É pessoal, depois eu que sou ranzinza e birrento. Mais uma vez me deparei com uma situação constrangedora em uma loja aqui de Londrina.
Estava com um amigo/cliente acompanhando-o em compras, quando resolvemos procurar puxadores para os criados-mudos recentemente adquiridos. Como a Belquímica (onde costumo comprar materiais de marcenaria) encontrava-se fechada em razão de férias coletivas fomos até a Casa dos Puxadores, na Rua Belo Horizonte 450, aqui na cidade de Londrina.
Verificamos o mostruário disponível sem acompanhamento ou qualquer interferência do vendedor que estava atrás do balcão, entretido no computador fazendo não sei o que. Definido o modelo chamei este vendedor para solicitar oito peças do produto escolhido.
Como eu já imaginava que o valor em RT seria ridículo, solicitei ao vendedor que o revertesse em desconto para o cliente.
Ele me perguntou se eu tinha cadastro na loja. Respondi que provavelmente não e ele falou que iria primeiramente fazer o cadastro. Perguntou-me então “O senhor é o ARQUITETO…(?)“
Respondi de pronto que eu não era arquiteto e sim DESIGNER.
Ele olhou para mim com certo desdém e soltou:
“Só dizáiner(SIC)?”
Questionei “como assim “só designer? Sou um especificador da mesma forma que eles.“
Então, indiferente à situação de embaraço a que submeteu o cliente, ele retrucou: “Nosso sistema só aceita arquitetos”.
Reiterei que eu, na qualidade de designer, sou um especificador assim como qualquer arquiteto. Ou melhor, na maioria das vezes muito mais que os arquitetos, considerando que dentre as competências profissionais do designer destaca-se a de projetar e produzir os móveis por completo e não apenas comprá-los em lojas de móveis.
A resposta do vendedor foi que “não tem como cadastrar a não ser que o meu supervisor libere o sistema“.
Meu cliente, indignado com a situação, ao perceber o constrangimento e a falta de respeito profissional em relação a mim – creio que deveria estar visível o meu rosto roxo de raiva – pediu para sairmos dali e encontrar outra loja.
Antes de sair, falei para o vendedor que a loja perdeu um especificador, vendas futuras e também que não espere que eu fale bem da loja onde for.
No caminho para o carro meu cliente (formado em grau superior, pós-graduação em nível de doutorado) estava perplexo! De origem paulistana, morando alguns anos em Londrina, disse que se surpreendeu pela forma ignorante, medíocre e provinciana de perguntar “você é só designer?”! Como se houvesse graus inferiores no exercício da excelência profissional. Na conversa, mostrou-me por analogia como se aplicaria este absurdo em outros ramos técnicos ou profissionais, no âmbito da pesquisa, tecnologia e congêneres.
É preciso respeitar as competências específicas de cada área, inclusive considerando suas intersecções, que não obscurecem a identidade profissional. Ao contrário, segundo este cliente, num contexto onde valorizamos a interdisciplinaridade e as decorrentes interações na elaboração de projetos (em qualquer área) como condição sine qua non de qualidade e confiabilidade, esta reserva de mercado é obsoleta e inaceitável. Em outras palavras, um mercado de “mente pequena”, atrasado e de olhar míope para a própria realidade.
Como se pode observar, a indignação deste cliente lhe permitiu entender o corporativismo grosseiro e anacrônico que ainda reina nesta área profissional em Londrina: um sério obstáculo para parcerias que seriam bem vindas e que, com certeza por meio de uma sadia concorrência, proporcionaria o avanço em inovações de projetos para além da estagnação da criatividade que marca especificamente o mercado londrinense.
Na verdade, um mercado com contradições! Nem tudo está perdido! Saímos desta loja – Casa dos Puxadores – e fomos para outra próxima, do outro lado da rua Belo Horizonte, onde fomos bem atendidos com respeito profissional na compra dos puxadores de ótima qualidade.
Esta situação merece uma reflexão crítica muito séria e mais aprofundada: este caso deste vendedor e da loja que ele representa – que não é isolado – manifesta um corporativismo latente por detrás dos balcões comerciais. Para além de um comércio tacanho, a pergunta que devemos sempre fazer é a seguinte: a quem realmente interessa estas práticas de visão estreita?
É pessoal, aqui em Londrina – assim como em cidades do porte de Londrina e menores – podemos constatar uma certa “máfia” de arquitetos, encabeçada por uns poucos que se acham “estrelinhas” em torno dos quais gravitam aqueles que se contentam com migalhas do mercado sob tácita reserva. Entretanto, vários destas “estrelinhas” precisam ficar fazendo interiores pra sobreviver, confundindo ou enganando os clientes e, por sua vez, demonstrando claramente sua incompetência em destacar o que é específico no exercício profissional de arquitetura, sua verdadeira formação.
No que se refere à formação – inclusive do ponto de vista de uma ética profissional – cabe aos cursos de Design implementarem com seriedade curricular um diálogo com a Arquitetura – desde que esta se abra para isso – demarcando claramente as competências e as possibilidades de interação profissionais, abrindo o mercado para parcerias produtivas e para o respeito das especificidades de atuação. Não se pode mais suportar estratégias escusas e imorais para garantir reserva corporativista de mercado.
Considerando o Curso de Design ofertado pela UNOPAR, espero sinceramente que seu novo gestor, a empresa Kroton Educacional, sem se tornar refém de “coleguismos” provincianos, promova um efetivo “choque de gestão” priorizando a qualidade curricular deste Curso sobretudo com a contratação de docentes de reconhecida competência para as áreas teórico-práticas e tecnológicas relacionadas com o Design.
Indo mais a fundo no problema inicial deste post, aqui em Londrina, arquitetos recebem o quanto querem como RTs das lojas (já ouvi relatos de até 40%) enquanto os designers tem de chorar muito para conseguir míseros 5% – quando conseguem isso. Pouquíssimas são as lojas que nos dão 10% de comissão. Sem considerar que muitas lojas também são coagidas a privilegiar os arquitetos, com receio de perder clientela. No entanto, os colegas designers por necessidade continuam levando clientes, submetendo-se a essa humilhação. Seria muito melhor se fossem éticos com seus clientes, relatassem como isso tudo acontece – inclusive a existência das RTs. Certamente o cliente ficaria do seu lado e não da loja.
Outro detalhe: as RTs dos arquitetos são pagas rapidamente. Estou com três lojas que, desde maio deste ano, estão me “enrolando” e não me pagam o que me devem de RT.
Aqui em Londrina rolam altos coquetéis das lojas, construtoras e empreiteiras que NUNCA convidam designers. O que acontece (e sei disso através de uma amiga que organiza as melhores festas aqui) é que um determinado grupo de arquitetos assedia os organizadores para saber quem são os convidados e, se tiver um único designer convidado eles boicotam a festa. Já relatei isso aqui em meu blog e já vinha relatando antes dele, ainda no orkut. Como vêem, nada mudou por aqui.
Enquanto isso na “Ilha da Fantasia” a ABD fica fazendo festinha e carnaval mascarando o real problema que afeta o mercado, isto é, a dura realidade a que somos submetidos diariamente.
Enquanto a nossa categoria (designers de interiores/ambientes) não conseguir reverter a asneira que a ABD fez junto ao grupo do prof Freddy Van Camp e termos a nossa área inserida no projeto de regulamentação do Design as coisas continuarão a ser assim. Fica aqui mais uma vez a minha solicitação para que o grupo do professor Freddy e os deputados envolvidos reavaliem essa questão pois a ABD, por interesses estranhos que rolam nos bastidores, não tem qualquer autonomia ou autoridade representativa para decidir sobre a nossa profissão, nosso futuro profissional.
A ABD afirma que não há essa rinha entre arquitetos e designers, porém até mesmo o Ricardo Botelho (que vocês conhecem muito bem) já escreveu recentemente sobre isso no portal ADForum. Tanto não há que a ABD insiste em não enquadrar ou separar os profissionais corretamente como Designers de Interiores/Ambientes, Arquitetos Decoradores e Decoradores. Irresponsavelmente, insistem em dizer que são a mesma coisa. Porém ficam quietos quando os arquitetos “sentam o cacete” nos designers.
Percebo claramente que a ABD continua refém do mesmo grupinho de “espertalhões” que se acham poderosos e espertos. Mas na verdade escondem as intenções oportunistas que não condizem com a maioria dos profissionais sérios que não participam da “rodinha” privilegiada.
Talvez o pessoal das grandes cidades não consiga entender estes problemas por ser bem mais difícil que estes aconteçam já que a realidade é bem diferente. Sempre recebo convites de empresas de São Paulo, Campinas e Curitiba para seus coquetéis e festas. Mas mesmo que não sintam estas dificuldades e não passem por estas humilhações diariamente não quer dizer que devem se calar e não defender a nossa classe profissional.
Então, profissionais, acadêmicos e docentes de Design de Interiores/Ambientes, acordem. Leiam e releiam este post quantas vezes forem necessárias para refletir sobre esta (e tantas outras) situação estúpida que temos de nos submeter diariamente longe dos grandes centros. Somos formados, estudamos muito como qualquer outra profissão exige. Então não tem porque termos de nos submeter a este tipo de humilhação diariamente.
Se a ABD não se mexe, nos mexamos nós então. Aqui vão, inicialmente, algumas sugestões de como nos unir. Vou refletir sobre isso e soltarei um post em breve com mais sugestões para educar o mercado.
1 – Entrem em contato com o grupo do professor Freddy Van Camp pedindo que acrescentem Interiores/Ambientes nas especialidades do PL de regulamentação do Design com urgência. Se você já passou por alguma situação constrangedora ou vexatória não tenha vergonha de relatar isso a eles.
2 – Converse com as lojas (preferencialmente com o gerente) antes de levar os clientes para compras. Ligue e diga que é arquiteto (invente um nome) e pergunte quanto é a RT. Depois ligue, apresente-se corretamente e questione quanto é a RT. Se houver diferença, fale na cara dura que a loja perdeu um especificador e o porquê disso. Também avise seus colegas profissionais de sua cidade sobre a sacanagem que tal loja faz.
3 – Boicote também as lojas que fazem coquetéis e festas “só para arquitetos”.
4 – Se algum estabelecimento – ou alguém – exigir a sua carteira de associado da ABD para seja lá o que for, diga claramente que ela não é um Conselho Federal, não tem poder legal, portanto não há o menor cabimento nessa exigência.
Bom é isso por hora.
Hoje é meu aniversário e eu não conseguiria curtir tranquilo a minha festinha aqui em casa sem colocar isso para fora.
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