicar, pois o que não faltam nestes concursos são fraudes e crimes.

Fonte: eeb.com.co

Fonte: eeb.com.co

Recentemente compartilhei em meu perfil no facebook a chamada para um concurso. Confesso que não li o regulamento por falta de tempo. Li a notícia e, por tratar-se de um assunto tão sério e importante de nossa História, pensei que seria algo sério. De pronto, resolvi marcar alguns amigos que sei que lutam há anos contra essas práticas capciosas e estelionatárias. E, rapidamente, a Mônica Fuchs já apontou a danada da “cláusula negra”.

Bom, trata-se de um concurso para a criação de um selo oficial do Centenário de Vilanova Artigas! Grande arquiteto, com uma produção de altíssimo nível e respeitado mundialmente. (http://escoladacidade.org/concursoseloartigas/)

O que me levou a acreditar na seriedade do concurso foi o envolvimento da Comissão Organizadora das Comemorações do Centenário, da Escola da Cidade e de dois designers.

No entanto, geralmente as comissões organizadoras são aquelas que sempre tentam tirar vantagens além do que devem nesses concursos. Mas me surpreendeu mesmo a participação de uma ESCOLA e de dois designers, que deveriam proteger os direitos autorais e de mercado, permitindo passar esta cláusula no regulamento:

“Eu, , portador do RG Nº

emitido em / / , pela , li e aceito os termos do Edital do Concurso para Criação do Selo das Comemorações do Centenário do Arquiteto VILANOVA ARTIGAS e, dessa forma, transfiro gratuitamente e por prazo indeterminado a Coordenação Organizadora, a integralidade dos direitos autorais referentes ao trabalho com o qual concorro. Autorizo, assim, em caráter irrevogável e irretratável, que o trabalho inscrito seja exposto ao público, bem como utilizados em publicações ou empregados em ações de divulgação e publicidade, digital ou impressa, e em quaisquer modalidades de utilização, a critério único e exclusivo da Comissão Organizadora das Comemorações do Centenário do Arquiteto VILANOVA ARTIGAS, a qual poderá utilizar e dispor da logomarca, destinando-a da forma que julgar adequada, respeitando-se, entretanto, os direitos autorais morais do autor.”

Podem estar se questionando sobre o que isso tem de demais não é mesmo? Afinal trata-se de um concurso e nada mais justo que a entidade promotora faça o uso que quiser do projeto premiado. Além disso ela cita sobre os direitos autorais.

O problema aqui é que esse documento deve ser enviado preenchido e assinado por TODOS os inscritos. Ou seja, todos os trabalhos recebidos passam a ser de posse da Comissão Organizadora, não mais dos autores, mesmo dos trabalhos não premiados.

Ah tá, mas no final fala que a entidade “Comissão Organizadora das Comemorações do Centenário do Arquiteto VILANOVA ARTIGAS” poderá utilizar e dispor da logomarca (SIC), destinando-a da forma que julgar adequada, “respeitando-se, entretanto, os direitos autorais morais do autor.”

E você entende o que por isso?

Isso se refere apenas e tão somente a não fazer alterações nos projetos enviados. NADA ALÉM DISSO.

Porém, por mais que seu selo não tenha sido PREMIADO, a Comissão pode, em qualquer tempo, resolver utilizar o seu trabalho que nem foi classificado entre os 20 melhores. E você, bobão, vai se sentir orgulhoso por isso vendo seu trabalho sendo publicado mesmo sem ganhar NADA, enquanto eles faturam alto.

Infelizmente, esta é uma pratica bastante comum aqui no Brasil. Vez ou outra a cláusula é apresentada no próprio regulamento dos concursos, às vezes aparece mascarada na fica de inscrição e, em alguns casos, em um documento à parte que deve ser preenchido, assinado e encaminhado junto com o projeto, como é o caso deste.

De simples “estampas” para canetas, logotipos para “entidades filantrópicas ou sociais” a projetos de Interiores, todas as áreas do Design vem sendo constantemente bombardeada com essa pratica absolutamente desprovida de ética, seja esta de mercado por parte dos organizadores ou profissionais que participam, por parte dos participantes – especialmente dos orientadores – que deveriam zelar, academicamente falando, dos Direitos Autorais em sua plenitude.

A lista de exemplos de concursos embusteiros é extensa demais para ser colocada aqui. Basta que vocês façam uma pesquisa no “Tio Google” e analisem os editais e regulamentos dos concursos em vigência bem como dos passados.

Já passou da hora dos profissionais e acadêmicos parar de participar desse tipo de coisa fraudulenta e que só visa manter e reforçar a prostituição acadêmico/profissional/mercadológica através de uma suposta “visibilidade” de seu nome no mercado.

Portanto fiquem espertos e abram seus olhos.

Ganhar 10, 30 ou 100 exemplares do produto com o seu trabalho impresso ou o valor ($$) indicado, não vale o dano que isso faz à nossa área profissional.

Pode até deixar o seu portfólio mais bonito e que o tal prêmio dê um certo charme ao seu currículo, mas certamente frente aos profissionais mais experientes vai rolar somente um sentimento de, “obrigado tolinho”.

Respeite a nossa área profissional dizendo não a estes embustes.

E, antes de tudo, respeite-se!

Lacombeando ou livrando-se das gaiola

Revista Lume Arquitetura
Coluna Luz e Design em Foco
Ed. n° 71 – 2014
“Lacombeando ou livrando-se das gaiola”
By Paulo Oliveira

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Nada evolui engaiolado. Abra um livro e sua cabeça. Liberte suas ideias. Deixe o mundo entrar.” (Gustavo Lacombe, jovem escritor carioca)

Por que uma coluna sobre LD começar com esse tipo de reflexão? Simples: os conflitos relativos aos direitos de diversas categorias profissionais são criados e alimentados por pessoas egocêntricas e engaioladas. Egos incapazes de olhar as relações de mercado, o mundo além de seus umbigos. Lembra muito a questão da Caverna, de Platão.

Nota-se que as tentativas de argumentação utilizadas por esses, sobre quem pode ou não iluminar a arquitetura, vem de pensamentos engaiolados. Vitruvius embasou muito bem a área. Porém, a humanidade evoluiu, as tecnologias evoluíram, a urbe e a moradia não são mais como naquela época, as necessidades mudaram e tornaram-se mais complexas; a sociedade é outra, mas o pensamento desses não, continua engaiolado lá na época de Vitruvius.

“Fiat Lux!” diz a Bíblia. Oras, se assim ocorreu mesmo, é uma prova de que Deus, antes de tudo, foi um físico. E depois, as diferentes matérias que criaram o Universo também não são arquitetura. Está mais para paisagismo pleno, pois lida com estruturas físicas, químicas, geológicas, biológicas, entre outras, antes que possamos perceber qualquer lastro de fundamento arquitetônico na sua criação.

“Tudo é Arquitetura e tudo depende dela”, afirmam alguns. Mas reagem raivosamente contra a aplicação de uma prova no estilo OAB.

Porém, a verdade é que nem tudo depende da arquitetura, assim como a arquitetura não é capaz de tudo. Nem tudo o arquiteto pode fazer, assim como existem profissionais de outras áreas que podem.

Sinceramente, o resultado prático das normas, resoluções e diretrizes da arquitetura brasileira, seja de mercado ou acadêmica, traz aos atingidos por elas a lembrança e a sensação das piores ditaduras que mancham a história da humanidade. São forjadas nos bastidores, abusando do desconhecimento de muitos para legislar em benefício próprio e, posteriormente, impostas como se decretos fossem, como verdades absolutas. Tudo isso pensado e implantado por esses egos engaiolados. Hitler, Stalin e outros asquerosos dessa estirpe, viviam em gaiolas.

Nota-se que a percepção do todo, por parte desses engaiolados, resume-se à área interna de sua prisão. Ops, gaiola. Ops, zona de conforto.

A Resolução n° 51/2013 é uma prova disso. Foram contra o que a própria Lei 12378/2010 prega. Aquela parte que diz que qualquer decisão sobre atividades compartilhadas deveria ser tomada numa decisão conjunta. Percebe-se que a gaiola é tão absurda que nem a sua própria Lei eles conseguem cumprir e respeitar. Nem as decisões judiciais que derrubaram essa resolução eles entenderam.

Esse pensamento retrógrado continua sendo passado pela academia aos estudantes. Impressiona como profissionais já com anos de mercado não conseguem entender coisas simples que estão ali escancaradas na frente deles, são noticiadas pela mídia, explodem nas redes sociais. Estão cegos para a realidade, pois não perceberam que estão, também, engaiolados.

Mas existem, sim, arquitetos que conseguiram perceber a portinha aberta e libertaram-se. São aqueles que têm a capacidade de ver o mundo com realidades e necessidades multidisciplinares; que reconhecem, em outros profissionais, habilidades e competências que a arquitetura não possui; que rejeitam os desmandos do CAU e não ficam melindrados ou com medo da concorrência, pois sabem que o trabalho colaborativo é o que chega mais próximo da perfeição, e é até mais lucrativo.

Oscar Niemeyer que o diga!

Pra não dizer que não falei…

Revista Lume Arquitetura
Coluna Luz e Design em Foco
Ed. n° 70 – 2014
“Pra não dizer que não falei…”
By Paulo Oliveira

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…das flores,

mas não posso mais, pois, segundo o CAU, paisagismo é atribuição dos arquitetos, e as flores fazem parte desta disciplina. E não se tocaram que eu falava de um jardinzinho com flores com que resolvi presentear aquela senhorinha que acabou de perder sua família toda, para que ela tenha algum prazer no pouco tempo de vida que lhe resta.

…dos carros,

mas não posso mais, pois, segundo o CAU, mobilidade urbana é atribuição dos arquitetos e os carros fazem parte desta disciplina. E não perceberam que eu estava me referindo ao projeto de um motor office para uma ONG que trabalha com formação profissional, para que ela possa atender as comunidades mais distantes.

…das favelas,

mas não posso mais, pois, segundo o CAU, a favelização urbana não é atribuição nem responsabilidade dos arquitetos; são responsabilidade apenas dos governos. Mas não viram que eu estava fazendo um trabalho junto à comunidade sobre os acumuladores, a organização e as consequências disso sobre o bem viver e estar familiar e da população.

…das praças inutilizadas,

mas não posso mais, pois, segundo o CAU, projetos só podem ser feitos por profissionais habilitados nos termos da Lei. E não perceberam que eu estava auxiliando um grupo de moradores a pensar (brifando) sobre um espaço vazio de sua comunidade para que suas ideias pudessem chegar ao poder público e seus desejos e necessidades fossem realizados.

…do mobiliário,

mas não posso mais, pois, segundo o CAU, mobiliário é atribuição exclusiva dos arquitetos, de acordo com os cacos espalhados por trezentas disciplinas. E não perceberam que eu estava me referindo ao projeto de uma chaise, para que portadores de necessidades especiais consigam curtir os prazeres sexuais, em diversas posições, de maneira confortável e segura.

…da ergonomia,

mas não posso mais, pois, segundo o CAU, acessibilidade é atribuição dos arquitetos e os aspectos ergonômicos fazem parte desta disciplina. E não perceberam que eu estava me referindo à reorganização ergonômica de uma indústria visando à saúde, segurança e produtividade de seus empregados.

…do projeto,

mas não posso mais, pois, segundo o CAU, projeto é atribuição dos profissionais legalmente habilitados na forma da Lei. E não perceberam que eu estava me referindo ao briefing para a construção de um projeto educacional de uma creche que um grupo de empresários quer implantar próximo às suas empresas para atender a demanda de suas trabalhadoras.

…das luzes,

mas não posso mais, pois, segundo o CAU, iluminação é atribuição dos arquitetos e as luzes fazem parte desta disciplina. E não perceberam que eu estava me referindo às luzes cênicas daquela peça teatral de uma escola de periferia daqui de minha cidade, em homenagem ao dia das mães.

…“Fiat Lux!”

Aí vem o CAU dando carteirada, me enfiando uma notificação por exercício ilegal da profissão de arquiteto. E não percebeu que eu estava apenas começando a ler em voz alta a minha Bíblia em latim, em Gênesis 1:3, quando Deus diz isso.

Devaneios à parte, este é o quadro que se desenha à nossa frente: uma ditadura do CAU sobre tudo e todos. Eles agem através de dois lobbies: o primeiro, localizado no Congresso Nacional, onde se aproveitam do desconhecimento dos parlamentares sobre os assuntos e temas abordados e sapateiam na cara da sociedade e dos profissionais de outras áreas, induzindo nossos representantes ao erro, fazendo-os legislar apenas em favor dos arquitetos; o segundo é junto à mídia, onde eles conseguem anunciar o que for, mesmo que lesivo e prejudicial à sociedade, beneficiando apenas a sua classe e, propositadamente, desinformando a população.

Mas ainda dá tempo de acordar e impedir isso.

Reserva de mercado pra quê?

Revista Lume Arquitetura
Coluna Luz e Design em Foco
Ed. n° 69 – 2014
“Reserva de mercado pra quê?”
By Paulo Oliveira

69
É evidente a intenção do CAU e de outros órgãos ligados à Arquitetura, com suas insistentes tentativas de legislar em benefício próprio através de resoluções internas, onde eles as apresentam à sociedade como se fossem leis: reservar o mercado para garantir um mercado eterno para eles. Fica também evidente a reiterada perseguição aos designers. Recentemente, foi bastante festejada a aprovação do Projeto de Lei (PL) 2043/2011 que regulamenta a profissão dos paisagistas.

Tudo ótimo, e parabéns aos paisagistas. No entanto, analisando o texto do referido PL percebe-se a ausência dos designers de interiores/ambientes como integrantes do quadro de profissionais legalmente habilitados para o exercício profissional. O mais curioso é que o autor deste PL é o mesmo da regulamentação de Design de Interiores e permitiu, sabe-se lá por que, a retirada destes profissionais desta área mesmo estando ciente de que os cursos oferecem esta habilitação. Por outro lado estão contemplados como aptos a atuar nesta área, os artistas plásticos. Realmente, eles estudam muito em seus cursos sobre plantas, ecossistemas, pragas, solos, adubação entre outros assuntos importantíssimos para exercer esta profissão…

Sim! Fui irônico! E o fui para mostrar exatamente o quanto são ridículas e arrogantes suas tentativas.

Agora rola um burburinho de que estão prontos para entrar com um PL regulamentando a “iluminação arquitetural”, já que perceberam que resoluções internas são facilmente derrubadas na Justiça. E, claro, só eles poderão atuar nessa área. Mesmo aqueles recém-formados, sem especialização alguma, e que mal sabem diferenciar uma “croica” de uma “fluorescente de bundinha”.

Na contramão disso tudo se percebe um movimento contrário por parte dos designers e dos lighting designers. Defendemos uma regulamentação democrática, aberta e ampla, livre de apartheids, melindres egocêntricos e ensimesmados, e não propomos qualquer reserva de mercado, pois não temos medo da concorrência.

Os dois PLs de Design em tramitação atualmente na Câmara dos Deputados não preveem o impedimento de ninguém para o exercício profissional. Todos poderão continuar projetando normalmente seus móveis, peças gráficas ou interiores. Só não poderão mais utilizar o título “designer + área” que ficará restrito aos profissionais legalmente graduados na área. É assim com outras profissões, por que com o Design tem que ser diferente? Porque eles querem e estão fazendo biquinho?

Seguindo essa lógica, por que então não propormos juntos uma regulamentação do Lighting Design, agregando os profissionais que trabalham com arquitetural, cênica, urbana e produtos, trilhando este mesmo caminho? Oras! Se de provas eles têm medo, deixemos então que o mercado diga quem serão os profissionais que continuarão e quem entrará no mercado baseado na competência profissional e não como está sendo feito descaradamente, na base do tapetão.

Fica também o chamado à indústria e aos lojistas para que se manifestem sobre este assunto. Conosco, vocês venderão X + Y. Sem a nossa participação neste mercado, vocês venderão X – Y. A escolha também é de vocês.

Errata: O documento da AAI, citado em minha última coluna, inicia falando sobre o PL 1391/2011, de autoria do deputado Penna, que regulamenta o Design (produto, moda, gráfico, joias). Na argumentação, acaba versando também sobre o PL 4692/2012, que é de autoria do deputado Izar e regulamenta apenas a área de Design de Interiores.

E tudo isso é mera reserva de mercado

Revista Lume Arquitetura
Coluna Luz e Design em Foco
Ed. n° 68 – 2014
“E tudo isso é mera reserva de mercado”
By Paulo Oliveira

68[…] caso o PL 4.692/2012 siga tramitando sem que tenhamos uma forte ação em defesa do campo de atuação da Arquitetura de Interiores, a atividade que mantém escritórios de inúmeros profissionais[…].”

Este trecho destacado faz parte de um documento que encontrei na internet chamado “Manifestação sobre o PL 1.391/2011”, de autoria da Associação de Arquitetos de Interiores do Brasil – Seccional RS (AAI Brasil/RS).

Para quem não sabe, o citado PL é de autoria do deputado Penna e trata da regulamentação profissional do Design. Todo o documento versa sobre como esta entidade, o CAU, o CEAU e outras entidades ligadas diretamente à Arquitetura vêm atuando nos bastidores para atrapalhar a regulamentação do Design (produto, gráfico, moda, etc.) e impedir – chegando ao absurdo de propor a extinção – a profissão de Design de Interiores.

Causa náuseas e nojo a qualquer pessoa com o mínimo de bom senso e ética a leitura deste documento. Tudo o que há de mais podre no meio corporativo e politiqueiro encontra-se ali relatado. O que já foi feito, o que está sendo feito e o que será feito. Percebe-se que a AsBAI, apesar de não ter sido citada no documento, está seguindo os mesmos passos.

Não vou escrever aqui sobre este documento como prova criminal, pois este está nas mãos de meus advogados que, de pronto, encontraram quatro crimes gravíssimos que somadas as penas dão, em média, 30 anos de cadeia para os responsáveis. Vou aproveitar e seguir a linha da citação no início desta coluna.

O que esta frase destacada representa senão uma tentativa descarada e absurda de reserva de mercado para aqueles profissionais que saem da academia sem saber fazer Arquitetura? Aliás, a Arquitetura brasileira faz muito tempo que se encontra esvaziada e sem rumo. Daí a constante necessidade de atacar outras áreas, numa novela que começou anos atrás com os engenheiros. E sempre os culpados são os outros. Eles sempre são os santos e vítimas.

Vejam bem, se os arquitetos soubessem fazer Arquitetura, não ficariam brigando por Interiores, Lighting, Moda, Gráfico, Produto e não encheriam os cursos de outras áreas com péssimos professores. Se os arquitetos trabalhassem para valorizar a Arquitetura – e FAZER Arquitetura – não precisariam ficar buscando válvulas de escape na tentativa de garantir mercados para ganhar o seu pão de cada dia e conseguir pagar suas contas mensais.

Se a arquitetura brasileira fosse realmente Arquitetura, a área seria respeitada e necessária naturalmente. Não seriam necessárias leis lobistas exigindo isso ou aquilo e resoluções típicas de uma ditadura. O Mercado e o Governo a reconheceriam como uma área estratégica e necessária para o desenvolvimento social, econômico e cultural do país.

Na contramão, preferem distorcer fundamentos e princípios básicos da Arquitetura para tirar proveito, sem ao menos ter capacidade intelectual para finalizar com solidez a argumentação, ficando tudo sem sentido claro.

Só o arquiteto é capaz de iluminar a Arquitetura”.

Por quê? Lá vem um monte de besteirol, sem qualquer lastro de legitimidade acadêmica e prática, como já ficou claro nas páginas desta revista na Edição n° 64.

Alegam que os designers não são regulamentados, mas escondem que eles mesmos estão atrapalhando, barrando, agindo nos bastidores para impedir a regulamentação.

Mas esse documento deixa claro que, além de perdida, a arquitetura brasileira é adepta dos golpes mais vis que um ser humano pode utilizar: o crime.

 

Você tem medo de quê? Você tem fome de quê?

Revista Lume Arquitetura
Coluna Luz e Design em Foco
Ed. n° 67 – 2014
“Você tem medo de quê? Você tem fome de quê?”
By Paulo Oliveira

67É perfeita essa frase tirada da música “Comida”, da banda Titãs, para representar o momento atual com relação ao mercado de LD aqui no Brasil. Explico: Chip Israel esteve aqui no início de fevereiro palestrando em um evento da LIGHTFAIR International, que foi realizado em São Paulo. Após a palestra, fui conversar com ele sobre a Resolução N° 51 do CAU, com relação a quem pode e quem não pode trabalhar com iluminação arquitetônica. Ele me falou que isso está acontecendo em alguns poucos lugares do mundo também. Pouquíssimos!

Questionado então sobre qual a melhor maneira – e mais justa – de resolver essa problemática, ele comentou sobre uma possível saída: a aplicação de uma prova, pela IALD, com a finalidade de atestar os conhecimentos de quem quiser trabalhar com iluminação, outorgando, assim, a chancela deste importante órgão internacional aos aprovados. Isso não é oficial ainda, mas ele acredita ser o melhor caminho. Eu também!

No entanto, percebe-se que aqui no Brasil há uma forte resistência à aplicação desta – ou de qualquer outra – prova, especialmente pelo pessoal ligado à arquitetura. Já li diversas vezes que as “autoridades nacionais” em iluminação arquitetônica se posicionam fortemente contra esta ideia. Qual o medo? Quais os motivos dessa negativa?

Bom, primeiro temos que lembrar a tentativa de legislar em benefício próprio do CAU com a Resolução Nº 51. Por esta, qualquer recém-formado em arquitetura já encontra-se apto a ser um “arquiteto de iluminação”.

Mas não podemos nos esquecer de que todos os presidentes da AsBAI – incluindo o atual – e diversos outros profissionais de arquitetura entrevistados por esta revista são categóricos em afirmar que os cursos não se aprofundam o suficiente em iluminação e que em muitos esta área é diluída dentro da disciplina conforto. Há até entrevistas onde eles afirmam que precisam retrabalhar as matrizes dos cursos de arquitetura para aumentar a carga horária, visando cobrir esta falha para que os arquitetos aprendam realmente como iluminar a sua própria arquitetura.

Oras, se é necessário isso tudo por que então a 51 vai contra a realidade da academia e do mercado? Perguntem a qualquer vendedor de lojas de iluminação o quão corretas são as especificações de lâmpadas e luminárias feitas por um arquiteto comum – não especializado em iluminação. É um show de erros crassos!

É óbvio então que o pessoal que comanda a arquitetura nacional iria se posicionar fortemente contra a aplicação desta ou de qualquer outra prova: a maioria absoluta dos egressos seria reprovada. Muitos com anos de mercado também. E a vergonha seria imensa.

Mas essa movimentação tem a ver simplesmente com a reserva de mercado (que é crime), deixando-o livre e fechado apenas para eles, mesmo aqueles que não sabem diferenciar uma lâmpada incandescente de uma halógena. É puro desespero por um mercado altamente rentável. Não tem absolutamente nada de questões técnicas ou de conhecimentos maiores que os habilite mais que qualquer outro profissional que teve iluminação na academia.

É a fome desesperada e desenfreada. Desesperada pela garantia de exclusividade de um mercado em grande expansão e seus consequentes lucros. Desenfreada por egos exacerbados e arrogantes que mancham cada dia mais a arquitetura brasileira. Sim, pois até agora de argumento real não houve nada em defesa dos arquitetos além das suposições e especulações.

E eles continuam com o bordão: “A gente não quer só dinheiro, a gente quer inteiro e não pela metade…

Evoluindo mais ainda

Revista Lume Arquitetura
Coluna Luz e Design em Foco
Ed. n° 66 – 2014
“Evoluindo mais ainda”
By Paulo Oliveira

66
Estive em novembro passado em Campos dos Goytacazes (RJ) participando do R Design e o tema do evento era Evolução. Fui convidado por causa de uma fala minha durante o encerramento do N Design 2012: “Antes do designer, vem o Design”.

A relação de nossa especialidade com as outras áreas tem se tornado cada vez mais importante. E é graças a esta interação, que ela vem se desenvolvendo e temos diariamente novas tecnologias disponíveis.

Um exemplo disso é a fibra ótica. É um produto que não foi criado para o LD. De certa forma, ela foi criada para transportar a luz quando Henrich Lamm tentou desenvolver um pacote de fibras óticas para acessar partes do corpo humano, até então não visualizadas por outros aparelhos. Timidamente, ela começou a aparecer em pequenos acessórios decorativos e hoje já dispomos de uma tecnologia com qualidade e versatilidade que nos possibilita projetar apenas com ela.

Isso se deu por uma constante troca de conhecimentos, análise de problemas a serem solucionados e o consequente desenvolvimento de novos produtos para as novas aplicações (fundamento do Design).

Outro exemplo são os LEDs. Daqueles pequenos pontos dançantes em aparelhos de som, que víamos na década de 70, às luminárias para uso externo e, até mesmo, nos projetores de alta potência para iluminar grandes monumentos.

Estes foram exemplos de como a colaboração – e respeito mútuo – entre as diversas áreas do conhecimento alavancam o desenvolvimento de novas soluções para os problemas e necessidades da sociedade.

No Brasil, este desenvolvimento não ocorre no LD por causa dos “arquitetos de iluminação”. Na verdade, estes poucos contribuíram nisso tudo e a maioria apenas se aproveita dos resultados desenvolvidos por terceiros.

A visão reducionista que o pessoal de arquitetura tem sobre os não arquitetos que trabalham com iluminação é fato. Não culpo os profissionais além do necessário, mas percebo que a base desse pensamento idiotizado está principalmente na academia.

No início de 2013, uma universidade reabriu seu curso de Arquitetura que tinha sido fechado há 10 anos, enquanto os cursos de Design da instituição se desenvolveram e ganharam até um novo espaço próprio, com todos os laboratórios necessários. Como tinham dado outra finalidade ao campus onde funcionou Arquitetura e Design, colocaram-nos no novo campus. Não ficaram ali um mês e solicitaram a troca de campus.

Intrigado, contatei uma colega que é aluna e um amigo que é professor. Fiquei bobo quando ouvi o porquê da troca: “Não queremos nos misturar e tampouco sermos rebaixados ou confundidos comos “dizáiners””, disse a aluna. Questionei o professor e ele me disse que este discurso é o do coordenador e da maioria dos professores.

Dispensaram a oportunidade de ampliar os conhecimentos por mera arrogância, através da troca de conhecimentos com o pessoal dos outros cursos do campus (Gráfico, Produto, Interiores, Artes Visuais, Fotografia). Perderam a oportunidade de conhecer como o pessoal de outras áreas trabalha e pensa, para ampliar seus horizontes. Preferiram fechar-se em seu guetinho.

Facilmente vemos esse mesmo discurso sendo repercutido, especialmente pela AsBAI, dentro do mercado de iluminação e LD.

Mais uma vez eu digo: o mundo evoluiu; nos países realmente desenvolvidos vemos escritórios multidisciplinares sem estrelismos ou egocentrismos.

Nosso país foi descoberto há mais de 500 anos.

Vamos sair das ocas e evoluir?

(re)Evolução

Revista Lume Arquitetura
Coluna Luz e Design em Foco
Ed. n° 65 – 2013/2014
“(re)Evolução”
By Paulo Oliveira

65
Desde junho, temos vivido certa instabilidade mercadológica provocada pela Resolução N° 51 do CAU. Por um lado, o texto bastante alicerçado numa época que não mais existe e tampouco cabe nos dias atuais; por outro, profissionais de Arquitetura que andam promovendo um violento bullying contra aqueles profissionais que não são arquitetos.

Fui uma das fontes de uma matéria da Lume Arquitetura que entrevistou profissionais com visões opostas na tentativa de entender os porquês da Resolução 51 existir, quem estava por trás dela e, especialmente, a argumentação pró e contra.

Não me surpreendi absolutamente nada quando recebi a minha edição da revista e pude constatar a absurda falta de argumentação por parte da AsBAI e do CAU. Ficou claro que a Arquitetura brasileira necessita realmente amadurecer, não só nos profissionais, mas, especialmente, na academia. Já passou da hora dos arquitetos evoluírem, pois o que julgam ser argumentos são meros “blá-blá-blás”, como ficou evidente. Já do lado contrário à resolução há um verdadeiro show de argumentações muito bem embasadas.

Em setembro, aconteceu em Brasília uma audiência pública sobre a regulamentação profissional do Design de Interiores e Ambientes. Mais que uma forma de esclarecer aos parlamentares presentes e também, especialmente ao CAU, sobre as diferenças entre as duas áreas, devo ressaltar um ponto levantado pelo deputado Chico Lopes: existiam profissões que hoje fazem parte apenas da história, como é o caso dele: formado em datilografia.

Ora, o próprio presidente do CAU assumiu na audiência que a arquitetura é uma área generalista e não é especialista em nada. Ele entendeu e atestou publicamente que o pessoal de Interiores tem muito mais competência para projetar estes espaços que os arquitetos pelo simples fato de ser esta uma área especializada, específica, assim como já podemos considerar o Lighting.

Hoje, não podemos mais pensar algumas áreas como meros projetos complementares da Arquitetura, pois já são áreas consolidadas e estabelecidas, que possuem suas identidades, sua metodologia e, até mesmo, suas normas técnicas próprias. São áreas que podem ser inseridas no projeto inicial ou, depois, nos diversos retrofits e reusos que a edificação passará pela sua existência.

Mas há um erro crasso nisso tudo: o único órgão que tem DIREITO de legislar ou definir alguma coisa é o Congresso Nacional. Essa é uma prerrogativa que está claríssima na Constituição Federal. E o que é uma resolução do teor da Nº 51 senão uma tentativa arrogante de – quem não tem poder para isso – legislar em benefício próprio? Foi o que aconteceu como Projeto de Lei de Design de Interiores e Ambientes que o CAU tentou barrar na Câmara, e perdeu: medo pela certeza de não vingar.

Agora, não sei se me indignou ou deixou feliz a fala do presidente da AsBai na matéria “Os rumos da profissão”. Por um lado, fiquei extremamente irritado pela falta de postura, ética e respeito ao ler que a AsBAI vê as outras áreas como“simplistas” ou fáceis de se fazer, mas, por outro, fiquei super feliz por ver que mais uma vez a AsBAI dá um tiro no próprio pé, deixando claro que desconhece a complexidade do termo iluminação – incluindo a arquitetônica.

Talvez a falta da experiência e conhecimentos em palcos deixem o pessoal da AsBAI melindrado e, por isso, eles tentem essas carteiradas, já que é perceptível a diferença estética e funcional nos projetos feitos por não-arquitetos.

Evolução natural e, especialmente, evolução tecnológica são inevitáveis, irreversíveis.

Isso é reserva de mercado! Ou seria medo da concorrência?

Revista Lume Arquitetura
Coluna Luz e Design em Foco
Ed. n° 64 – 2013
“Isso é reserva de mercado! Ou seria medo da concorrência?”
By Paulo Oliveira

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Cansei de alertar sobre os planos maquiavélicos que estavam sendo arquitetados pela AsBAI (Associação Brasileirade Arquitetos de Iluminação) e pelo CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo). Não acreditaram que os arquitetos fossem capazes disso. Claro, os arquitetos não, mas uma pequena parcela melindrosa e xiita destes, sim.

Eis que surge a resolução n° 51 do CAU, tornando os projetos de iluminação uma competência exclusiva dos arquitetos. Os demais profissionais que estavam exercendo a profissão agora o fazem ilegalmente, como se criminosos fossem, apesar dos anos de estudos e exercício profissional.

Observando os discursos dos mais xiitas – geralmente são os mais incompetentes – vemos alegações como “o que vale é o que está na lei; é a regulamentação, é a norma”. Ficam repetindo isso feito papagaios; quando são forçados a esclarecer, simplesmente tornam a repetir, pois não há uma argumentação coerente para tal imposição.

“Onde está escrito que vocês podiam fazer projetos, uma vez que não estão protegidos por qualquer lei? Na lei, nenhum lugar fala o que vocês fazem”. Esta é outra frase repetida. Ela nos mostra claramente a visão oportunista deles: por não haver uma legislação sobre o assunto, vamos nos apoderar da área. Isso explica claramente o título que dei a esta coluna.

AsBAI, uma associação que diz seguir os padrões mundiais e que resolve agir na contramão do que acontece lá fora. Diretrizes colocadas por órgãos com anos-luz a mais de experiência no campo da iluminação que este grupelho brasuca. A IALD (International Associationof Lighting Designers), a PLDA (Professional Lighting Designers Association) e outras associações internacionais vêm trabalhando arduamente para modificar a concepção equivocada – e sem fundamento – de que somente o arquiteto é capaz de iluminar.

Oras! Que competência ou excelência é esta, se até mesmo o mestre Niemeyer fazia parcerias com outros profissionais para que suas obras se aproximassem ao máximo da qualidade desejada, assumindo, então, com isso, que ele não tinha a habilidade necessária para iluminá-las ou fazer seus paisagismos? Peter Gasper e Burle Marx são provas disso, e eles não são arquitetos.

Assim como Niemeyer, Zaha Hadid e muitos outros arquitetos de renome e reconhecimento internacional não projetam a iluminação de suas obras. Sempre existe na equipe um LD responsável por esta área. Existe também o designer de interiores, o paisagista, o gráfico e vários outros profissionais envolvidos em seus projetos. Isso responde à demanda do mercado: a democracia profissional que a multidisciplinaridade dos projetos exige.

Mas fica claro que muito além de uma reserva de mercado essa situação toda só foi arquitetada não como forma de proteger o mercado dos “leigos” (que desrespeito…) – já que os arquitetos saem das universidades mal sabendo especificar uma lâmpada e, até mesmo aqueles com anos de experiência e não especializados, continuam cometendo erros básicos em seus projetos. A questão se resume, na verdade, no medo da concorrência, dos profissionais mais criativos, pois eles têm ciência de que existem muitos LDs com infinitas competências e conhecimento a mais e que não são arquitetos.

Agiram de má fé sim! Foi um plano arquitetado nos porões sombrios da arquitetura brasileira. Plano este que está longe de agradar inclusive à própria classe de profissionais do CAU.

Mas vale ressaltar que uma resolução não tem força de lei. Esta ação equivocada fatalmente causará a falência financeira do CAU antes mesmo de sua consolidação.

E a ressaca de 51 será grande.

Quem tem medo da regulamentação?

Revista Lume Arquitetura
Coluna Luz e Design em Foco
Ed. n° 63 – 2013
“Quem tem medo da regulamentação?”
By Paulo Oliveira

63
Em minha última coluna escrevi sobre o erro conceitual empregado por alguns profissionais ligados à iluminação, de forma deliberadamente proposital, na tentativa de minimizar e reduzir a área de Lighting Design e, deste modo, sorrateiramente, satisfazer interesses próprios. São grupos que irão, certamente, perder um excelente filão no caso da profissão ser regulamentada. Creio piamente que esta ação tem, em última análise, um único fundamento: o medo.

E quem são estes grupos profissionais que atuam na contramão de uma regulamentação profissional coerente, ética e justa? Não é difícil percebê-los no dia a dia em páginas de renomadas revistas em alguns editoriais. Passo então a elencá-los para esclarecer melhor esta problemática.

Lojistas e fabricantes: com a regulamentação serão obrigados a acabar coma misteriosa transformação de vendedores em projetistas que realizam dentro de suas lojas. Senão resta-lhes contratar profissionais para realizar este trabalho mediante o pagamento de um piso salarial justo ou buscar meios e incentivos para que seus vendedores/projetistas sejam formados e especializados na área e, consequentemente passem a receber o piso salarial justo. Ou ainda – a melhor opção – que parem de oferecer este desserviço à comunidade profissional de Lighting Design.

Universidades: serão obrigadas a contratar profissionais realmente especializados para atuarem como docentes nas disciplinas de iluminação e correlatas nos cursos de graduação e pós-graduação. Há também o fato de que, por força de um Conselho Federal da área normatizando inclusive o ensino, as condições estruturais básicas para o desenvolvimento curricular do ensino atendam exigências de qualidade que poucas oferecem atualmente. Certamente, muitos cursos terão que se reestruturar para atender tais exigências.

Associações: poderão continuar atuando livremente, porém terão de repensar e rever seus estatutos e ações visando a não segmentação ou reserva de mercado para um ou outro grupo de profissionais. É o caso da AsBAI, que será obrigada a acordar o quão umbiguista foi durante todos estes anos.

Profissionais: existem alguns profissionais que se valem da bagunça do mercado não regulamentado para tirar vantagens. É o caso de algumas figurinhas carimbadas que sempre estão na mídia. Sempre eles, sempre os mesmos. Alguns inclusive impedem a realização de grandes eventos de LD aqui no Brasil, pois não desejam que o mundo e o mercado brasileiro conheçam outros profissionais de alta qualidade e competência que existem por aqui. Muitos que não cobram ou cobram valores muito abaixo do mercado. Sim, alguns também estão sempre envolvidos em obras públicas. Não podemos nos esquecer também da gorda comissão recebida por estes, seja dos fabricantes ou do grupo a seguir.

“Politiqueiros”: o que seria dos profissionais acima citados se não existisse este nobre grupo de interesse? É através deste grupo que os profissionais não éticos sambam e sapateiam na cara do mercado e de seus “colegas profissionais”. São os politiqueiros que, através de embustes, forçam projetos e processos onde o apadrinhamento é visível e claro; o desvio de verbas idem. Afinal, sem a regulamentação não há exigências legais para a contratação e esta é livre, sem licitação ou concursos de projetos. Por isso adoto o termo “politiqueiros” e não políticos.

Mas a regulamentação somente acontecerá se partir da união dos profissionais de LD. Já passou da hora de nos unirmos e lutarmos juntos por esse importantíssimo detalhe jurídico para o nosso exercício profissional e a segurança do mercado.

E você?

Tem medo da regulamentação?

Do erro conceitual.

Revista Lume Arquitetura
Coluna Luz e Design em Foco
Ed. n° 62 – 2013
“Do erro conceitual.”
By Paulo Oliveira

62
Por uma ironia do destino, minhas duas áreas de atuação estão apresentando o mesmo problema com relação ao exercício profissional: o erro na concepção equivocada por duas associações que se julgam detentoras de todas as prerrogativas sobre ele, incluindo, o de definí-lo. Isso tudo sustentado por um grave déficit democrático-deliberativo, sem transparência e qualquer lastro de legitimidade.

No caso de Interiores, temos a ABD (Associação Brasileira dos Decoradores), de caráter multiprofissional, agregando decoradores, arquitetos-decoradores e os designers. No caso do Lighting Design (LD), a AsBAI (Associação Brasileira de Arquitetos de Iluminação), que é uma associação corporativista, restritiva, criada e gerida por arquitetos. São associações ensimesmadas.

Importante ainda destacar que associações são entidades sem respaldo legal para determinar seja o que for, especialmente delimitar o setor através de reserva de mercado, ou ainda ditar normas para o exercício profissional. Estes papéis, especificamente, são de competência dos Conselhos Federais – ainda inexistentes nos dois casos.

Mas deixando de lado estas irregularidades e leviandades ilegais cometidas conscientemente por estas associações, vamos ao que realmente interessa: o erro de conceito sobre as áreas.

As duas associações intentam, de modo forçado, um vínculo destas áreas exclusivamente ao objeto arquitetônico. Em razão deste pensamento reducionista, os projetos e possíveis áreas de atuação profissional devem voltar-se apenas para a complementação arquitetônica, desconsiderando todas as possibilidades de atuação profissional e esquecendo-se que o profissional de LD busca solucionar problemas (função) dos usuários antes da estética ligada ao projeto de interiores ou arquitetura. Também desconsideram onde mais podemos contribuir, através de nossos conhecimentos, para a sociedade ou ainda para o desenvolvimento econômico, social e ambiental do país.

Quando trabalhamos diariamente com a luz através de projetos, manipulações, ou ainda pela simples observação dela nos diversos ambientes que frequentamos, nos damos conta de que onde há luz, há espaço para a nossa intervenção.

As ruas e vida da urbe não estão ligadas exclusivamente ao objeto arquitetônico Urbanismo. Elas agregam uma complexidade sistêmica ampla de objetos que envolvem diversas áreas de saber e suas tecnologias, tais como engenharias, design, ciência política, psicologia, sociologia, antropologia, história, ecologia, linguagem, sustentabilidade, entre tantos outros com os quais podemos contribuir. Os produtos e sistemas voltados à iluminação dos meios de transporte são também objetos de nossa atuação profissional e que não são produtos da arquitetura. Os médicos dependem de produtos para iluminar adequadamente a mesa sobre a qual a equipe trabalha, para que esta consiga ter uma perfeita visualização de todo o processo. Estes produtos não foram pensados para serem meramente agregados a um objeto arquitetônico, e sim atender a uma necessidade específica da Medicina.

No caso da cênica, apesar dos eventos serem realizados dentro de objetos arquitetônicos, o foco de nosso trabalho não é a valorização deles. A luz não foi projetada para a caixa cênica, e sim para criar o clima para o artista, auxiliando-o a passar sua mensagem e trazer o público para este clima.

Como se vê nestes poucos exemplos, o pensar e o desenvolvimento de nossa área não se resumem apenas a objetos arquitetônicos. Somos criadores da luz para as necessidades de um mundo que continuamente inventamos e reinventamos, e não apenas para a arquitetura.

(in)Segurança.

Revista Lume Arquitetura
Coluna Luz e Design em Foco
Ed. n° 61 – 2013
“(in)Segurança.”
By Paulo Oliveira

61
Boate Kiss, janeiro de 2013. Vimos uma série de debates imediatos sobre a questão da segurança nos espaços destinados à diversão coletiva com acusações e apontamentos de falhas para todos os lados. Duas semanas depois, a impressão que tenho é que já perdeu a importância. Os debates se amornaram, a mídia não lança mais denúncias diárias, políticos não se reúnem para analisar ou melhorar as leis, e-groups de arquitetura, engenharia e design já não debatem sobre isso, mídias sociais já estão interessadas em novos assuntos.

Não podemos deixar que isso simplesmente passe e caia no esquecimento. Não podemos permitir que tudo continue como antes do trágico incêndio que ceifou a vida de mais de duzentos jovens. Esta questão é vital tanto para os usuários quanto para nós profissionais que estamos firmando e afirmando a importância da nossa profissão no mercado.

É fato que os empreendedores priorizam a visibilidade estética como forma de marketing nos estabelecimentos e, muitas vezes para redução de custos, forçam-nos a eliminar elementos relativos à segurança e acessibilidade. Mas isso não é um problema apenas desse tipo de projeto. Até nas residências isso acontece. Todo o sistema de iluminação faz parte de ambos – estética e segurança. Diante de tudo isso, qual o nosso papel e as nossas responsabilidades?

A especificação de equipamentos de marcas já consolidadas no mercado reflete padrões técnicos já testados e aprovados, logo seguros para o uso. Mas alguns empreendedores saem à busca destes equipamentos no Paraguai, onde as marcas nem sempre são originais. Geralmente, adquirem equipamentos que, muitas vezes, não se sabe a origem, tampouco o padrão de qualidade. Claro, eles buscam fugir dos altos impostos que incidem sobre os equipamentos importados ou nacionais aqui no Brasil.

Para este tipo de projeto é essencial a presença de um engenheiro eletricista na equipe (coisa rara). É ele que, através das cargas previstas nos projetos de LD (cênico+arquitetônico), som e demais partes onde exista consumo elétrico, irá prever as devidas instalações finais do ambiente, com materiais e insumos de qualidade.

Francesco Iannone disse numa entrevista a esta revista (Ed. 24) que o profissional de LD não deve projetar a parte estrutural e que isso é da alçada do engenheiro ou arquiteto. Realmente não é o nosso papel fazer isso, porém não devemos nos furtar do necessário acompanhamento e fiscalização das partes que darão suporte ao nosso projeto, cada qual em sua competência, especialmente a elétrica. No projeto de LD devemos especificar a carga total necessária para suprir a instalação fixa bem como a previsão das extras para uso e segurança e ficar em cima dos responsáveis pelos projetos de suporte para que atendam com a devida qualidade às necessidades impostas nele. Digo isso, pois é bastante comum as casas noturnas convidar DJs e bandas que, na maioria das vezes, têm suas próprias equipes de som e luz que irão, fatalmente, aumentar a carga consumida.

Outro fator que leva ao erro e risco está nas normas técnicas. O Brasil, salvo engano, é o único país no mundo onde o mínimo é aceitável, por lei, como bom. Duvida? Faça então uma pesquisa sobre os níveis mínimos aceitáveis de coliformes fecais na água que é legalmente autorizada para o seu consumo.

Qual o nosso poder de argumentação legal diante de um engenheiro ou um arquiteto que resolve agradar o cliente, satisfeito com a obediência ao padrão mínimo, independente das condições variáveis de sua implantação cortando gastos? É fácil ouvirmos, na frente do cliente, que “você nem pode assinar o projeto”.

Não temos ainda a regulamentação profissional e a consequente responsabilidade sobre os projetos. Isso não é bom para ninguém.

O Lighting Designer.

Revista Lume Arquitetura
Coluna Luz e Design em Foco
Ed. n° 60 – 2013
“O Lighting Designer.”
By Paulo Oliveira

60
O que é e quem é o Lighting Designer? Quando e onde ele pode ser aproveitado? Como pode contribuir para o desenvolvimento de um novo padrão de qualidade e valorização projetual em todos os setores? Estas são questões que pretendo levantar neste novo ano como articulista nesta coluna.

Diante dos avanços tecnológicos e dos projetos cada dia mais individualizados, considerando ainda as necessidades de cada usuário, a iluminação deixou de ser um mero complementar e passou a ser protagonista dos projetos. Um único profissional é capaz de cumprir todas as exigências de um projeto global com tantas novidades diárias em todos os setores envolvidos?

Aquela formação básica adquirida nas faculdades de Engenharia, Arquitetura e Design são suficientes para formar o LD? Aumentar a carga horária em iluminação nos cursos de Arquitetura (como a AsBAI pretende, arrogantemente) será suficiente para cumprir as necessidades projetuais no padrão internacional do Lighting Design? Um bom projeto é aquele que agrega, ao mesmo tempo, valor, segurança e economia. Como pode um só profissional afirmar que consegue cumprir estes três itens em todos os segmentos de um projeto global? As especialidades necessárias para o sucesso de um projeto global são muitas e o Lighting Design é uma delas.

Distanciando-se dos projetos de iluminação aprendidos nas faculdades, a base do Lighting Design encontra-se na iluminação cênica que garante a possibilidade de criar efeitos de luz ao mesmo tempo que atende às necessidades técnicas e individuais de cada projeto. Um projetista de iluminação não é um LD se nunca trabalhou com iluminação cênica. É esta experiência de palco que o diferencia e distancia dos outros profissionais garantindo a qualidade técnica e estética.

E sua raiz está no Design, que tem em suas premissas: função, criatividade, tecnologia, linguagem, inovação, identidade, qualidade e comunicação. A arte da iluminação cênica e a sua paixão pela luz são o alimento da alma de todo LD.

Estes profissionais podem atuar em vários segmentos do mercado, mas o que vemos por aí é sempre a repetição – na arquitetura (residencial, comercial, institucional, industrial, governamental), algumas vezes no urbano (praças, parques ,ruas, avenidas e acessos, monumentos, embelezamento urbano) e no cênico (teatro, dança, shows, TV, desfiles de moda). Porém, o trabalho de um LD é muito mais amplo. Por exemplo, você saberia dizer como ele pode atuar em eventos, design, publicidade, educação e pesquisa, projetos públicos e sociais? Lembre-se: onde há luz, há mercado para o LD.

O Lighting Designer é o profissional que detém conhecimentos aprofundados sobre a técnica e a arte de iluminar os ambientes bem como sobre os melhores equipamentos e seus funcionamentos para solucionar cada projeto.

O profissional de LD não faz instalação de nada. Ele projeta, acompanha o cliente durante as compras para evitar interferência de vendedores, acompanha a instalação que é feita por uma equipe de eletricistas e, ao final, faz a afinação da iluminação para que o resultado seja perfeito. No caso de desenvolvimento, ele projeta, faz a prototipagem e testes, acompanha a linha de produção e avalia a reação do mercado bem como o ciclo de vida do produto.

Também vale lembrar que o profissional de Lighting Design não estudou tanto sobre o universo da iluminação para “colocar uma luzinha” onde for. Ele não trabalha com “luzinha”. Ele trabalha com a LUZ e todos os equipamentos necessários para a excelência projetual.

Prazos e qualidade projetual.

Revista Lume Arquitetura
Coluna Luz e Design em Foco
Ed. n° 59 – 2013
“Prazos e qualidade projetual.”
By Paulo Oliveira

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Escrevi tempos atrás em meu blog sobre os prazos apertadíssimos que alguns clientes nos impõem. Esta redução de tempo hábil para pensar e solucionar um projeto baseia-se em vários motivos. Sejam estes quais forem, vamos então analisar apenas a questão prazo e o que ela implica.

Todos os profissionais que trabalham com projeto conhecem bem as dificuldades para fechá-los. São vários fatores, condicionantes, necessidades, elementos, normas, análises e estudos necessários para conseguirmos chegar a um padrão mínimo de qualidade. E, por mínimo que este seja, exige tempo, um prazo adequado para tal.

Tecnicamente é impossível realizar projetos, pois não dependemos apenas de nosso trabalho como projetistas. Não estudamos tanto para colocar “apenas uma luzinha”. Os fornecedores demoram vários dias para responder orçamentos; outros profissionais demoram a responder sobre as alterações e soluções encontradas e necessárias, entre outros fatores externos que nos impossibilitam de cumprir prazos curtos mantendo a qualidade nos projetos.

Já do nosso lado, gastamos horas a fio analisando o briefing, pensando em soluções, esboçando ideias técnicas e estéticas, pesquisando na imensidão de equipamentos disponíveis no mercado através dos catálogos, fazendo testes, projetando, etc. Pensar em um projeto de LD com menos de 30 dias de prazo é um tiro no próprio pé. Mas há profissionais e empresas que andam fazendo isso e bagunçando o mercado. O caso é que estes, para conseguir cumprir estes prazos enxutos, agem de maneira antiética com seus clientes.

Alguns profissionais têm os famosos e conhecidos “projetos de gaveta”, que repetem para vários clientes, fazendo apenas pequenos ajustes ou alterações. Isso acontece na arquitetura, na engenharia, interiores/ambientes e várias outras áreas. No entanto, este tipo de projeto não considera o essencial: o usuário. Além disso, são os projetos que nos dão aquela sensação de déjà vu. Repetem-se infinitamente e descaradamente, deixando tudo com a mesma cara.

Já os fornecedores que “dão de graça” projetos para clientes que compram em suas lojas fazem quase a mesma coisa. A diferença é que eles mudam os equipamentos de acordo com as tendências e lançamento de catálogos. E também sabemos que estes projetos não saem de graça, pois seu custo está embutido – e diluído – no valor das peças.

E engana-se quem acha que isso só acontece com interiores. Existem vários edifícios, monumentos e espaços públicos com a mesma iluminação. Analisando seus projetos, percebe-se a autoria. Por falar em autoria, esta sempre vem amarrada a algum fornecedor especial – o que paga mais comissão. E não posso deixar de execrar também os valores cobrados por esses projetos, se é que podemos denominá-los assim.

Por culpa única e exclusiva destes dois citados acima, encontramos clientes desinformados, seja com relação à técnica e estética, quanto sobre os prazos necessários para a qualidade.

Creio que nenhum bom profissional quer ver seu nome atrelado a um projeto mal resolvido, solucionado e executado. Prazos enxutos só levam a suposições e, consequentemente, erros. Projetar não é um truque de mágica.

Temos de ter a consciência de nosso papel na sociedade e no mercado, esclarecendo e informando corretamente os clientes sobre todas as necessidades que um projeto de qualidade exige. Só assim teremos um mercado sério, responsável e respeitado.

Colocar uma luzinha?

No way!!!

O Lighting como Design.

Revista Lume Arquitetura
Coluna Luz e Design em Foco
Ed. n° 58 – 2012
“O Lighting como Design.”
By Paulo Oliveira

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Em meio à forte onda mundial em prol da Economia Criativa e na implementação de Comunidades Criativas, o ranço corporativista ainda impõe barreiras ao desenvolvimento do país. Isso ficou claro, por exemplo, na entrevista com o presidente da AsBAI na edição n° 56 desta revista. Traz à tona o velho discurso de que “apenas o arquiteto é capaz de iluminar a arquitetura”. No desenrolar da entrevista, reconhece que as universidades formam arquitetos incapazes de iluminar seus próprios projetos. Daí a proposta de urgentes alterações curriculares nos cursos de arquitetura aprofundando o tema iluminação.

Ao invés de uma formação global orientada para parcerias, incorrem no equívoco conteudista de que o currículo deve incorporar e esgotar todas as especialidades. Esta sutil artimanha para reforçar a reserva de mercado (ilegal e, sobretudo, antiética), disseminada nos argumentos falaciosos de seus defensores, deixa claro dois pontos:

1° – Segregam, dado o desconhecimento do que significa realmente trabalhar com iluminação, salvo a arquitetural. Fazem-no por nunca ousar romper com a visão reducionista do que seja o arquitetônico. Falam com pseudoautoridade sobre as competências curriculares e profissionais de outras áreas. Isso fica claro na ênfase excludente dos seus discursos eivados de ufanismo.

2° – Reservam, porque escondem seu medo ou incompetência para enfrentar a concorrência qualitativa projetual.

As tentativas estratégicas, mediante ações escusas arquitetadas nos bastidores, para impor uma reserva de mercado em relação ao LD, ocorrem desde o momento em que os projetos de iluminação deixaram de ser complementares para se tornarem um dos elementos mais significativos de uma obra, não apenas por uma demanda estética, mas por sua relevância funcional na qualidade e solução dos problemas.

Com efeito, no Design, os processos que iniciam e norteiam o desenvolvimento de um projeto são: avaliação, necessidades, função, planejamento, tecnologias, qualidade e compatibilidade. Nestes processos são incorporados indissociavelmente elementos como identidade, estética, linguagem, comunicação, entre outros. Em cada processo, a criatividade faz-se presente.

Aqui se encontra a diferença entre um projeto de iluminação e um projeto de LD. Seja para qual aplicação for, um projeto de LD tem por finalidade, em primeiro lugar, a solução dos problemas e o atendimento das necessidades dos usuários. Apesar de sua reconhecida importância, a “casca” arquitetônica, em um primeiro momento, não é o foco para o LD. O aspecto arquitetônico, de modo algum, é desmerecido, ao contrário, é valorizado e incorporado ao projeto de LD, longe de se apresentar como algo acessório ou decorativo.

Além disso, outro foco precisa ser destacado: observa-se o desconhecimento com relação à linguagem cênica que aplicamos em nossos projetos. Convenhamos: raros são os arquitetos, não obstante sua competência profissional, que conhecem ou conseguem aplicar esta linguagem ao aparato arquitetônico ou entendê-la visualmente por nunca ter botado os pés numa caixa cênica.

Este tipo de discurso manifesta um desconforto crescente à medida que surgem outros profissionais que atestam conhecimento, competência aliada ao domínio tecnológico da iluminação e criatividade para a resolução de projetos complexos de iluminação.

Aqueles que apelam para este tipo de discurso tentam desesperadamente um face-lifting para mascarar seu ensimesmamento feudal e camuflar suas intenções egocêntricas de manutenção do status-quo.

Há uma inversão funcional no trato profissional. Atitudes corporativistas, excludentes e segregacionistas cada vez mais, perdem seu espaço nos atuais contextos do mercado profissional, nacional e internacional.