Reserva de mercado pra quê?

Revista Lume Arquitetura
Coluna Luz e Design em Foco
Ed. n° 69 – 2014
“Reserva de mercado pra quê?”
By Paulo Oliveira

69
É evidente a intenção do CAU e de outros órgãos ligados à Arquitetura, com suas insistentes tentativas de legislar em benefício próprio através de resoluções internas, onde eles as apresentam à sociedade como se fossem leis: reservar o mercado para garantir um mercado eterno para eles. Fica também evidente a reiterada perseguição aos designers. Recentemente, foi bastante festejada a aprovação do Projeto de Lei (PL) 2043/2011 que regulamenta a profissão dos paisagistas.

Tudo ótimo, e parabéns aos paisagistas. No entanto, analisando o texto do referido PL percebe-se a ausência dos designers de interiores/ambientes como integrantes do quadro de profissionais legalmente habilitados para o exercício profissional. O mais curioso é que o autor deste PL é o mesmo da regulamentação de Design de Interiores e permitiu, sabe-se lá por que, a retirada destes profissionais desta área mesmo estando ciente de que os cursos oferecem esta habilitação. Por outro lado estão contemplados como aptos a atuar nesta área, os artistas plásticos. Realmente, eles estudam muito em seus cursos sobre plantas, ecossistemas, pragas, solos, adubação entre outros assuntos importantíssimos para exercer esta profissão…

Sim! Fui irônico! E o fui para mostrar exatamente o quanto são ridículas e arrogantes suas tentativas.

Agora rola um burburinho de que estão prontos para entrar com um PL regulamentando a “iluminação arquitetural”, já que perceberam que resoluções internas são facilmente derrubadas na Justiça. E, claro, só eles poderão atuar nessa área. Mesmo aqueles recém-formados, sem especialização alguma, e que mal sabem diferenciar uma “croica” de uma “fluorescente de bundinha”.

Na contramão disso tudo se percebe um movimento contrário por parte dos designers e dos lighting designers. Defendemos uma regulamentação democrática, aberta e ampla, livre de apartheids, melindres egocêntricos e ensimesmados, e não propomos qualquer reserva de mercado, pois não temos medo da concorrência.

Os dois PLs de Design em tramitação atualmente na Câmara dos Deputados não preveem o impedimento de ninguém para o exercício profissional. Todos poderão continuar projetando normalmente seus móveis, peças gráficas ou interiores. Só não poderão mais utilizar o título “designer + área” que ficará restrito aos profissionais legalmente graduados na área. É assim com outras profissões, por que com o Design tem que ser diferente? Porque eles querem e estão fazendo biquinho?

Seguindo essa lógica, por que então não propormos juntos uma regulamentação do Lighting Design, agregando os profissionais que trabalham com arquitetural, cênica, urbana e produtos, trilhando este mesmo caminho? Oras! Se de provas eles têm medo, deixemos então que o mercado diga quem serão os profissionais que continuarão e quem entrará no mercado baseado na competência profissional e não como está sendo feito descaradamente, na base do tapetão.

Fica também o chamado à indústria e aos lojistas para que se manifestem sobre este assunto. Conosco, vocês venderão X + Y. Sem a nossa participação neste mercado, vocês venderão X – Y. A escolha também é de vocês.

Errata: O documento da AAI, citado em minha última coluna, inicia falando sobre o PL 1391/2011, de autoria do deputado Penna, que regulamenta o Design (produto, moda, gráfico, joias). Na argumentação, acaba versando também sobre o PL 4692/2012, que é de autoria do deputado Izar e regulamenta apenas a área de Design de Interiores.

Relações de mercado.

Revista Lume Arquitetura
Coluna Luz e Design em Foco
Ed. n° 56 – 2012
“Relações de mercado.”
By Paulo Oliveira

56
As relações de mercado devem primar pela ética acima de tudo. É justamente esta ética que o mantém saudável e competitivo. Se esta base mercadológica é quebrada, teremos então um mercado baseado no “quem dá mais” ou o “salve-se quem puder”.

Se temos clientes que não querem pagar o valor justo do projeto, a culpa de tal situação, dentre outros fatores, pode ser atribuída aos profissionais que não cobram pelos projetos, vivendo à custa de comissões pagas pelas indústrias e lojas em acertos de bastidores e que afetam a todos que estão no mercado.

Conversando recentemente com um grande amigo – e mestre – senti-me como Cazuza quando cantou que “meus heróis morreram de overdose” tamanha a decepção ao ver nominados aqueles que um dia tive como ídolos e referências. Ruíram pelo simples fato de constatar que suas práticas profissionais, de modo geral, são desrespeitosas, especialmente com os colegas de profissão. Nesta conversa pude confirmar que estes só chegaram onde estão graças às artimanhas e negociatas promíscuas que utilizam. Alguns até furtando projetos de outros profissionais. Profissionais que para atender sua gana egoísta e satisfazer seu estrelismo mergulham de corpo e alma nessas jogatinas.

Porém, este ato supostamente bondoso, para ganhar o cliente, esconde tacitamente o fato de que ele está recebendo alguma coisa; afinal, ninguém trabalha de graça. Ora, o ganho ou os rendimentos que este tipo de profissional percebe, advém de comissões – ou RTs – que as indústrias e lojas embutem em serviços e materiais adquiridos pelo cliente e que para eles são transferidos. Ao final das contas, seja qual for a fonte, o profissional acaba lucrando sem se importar que este ato prejudica a seriedade e o respeito pelos quais a profissão deveria ser encarada e respeitada.

Com as comissões, um profissional pode ter um lucro muito acima do justo e real valor que o projeto deveria ter. As empresas oferecem de 3% a 20% de comissão, e tudo depende do valor da compra e, em geral, do renome do profissional.

Neste aspecto, aprofunda-se o prejuízo corporativo para a classe profissional que se rende a segmentações internas: uns lucram 20% por seu status enquanto outros dificilmente conseguem chegar aos 10%.

Assim fica claro como alguns profissionais conquistam vários projetos ao mesmo tempo e, consequentemente, ganham mais espaço na mídia, o que alimenta uma popularidade camufladora de sua voracidade egocêntrica. Não se cobra pelo projeto viabilizado por meio de uma“doação” para aquele cliente ou aquela cidade, enquanto se lucra em acertos de bastidor com uma ou algumas indústrias ou empresas comerciais. Forja-se uma cumplicidade perniciosa para uma éticaque se espera nas relações de mercado.

Outro detalhe igualmente grave deste tipo de prática refere-se à eliminação da livre concorrência, especialmente aquela relacionada com a criação e as ideias que envolvem a elaboração de projetos.

Mais uma vez o prejuízo recai sobre o cliente, que, muitas vezes, ignora tais práticas e tampouco desconfia de que esteja de fato recebendo o melhor produto, ao ser induzido a optar por uma ou outra marca apenas baseado em vantagens. O profissional pode não especificar o melhor produto e deixar de encontrar soluções até mais interessantes técnica e esteticamente. Não é à toa que vemos vários projetos de um mesmo autor com a mesma “cara”.

As indústrias e lojas devem encontrar outra forma de fidelizar seus clientes e especificadores. Ofereçam no lugar das comissões, premiações que não envolvam dinheiro vivo. Uma viagem, por exemplo. Inclusive vocês só têm a ganhar, pois terão muitos outros profissionais na disputa.

Então, temos de decidir: ou optamos por um mercado antiético onde as negociatas de bastidores assemelham-se às politicagens que deploramos ou assumimos práticas pelas quais manifestamos nosso comprometimento ético por um mercado saudável e decente onde todos recebam o devido e igual respeito.

Pense nisso…

O que será que acontece quando 6 designers de moda ingleses, ligados às grifes da moda e consumistas, resolvem ir à Índia conhecer as confecções daquele país?

A resposta você pode ver nos vídeos abaixo.

Parte 1

Parte 2

Parte 3

Eu assisti esse programa no Multishow na semana passada e confesso que me tirou o sono. E que também, já comecei a repensar minhas ações consumistas.

Não está completo, mas estas três partes disponibilizadas já são suficientes para entender todo o processo. Processo esse que se iguala à indústria chinesa onde temos os navios fábrica que igualmente abusam dos trabalhadores, muitas vezes, chegando a aburdos como a escravidão independente se adulta ou infantil.

E também tem aquela velha frase que se encaixa perfeitamente nestes casos:

Quanto mais conheço os homens, mais gosto de meus cachorros.

O que se passa pela sua cabeça depois de ver isso tudo?

Assista e comece a fazer a sua parte também.

Painéis de paredes

Se você, assim como eu, não é muito fã de papéis de parede mas também não suporta a idéia de paredes lisas, uma boa solução é utilizar painéis de paredes.

De gesso, madeira, pvc ou algum outro material, estes painéis vem sendo cada dia mais utilizados e também, testando e atestando a criatividade dos designers.

O Iconic Panels, da B&N Industries, é feito com placas de madeira certificada ou materiais como MDF e MDP que recebem tratamento anti chamas e que o tornam resistentes à água.

Natural ou pintado, o resultado é sempre uma agradável surpresa como se pode observar nas imagens abaixo:

Caso você disponha de um excelente marceneiro, pode jogar um trabalho deste nas mãos dele.

Movelpar 2009 – impressões

Estive ontem, junto com minha parceira Adélia Covre, visitando a Movelpar aqui em Arapongas.

Apesar do aumento do espaço de expositores, um movimento “do cão” – pois aquilo estava insuportavelmente cheio – cheguei ao pavilhão de exposições um tanto quanto apreensivo sobre o que iria ver. Digo apreensivo pois em época de crise mundial onde a ordem é cortar gastos, não sabemos o que iremos encontrar pela frente em um evento onde claramente os gastos são enormes! Outro fator é que o pólo moveleiro de Arapongas é claramente destinado aos magazines com uma linha de produtos mais simples e baratos. Encontraríamos alguma novidade real? Alguma empresa buscando destacar-se “subindo de nível”? Essas e outras questões nos perturbavam. Mas só vendo para saber.

De entrada já me surpreendi pela eficiência e rapidez do credenciamento. Não sei dizer sobre o credenciamento no local, mas para quem como eu, o fez online, era só chegar num terminal de computador, digitar o CPF, colar a etiqueta no crachá e entrar. Em menos de 5 minutos tudo resolvido e já estávamos dentro da feira prontos para andar e andar e andar e andar. Aff.. E como andamos!!! Parabéns ao EXPOARA pela excelente organização.

De cara já fiquei surpreendido com a qualidade dos estandes. Claro que tinham os mais simples e menores, porém os maiores estão belíssimos, muitos utilizando-se de alta tecnologia como painéis gigantescos em LEDs. Como nos disse um de nossos contatos, neste momento de crise, ao menos a indústria moveleira está esperançosa. Por isso vale o investimento pois o retorno, ao menos nesse setor, apesar da queda de aproximadamente 25% que tiveram nos últimos meses, vale a pena.

Atendo-me aos estandes por hora, novamente vi um show de irresponsabilidade ecológica no que diz respeito aos projetos, especialmente no tocante à iluminação. Haviam estandes com tantos espotes e projetores de luz que muitos acabaram por serem desligados. Outros casos é a insistente colocação de projetores junto ao piso nas fachadas dos estandes. Fica bonito? Até que interessante sim, porém tecnicamente totalmente errados pois o ofuscamento para quem passava ao lado destes era algo insuportável. E não foram um, dois ou três estandes incorrendo no mesmo erro e sim vários e vários.

Sobre revestimentos, formas e estruturas, alguns merecem aplausos pois estavam, digamos, perfeitos! Perfeitos esteticamente, forma, cores, texturas enfim, conjuntos muito bem elaborados e resolvidos. Já outros também enormes, pecam por excessos desnecessários ou formas básicas demais – caixotão. Alguma formas “disformes” nada interessantes se fazem presentes e acabam por distorcer a “paisagem feirística”.

Como estes estandes são para mostrar o que a indústria vem desenvolvendo, passemos então aos produtos.

MAGAZINES.

Quase a totalidade das indústrias desse pólo moveleiro trabalha com produtos voltados às redes de lojas populares. Até aí tudo bem, tem mercado para todos e todos precisam de produtos. Vimos muitas matérias primas que também estão sendo utilizadas pela indústria alta aplicados nestes produtos mais populares. Ótimo isso acontecer! Porém – como sempre tem um porém, impressionante – as novidades param por aí com raras excessões.

Um questionamento:

“Será que o povão gosta mesmo desse tipo de coisa ou compra por falta de opções mais bonitas, digamos, com um design próprio e que anuncie uma identidade própria da marca?”

É impressionante a mesmice dentro das diversas marcas. Visualmente é um show de repetições sem fim a cada estande visitado. As diferenças ficam por conta dos revestimentos, cores. Formas são basicamente as mesmas.

Será que o povão gosta mesmo daqueles estofados com espaldar alto e “rechonchudo” revestidos com aqueles tecidos horríveis sejam na padronagem seja na textura? Será que o povão gosta mesmo daqueles móveis ergonomicamente errados e desmontáveis com apenas “um tapa” por causa de erros projetuais e especificação de ferragens? Será que o povão tem tanto mal gosto mesmo ou será que tem esse mal gosto por absoluta falta de opção? Será que a indústria não consegue realmente vislumbrar uma forma de resolver esteas distorções e, uma a uma, buscar a sua identidade própria?

Esses e tantos outros questionamentos saltam nossos olhos ao visitar esta e outras feiras. Especialmente um:

Quem é que faz o “dezáine” dentro destas empresas?

Conheci sim algumas – conta-se nos dedos de uma mão – que realmente tem investido pesado em design, numa equipe forte, sólida e muito bem embasada, com excelentes profissionais. Empresas estas que vem se destacando e diferenciando dentro do polo moveleiro de Arapongas. A estas os meus sinceros comprimentos e parabéns e votos de sucesso!

Por falar em “dezáine”, o que dizer do Prêmio Movelpar de “Dezáine”???

Francamente, novamente uma decepção total assim como nas outras edições.

É impressionante como este “concurso” é capaz de premiar produtos ridículos e deixar de fora produtos maravilhosos. É um bom exercício de paciência para se ficar “abestado” e incrédulo com o que se vê sem surtar, afinal estamos num espaço público. Mas também excelente para se perceber as críticas dos outros visitantes e perceber que você não é um ET e tampouco está fora da realidade ao ver que a sua visão bate com a de muitos outros. Talvez falte a este Prêmio o “Voto Popular” à exemplo de outros concursos. Mais adiante farei um post com a minha classificação dos finalitas sob a minha ótica. É uma pena que nao terei acesso a todos os inscritos pois certamente existem outros produtos magníficos que ficaram de fora da lista de finalistas.

Com o tempo vou postando as coisas que vi, gostei muito e acho que valem a pena serem expostas.